Ao longo de cerca de 4 anos, mais coisa menos coisa, a G. Floy Studio publicou a totalidade da série Outcast, que é assinada por Robert Kirkman – o célebre criador de The Walking Dead – e Paul Azaceta. No total, são 8 números embora a G. Floy Studio os tenha editado em 6 livros, já que os dois últimos são duplos e incluem, portanto, dois números cada.
Outcast é uma série que conquistou um sucesso considerável no mundo, tendo até chegado a uma série televisiva com duas temporadas. A série televisiva, por sua vez, não conquistou tanto sucesso, tendo sido cancelada no final da segunda temporada.
Esta é uma série de terror que nos coloca na pele de Kyle Barnes que, desde a sua infância, é perseguido por influências demoníacas que lhe transtornam a vida pessoal e, também, a vida de todos os seus entes queridos. Quando Kyle ainda era criança, uma estranha possessão da sua mãe, acabou por trazer efeitos nefastos na vida do protagonista, que não mais foi o mesmo. E tornou-se óbvio que Kyle tinha poderes sobrenaturais que, já em idade adulta, acabam por ser postos à prova quando o reverendo Anderson lhe pede a sua ajuda lidar com uma criança possuída pelo demónio. A partir dessa sessão be, sucedida de exorcismo, gera-se um conjunto de eventos que arrastam Kyle para a luta conta estas forças do mal que, afinal, atacam como se fosse uma pandemia, já que são muitas as pessoas que começam a aparecer dessa forma na cidade de Rome, na Virgínia Ocidental. E, isto, entre muitas outras coisas, remete-nos para The Walking Dead. É que sendo séries aparentemente diferentes entre si, também têm bastantes pontos em comum.
Também em Outcast, Kirkman faz um belo trabalho ao nível da criação e tratamento de boas personagens. O protagonista, Kyle, é uma boa personagem mas diria que o reverendo Anderson e o próprio Sidney são as estrelas da série, demonstrando um carácter muito próprio e muito bem definido pelo autor.
Posso dizer que esta série tem dois grandes momentos ou arcos narrativos. O primeiro, em que a ação é mais lenta e o mistério é maior – e em que temos a fantástica personagem de Sidney, que é verdadeiramente inesquecível e maléfica. E o segundo momento, em que novas personagens aparecem, em que o grupo de pessoas se isola numa quinta remota para melhor planear a sua estratégia perante a "Grande Fusão" iminente e em que há mais ação. Posso dizer que, quanto a mim, é na primeira parte da série que está o suco e a fatia mais marcante. Apreciei bastante o ritmo lento e carregado de mistério – que deixa o leitor a fazer perguntas - e em que Kirkman é muito inteligente na forma como doseia a história. Verdadeiramente apetecível.
Já na segunda parte, pareceu-me que o mistério deu lugar a uma mera ficção científica do bem contra o mal, que envolve poderes especiais e raios de energia enquanto armas, e que, no fundo, acaba por ser menos impactante e mais previsível. De repente toda a gente tem poderes sobrenaturais, até mesmo a filha, o pai e a mulher de Kyle. Pareceu-me um pouco too much e que o autor Kirkman se perdeu um pouco na sua própria história. E até porque, convenhamos, a tal "Grande Fusão", que é prometida ao longo de toda a série, acaba por ser, no final, bastante anti climática.
Valha-nos, no entanto, a saída airosa como o autor consegue encerrar a história. Não é que seja um final maravilhoso, mas, pelo menos, tem a capacidade de fechar convenientemente a história. É verdade que há muitas perguntas que ficam sem resposta, muitas coisas que ficam mal fechadas ou que surgem de forma aleatória e um pouco sem nexo – como aquilo que acontece à personagem de Allison, por exemplo. Ainda assim, assinalo como positiva a forma como o autor consegue encerrar Outcast.
