Depois de um período de férias, regresso ao tema que fui desenvolvendo ao longo do mês de agosto: qual a melhor banda desenhada que cada editora lançou nos últimos 5 anos? O período dos 5 anos é apenas escolhido devido a ser o período de atividade aqui do Vinheta 2020. E porque é um número redondo, claro.
Hoje trago-vos algo um pouco diferente: em vez de me focar na banda desenhada editada por uma editora apenas, trago-vos o conjunto de melhores obras editadas pelo esforço conjunto de duas editoras: a Arte de Autor e A Seita. Sei que já publiquei um TOP 10 sobre cada uma destas editoras, mas tendo em conta a muito prolífera parceria editorial entre A Seita e a Arte de Autor, apresento-vos o meu TOP 10 das duas editoras.
Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".
Faço aqui uma pequena nota sobre o procedimento: considerei séries como um todo e obras one-shot. Tudo junto. Pode ser um bocado injusto para as obras autocontidas, reconheço, e até ponderei fazer um TOP exclusivamente para séries e outro para livros one-shot, mas depois achei que isso seria escolher demasiadas obras. Deixaria de ser um TOP 10 para ser um TOP 20. Até me facilitaria o processo, honestamente, mas acabaria por retirar destaque a este meu trabalho que procura ser de curadoria. Acabou por ser um exercício mais difícil, pois tive que deixar de fora obras que também adoro, mas acho que quem beneficia são os meus leitores que, deste modo, ficam com a BD que considero ser a "crème de la crème" de cada editora.
Eis então, as melhores obras que, quanto a mim, a Arte de Autor e A Seita já editaram em conjunto:
TOP 10 - A Melhor BD lançada em parceria pel' A Seita e pela Arte de Autor entre 2020 e 2025
Autores: Jodorowsky e Moebius
Lançamento: Junho de 2021
Os Olhos do Gato é um autêntico clássico da banda desenhada internacional que, lamentavelmente, e mesmo tendo passado mais de 40 anos desde a sua publicação original, permanecia inédito no nosso país até que A Seita e a Arte de Autor se juntaram para o editar em 2021.
Refira-se que esta obra tem, também, o condão de ter sido a primeira colaboração em BD entre Jodorowsky e Moebius - ainda nos tempos idos da revista Métal Hurlant – e de ter a capacidade (ou objetivo?) de nos oferecer uma proposta diferente em termos de experiência de banda desenhada. E quando digo "diferente", refiro-me a todos os níveis. Quer em termos de narrativa textual quer, também, e certamente de forma mais demarcada, a nível visual. Em termos de forma, de planificação de páginas, estamos perante algo singular e raro na banda desenhada.
Os Olhos do Gato é uma banda desenhada atípica, que rasga formas e convenções associadas ao universo da 9ª Arte, apresentando-nos uma proposta singular, bela e inspirada, que nos convida a vivenciar uma experiência sensorial acima de tudo. Mas não é uma viagem metafísica apenas, pois há uma moral implícita à história que nos é dada. Podendo não ser “para todos”, é uma obra fantástica que todos deveriam, pelo menos, conhecer.
Análise completa a esta obra, aqui.
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Autores: Mathieu Mariolle e Guénaël Grabowski
Lançamento do último volume: Novembro de 2022
Kimball, com origens indianas e irlandesas, é um agente ao serviço da espionagem do Império Britânico e vê-se envolvido na enorme tensão que se regista entre os Impérios Russos e Ingleses, que culminam na sua acusação de responsável por um atentado que ocorre num enorme navio com iminentes figuras russas e britânicas. Ora, vendo-se forçado a provar a sua inocência, Kimball dá conta de que os documentos que o podem ilibar estão num cofre que se encontra no fundo do mar, junto aos destroços do navio destruído. Mas como ir ao fundo do mar buscar algo quando ainda não chegámos a 1900, sequer? A única esperança reside, portanto, no submarino Nautilus e é então que Kimball concentra os seus esforços em encontrar o Capitão Nemo, uma vez que apenas este, e o seu submarino Nautilus, o poderão ajudar.
Aventura é algo que não falta neste livro. Perseguições, paisagens paradisíacas, explosões, fugas da cadeia, momentos de ação e perigo de vida constante para o protagonista são coisas com que podemos contar.
