segunda-feira, 24 de abril de 2023

Um olhar sobre o IlustraBD 2023


Fez ontem uma semana que tive o prazer de marcar presença, pela primeira vez, no evento IlustaBd, organizado pela Câmara Municipal do Barreiro. 

O primeiro fim de semana desta quarta edição do evento, que tem entrada livre, reuniu várias atividades, que contaram com a presença de autores relevantes da banda desenhada nacional. 

E mesmo que, à data de hoje, essas atividades já tenham ocorrido, as exposições mantêm-se patentes no Auditório Municipal Augusto Cabrita até 4 de Junho. Razão pela qual, quem não pôde ir no primeiro fim de semana do evento, ainda tem a oportunidade de visitar as belas exposições. Não deixem de visitar. 

O mais provável é que fiquem agradavelmente surpreendidos!



O Espaço

Devo dizer que, por ignorância minha, não fazia ideia da qualidade incrível do Auditório Municipal Augusto Cabrita

Digo-vos com sinceridade: fiquei de boca aberta quando pude entrar neste belo auditório. 

É bastante grande e airoso, com dois pisos de pé direito alto, onde podemos circular à vontade e ver as exposições com calma, como se estivéssemos numa autêntica galeria de museu. 

E não esquecendo que há ainda um auditório/sala de plateia com dimensões consideráveis, onde decorreu a apresentação dos filmes. 

No seu todo, este é, possivelmente, o melhor espaço de eventos relacionados com banda desenhada que conheço em Portugal.


As Exposições

Esta quarta edição contém exposições sobre as obras de Filipe Melo e Juan Cavia (Balada para Sophie); de Marco Mendes (Juventude); António Jorge Gonçalves (Desenhar no Escuro) e, ainda, uma exposição sobre as obras portuguesas da editora Ala dos Livros. 

Não eram muitas as exposições mas eram muito boas. Todas elas. Em termos cénicos, apreciei particularmente aquilo que foi feito na exposição dedicada a Balada para Sophie e fiquei bastante impressionado com a presença das telas originais que Marco Mendes pintou para o seu livro Juventude, bem como os belos trabalhos expostos de António Jorge Gonçalves.

É verdade que não eram muitas as exposições e que talvez o espaço permita ter mais uma ou duas exposições em edições futuras, reduzindo um pouco o espaço para cada um dos motivos/obras a expor. 

Não obstante, o IlustraBD deixou-me uma ótima impressão relativamente às exposições que apresenta.


As Atividades Paralelas

Para além das exposições, o IlustraBd apresentou um conjunto de atividades paralelas. 

Sessões de autógrafos, com a presença de autores relevantes da banda desenhada nacional, sessões de cinema, com a projeção de filmes relacionados com as personagens da banda desenhada (Corto Maltese: A Balada do Mar Salgado e Os Smurfs: A Aldeia Perdida) e duas conversas. 

A primeira destas conversas ocorreu no sábado, dia 15 de Abril, e foi sobre as exposições patentes no evento. Contou com a presença de João Miguel Lameiras, Ricardo Magalhães e Marco Mendes. 

A segunda conversa ocorreu no dia seguinte, domingo, e consistiu numa conversa sobre a divulgação da banda desenhada nacional. A conversa foi moderada por Maria José Magalhães, e contou com a participação de Rui Alves de Sousa, do programa de rádio Pranchas e Balões; de Pedro Cleto, do blog As Leituras do Pedro; de Rodrigo Ramos, do site Bandas Desenhadas; e da minha pessoa, em representação do Vinheta 2020.

Posso dizer-vos que foi uma conversa muito interessante e bem moderada, na qual tive muito prazer em participar. Acrescento ainda que não é muito comum dar-se o palco aos divulgadores de banda desenhada mas que me parece uma ideia relevante para se ficar a conhecer um pouco as pessoas e os processos de trabalho daqueles que fazem divulgação de banda desenhada em Portugal.

Fora o que já mencionei, o programa do IlustraBD é composto ainda por um conjunto de workshops para os mais novos - iniciativa que é sempre louvável - e um Mercado da Banda Desenhada. Não sendo este mercado de uma dimensão muito grande, incluía, ainda assim livros de praticamente todas as editoras nacionais, pelo que me parece que é justo dizer que foi feito um bom trabalho neste cômputo, por parte dos envolvidos.


A Organização

A Organização deste evento, e em participar Sofia Matos, revelou ser muito amável e de uma simpatia extrema. Quer para com todos os convidados do evento, quer para o público que passeava no mesmo. 

Acho que este tipo de eventos também têm sempre, como primeiro ponto de contacto, as pessoas que dão a cara por ele. E quando há simpatia e uma clara vontade de fazer mais e melhor, as coisas começam logo por agradar a toda a gente. Portanto, não queria deixar de mencionar esta questão.


A ausência de público

Num evento onde imperou tanta simpatia, um bom espaço físico, boas exposições e boas conversas, o único calcanhar de Aquiles parece-me que foi, pelo menos no domingo onde marquei presença, uma pouca afluência de público. Embora o auditório tenha estado quase cheio durante a conversa sobre banda desenhada, pareceu-me que, quer no Mercado do Livro, quer nas exposições, havia pouca gente. Não estava vazio, mas poderia ter mais público, vá. Merecia-o. 

