terça-feira, 30 de setembro de 2025

TOP 10 - Os Melhores Sites Portugueses sobre Banda Desenhada


Tanto quanto sei, ninguém em Portugal recebe qualquer dinheiro para ser criador de conteúdos sobre banda desenhada. E isto é uma nota importante para abrir este artigo, pois não devemos perder de vista que, não estando a função de "criador de conteúdos" profissionalizada, não podemos, por uma questão de honestidade intelectual, esperar que o trabalho dos criadores de conteúdo sobre banda desenhada seja profissional. Talvez um dia isso possa vir a acontecer... mas não creio que estejamos perto desse dia.

Ora, posto isto, e não obstante o que acabei de escrever acima, a verdade é que, mesmo não sendo profissionais, os criadores de conteúdo merecem as minhas vénias pela sua dedicação, pelo seu trabalho e pelo seu esforço. Afinal de contas, se alguém tem um espaço onde escreve ou fala sobre banda desenhada, fá-lo por amor à 9ª arte, promovendo-a e divulgando-a da melhor forma que o consegue fazer. 

Tenho, pois, um enorme respeito por todos aqueles que, como eu, o fazem. Isto dá muito trabalho, acreditem. Acompanhar o que se passa, preparar esse conteúdo, redigir texto, editar vídeo, ler tanto as obras que amamos como aquelas com que não nos identificamos tanto... dá muito trabalho. Exige entrega à causa. Mas estou ciente - e isto não é uma opinião minha, mas o somatório de dezenas (ou centenas?) de opiniões de quem nos segue - que este tipo de conteúdos criados ajuda os interessados em banda desenhada a tomarem conhecimento das novidades editoriais, por um lado, e a procurarem ajuda para o processo de escolha sobre que banda desenhada comprar, por outro.

Mas, então, qual a razão para que este TOP 10 seja aqui feito, perguntar-me-ão? Bem, faço-o por duas razões.

A primeira é porque muita gente já me tem perguntado se eu sigo outros blogs, sites, páginas de instagramers, etc, que falem sobre BD. A resposta é: "sim, sigo". Nem sempre quanto gostaria, pois o tempo não dá para tudo, mas vou vendo o que por aí se faz. E acho que, também nesta vertente, o "setor" nacional da banda desenhada - se é que lhe posso dar esse nome - tem evoluído. Há 10 anos eram pouquíssimos os sites que se dedicavam a falar sobre BD. Hoje em dia, isso mudou muito, o que também é sinal do bom momento que vivemos. E, repito, não sendo um trabalho profissional, cada vez vai parecendo mais que é profissional. Temos conteúdos diversos e para todos os gostos. Em texto, em formato físico ou digital, em vídeo e até em formato de rádio/podcast. Só ainda não estamos, por agora, na televisão. 

A segunda razão pela qual faço este TOP 10 é porque também gosto de dar uma palavra de apreço aos meus colegas/amigos/conhecidos que fazem um trabalho mais ou menos parecido com o meu e acho que é importante que aqueles que aqui me seguem possam tomar contacto com o seu trabalho. Todos importam e quantos mais, melhor!

Como todos os TOPs que aqui vos apresento, este é apenas mais um que é baseado nos meus gostos pessoais. Nada do que eu digo é ou deve ser encarado como lei. Vale o valor que lhe quiserem atribuir. No meu caso concreto, quando navego por essa internet fora, eu procuro duas coisas: saber quais as novidades e conhecer opiniões, tão fundamentadas quanto possível, sobre o maior número possível de obras. Normalmente, prefiro conteúdos em texto do que em vídeo ou podcast, pois assistir a vídeos ou ouvir podcasts consome muito tempo, mas não digo que não goste de ouvir ou ver um vídeo, claro.

Ainda antes de vos apresentar quais são os meus criadores de conteúdos, permitam-me duas ressalvas:

1) O site OtakuPT é, quanto a mim, o melhor site sobre mangá em Portugal. Decidi não incluí-lo nesta lista porque, enquanto leitor de banda desenhada mundial, considero o OtakuPT demasiadamente específico em mangá. Bem sei que os excelentes vídeos e artigos do Hélder Archer também abordam, por vezes, outras obras de origem mais americana ou europeia, mas diria que as suas grandes qualidades são relativas ao mangá. Sempre que quero saber algo sobre mangá, é ao OtakuPT que recorro. Como é muito específico, não aparece neste TOP. Mas a julgar pela sua qualidade, poderia estar nos primeiros lugares.