Em termos de ilustração, gostei bastante do trabalho de Grabowski que consegue dotar o livro com toda a urgência típica de uma BD de ação e que era crucial para a boa dinâmica da obra. Quem aprecia o estilo mais clássico da BD franco-belga de aventura, vai certamente apreciar a componente estética desta série, pois consegue homenagear o clássico e, mesmo assim, ter algum modernismo.
Nautilus é uma bela surpresa e totalmente recomendável para os adeptos da banda desenhada europeia de aventura, com um carismático protagonista. Confesso ter ficado empolgado com aquilo que esta série ainda nos pode dar nos próximos dois tomos que, segundo as editoras, deverão sair ainda durante 2025, num só volume.
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Autores: Zidrou e Edith
Lançamento: Outubro de 2023
A história da obra passa-se nos anos 1920 e centra-se, como não podia deixar de ser, em Emma G. Wildford, que tem passado os últimos catorze meses à espera do seu noivo, Roald Hodges, membro da National Geographic Society, depois de este ter embarcado numa expedição à Noruega. Mas desde que essa jornada começou, não mais Emma obteve qualquer notícia do paradeiro do seu noivo.
E um detalhe bastante relevante para a história é que, antes de iniciar a sua jornada, Roald oferece uma misteriosa carta a Emma, pedindo-lhe que só a abra caso lhe aconteça alguma coisa de mal durante a viagem que vai empreender. Como tal, e estando sem notícias do seu noivo por tantos meses, Emma nega para si mesma que a causa dessa ausência seja algo de mau, e opta por, em vez de abrir o tal envelope, ir à procura do seu noivo. Deixa, portanto, a sua Inglaterra repleta de luxos e mordomias dignas da classe alta a que pertence, para partir para a Lapónia.
É o aspeto mais poético da obra, que mais salta à vista. Pode não ser um daqueles livros que marca uma vida – ou, sequer, o melhor livro de Zidrou – mas certamente é uma obra bem conseguida, que merece ser lida. Acho até que é uma daquelas bandas desenhadas que, por ter um tom mais romântico e poético, terá o potencial de trazer pessoas que habitualmente não leem banda desenhada para o meio. Se tivesse que oferecer uma BD a alguém que gosta de ler poesia ou romances, mas que não lê BD, este Emma G. Wildford poderia muito bem ser a minha aposta.
Enfim, parece ser claro que Zidrou não sabe fazer maus livros. Ainda que este Emma G. Wildford assuma um registo quiçá menos impactante do que outras obras do mesmo autor lançadas por cá, continua a ser um belo livro, carregado de romantismo, poesia e beleza, que merece ser (re)conhecido por todos!
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Autor: Enrico Marini
Lançamento do último volume: Outubro de 2023
Esta história de Enrico Marini, leva-nos para o submundo da máfia italiana a operar em Nova Iorque, num trabalho que presta homenagem ao estilo noir.
Rex, um dos chefes da máfia local, e noivo da sensualíssima Caprice - com quem o protagonista da história, Slick, tem uma história de amor passada - ordena a este que faça o roubo do retrato da mãe do chefe gangster rival, Don Zizzi, que havia sido pintado por Pablo Picasso. É a única forma de Slick saldar as suas dívidas perante Rex. E se o plano não for executado na perfeição, Rex ameaça matar a irmã e o sobrinho de Slick.
Fica claro que nesta obra Enrico Marini pretendeu homenagear o cinema americano, que imortalizou estas lutas da máfia em variados clássicos da 7ª arte, como Dillinger, Tudo Bons Rapazes, O Padrinho, Era Uma Vez Na América ou Os Intocáveis. Isto para nomear apenas alguns filmes. A fórmula está completa: temos o protagonista galã, temos a bela femme fatale, que transpira sensualidade por todos os poros do seu curvilíneo corpo, temos traição, temos ação, temos mortes violentas, temos foras-da-lei, temos tudo o que "é suposto” ter neste tipo de histórias ambientadas na década 50. Esta mini-série representa um autêntico guisado de coisas boas!
Noir Burlesco dá-nos um Marini mais maturado nas ilustrações, experimentando coisas diferentes em relação ao que o autor já nos tinha oferecido nas suas séries mais famosas, mas, ao mesmo tempo, mantendo familiaridade com as mesmas. O resultado é uma obra brilhantemente ilustrada e colorida, onde as aguarelas requintadas nos permitem viajar até aos tempos dos gangsters, das belas mulheres fatais e das sempre excitantes e perigosas triangulações amorosas. Enfim, todos os clichets do género noir, mas que Marini faz questão de nos dar nesta bela homenagem a todo esse universo cinematográfico que ainda nos deixa empolgados no dia de hoje!
