sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Comparativo: Táxi Amarelo pela Levoir e pela Pipoca & Nanquim


Hoje trago-vos um comparativo entre as edições de Táxi Amarelo (ou Yellow Cab) que as editoras Levoir e Pipoca & Nanquim fizeram desta obra da autoria de Chabouté.

Antes de qualquer coisa mais - e isso é o mais importante! - devo dizer-vos que estamos perante (mais) uma obra de qualidade superior e que é totalmente recomendada! Se não a leram, comprem-na! Na versão portuguesa, brasileira, francesa, inglesa, espanhola ou húngara... mas comprem-na!

Chabouté é um dos meus autores de BD favoritos e, mais uma vez, volta a dar-nos um belíssimo trabalho com este Yellow Cab.

E já que falo em Yellow Cab, comecemos por isso. Pelo nome.

A editora Levoir decidiu traduzir o título original para "Táxi Amarelo". Se a tradução, ao contrário do que por vezes é feito, não "inventou" coisas que não estavam no título original, pois é literal, não me parece que tenha sido uma boa escolha. Isto porque a versão original francesa tem o título Yellow Cab e era por aí que a edição portuguesa se deveria ter regido. Parece-me que foi essa a escolha do autor, Chabouté, ao nomear dessa forma a obra que resulta de uma adaptação, com o mesmo nome, da obra original de Benoît Cohen. Como um amigo me disse há uns dias, seria como traduzir o fabuloso Kobane Calling, de Zerocalcare, e também editado pela Levoir, para algo como "O Chamamento de Kobane". Seria escusado.

Mesmo assim, também me parece que, por essas redes sociais, houve um certo tumulto e exagero por parte de algumas pessoas em relação a este título "Táxi Amarelo". Sem ser a decisão certa, repito, não me parece que tenha sido nenhum "crime editorial". Há, infelizmente, coisas piores em termos editoriais.

Arrumando a questão do título, olhemos, então, para as diferenças entre ambas as edições.

Tirando o título, as capas são praticamente iguais. A versão portuguesa tem o logótipo da editora e descrição "novela gráfica" junto à lombada, e a font - para o nome do autor - que é habitual na sua Coleção de Novelas Gráficas. A edição brasileira apenas tem o logótipo da editora Pipoca & Nanquim no fundo da capa.

A edição brasileira é ligeiramente maior em dimensões. Não é uma diferença muito grande, ou que melhore tão sobejamente a fluidez da leitura, mas acaba por ser melhor para desfrutarmos da arte magnífica de Chabouté.



Se as capas são praticamente iguais, as contracapas são bastante diferentes. 

A edição da Levoir tem bastante texto onde, não só se dá uma nota biográfica sobre o autor Chabouté, como se apresenta uma sinopse de Táxi Amarelo. A edição brasileira tem apenas um texto em género de teaser, tal como na versão original francesa.




Em termos de lombada, a edição portuguesa apresenta o aspeto que já é reconhecível da Coleção de Novelas Gráficas da editora. A edição da Pipoca & Nanquim também é idêntica à edição original francesa. 

É mais apelativa a versão brasileira, claro, mas também percebo que a Levoir queira uniformizar as lombadas dos livros que lança nesta coleção.




As guardas dos dois livros também são diferentes. 

Na versão portuguesa somos brindados com uma bela ilustração de Chabouté. A edição brasileira apresenta apenas guardas a amarelo. Neste ponto, a edição portuguesa foi mais feliz.




Onde a edição portuguesa supera em grande a edição brasileira é no facto de possuir um prefácio que procura introduzir a obra antes da leitura da mesma. E quando digo isto, não o refiro pelo simples facto desse mesmo prefácio ter sido escrito por mim. Poderia ter sido escrito por outra pessoa - até porque, de um modo geral, os prefácios desta Coleção de Novelas Gráficas costumam ser bons. 

Mas, lá está, um prefácio comedido e bem desenvolvido permite uma melhor introdução da obra. Acho que isso engrandece e melhora a edição.

A edição brasileira não tem nada disso, além de uma nota biográfica sobre Chabouté e Benoît Cohen na última página do livro.