2) Há dois sites que, nos seus tempos áureos, também entrariam facilmente para os lugares cimeiros do meu TOP 10: o Bandas Desenhadas e o Leituras de BD. O Bandas Desenhadas era uma autêntica "bíblia" sobre BD, tendo imenso conteúdo pertinente. Eu chamava-o de "wikipedia nacional de BD", mas infelizmente parou a sua atividade há coisa de um ano, o que me deixou bastante triste, pois achava-o dos melhores projetos do género em Portugal. Já o Leituras de BD, de Nuno Amaro, embora não tenha oficialmente encerrado portas, está quase parado, com muita pena minha. As opiniões do Nuno Amaro sempre foram algo polémicas para alguns, mas sempre apreciei a sua desfaçatez e coragem na sua forma de estar. E uma coisa que nem muita gente sabe é que o Leituras de BD foi uma grande referência para mim, ainda antes de eu imaginar criar o Vinheta 2020. Gostava, pois, que o site voltasse à mesma assiduidade que já teve em tempos, mas, como já disse, compreendo perfeitamente que todos nós temos uma vida além da banda desenhada - que não nos paga para o que fazemos - e, portanto, por vezes temos que deixar paixões para trás.

Portanto, feitas as ressalvas, eis, mais abaixo, os meus sites preferidos de banda desenhada, que vos aconselho a conhecer:

Já chegou às livrarias A Fera #2!



E aí está ela, a segunda e última parte daquela que considero ser a melhor BD lançada pela editora A Seita - pelo menos de forma isolada - conforme, aliás, até já referi no recente artigo que fiz a este propósito!

Falo de A Fera 2, que junta dois nomes enormes da banda desenhada europeia, Zidrou e Frank Pé, e que termina a história, de tom sério e realista, sobre a origem de Marsupilami.

Adorei o primeiro livro e estou muito desejoso de ler o segundo e último tomo da obra.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse do livro e com algumas imagens promocionais.

A Fera #2, de Zidrou e Frank Pé

A espécie existia muito antes de ser chamada Marsupilami…

Verdadeiro desafio e mistério para os zoólogos, dotado de uma cauda desproporcional, o animal possui também uma força impressionante, grande inteligência, um dom de empatia e… um apetite feroz!

O segundo volume de A Fera leva-nos de volta a Bruxelas dos anos 50 e às maravilhosas personagens que os autores cruzaram, numa luta desenfreada para salvar o Marsupilami dos cientistas obcecados com ele, e retorná-lo à sua selva natal!

Eis a história verídica de um animal caçado em Bruxelas na década de 1950. Zidrou e Frank Pé, dois dos maiores nomes da BD franco-belga, assinam o volume final da história verdadeira de uma fera tropical perdida na Bélgica cinzenta e chuvosa de 1956.

Esta edição d’A Seita é a mais completa edição do volume 2 de A Fera existente, incluindo uma história adicional final, e um dossier sobre Bruxelas nos anos 1950.




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Ficha técnica
A Fera #2
Autores: Zidrou e Frank Pé
Editora: A Seita
Páginas: 224, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 274 xx 290 mm
PVP: 34,00€

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Análise: Os Lusíadas

Os Lusíadas, de Pedro Vieira de Moura, Daniel Silvestre, João Lemos, Miguel Rocha, Rami Tannous e Xico Santos - Levoir e RTP


Os Lusíadas, de Pedro Vieira de Moura, Daniel Silvestre, João Lemos, Miguel Rocha, Rami Tannous e Xico Santos - Levoir e RTP
Os Lusíadas, de Pedro Vieira de Moura, Daniel Silvestre, João Lemos, Miguel Rocha, Rami Tannous e Xico Santos

Foi com o segundo volume de Os Lusíadas, a adaptação para banda desenhada da obra-prima de Luís de Camões, que a Levoir fechou a sua coleção dedicada aos Clássicos da Literatura Portuguesa em BD que a editora editou em parceria com a RTP.

Depois de lidos os dois volumes de uma só vez, para melhor poder imergir na obra, falo-vos hoje neste trabalho que junta o nome de seis autores nacionais! Um argumentista e cinco ilustradores! Algo que não vemos todos os dias!

Os Lusíadas, de Pedro Vieira de Moura, Daniel Silvestre, João Lemos, Miguel Rocha, Rami Tannous e Xico Santos - Levoir e RTP
O que me leva já para à primeira observação de que, com este Os Lusíadas, estamos perante uma empreitada de enorme valor, quer do ponto de vista ludo-educativo, quer do ponto de vista conceptual e artístico. 

Trata-se de uma obra que se apresenta com um vigor estético que merece todas as vénias, uma vez que os vários ilustradores que participam neste trabalho conseguiram dotá-la de uma beleza ímpar e de uma inspiração conjunta, capaz de captar a atenção de leitores de diferentes idades e formações. A própria materialidade da obra, o seu desenho e composição, refletem uma intenção clara de transformar um clássico da literatura portuguesa numa experiência visual intensa e tão acessível quanto possível, tendo em conta o próprio estilo ilustrativo dos autores, claro está.

É natural que, em termos visuais, não se trate de uma obra homogénea, dado o número e diversidade dos estilos gráficos dos autores envolvidos. No entanto, neste caso concreto, essa diversidade não prejudica a continuidade narrativa; antes, contribui para enriquecer a obra. Os Lusíadas é, por si só, um texto repleto de camadas narrativas, episódios distintos e variações de tom, o que permite acomodar diferentes linguagens visuais sem que se quebre a unidade da história. A pluralidade de estilos acaba, pois, por refletir a própria complexidade e riqueza do poema original de Camões e, nesse sentido, podemos dizer que a escolha dos ilustradores foi uma aposta ganha.