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Autores: Zidrou e Oriol
Lançamento: Outubro de 2024
Naturezas Mortas é uma daquelas bandas desenhadas lindas que, lamentavelmente, não está - parece-me - a reunir o hype e a aceitação que merecia.
A narrativa da obra centra-se nos últimos anos de vida de Vidal Balaguer i Carbonell, um pintor catalão nascido em Barcelona em 1873. A sua carreira revela-se marcada por controvérsias e pelo mistério em torno do seu talento e da sua musa inspiradora. Essa musa dá pelo nome de Mar e é uma jovem e bela mulher que já encantou muitos outros pintores. Balaguer não é exceção e persegue-a com uma paixão exacerbada. Até ao dia em que Mar desaparece, sem deixar qualquer rasto. E, logo por acaso, Balaguer foi o último a pintar o seu retrato. A partir deste ponto, a narrativa dá uma reviravolta, assumindo um tom quase policial, pois procura-se encontrar a causa do desaparecimento de Mar. E, entretanto, a própria polícia catalã passa a ter Vidal Balaguer como suspeito número um pelo desaparecimento da bela musa. E pelo desaparecimento de outras pessoas.
Zidrou constrói uma narrativa que explora a genialidade e os tormentos de Balaguer, mergulhando nas complexidades da sua personalidade e nas dificuldades que enfrenta para obter reconhecimento. A história aborda temas como a paixão pela arte, a luta contra a obscuridade e a busca incessante por inspiração. Acaba por ser uma abordagem onírica, evocativa e romântica à própria criação artística e ao poder que a mesma pode ter: quer para quem observa uma obra de arte; quer para o seu criador; quer, ainda, para o próprio objeto retratado nessa mesma criação.
E a arte de Oriol ainda consegue complementar magistralmente o texto de Zidrou! As cores são lindas, os traços são elegantíssimos e a sensibilidade reinante, fazem com que esta obra também seja singular do ponto de vista de abordagem gráfica!
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Autores: Paul e Gaëtan Brizzi
Lançamento: Maio de 2025
Esta adaptação dos irmãos Brizzi parte do clássico imortal de Miguel de Cervantes para construir uma obra visualmente deslumbrante e fiel ao espírito do Dom Quixote de La Mancha original. Mesmo sendo verdade que os autores tomam as suas próprias liberdades criativas, a história base mantém-se: um fidalgo castelhano enlouquece de tanto ler romances de cavalaria e decide tornar-se, ele próprio, cavaleiro andante, assumindo o nome de Dom Quixote. Acompanhado do fiel escudeiro Sancho Pança, parte em aventuras tão absurdas quanto tocantes, onde confunde a realidade com as fantasias da sua imaginação fervorosa.
Desde o primeiro olhar, desde a primeira prancha, desde a primeira vinheta, é impossível não nos deixarmos seduzir pela arte absolutamente incrível que compõe esta adaptação. Os desenhos dos Brizzi são expressivos de uma forma profunda e comovente. As personagens transbordam emoção, bastando um olhar, uma expressão facial ou um posicionamento corporal para percebermos o que as mesmas sentem. E a dicotomia que existe entre o detalhado e realista desenho e a expressividade caricatural das personagens, oferece ao todo uma singularidade impressionante.
Esta adaptação não é apenas um reencontro com um clássico; é uma celebração do mesmo. Consegue tornar a obra mais acessível para os leitores contemporâneos, nunca abdicando da sua densidade simbólica, nem do seu humor, nem da sua poesia. Para quem já conhece o original, é (mais) uma nova forma de o amar; para quem nunca o leu, é uma majestosa porta de entrada. Os irmãos Brizzi conseguem dar nova vida à história de Dom Quixote sem a desvirtuar. Quase apetece dizer que Cervantes, se pudesse ler esta adaptação, teria dado a sua bênção sem pestanejar. Há aqui uma compreensão sincera do que significa sonhar contra o mundo... e falhar. E, mesmo assim, continuar a sonhar. E essa é a primordial lição que Dom Quixote continua a ensinar-nos! Imperdível!