Esta pouca afluência pode ser justificável com o facto de ter estado muito calor no fim de semana em questão e as pessoas terem, presumivelmente, procurado o primeiro dia de praia de 2023. E quanto a isso, reconheço que a Organização pouco ou nada pode fazer. Seja como for, deu-me um bocado de pena que houvesse pouca gente, tendo em conta o potencial do evento.


Conclusões e Coisas a melhorar nas edições futuras.

O IlustraBD surpreeendeu-me bastante pela positiva. Não esperava que o espaço fosse tão bom como é, não esperava que as exposições fossem tão boas como são, nem esperava que o evento já tivesse a pertinência que tem para todos os que se dizem fãs de banda desenhada. (Saibamos nós atribuir essa pertinência). 

Como tal, acho que é um evento que merece crescer. Merece (ainda) maior aposta da Câmara e, não menos importante, maior aposta do público. Eu moro em Lisboa e apanhei um barco no Terreiro do Paço para o Barreiro. Demorou pouco mais do que 20 minutos e custou menos que 4€. É fácil e barato ir a este evento. É quase como se fosse em Lisboa.

Não sou pessoa de apontar defeitos - desse género já há muita gente. Sou mais pessoa de sugerir melhorias. Acho que o único defeito ou, por outras palavras, o único ponto onde o IlustraBd pode e deve melhorar, para ser ainda mais relevante, é, pois, na captação de mais público.

Para tal, sugiro três coisas:

1) Aquele auditório enorme e bem equipado tem que ser melhor aproveitado pela Organização. Ter dois filmes de personagens de banda desenhada é positivo e faz sentido, mas acho que é pouco. Sugiro que, nas próximas edições, a Organização pondere utilizar aquele espaço para promover ali algo como um Festival de Cinema ilustrado (ou não) dedicado a personagens de Banda Desenhada. Não sai fora do âmbito do evento e poderá trazer muita gente ao mesmo. Se for bem comunicado, claro está.

Aproveitando um artigo que fiz há uns tempos sobre os meus 20 filmes preferidos baseados em banda desenhada, só para termos algo concreto em que nos basear, teríamos logo muitas escolhas de filmes a fazer. Imagine-se que, durante o primeiro fim de semana do evento, em vez de uma projeção solitária de um filme, teríamos, vamos dizer, 4 ou 5 filmes por dia. Projetados de forma gratuita, acho que seria uma coisa muito aliciante para trazer mais gente ao evento - famílias incluídas. Claro que estou a falar "para o ar" sem saber se, em termos de licenças para projeção de filmes, o facto de se ter muitos filmes condiciona muito a organização. Todavia, creio que a Câmara certamente terá formas de providenciar algo assim.

Imagine-se que, em vez de termos apenas Corto Maltese: A Balada do Mar Salgado e Os Smurfs: A Aldeia Perdida, transmitidos de forma isolada, teríamos um cartaz de cinema de animação, com estes filmes: os mesmos Corto Maltese: A Balada do Mar Salgado e Os Smurfs: A Aldeia Perdida, mas acompanhados por As Aventuras de Tintin - O Segredo do Licorne, Homem-Aranha: No Universo Aranha, Persépolis, TMNT - Tartarugas Ninja: Uma Nova Aventura, Rugas, Big Hero 6 - Os Novos Heróis, Astérix e os Vikings, Snoopy e Charlie Brown: Peanuts, O Filme e Titeuf - le film.

Assim, sem me esforçar muito, pensei em 11 filmes ilustrados e baseados em personagens e séries de banda desenhada. Se estes filmes fossem transmitidos durante o primeiro fim de semana do evento - e se isso fosse divulgado - não só o IlustraBd iria crescer exponencialmente em termos de visitas, como a Organização iria aproveitar melhor a fantástica sala de que dispõe. Fica a sugestão.


2) Parece-me que será relevante que o evento cresca a nível de programação de conversas e lançamentos de livros. No primeiro fim de semana, o IlustraBD teve apenas uma conversa por dia, em cada um dos dois primeiros dias do evento. 

Creio que, se houvesse um programa mais vasto, com 5/6 apresentações diárias por dia, o evento ganharia mais força e público, também. E acho que isto até não é algo que retirará muitos recursos à Organização. Falando com as editoras presentes, que poderão trazer autores para a apresentação de obras, consegue-se ter dez ou mais conversas, em vez de duas. Outra sugestão que deixo, portanto.

3) Aumentar a divulgação e publicidade do evento.

Devo dizer que fiquei muito bem impressionado com a bela imagem do evento, tal como fiquei com os bonitos materiais promocionais físicos que encontrei no mesmo (um bom catálogo, postais relativos às exposições e marcador de livro), que deram classe ao IlustraBD.

De qualquer maneira, para chamar mais público, acho que a Câmara deverá apostar mais na promoção do evento, fazendo mais publicidade, junto das redes sociais e não só. É importante que mais gente conheça o IlustraBd para que o mesmo continue a crescer.

Finalmente, acabo como comecei: se não tiveram oportunidade de visitar o IlustraBD no fim de semana de abertura, ainda há boas razões para uma visita às belas exposições que o compõem.

E claro, não deixem de comparecer no próximo ano.

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