Os Lusíadas, de Pedro Vieira de Moura, Daniel Silvestre, João Lemos, Miguel Rocha, Rami Tannous e Xico Santos - Levoir e RTP
Miguel Rocha é o autor que, no somatório dos dois livros, ilustra o maior número de páginas, e o seu trabalho revela-se extremamente evocativo. As suas ilustrações conseguem transmitir a grandiosidade das aventuras marítimas, bem como os momentos de introspeção e de tensão narrativa, criando imagens que permanecem na memória do leitor. A força expressiva de Rocha marca a obra e serve como fio condutor para os diversos outros estilos que surgem depois ao longo do livro, garantindo uma base sólida.

Além do trabalho de Rocha, também as páginas de Daniel Silvestre se destacam através da intensidade e originalidade do seu traço, que confere a certas passagens uma expressividade singular, tornando-as visualmente memoráveis. É inequívoco o talento deste autor, que consegue equilibrar detalhe e dinamismo e, em termos de narrativa, opera como que uma nova passagem, um portal, para o próprio Luís de Camões enquanto personagem cativa dentro da sua própria obra. Refira-se ainda que sendo estilos bastante díspares, os de Miguel Rocha e de Daniel Silvestre, há paginas especialmente bem sucedidas na forma airosa e imaginativa como se passa de um universo para o outro de forma orgânica.

Os Lusíadas, de Pedro Vieira de Moura, Daniel Silvestre, João Lemos, Miguel Rocha, Rami Tannous e Xico Santos - Levoir e RTP
João Lemos oferece páginas mais leves e refrescantes, proporcionando um contraponto bem-vindo às ilustrações mais densas ou dramáticas dos demais ilustradores. A sua abordagem é marcada por traços fluidos e uma paleta que transmite alegria, permitindo que certas passagens do poema, especialmente aquelas de caráter mais contemplativo ou narrativo, ganhem leveza e dinamismo.

No segundo volume, o trabalho de Xico Santos e Rami Tannous também merece louvor. Xico Santos imprime força e solidez através de uma abordagem de banda desenhada mais clássica na forma, enquanto Rami Tannous demonstra capacidade para dotar a obra de (mais) uma abordagem singular em termos pictóricos, que nos remete para um estilo de outro tempo e de outro lugar. Cada ilustrador traz algo distinto, mas complementar, contribuindo para que a adaptação seja não apenas visualmente apelativa, mas também diversificada e multifacetada.

A adaptação do texto de Camões ficou a cargo de Pedro Vieira de Moura, que já tinha desempenhado semelhante função noutros clássicos desta coleção, como Mensagem ou Sermão de Santo António aos Peixes. E Pedro Moura volta a ter mérito, conseguindo transportar a linguagem e a grandeza da epopeia para o formato da banda desenhada, preservando a essência da narrativa e os principais episódios de Os Lusíadas.

Os Lusíadas, de Pedro Vieira de Moura, Daniel Silvestre, João Lemos, Miguel Rocha, Rami Tannous e Xico Santos - Levoir e RTP
Apesar da escolha acertada de dividir a adaptação em dois volumes, permanece, porém, um sentimento de incompletude quando terminamos a leitura. Ou de uma certa sensação de que fomos apenas presenteados com episódios soltos, sem que depois houvesse uma coluna vertebral que unisse todos os pontos. A densidade e riqueza do texto original exigem uma condensação, e ainda que a divisão seja compreensível, o resultado deixa a sensação de que há episódios ou detalhes que não foram plenamente explorados. 

Por outro lado, e apesar do que acabei de referir, assiste-se também a um sobrepovoamento de texto em muitas páginas que, embora necessário para manter fidelidade ao poema, pode afastar alguns leitores.

O excesso de texto em algumas páginas compromete, sem dúvida, o ritmo visual da banda desenhada. As vinhetas tornam-se carregadas e, em certos momentos, a leitura da imagem compete com a leitura do texto, diminuindo a fluidez narrativa. O que é que poderia ter atenuado este problema? É simples... um maior número de páginas. Ou, não as tendo, uma maior divisão da obra original, abdicando de mais momentos. Assim, como foi feito, ficamos pelo meio: tentou-se meter muita coisa em pouco espaço, mesmo tendo em conta que são dois os livros.

Quanto à edição, os livros apresentam capa dura baça, com bom papel brilhante no interior, e uma boa encadernação e impressão. O primeiro livro é complementado com um dossier informativo acerca da obra original de Camões e do seu contexto histórico, que é bastante relevante. 