Outra coisa onde a série me surpreendeu pela positiva foi no levantamento de algumas questões do foro religioso, que permitiram uma certa reflexão entre as ideias de um crente e as ideias de um ateu. Isto sem a tentativa de preconizar o que quer que seja. Kirkman apenas levanta questões pertinentes. E quando, lá mais para o final, Kyle começa a ler a bíblia, parece-me óbvio que fica subentendido, o respeito e mente aberta que Kirkman oferece à história. Quer de um lado, quer do outro. Bem feito.
Quanto aos desenhos de Azaceta, posso dizer que fiquei bastante agradado. Se é verdade que, na primeira vez que folheei o primeiro livro da série, não fiquei muito impressionado com o estilo de desenho, também é verdade que, à medida que vamos mergulhando no universo de Outcast, as ilustrações de Azaceta começam a ficar cada vez mais familiares e acabei a apreciar bastante o trabalho no autor.
Especialmente na capacidade para criar um ambiente fechado, tenso, negro e, também, na destreza do autor para oferecer à história algumas soluções narrativas como, por exemplo, as pequenas vinhetas que vão surgindo por toda a série e que servem para nos oferecerem grandes planos de detalhe das personagens, de forma a passar para o leitor as reações faciais dos protagonistas, face aos acontecimentos. Na nota final do livro, Robert Kirkman revela que esta ideia surgiu porque a série televisiva, que estava a ser feita praticamente em simultâneo com a banda desenhada, permitia esses planos das caras das personagens e, então, Kirkman achou que seria uma coisa interessante se esses planos pudessem constar, também, nos livros. E Azaceta resolveu essa questão muito bem, quanto a mim.
É certo que as ilustrações do autor também apresentam alguns problemas, especialmente devido à existência de várias personagens idênticas e que são difíceis de distinguir entre si. Quer nas personagens femininas, quer nas personagens masculinas. Lembro-me, por exemplo que Kyle, Simon – o seu pai – e o próprio chefe de polícia são, todos eles, muito difíceis de distinguir, dificultando a fluidez da leitura.
Já o processo de cores, feito por Elizabeth Breitweiser, funciona bastante bem para o tipo de série em questão, oferecendo as cores adequadas a cada uma das tensas cenas que nos vão sendo dadas.
No final, acho que se pode dizer que a arte ilustrativa de Outcast não é particularmente bonita, mas que esse também não é o intuito dos autores. O intuito passa por nos dar um punhado de ilustrações que se coadunem ao tema da obra e que nos passem os eventos, a atmosfera e as personagens de forma eficaz. E nisso, excetuando aquela questão de demasiada semelhança entre algumas personagens, acaba por funcionar muito bem.
Quanto às edições com que a G. Floy nos foi brindando nesta série, a qualidade das mesmas é muito boa, ao nível das capas duras, do papel brilhante de boa qualidade e da boa encadernação e impressão. Eu gostaria mais que a série fosse toda ela publicada em álbuns duplos mas isso será um mal menor.
Em suma, acho que se Outcast tivesse, de alguma forma, terminado após os primeiros quatro volumes, seria uma série perfeita, por todo o ambiente de mistério, horror e de tensão que traz consigo. A segunda parte da série é um pouco all over the place, como diriam os ingleses, com a série a afastar-se do horror e a aproximar-se da ficção científica. Não obstante, no seu todo, acho que, ainda assim, é uma série sólida e com uma história que entretém.
NOTA FINAL (1/10):
8.2
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Outcast #1 – As Trevas que o Rodeiam
Autores: Robert Kirkman e Paul Azaceta
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 152, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Janeiro de 2017
Autores: Robert Kirkman e Paul Azaceta
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 128, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Maio de 2017
Autores: Robert Kirkman e Paul Azaceta
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 128, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Dezembro de 2017
Autores: Robert Kirkman e Paul Azaceta
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 128, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2018
Autores: Robert Kirkman e Paul Azaceta
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 248, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Maio de 2019
Autores: Robert Kirkman e Paul Azaceta
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 240, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Dezembro de 2021
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