A Self é uma editora cujo catálogo se tem focado em livros de auto-ajuda, com temáticas esotéricas e filosóficas. E foi no passado mês de Março que a editora portuguesa deu um passo importante ao lançar a sua primeira obra de banda desenhada.
E fê-lo com A História de Buda, dos autores Hisashi Ohta e Mauro M. Nakamura, que, através do registo mangá, nos propõem uma descoberta sobre a figura emblemática de Buda, mais concretamente do príncipe Siddhartha Gautama.
Dito por outras palavras, este A História de Buda oferece-nos um guia básico e acessível sobre esta figura que acabou por iniciar todo um culto baseado em Buda – o Budismo. É um livro de leitura fácil que pode ser lido por miúdos e graúdos que queiram saber mais sobre a figura em questão. "Navega à superfície", tentando nunca ser demasiado pesado ou denso nos temas que elabora, apresentando uma abordagem educativa. Um outro título que lhe poderia ser dado era “Buda for Dummies”.
Para alguém que já domine bem o objeto de estudo, este até é capaz de ser um livro básico demais. Mas para aqueles que, como eu, apenas têm umas luzes ténues sobre quem foi a figura de Buda, acaba por ser um livro interessante, pois permite que aumentemos a nossa cultura geral sobre as origens e as questões (e respostas) básicas do budismo.
Mas Siddhartha, o príncipe herdeiro, não se tornou Buda da noite para o dia. Teve que mudar a sua vida - de uma forma inexplicável e inconcebível para aqueles que o envolviam - nesse longo caminho de descoberta pessoal. Este livro começa a partir da altura em que o jovem príncipe começa a colocar questões sem resposta e a aperceber-se do sofrimento daqueles que não vivem no palácio. Assim, decide começar uma peregrinação, abandonando a sua vida palaciana, com o propósito de encontrar no lado espiritual o primordial sentido da vida.
Foi há 2.600 anos que Siddartha levantou estas questões, mas a verdade é que continuam a ser questões atuais e de resposta difícil. Cada um de nós terá a sua resposta, diria. E o budismo, que o príncipe Siddhartha começou por veícular é um desses caminhos possíveis para o desenvolvimento da espiritualidade.
Quanto aos desenhos de Hisashi Ohta, temos um trabalho agradável, inocente e simples. De cariz bastante clássico, os desenhos que nos são dados remetem para alguns dos mangás mais antigos que lia durante os anos 90. O que poderá ser, também, uma ponte para os desenhos animados que proliferavam na televisão portuguesa durante esse tempo.
De resto, o trabalho de desenho do autor deste livro joga sempre muito pelo seguro, não arriscando muito, mas sendo sempre competente. Tendo em conta que a peregrinação de Siddartha pressupõe uma longa caminhada pela natureza, quer parecer-me que o autor poderia ter introduzido mais ilustrações com belas paisagens como pano de fundo. Fá-lo algumas vezes – e bem – mas acho que poderia tê-lo feito em mais ocasiões pois isso teria beneficiado a obra e a diversidade visual da mesma.
Em termos de edição, o livro apresenta capa mole brilhante, com badanas, e um papel aceitável, mas que poderia ser um pouco menos fino na espessura. É frequente que quando estamos a ver uma página, consigamos ver o que está na página seguinte. Em termos de balonagem e legendagem saltam à vista alguns problemas, nomeadamente na font utilizada para o texto que, inexplicavelmente, vai sendo alterada ao longo do livro. Existem também alguns balões que infelizmente mal dão para ler, devido à margem interior do livro não ser larga o suficiente para prevenir que isto não aconteça. São alguns problemas de edição, mas que, assumindo que esta é a primeira edição de banda desenhada da Self se perdoam. A inclusão de um prefácio para melhor introduzir o tema do budismo parece-me algo bem pensado por parte da editora.
Uma coisa que não me parece tão bem pensada é a capa deste livro. É que, olhando para a ilustração da capa, parece que estamos perante um livro de espiritualidades sobre o budismo, sim, mas que pouco ou nada remete para a banda desenhada, mesmo tendo em conta que aparece a expressão “adaptação de manga”. E isto faz com que haja o risco de que o livro não seja impactante, nem para amantes de banda desenhada – pois através da capa não saberão de que se trata de um livro de banda desenhada –, nem para os que, sem estarem à procura de banda desenhada, apreciam um livro de auto-ajuda e/ou espiritualidades - pois só depois de abrirem o livro é que saberão de que se trata, afinal, de uma banda desenhada e pode não ser isso que desejam.
Portanto, a meu ver, esta é uma capa que vende mal o produto que alberga. E não é por ser feia ou estar mal concebida. É só porque não sabe assinalar as verdadeiras valências da obra, que consistem no facto de ser uma banda desenhada sobre Buda. É essa a “opportunity to buy”, como se aprende em Marketing.
Resumindo, este A História de Buda é um livro com a singela e bem-vinda promessa de dar umas luzes sobre o budismo, em forma de banda desenhada de estilo mangá. Não sendo uma obra que, quer através da história que nos é dada, quer através das ilustrações, seja magnífica ou inolvidável, tem o seu espaço e a sua relevância.
NOTA FINAL (1/10):
6.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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A História de Buda
Autores: Hisashi Ohta e Mauro M. Nakamura
Editora: Self
Páginas: 256, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 13,5 x 20,5 cm
Lançamento: Março de 2023
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