O que também é relevante, mas pelas más razões, é que várias páginas do segundo livro se encontrem sem legendas, quando foram pensadas e trabalhadas para serem legendadas. Ora, isto é lastimoso para a experiência do leitor e põe em causa o bom trabalho da editora. Esta, tentou corrigir o erro apresentando uma errata com o texto em falta nas mencionadas páginas, numa tentativa de tornar menos penosa a situação para o leitor. Erros acontecem a toda a gente, bem sei, mas é na resolução dos mesmos e, por ventura mais importante ainda, na garantia que tal coisa não voltará a acontecer no futuro, que as editoras conquistam a confiança dos leitores. Infelizmente, também tinha acontecido coisa semelhante - embora menos badalada - com a mesma editora no livro Dorian Gray - que, por acaso, e com pena minha, é um livro belíssimo - em que também houve páginas com balões sem texto. Se tenho afirmado que, por vezes, certas queixas e críticas feitas à Levoir são injustas, outras há, como é o caso, que são indefensáveis. 

Abaixo, podem ver, à esquerda, um exemplo do que o livro acabou por ser e, à direita, aquilo que o livro seria se não tivesse havido este lamentável erro.

Os Lusíadas, de Pedro Vieira de Moura, Daniel Silvestre, João Lemos, Miguel Rocha, Rami Tannous e Xico Santos - Levoir e RTP


Em síntese, a adaptação para BD, em dois volumes, de Os Lusíadas é uma obra de grande mérito artístico e conceptual. A pluralidade de estilos gráficos e o vigor estético da obra tornam-na rica e envolvente, enquanto a adaptação cuidadosa de Pedro Vieira de Moura garante uma ligação sólida com o poema original. Apesar de algumas limitações no ritmo e na quantidade de texto, bem como um lapso clamoroso com a edição da obra, esta é uma iniciativa louvável, que oferece aos leitores uma experiência visual e literária única, aproximando um clássico português das novas gerações e de um público mais amplo.


NOTA FINAL (1/10):
8.3




Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens dos álbuns. www.instagram.com/vinheta_2020




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Os Lusíadas, de Pedro Vieira de Moura, Daniel Silvestre, João Lemos, Miguel Rocha, Rami Tannous e Xico Santos - Levoir e RTP

Fichas técnicas
Os Lusíadas - Primeira Parte
Autores: Pedro Moura, Daniel Silvestre, João Lemos e Miguel Rocha
Adaptado a partir da obra original de: Luís de Camões
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
Lançamento: Outubro de 2024

Os Lusíadas, de Pedro Vieira de Moura, Daniel Silvestre, João Lemos, Miguel Rocha, Rami Tannous e Xico Santos - Levoir e RTP

Os Lusíadas - Segunda Parte
Autores: Pedro Moura, Daniel Silvestre, Miguel Rocha, Rami Tannous, Xico Santos
Adaptado a partir da obra original de: Luís de Camões
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
Lançamento: Maio de 2025

BD sobre o Fernando Pessoa e Zombies está de volta!



A editora Iguana prepara-se para reeditar para o mercado nacional a banda desenhada A Vida Oculta de Fernando Pessoa, do português André F. Morgado e do brasileiro Alexandre Leoni!

Esta é uma banda desenhada muito original e bem conseguida que, desde logo, recebeu muitos elogios do público e crítica, tendo sido um sucesso.

Como tal, é com bons olhos que vejo esta reedição da obra, desta vez pelas mãos de uma outra editora, que conta com uma nova (e bela!) ilustração de capa. Trata-se de um livro que recomendo a quem não conheceu. Ou a quem ainda não ofereceu.

O livro chega às livrarias a partir do próximo dia 6 de Outubro e já se encontra em pré-venda no site da editora.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais.


A Vida Oculta de Fernando Pessoa, de André F. Morgado e Alexandre Leoni

Uma das melhores BD portuguesas está de volta com uma nova edição

Como explicar os heterónimos de Fernando Pessoa aos mais novos? Foi o que André Morgado pensou quando era professor. A solução foi inventar uma história em que o poeta era, secretamente, um exterminador de zombies que inventava outros nomes – os heterónimos – para que ninguém o descobrisse.
O resultado foi esta brilhante e original banda desenhada, editada há dez anos e reeditada agora pela Iguana, com uma nova capa.

Em plena Lisboa do século XX, Fernando Pessoa move-se entre dois mundos: o que todos conhecem… e o das sombras, onde opera como agente de uma ordem secreta que combate uma ameaça silenciosa prestes a alastrar-se pela sociedade portuguesa.

Ele sabe que só há uma forma de o impedir. Mas cada missão deixa marcas. E essas marcas obrigam-no a escrever.

Nesta narrativa sombria e original, onde o real se mistura com o sobrenatural, A Vida Oculta de Fernando Pessoa transforma o nascimento dos heterónimos numa resposta a um trauma profundo — uma tentativa de manter vivos aqueles que foi forçado a eliminar.

Dez anos depois da publicação original, um dos principais sucessos comerciais da BD nacional está de regresso… e dizem que o mal também.