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Autores: Zidrou e Jordi Lafebre
Lançamento: Setembro de 2023
Lydie foi a primeira colaboração de Zidrou e Jordi Lafebre. E, diga-se, começaram logo muito bem. Afinal de contas, esta é uma história terna, com múltiplas mensagens agridoces sobre a perda e como colmatar essas ausências indesejadas na nossa vida. Um conto fabuloso onde Zidrou prova porque é que tem conquistado, cada vez mais, um lugar de primazia e de respeito entre os melhores argumentistas de banda desenhada, devido aos originais argumentos que, plenos de emotividade, nos tocam no âmago do nosso ser.
Camille é a personagem central desta história, que se passa numa pequena localidade a que, divertidamente, os habitantes batizaram como que “Beco Sem Saída do Bigode”, devido a uma estranha publicidade, que mostrava um bebé a usar bigode e que ali tinha sido exposta há vários anos. E o nome pegou. Camille é uma daquelas pessoas sobre a qual a sociedade costuma dizer, jocosamente, que “não bate bem da cachola” ou “tem um parafuso a menos”. Gosto mais do termo “diferente”, pois apresenta comportamentos que se afastam da norma e daquilo que consideramos mais expectável. E, talvez por isso, quando Camille dá à luz um bebé sem vida e o seu mundo (naturalmente) desaba, esta sente a vontade - voluntária ou involuntária - de fazer com que Lydie – seria esse o seu nome – continue a viver. Mesmo não estando fisicamente presente.
Lydie é uma obra fantástica e plena de significados e emoções. Dificilmente não tocará o leitor, mesmo que a premissa possa parecer um pouco rebuscada à primeira vista. Porque, na verdade, não há nada de rebuscado ou de clichet neste livro. É de uma sensibilidade extrema, oferecendo-nos um conto inolvidável que nos demonstra o poder do amor, da amizade, da fé e da compaixão para com o próximo.
Análise completa a esta obra, aqui.
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Autor: Manu Larcenet
Lançamento do último volume: Abril de 2022
O Combate Quotidiano é uma história sobre um fotógrafo, na casa dos trinta, que opta por trocar a cidade pelo campo. Está carregado por pequenos vícios hedonistas, pelos seus próprios "macacos no sótão", que o levam a ser uma pessoa paranoica e com problemas do foro psíquico. Fundamentalmente, Marco está preso na imagem da sua própria pessoa. Parece não conseguir, ou não querer, dar o passo seguinte na sua vida. Seja na sua relação amorosa, seja na sua vida profissional, seja na sua relação familiar. Está preso. Porquê? Porque se sente relativamente bem assim e tem medo de perder a razoável paz que há na sua vida. Será por este caminho existencial que Marco acabará por enveredar à medida que vai ganhando maturidade. E a conquista de maturidade é um ponto central nesta história. Maturidade que está patente não só a nível pessoal como, também, a nível político-social.
É que, o "combate quotidiano", essa luta que fazemos contra nós próprios, contra os que nos rodeiam - sendo eles, o nosso trabalho, a nossa própria família ou, até mesmo, a nossa própria cara-metade - é, possivelmente, o principal, e até derradeiro, combate que fazemos nas nossas vidas. Desde o primeiro momento em que, ainda crianças, começamos a lutar pela nossa vida. A importância das nossas vivências, que preservamos, que vão moldando a forma como vemos o mundo e que vai, indubitavelmente, sendo alterada à medida que vamos vivendo. É por isso que devemos tentar não ser tão taxativos sobre a realidade que nos rodeia. Eventualmente, iremos olhar para ela com outros olhos no futuro. Até porque, os olhos (também) já não serão os mesmos e verão coisas novas – ou velhas – à medida que o tempo for passando.
A sensação final que o livro nos passa é bastante marcante. É um livro (falsamente) simples que, à medida que vai sendo lido, acaba por se impregnar em nós, fazendo-nos questionar certos comportamentos que nós próprios temos. É um verdadeiro manual da maturidade humana, de como ser mais tolerante face à diferença e de como esse comportamento nos leva – a nós e aos que nos rodeiam – à redenção. É uma obra que deixa marcas no leitor. Pelo seu relato transparente, sincero, cruel, dramático e, muitas vezes, triste, deixa-nos a pensar em muitas questões que aqui são levantadas, já bem depois de finda a leitura.
Análise completa a esta obra, aqui.
