Eis um bom exemplo de um livro que se compra devido a uma boa capa. Depois de um primeiro contacto com a bela capa deste livro, fiquei com vontade de o folhear. À medida que o folheei, fiquei agradado com as ilustrações. E, pronto, o processo foi tão simples quanto isso. E, claro, o nome de Lewis Trondheim, um dos grandes mestres da banda desenhada europeia, também fez com que o meu interesse aumentasse mais, concedo.
Lançada originalmente pela editora francesa Rue de Sèvres, com o título Je Vais Rester, foi a versão americana da obra, editada pela editora Magnetic, e comprada na livraria Dr. Kartoon, que tive a oportunidade de ler.
E em boa hora o fiz! Stay é uma magnífica e bela banda desenhada, que nos deixa a refletir sobre a vida, a morte e o luto. Uma verdadeira viagem ao âmago da vida, que muito me cativou. A meu ver, merecia uma versão portuguesa. Quem sabe, não existe uma editora portuguesa que aposte nesta bela obra? Estou certo que poderia agradar a muita gente.
A história centra-se num casal, formado por Fabienne e Roland, que parte para uma semana de férias, junto à praia. Roland é um daqueles homens super organizados que estudou e preparou as férias com a sua esposa ao mais ínfimo detalhe, organizando programas para todos os dias e pagando pelos mesmos em adiantado. Deixou, até, todo um itinerário das férias registado num caderno. Mas nem tudo pode ser programado! E a prova disso é que, mal o casal chega ao destino idílico que escolheu para as suas férias, desenrola-se um acontecimento irrevogável e chocante que deixa Fabienne sozinha, sem a companhia do seu marido. Tudo levaria a crer que, após determinado acontecimento, que opto por não referir, ela voltaria a casa, mas, por ventura, e inexplicavelmente para alguns, Fabienne decide continuar a sua semana de férias e cumprir o programa previamente pensado por Roland. Sente-se atónita e só, não sabendo lidar com a situação, é certo, mas, talvez por essa mesma razão, ocupa o seu tempo, cumprindo aquilo que estava estipulado. Como se estivesse em negação. Acaba por conhecer um vendedor local, Paco, com uma forma muito peculiar de olhar para vida e para a morte. Fabienne vai mentindo acerca da ausência do seu marido, mas Paco acaba por juntar as peças. E em vez de confrontar Fabienne, Paco, acaba por oferecer um apoio silencioso, cheio de compaixão.
Onde Stay consegue ser singular e profundo, é mesmo na forma, extremamente sensível e madura, como consegue mergulhar-nos na vivência psicológica da protagonista. Não há manuais de como lidar com uma perda tão grande como a vida de alguém e, nisso, esta obra consegue ser especialmente bela. Como é que cada pessoa lida com as grandes dores da vida? Há um manual? Há um certo e um errado? Qual será a reação normal e anormal?
As ilustrações são asseguradas por Hubert Chevillard, cujo traço semi-caricatural, captura visualmente a dualidade entre a aparente normalidade das cenas turísticas que envolvem Fabienne e a profundidade emocional que habita o interior da personagem.
O estilo de desenho lembrou-me, por exemplo, Cyril Pedrosa, em Portugal. É um estilo de desenho sensível e genuíno, que se encaixa que nem uma luva na tónica agri-doce do argumento de Trondheim.
Em termos de planificação, a obra apresenta as vinhetas de uma forma algo rígida, com seis vinhetas por prancha, embora surjam, amiúde, belíssimas ilustrações que ocupam uma só página e que conferem o dinamismo necessário ao natural ritmo de leitura. Já a paleta de cores, que apresenta belos tons amarelados e quentes, coaduna-se simbioticamente nos dias do calor de verão vivido.
A edição da Magnetic, apresenta capa dura baça, com os cantos arredondados, que me agradou especialmente, e bom papel brilhante. A encadernação e impressão são de excelente qualidade.
Resumindo, Stay é um belo livro que aborda a vida e a morte, de uma forma pouco convencional, explorando os diferentes processos e modos de enfrentar a dor e que, nem sempre, correspondem às expetativas da sociedade. Uma obra simples, singela e genuína, mas onde abunda e impera uma grande dose de emoção e de reflexão!
NOTA FINAL (1/10):
9.4
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Stay
Autores: Lewis Trondheim e Hubert Chevillard
Editora : Magnetic
Páginas: 128, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Agosto de 2019
A editora estado-unidense Magnetic Press tem desenvolvido um excelente trabalho na disponibilização de títulos oriundos, essencialmente, do mercado franco-belga, em língua inglesa. Formatos próximos ao europeu, excelentes encadernações e acabamentos e, acima de tudo, boas campanhas de pré-lançamento com abundantes incentivo - isto para que vive nos EUA, porque deste lado do Atlântico torna-se quase proibitivo adquirir este títulos. E já que falamos em Cyril Pedrosa as editoras locais continuam a olimpicamente ignorar a excelente obra mais recente deste luso-descendente. Mistérios...
ResponderEliminarConfesso que, até adquirir este livro, não conhecia muito bem o trabalho da Magnetic. Mas, depois de aprofundar os meus conhecimentos sobre o catálogo da editora, fiquei muito bem impressionado, de facto. Quanto a Cyril Barbosa, concordo que gostaria de ver mais obras do autor editadas em Portugal.
EliminarCyril Pedrosa....
ResponderEliminarIsso, isso!
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