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Ficha técnica
A Vida Oculta de Fernando Pessoa
Autores: André F. Morgado e Alexandre Leoni
Editora: Iguana
Páginas: 96, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 240 mm
PVP: 17,85€

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Análise: Coleção 25 Imagens

Coleção 25 Imagens, de Vasco Colombo, Nina Bunjevac, Landis Blair, Jacques Tardi e Lucas Harari - Levoir e Público

Coleção 25 Imagens, de Vasco Colombo, Nina Bunjevac, Landis Blair, Jacques Tardi e Lucas Harari - Levoir e Público
Coleção 25 Imagens, de Vasco Colombo, Nina Bunjevac, Landis Blair, Jacques Tardi e Lucas Harari

Hoje trago-vos uma análise conjunta a cinco dos sete volumes que constituem a coleção 25 Imagens, recentemente editada pela Levoir, em parceria com o jornal Público. Relembro que os dois primeiros volumes da coleção, A Floresta, de Thomas Ott, e Marguerite, de Joe Pinelli, já aqui foram analisados no Vinheta 2020.

Mas antes de entrar em detalhe face aos restantes livros da coleção, gostaria de me focar nesta coleção, de um modo mais global, pois considero que a mesma representa uma novidade significativa no panorama editorial português. O conceito de cada volume ser narrado exclusivamente por 25 imagens, em preto e branco, sem qualquer texto, rompe com a tradição de banda desenhada a que o público nacional está habituado. É um exercício narrativo desafiante, que coloca em primeiro plano o desenho e a capacidade de contar histórias visualmente. Como tal, acho que a chegada desta coleção constitui uma lufada de ar fresco no mercado nacional, apostando em algo que privilegia a arte sequencial no seu estado mais puro. Como tal, só posso dar os parabéns à Levoir pela ousadia editorial.

Coleção 25 Imagens, de Vasco Colombo, Nina Bunjevac, Landis Blair, Jacques Tardi e Lucas Harari - Levoir e Público
Além disso, convém não esquecer que a seleção de autores desta coleção 25 Imagens é outro ponto a destacar. Thomas Ott, Joe Pinelli, Landis Blair, Jacques Tardi, Lucas Harari, Numa Bunjeac e Vasco Colombo compõem um alinhamento de nomes de exceção, cada qual com estilos e universos próprios, claro está. E a presença do autor português Vasco Colombo tem especial relevância, pois confere à coleção um caráter único e nacional, e demonstra que a produção portuguesa de banda desenhada contemporânea não fica atrás da internacional. De facto, não só o livro de Vasco Colombo está à altura dos restantes, como até se encontra, a meu ver, entre os melhores da coleção. Mas já lá irei.

Avançando para os livros em concreto, começo por afirmar que um dos reais méritos desta coleção é o de mostrar como a limitação formal, as tais 25 imagens para narrar uma história, pode ser transformada em virtude. Essa restrição obriga os autores a uma disciplina narrativa rigorosa, em que cada imagem tem de carregar significado. Por consequência, todos os livros são obras que não se leem de uma forma passiva, convidando o leitor a preencher as lacunas, a imaginar o que não está representado, a refletir sobre o sentido da sucessão de imagens. Diria que não será um exercício para todo o tipo de leitor, mas que será certamente recompensador para o leitor mais atento.

Coleção 25 Imagens, de Vasco Colombo, Nina Bunjevac, Landis Blair, Jacques Tardi e Lucas Harari - Levoir e Público
Rumo ao Sul
, de Landis Blair, é um dos meus livros preferidos da coleção. Com um desenho realista, em que os detalhes na ilustração são belíssimos e realçados pela utilização de tramas, a história acompanha a derradeira viagem de um homem, num ambiente natural gélido e ao mesmo tempo fascinante. A neve, o vento, as árvores e especialmente os pássaros são elementos que contribuem para a metáfora de uma despedida serena. Uma bela metáfora para a vida!

Em Ter 20 anos em Maio de 1871, Jacques Tardi regressa aos seus temas prediletos: a memória histórica, a violência e as feridas do tempo. O livro mostra um homem idoso a revisitar o cemitério de Père-Lachaise, onde reencontra o peso da Comuna de Paris e do seu passado. O desenho direto, rápido e expressivo de Tardi capta tanto a solidão como a persistência da resistência política. É uma narrativa sobre cicatrizes que não se apagam, ainda que a história me pareça um pouco mais lata do que o desejável.

Coleção 25 Imagens, de Vasco Colombo, Nina Bunjevac, Landis Blair, Jacques Tardi e Lucas Harari - Levoir e Público
A Restauração
, de Numa Bunjeac, distingue-se pelo seu imaginário perturbador e alegórico. A história aborda a dor da separação, na relação entre uma criança que é separada da sua avó, mudando de cidade e mantendo consigo a dor dessa separação. Separação essa que ainda é incrementada pelo contacto com uma mãe alcóolica e cativa em relações tóxicas. De alguma forma, A Restauração diz respeito à resolução do presente com base na memória de um passado feliz. Na procura do conforto nessa infância onde o mundo era puro. Como se isso fosse possível. O desenho é ultra realista, conseguindo, ao mesmo tempo, ser abstrato nos momentos mais metafóricos. É uma bela obra, revelando uma autora muito singular, que nos oferece um livro que causa desconforto e fascínio em simultâneo.