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Autor: Luís Louro
Lançamento: Abril de 2025
Os Filhos de Baba Yaga é o passo que a carreira de Luís Louro precisava. É o seu livro mais sério e, de longe, o melhor. Um clássico instantâneo da banda desenhada nacional que será celebrado daqui a um ano, daqui a 10 anos e daqui a 100 anos. A banda desenhada portuguesa tem mais um livro obrigatório e esse livro é este Os Filhos de Baba Yaga! Digo até mais: por ser um livro com uma história bastante universal, ambientada até fora da realidade portuguesa, tem tudo para ser "exportável", permitindo ao autor, quiçá, ter o reconhecimento no estrangeiro que, por ora, já aufere em terras nacionais.
A história coloca-nos na Segunda Guerra Mundial, nas densas florestas russas, no período histórico em que as tropas alemãs e soviéticas se enfrentavam depois de Hitler ter decretado a invasão da Rússia no evento que ficou conhecido como Operação Barbarossa. Acompanhamos a luta pela sobrevivência - a qualquer custo - de um conjunto de onze crianças órfãs. São crianças que foram juntas pela necessidade de sobrevivência num território completamente devastado, onde a fome impera, onde o frio enregela e onde os estilhaços das explosões e os ruídos dos disparos dos tanques, são uma constante ameaça de morte.
Louro atinge aqui um novo patamar criativo, superando-se tanto a nível narrativo como visual. Conhecido há décadas como um dos nomes mais relevantes da BD nacional, o autor consegue que este livro transcenda as suas obras anteriores, impondo-se, sem qualquer hesitação, como o seu melhor livro até à data! Mais do que apenas um excelente álbum, Os Filhos de Baba Yaga afirma-se como um dos melhores livros portugueses de banda desenhada de sempre! É uma obra madura, ambiciosa e profundamente envolvente, que não só confirma o talento de Luís Louro como o eleva. Verdadeiramente obrigatório, este livro é indispensável não apenas para os leitores habituais do autor, mas também para todos os amantes de banda desenhada. Até mesmo para aqueles que nunca deram a devida oportunidade a Luís Louro, terão aqui uma porta de entrada impressionante para o seu universo criativo. É uma leitura que marca, que desafia e que perdura - como só os grandes livros conseguem fazer.
Análise completa a esta obra, aqui.
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Autores: Cyril Lieron e Benoit Dahan
Lançamento: Outubro de 2024
Este é um dos vários livros da minha vida. Uma obra prima! Um livro que reinventa a banda desenhada. Que é inteligente, que é audaz, que é inventivo, que é criativo, que faz diferente. E que é distinto de tudo aquilo que já tenhamos lido - mesmo que já tenhamos lido muita banda desenhada.
A história arranca sem grandes cerimónias, quando o Dr. Watson, o inolvidável companheiro de Sherlock Holmes, presta assistência médica a um outro amigo e colega de profissão, que aparece a contar uma história rocambolesca, aparentemente sem grande sentido, que o levou a perdas de memória, a uma clavícula deslocada e a estranhos acontecimentos. É-lhe encontrado um pó misterioso nas suas roupas, bem como um bilhete para um espetáculo exótico. São estes os ingredientes e a ignição para que, analisando o caso, Sherlock Holmes nos faça mergulhar num intrincado jogo de caça ao rato, uma investigação complexa que nos leva ao sabor da inteligência da personagem, trazida à vida pela própria inteligência da história e, especialmente, do enredo e da forma visual como tudo nos é oferecido.
A forma como os autores exploram o universo da banda desenhada é tão diferenciada que quase é justo afirmar que os mesmos criaram um subgénero dentro da própria BD, com algumas regras próprias. É, possivelmente, a planificação mais corajosa e inventiva que já pude encontrar num livro de banda desenhada.
Dahan faz-nos viajar por pranchas verdadeiramente complexas mas que - qual milagre da BD! - não só são muito belas na conceção do desenho, como conseguem fazer com que não nos percamos, mesmo tendo em conta a complexidade da investigação. Sentimo-nos como se estivéssemos verdadeiramente dentro da cabeça do célebre detetive. Daí que o título da obra também seja muito feliz.
Na Cabeça de Sherlock Holmes parece ser um festim de criatividade em esteroides. É diferente de tudo o que já lemos em banda desenhada e tem um charme irresistível, que revela que os limites da banda desenhada enquanto meio estão longe de estarem encontrados. "Porno para admiradores de banda desenhada", poderia ser o seu subtítulo. Numa palavra: imperdível!
Análise completa a esta obra, aqui.
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