Análise: Tales From The Classroom

Tales From The Classroom, Rob Muerto, Sebastián Bronico e Juan Castro

A primeira vez em que tropecei no trabalho de Rob Muerto, na sua série Tales From The Classroom, fiquei encantado com as imagens que compunham esta banda desenhada. Agora, passado algum tempo, tive a oportunidade de ler dois dos livros que, para já, compõem a série e, sem sombra de dúvidas, confirmo que, se há algo que peca em Tales From The Classroom é apenas o facto de ser (ainda) uma série muito independente e underground, que tem fugido aos círculos nacionais de onde se fala e vende banda desenhada. Porque, de resto, é uma obra com um enorme potencial para conquistar um bom número de admiradores! Com efeito, considero que para tornar esta série mais relevante – e aumentar a sua fanbase – é urgente que surja uma edição em português. E, de preferência, que junte num único volume as histórias até agora lançadas.

Tales From The Classroom foi criada pelo português Rob Muerto, após viver alguns anos em Los Angeles e trabalhar na indústria cinematográfica. Até agora, já foram lançados, através de campanhas de crowdfunding bem sucedidas, dois livros volumes de Tales From The Classroom. O primeiro acompanha o arco principal da história que envolve o protagonista Rob, enquanto que o segundo livro que foi lançado, denomina-se Tales From The Classroom – The K. Thulhu Files e é uma antologia de histórias de personagens secundárias da série principal, onde nos é permitido um vislumbre ao seu passado ou background. Sei que, neste momento, está a ser preparado um segundo volume da série principal e, posteriormente, também deverá ser lançado um segundo volume de The K. Thulhu Files, com as curtas histórias em género de spinoff.

Tales From The Classroom centra-se nas aventuras do adolescente zombie Rob Muerto que era bastante popular em Romero, a sua antiga escola de zombies, mas que, quando se vê forçado a mudar para uma nova escola, K. Thulhu High, onde há um sem número de criaturas, como vampiros, lobisomens e outros monstros, tem que lutar para se adaptar à mesma e aos seus novos infames colegas. O tom da história é jovial e divertido, e o universo criado por Rob Muerto é verdadeiramente apelativo.

É a típica história de um jovem que é novo numa escola e tem que lidar com algum bullying por parte dos colegas rufias e que tudo fará para sobreviver aos novos desafios que lhe são apresentados. Considero a escrita de Rob Muerto bastante escorreita e dinâmica, com uma linguagem fácil e acessível, cujo discurso facilmente cria empatia com o leitor e que tem, ainda, a capacidade de nos dar várias frases com a valência de serem “quotable”. Que ficam na memória. A utilização de um narrador na primeira pessoa que, através da técnica de voz off, nos vai introduzindo na história do protagonista, acaba por funcionar muitíssimo bem e é isso que acaba por unir bem a história.

Em termos de desenho, neste primeiro álbum o autor nacional vê-se acompanhado por autores argentinos. Sebastián Bronico assegura o desenho deste primeiro volume, enquanto que Juan Castro é responsável pelas tintas, e Matias Laborde é o colorista de serviço. No fundo, e tal como outros autores portugueses têm encontrado parceiros criativos no outro lado do Atlântico, também Rob Muerto se muniu do talento sul-americano para constituir uma equipa que pudesse dar vida às suas ideias.

Bronico e Juan Castro apresentam-nos um universo muito “cartoonesco”, com potencial para apelar a miúdos e graúdos, e com uma tónica visual que parece reminiscente dos comics americanos. O apelo dos desenhos animados é especialmente forte no tipo de ilustração apresentado. E, em muitas das vezes, as ilustrações são verdadeiramente belas e impactantes. Ainda assim, também é verdade que, aqui e ali, encontramos algumas ilustrações mais “toscas”, que parecem ter sido feitas com menor rigor e menos tempo do que as demais. Porém, é justo dizer que, em termos de criação imagética, com personagens imbuídas de carácter, Tales From The Classroom funciona muito bem e consegue criar empatia com alguma facilidade.

No segundo livro que tive oportunidade de ler, Tales From The Classroom – The K. Thulhu Files, são-nos dadas três histórias curtas. Uma delas até é escrita por Von Klaus, outro autor que não Rob Muerto. De resto, temos três novos ilustradores que, mesmo tendo um estilo algo diferente de Sebastián Bronico e Juan Castro, conseguem criar ilustrações que se coadunam com o material previamente lançado. O trabalho de Monika Maccagni na curta The Tale of Kleotep é especialmente apelativo e eleva, ainda mais, a qualidade de Tales From The Classroom. Já as ilustrações de Matt Crotts e Maxi D’Allo, embora tenham alguns bons momentos, especialmente na história Back in Romero, ficam alguns furos abaixo em relação ao trabalho de Maccagni ou de Bronico e Castro.

Uma coisa onde me parece que os livros não conseguem ser tão bem executados, é na questão das cores – excetuando, uma vez mais, a história The Tale of Kleotep, que é colorida por Tanya Wicker. Não é que, nas restantes histórias, as cores sejam necessariamente más. E até se compreende que haja uma tentativa de procurar algumas tonalidades algo vintage, que lembram os comics americanos clássicos, mas, ainda assim, as cores apresentam-se demasiado garridas e saturadas, o que impede as ilustrações de respirarem devidamente.

Em termos de edição, cada um dos dois livros foi lançado de forma independente, através das já mencionadas campanhas de crowdfunding. Apresentam uma boa qualidade, com capas moles, bem ao jeito dos comics americanos, e têm bom papel brilhante. A capa do volume de Tales From The Classroom – The K. Thulhu Files até apresenta detalhes a verniz, que muito a embelezam. 

De notar que, para cada um dos vários livros, existem várias capas alternativas. Se isto é uma coisa interessante e que apela, certamente, aos colecionadores, penso que também torna mais complexo de perceber que livros estão, realmente disponíveis, o que também pode ser dissuasor para novos leitores que se cruzem com a série e que se possam sentir meio perdidos perante tantas capas. Mesmo assim, uma coisa é certa: todas as capas têm ilustrações muito cativantes!

Em suma, fiquei verdadeiramente conquistado com o enorme potencial de Tales From The Classroom! Acho que estamos perante um trabalho refrescante por parte de um autor nacional e que, acima de tudo, e nesta fase em concreto, necessita, urgentemente, de ser conhecido por mais leitores portugueses. Para tal, é imperioso que seja lançada uma versão portuguesa de Tales From The Classroom!

NOTA FINAL (1/10):

8.2

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

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Ficha técnicas

Tales From The Classroom #1

Autores: Rob Muerto, Sebastián Bronico e Juan Castro

Editora: Independente (Auto-efição)

Páginas: 52, a cores

Encadernação: Capa mole (agrafada)

Tales From The Classroom – The K. Thulhu Files #1

Autores: Rob Muerto, Von Klaus, Monika Maccagni, Matt Crotts e Maxi D‘Allo

Editora: Independente (Auto-efição)

Páginas: 64, a cores

Encadernação: Capa mole (agrafada)