Nachave, de Lucas Harari, apresenta um registo diferente, embora revelando ser também uma história trágica e socialmente incisiva. Acompanhamos um adolescente de subúrbio que vive num quotidiano marcado por oportunidades reduzidas, violência e presença policial incisiva sobre grupos específicos. Neste caso o seu. A trama visual culmina numa saída que não chega a tempo: pequenas decisões - ou talvez a falta delas - convergem para um desfecho trágico. A história é simples e linear, bem como o estilo de desenho de Harari, mas o que é certo é que o livro nos deixa a pensar.

Coleção 25 Imagens, de Vasco Colombo, Nina Bunjevac, Landis Blair, Jacques Tardi e Lucas Harari - Levoir e Público
Finalmente, O Cabo de 2.102.400 Km, do autor português Vasco Colombo, é talvez o mais metafórico da coleção. A descoberta de um cabo aparentemente interminável torna-se a premissa de uma busca sem fim. A narrativa joga com a ideia de ligação, de distância, de relações invisíveis entre seres e lugares. O desenho, muito belo e carregado de um sentido de estética muito impressionante - ou não estivesse Vasco Colombo ligado ao universo do design - cria uma atmosfera ambígua que tanto pode sugerir o absurdo como a contemplação poética. Aqui e ali denotam-se elementos que parecem sugerir significados ocultos e easter eggs, o que eleva a qualidade da obra, sugerindo uma segunda e uma terceira leituras. Colombo demonstra uma maturidade gráfica e narrativa que coloca este O Cabo de 2.102.400 Km como um dos melhores da coleção. Ao propor um volume simultaneamente poético e inquietante, Vasco Colombo prova que a produção nacional não precisa de concessões para afirmar a sua qualidade.

Voltando à globalidade desta coleção, denota-se que apesar da diversidade temática e estilística, todos os livros partilham um mesmo espírito: o de oferecer ao leitor um vislumbre breve mas intenso de um universo. Naturalmente, algumas propostas resultam melhor do que outras. 

Coleção 25 Imagens, de Vasco Colombo, Nina Bunjevac, Landis Blair, Jacques Tardi e Lucas Harari - Levoir e Público
A leitura em conjunto da coleção evidencia ainda como o desenho pode assumir múltiplas funções narrativas. É mesmo quando a narrativa parece mais abstrata ou ambígua, os livros nunca deixam de ser experiências agradáveis e instigantes. Cada um deles propõe um pacto de leitura diferente: alguns apelam ao sentimento, outros à memória, outros ainda à contemplação ou ao desconforto. O leitor sai sempre desafiado a refletir.

Todos os livros apresentam capa dura, com textura, e um excelente (excelente, mesmo!) papel baço no interior do livro. O trabalho de encadernação e impressão também é bastante bom. Em termos de nobreza de materiais, esta é uma das melhores edições de sempre da Levoir.

Em síntese, os cinco volumes analisados confirmam o êxito da iniciativa 25 Imagens. Cada livro é único e acrescenta algo à coleção, e se nem todos têm o mesmo impacto, todos partilham uma qualidade inegável de desenho e de criatividade. A coleção como um todo é, portanto, não apenas uma novidade editorial, mas também um convite a olhar a banda desenhada como arte visual plena, capaz de emocionar, inquietar e fazer pensar, mesmo quando as palavras estão ausentes.

NOTA FINAL (1/10):
O Cabo de 2.102.400 km - 8.8
A Restauração - 8.5
Rumo ao Sul - 8.8
Ter 20 anos em Maio de 1871 - 6.5
Nachave 7.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens dos álbuns. www.instagram.com/vinheta_2020



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Coleção 25 Imagens, de Vasco Colombo, Nina Bunjevac, Landis Blair, Jacques Tardi e Lucas Harari - Levoir e Público

Fichas técnicas
O Cabo de 2.102.400 km
Autor: Vasco Colombo
Editora: Levoir
Páginas: 32, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 190 x 265mm

Coleção 25 Imagens, de Vasco Colombo, Nina Bunjevac, Landis Blair, Jacques Tardi e Lucas Harari - Levoir e Público

A Restauração
Autora: Nina Bunjevac
Editora: Levoir
Páginas: 32, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 190 X 265mm

Coleção 25 Imagens, de Vasco Colombo, Nina Bunjevac, Landis Blair, Jacques Tardi e Lucas Harari - Levoir e Público

Rumo ao Sul
Autor: Landis Blair
Editora: Levoir
Páginas: 32, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 190 x 265 mm

Coleção 25 Imagens, de Vasco Colombo, Nina Bunjevac, Landis Blair, Jacques Tardi e Lucas Harari - Levoir e Público

Ter 20 anos em Maio de 1871
Autor: Jacques Tardi
Editora: Levoir
Páginas: 32, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 190 x 265mm
PVP: 13,90€

Coleção 25 Imagens, de Vasco Colombo, Nina Bunjevac, Landis Blair, Jacques Tardi e Lucas Harari - Levoir e Público

Nachave
Autor: Lucas Harari
Editora: Levoir
Páginas: 32, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 190 x 265mm
PVP: 13,90€

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Iguana prepara-se para lançar BD multipremiada!