Em termos de papel utilizado, ambas as edições apresentam bom papel baço, o papel adequado para o tipo de ilustrações de Chabouté.

Posso admitir que a versão brasileira tem um papel de gramagem ligeiramente mais espessa, mas não é uma diferença muito grande, já que o papel da edição portuguesa também é de boa qualidade.




E, claro, a grande diferença em termos de texto é que a edição da Levoir nos oferece a obra no português de Portugal, ao passo que a edição da Pipoca & Nanquim nos dá o mesmo trabalho em português do Brasil. É óbvio que, neste ponto, os portugueses apreciarão mais a versão da Levoir e os brasileiros apreciarão mais a versão da Pipoca & Nanquim. É normal e lógico. Não obstante, a obra pode ser bem sorvida em qualquer uma das suas versões, quer por portugueses, quer por brasileiros.

No fim de contas, estamos perante duas belas edições em português de uma obra igualmente bela, e a escolha entre uma e outra recairá, acima de tudo, na questão do preço. 

Por cá, a edição brasileira encontra-se à venda na livraria Casa da BD por 24,00€, enquanto que a edição da Levoir com o jornal Público é vendida por 14,90€. A quase metade o preço! Desta vez, e admitindo que a edição brasileira enquanto objeto-livro até possa ser ligeiramente melhor, parece que a edição da Levoir vence na questão de custo-benefício. Se muitas vezes se aponta o dedo a algumas fraquezas nas edições da Levoir, vejo poucas vezes a atribuição de louvor por esta ação de tornar disponível - e a bom preço - bandas desenhadas de qualidade superior. Como é o caso.


6 comentários:

  1. Há uns anos, durante uma colecção tu estavas sempre a dar na Levoir por causa de tudo e mais alguma coisa e eu estava sempre a dizer que a qualidade / preço dos livros era muito boa.

    O que é que mudou agora para estares mais ponderado?
    Era uma vantagem muito óbvia, embora por vezes o trabalho da Levoir seja mau, como também o de outras editoras.

    Mas é bom saber que finalmente viste a luz.

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    1. Não considero que estava "sempre a dar na Levoir por causa de tudo e mais alguma coisa". Houve erros graves em algumas obras lançadas pela Levoir. Apontei-as. Lembro-me do Homem em Pijama, do Paco Roca, lembro-me do livro do Saramago e de mais uns quantos erros crassos noutros livros. Neste caso, não me parece que a tradução de um título - mesmo que infeliz - possa sequer ombrear com certo tipo de erros já cometidos pela editora no passado. Não sei se sou eu que estou mais ponderado ou se é a editora que - mesmo errando aqui e ali - parece estar com mais cuidado nas suas edições. Mas espero que seja a segunda opção.

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    2. Já agora, nas livrarias o livro vai custar mais.
      Eu fartei-me de te pedir ponderação porque as novelas graficas sempre foram importantes.
      Fico contente com esta mudança.

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  2. A Levoir infelizmente tenta fazer bem mas não consegue - as razões saberão eles dizê-las com maior acerto (se o desejarem). As limitações do modelo adoptado de distribuição em banca são óbvias - Obras tratadas a eito, má legendagem, erros de produção, papel de qualidade duvidosa, entre outras. Poder-se-á dizer mas as obras são a preço acessível, mas o que se perde no caminho é muito mais. A abordagem da editora brasileira é diametralmente oposta - excelente produção, escolha de materiais, cuidado na edição e na tradução, ou seja respeito pela obra original e pelo leitor. Há que nivelar por cima, coisa que a Levoir, aparentemente, não ambiciona.

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  3. O preço do livro da Pipoca & Nanquim não é o que a casa da BD em Portugal decide colocar. O livro tem um preço e esse é na moeda original, essa comparação não se faz assim.

    Quanto às guardas, a Pipoca & Nanquim dá sempre esse tratamento às obras do Chabouté, cada livro tem uma na cor que mais se relaciona com a história. O Solitário é o azul, o pedaço de madeira é aço é castanho, o Táxi é amarelo. Eu gosto muito.

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  4. Outra diferença importante é que a Pipoca & Nanquim lançou o livro no mesmo ano em que saiu o original na França (2021). Portugal esperou 3 anos.

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