terça-feira, 22 de agosto de 2023

Análise: Frankenstein

Frankenstein, de Georges Bess - A Seita - Nona Literatura

Frankenstein, de Georges Bess - A Seita - Nona Literatura
Frankenstein, de Georges Bess

Depois de ter lido a adaptação de outro clássico da literatura, Drácula, por parte de Georges Bess, devo dizer que estava “em pulgas” para ler este Frankenstein. E afirmo isto porque Drácula é um livro verdadeiramente espantoso. Um dos melhores livros de todo o catálogo da editora A Seita. O desenho de Bess é sublime, a adaptação é fiel e a edição é em grande estilo.

Agora, depois de ter mergulhado nesta adaptação para banda desenhada da igualmente famosa obra Frankenstein, devo dizer que Georges Bess volta a trazer-nos um trabalho de primeira qualidade. Se é verdade que admiro aquilo que o autor fez em O Lama Branca ou em Juan Solo, há que dizer que este registo a preto e branco, que Georges Bess nos oferece em Drácula e em Frankenstein, traz-nos um autor nas suas capacidades plenas!

Portanto, sem surpresas, Frankenstein não desilude e assume-se com um dos livros do ano. É recomendado aos fãs da obra original de Frankenstein, àqueles que nunca a leram e a todos os que gostam simplesmente de uma boa banda desenhada!

Frankenstein, de Georges Bess - A Seita - Nona Literatura
A história desta obra que é tida como a primeira obra de ficção científica de sempre, foi concebida por Mary Shelley e segue a jornada do cientista Victor Frankenstein que, apaixonado pela ciência e pelo poder da criação, consegue criar uma criatura através de partes de cadáveres. As coisas não correm bem, pelo menos no plano estético, e a criatura é abandonada pelo seu próprio criador. A partir daí, a vida do Monstro Frankenstein é feita de rejeição por parte de todos aqueles que o rodeiam, levando-o a um enorme sofrimento e a uma gritante sensação de injustiça. Procurando tirar satisfações perante Victor, o Monstro irá persegui-lo e fazer um acordo com ele. Eventualmente, criador e criatura acabam por se destruir mutuamente, ficando sós no mundo.

A narrativa de Shelley, originalmente publicada em 1818, explora temas como a busca do conhecimento sem limites, as consequências éticas da ciência e da criação, além de questões sobre a natureza da humanidade, empatia e isolamento. Tornou-se um marco na literatura gótica e de ficção científica, não só por ter cativado os leitores pelo seu argumento intrigante e inteligente, como por ter explorado também várias questões filosóficas e éticas, que continuam relevantes nos dias de hoje. O próprio monstro criado por Frankenstein, sendo monstruoso, revela uma grande dose de humanismo e será essa outra das reflexões a retirar desta brilhante história. Porque, mesmo podendo ser um clichet, a verdade é que aquilo que distingue os humanos entre si e entre os demais animais, não é a aparência física mas o conjunto das suas ações. Por algum motivo, se chama humanismo.

Frankenstein, de Georges Bess - A Seita - Nona Literatura
E a relevância da obra parece não se esgotar com a passagem dos anos. Aliás, diria até que nunca Frankenstein esteve tão atual como nos dias atuais, em que a tecnologia está cada vez mais presente nas nossas vidas. Que papel e que responsabilidade têm os criadores de tecnologia na forma como alteram a vida dos humanos e, consequentemente, de tudo aquilo que nos rodeia?

Quanto às ilustrações, o trabalho de Bess é verdadeiramente magnífico. Com uma técnica carregada de detalhes, e com um traço a preto e branco realista, o autor parece ter encontrado a sua melhor forma de desenho, explorando todas as valências que o estilo a preto e branco permite. A caracterização do próprio monstro Frankenstein é verdadeiramente impactante, fazendo até com que nos esqueçamos daquela representação mais clássica da personagem, que habitua o nosso imaginário. A própria história também possibilita que sejam em grande número os desenhos de paisagens onde, mais uma vez, Georges Bess brilha.

Frankenstein, de Georges Bess - A Seita - Nona Literatura
Comparando o trabalho ilustrativo de Bess neste Frankenstein com aquilo que o autor fez em Drácula, talvez haja, neste Frankenstein, menos espaço para nos surpreender a nível de planificação de página. Algo que, em Drácula, o autor soube potenciar muito bem nas situações mais esotéricas e de terror. Claro que há muitos bons exemplos onde, também nesta vertente, Bess se transcende em Frankenstein, mas parece-me ser justo afirmar que Drácula ainda consegue ser melhor nessa vertente. O que também é compreensível visto que a obra criada por Mary Shelley é muito mais uma história de ficção e mais humana, onde as questões metafísicas e de terror não abundam tanto como em Drácula. Seja como for, que não haja qualquer engano: quer Drácula, quer Frankenstein, são sublimemente desenhados por Bess!

Em termos de edição, estamos perante mais um belo trabalho d' A Seita. O livro que é lançado na chancela Nona Literatura da editora, apresenta capa dura - com alguns pormenores da mesma a verniz - bom papel baço e bom trabalho ao nível da encadernação e da impressão. No final, foram incluídas quatro ilustrações do autor. Nota para a existência de uma segunda capa que é exclusiva ao site Wook.

Em suma, depois do magnífico Drácula, Frankenstein é tudo aquilo que poderíamos esperar, não ficando atrás da primeira obra. Tendo em conta o tipo de história mais universal e, apesar de tudo, mais terra-a-terra, até pode agradar a mais gente do que Drácula. Seja como for, Georges Bess revela-se fantástico em ambas as obras. Entretanto, já é conhecida a mais recente adaptação do autor nos mesmos moldes, que é o romance de Victor Hugo Notre-Dame de Paris (ou O Corcunda de Notre Dame). Tendo em conta o nível qualitativo que Bess apresenta nas suas adaptações a preto e branco, resta-nos esperar que A Seita lance a mencionada nova obra tão depressa quanto possível!


NOTA FINAL (1/10):
9.7



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Frankenstein, de Georges Bess - A Seita - Nona Literatura

Ficha técnica
Frankenstein
Autor: Frankenstein
Editora: A Seita
Páginas: 208, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 215 x 285 mm
Lançamento: Maio de 2023

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