É uma das grandes apostas do ano da Iguana, no que à banda desenhada diz respeito!

A editora portuguesa prepara-se para lançar, a partir do próximo dia 6 de Outubro, a obra Corpo de Cristo, da autora espanhola Bea Lema.

Além dos muitos prémios que esta obra, originalmente editada em 2017, já recebeu, tenho lido e ouvido maravilhas sobre este trabalho, portanto posso apenas dizer-vos que estou muito, muito, muito curioso com este livro!

Por agora, o mesmo já se encontra em pré-venda no site da editora.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

Corpo de Cristo, de Bea Lema

Quando Vera era criança, um demónio assombrava a sua casa e atormentava a sua mãe, fustigando-lhe os nervos até ela ficar de cama durante dias. Entre sessões de exorcismo e consultas com o psiquiatra, a superstição vai-se desvanecendo ano após ano para dar lugar ao diagnóstico. 

Mas apesar da doença e das excentricidades, o amor entre Vera e a mãe é mais forte do que qualquer outra coisa, capaz de sobreviver à passagem do tempo, às tormentas e ao estigma da sociedade.

Combinando desenhos delicados com bordados feitos à mão pela autora, Corpo de Cristo relata com uma ternura crua o tabu da doença mental e o papel de cuidador sempre imposto às mulheres.

É também o retrato trágico e universal de uma mulher presa ao seu papel de filha, mãe e esposa numa sociedade patriarcal, pobre e católica.

Prémio Nacional del Cómic, Espanha
Prémio do Público no Festival d’Angoulême, França
Melhor Novela Gráfica Estrangeira na Comic-Con de Nápoles, Itália
Grande Prémio l’Héroïne Madame Figaro, França
Prémio Bédélys do Festival BD de Montréal para melhor obra estrangeira, Canadá
Prémio do Júri do Festival BD en Périgord, França


Os elogios da crítica:
«Poucas bandas desenhadas mostram tanta personalidade, mantendo-se perfeitamente acessíveis. Corpo de Cristo recorda-nos a importância da escuta e da empatia no seio de cada família.»
Le Figaro

«A capa atrai todos os olhares, mas quando se vê o resto, entra-se num mundo cheio de beleza e também de tristeza.»
La Sexta

«É evidente que se trata de uma obra excecional.»
Actua BD

«Para além do seu impacto emocional e da força desta história familiar, se O Corpo de Cristo é tão interessante é porque, além disso, pode ser visto como um reflexo da própria evolução da sociedade espanhola.»
Rockdelux

«Imperdível.»
L’Express

«Um dos álbuns com o estilo mais marcante deste outono.»
Causette

«Um relato pessoal sombrio iluminado por uma incrível liberdade artística.»
LIRE

«Um olhar novo e visceral sobre o tema da saúde mental, da queda no vazio após um drama.»
L’Avenir

«Um magnífico e muito original testemunho de amor entre mãe e filha.»
L’Obs

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Ficha técnica
Corpo de Cristo
Autora: Bea Lema
Editora: Iguana
Páginas: 184, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 170 x 240 mm
PVP: 20,45€

Análise: Homem-Aranha - Fato Preto e Sangue

Homem-Aranha – Fato Preto e Sangue, de Vários Autores - G. Floy Studio Portugal - Marvel

Homem-Aranha – Fato Preto e Sangue, de Vários Autores - G. Floy Studio Portugal - Marvel
Homem-Aranha - Fato Preto e Sangue, de Vários Autores

Da G. Floy Studio, editora que, lamentavelmente, tem andado arredada do lançamento de banda desenhada em Portugal, chegou-nos recentemente este Homem-Aranha – Fato Preto e Sangue, uma antologia de histórias sobre a personagem mais célebre da Marvel, que se integra num projeto editorial recente da gigante editorial americana que procura revisitar personagens icónicas através de uma série de antologias temáticas. A lógica é a mesma: reunir histórias curtas, cada uma com a sua equipa criativa, tendo em comum um estilo gráfico restrito a três cores: preto, branco e vermelho. O resultado é uma proposta estética ousada, que privilegia a experimentação visual e o contraste dramático.

À semelhança do que acontece nos outros títulos da coleção, Fato Preto e Sangue é uma antologia que mistura nomes consagrados e novos talentos, cada um deixando a sua marca em breves narrativas independentes e autocontidas. E essa variedade volta a ser tanto a força como a fraqueza do livro: a multiplicidade de vozes permite frescura, sim, mas isso nem sempre conduz a histórias memoráveis. E como em qualquer antologia, o leitor encontra altos e baixos, momentos de verdadeira inspiração ao lado de episódios mais banais e formulaicos.

Homem-Aranha – Fato Preto e Sangue, de Vários Autores - G. Floy Studio Portugal - Marvel
Infelizmente, neste volume, o pêndulo inclina-se mais para o lado das histórias menos inspiradas. Aliás, essa tem sido a tendência, depois dos dois primeiros volumes dedicados às personagens de Wolverine e Carnificina terem sido, a meu ver, os melhores desta coleção.  Este Fato Preto e Sangue também não estará entre os piores, mas poderia ser melhor, especialmente ao nível dos argumentos. Muitas das histórias não passam de pretextos narrativos para colocar o Homem-Aranha em confrontos urbanos típicos, enfrentando pequenos criminosos ou grandes vilões, mas sem acrescentar qualquer camada de complexidade à personagem ou ao seu mundo. O super-herói aparece, pois, como um símbolo genérico de justiça e responsabilidade, mas sem aquela dimensão emocional que torna Peter Parker uma das figuras mais fascinantes do universo dos comics.

Essa superficialidade narrativa deixa uma sensação de desperdício, sobretudo quando se sabe que este formato permitiria arriscar mais e explorar facetas menos óbvias do herói. O recurso fácil ao combate, ao conflito imediato e à moralidade linear acaba por reduzir algumas das histórias a simples vinhetas de ação, pouco mais do que exercícios de estilo. Em certos momentos, a antologia parece cair na armadilha de confundir intensidade visual com profundidade dramática.

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No entanto, há uma exceção que merece destaque absoluto: a primeira história, Perder a Face, assinada por J.M. DeMatteis e Elena Casagrande. Aqui, o leitor encontra um Peter Parker humano, vulnerável, mas também compassivo. Em vez de se centrar apenas no combate, a narrativa ilumina a dimensão pessoal e empática do herói, que ajuda um homem perdido a reencontrar um propósito. É uma história curta, mas cheia de ressonância, capaz de relembrar ao leitor porque razão o Homem-Aranha é tão especial.

Se todas as histórias tivessem o mesmo nível de inspiração de Perder a Face, este volume estaria entre os grandes momentos recentes da Marvel. Mas, e infelizmente, o contraste entre esta bela abertura e as restantes histórias só torna mais visível a irregularidade da antologia. 

No campo visual, porém, o livro revela-se consistente e impressionante. Quase todas as histórias são ilustradas com grande cuidado estético, aproveitando ao máximo a limitação cromática para criar atmosferas densas, violentas e, por vezes, poéticas. O preto e branco dá solidez e contraste às cenas, enquanto o vermelho explode como símbolo de sangue, violência ou emoção. Esse jogo cromático é explorado de maneiras muito diferentes por cada artista, garantindo variedade e riqueza visual. Desse ponto de vista, é um belo livro.

Homem-Aranha – Fato Preto e Sangue, de Vários Autores - G. Floy Studio Portugal - Marvel
Nesse sentido, a criatividade gráfica é, de facto, o maior trunfo desta antologia. Os ilustradores encontram soluções surpreendentes para reinterpretar o universo do Homem-Aranha, desde páginas de ação frenética até quadros mais contemplativos, cheios de simbolismo. A paleta reduzida obriga a escolhas ousadas de composição, de luz e sombra, que muitas vezes resultam em páginas de grande impacto. Mesmo nas histórias menos fortes em termos de argumento, há frequentemente pranchas que se destacam pela beleza ou pela inventividade.

Esse equilíbrio desigual entre argumento e desenho leva a uma conclusão clara: neste livro, os verdadeiros protagonistas são os ilustradores. São eles que mantêm o interesse vivo, que elevam o nível das histórias mais banais e que tornam a leitura, no seu conjunto, satisfatória. Ao contrário dos argumentistas, que nem sempre arriscaram ou se mostraram inspirados, os artistas gráficos parecem ter abraçado por completo a proposta do projeto, entregando trabalhos consistentes e cativantes.

Em termos de edição, o livro apresenta capa dura baça, bom papel brilhante no miolo, e um bom trabalho de encadernação e impressão. Bem ao estilo das outras edições da G. Floy Studio. No final, há ainda um caderno de extras com mais de 10 capas alternativas da obra.

Em suma, Homem-Aranha – Fato Preto e Sangue não é uma antologia perfeita e falha em dar ao leitor um conjunto equilibrado de narrativas fortes, mas, ao mesmo tempo, é um livro visualmente estimulante que confirma o talento de muitos dos ilustradores envolvidos. Para quem procura grandes histórias, pode ser um volume irregular; para quem aprecia a ilustração em banda desenhada, é uma experiência visual recompensadora.


NOTA FINAL (1/10):
6.9


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Homem-Aranha – Fato Preto e Sangue, de Vários Autores - G. Floy Studio Portugal - Marvel

Ficha técnica
Homem-Aranha - Fato Preto e Sangue
Autores: Vários Autores
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 152, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 18 x 27,5 cm
Lançamento: Junho de 2025