Hercule Poirot - Encontro com a Morte foi o último lançamento da editora Arte de Autor durante o ano de 2021. De lá para cá, a editora portuguesa já lançou mais dois livros da coleção dedicada às adaptações dos romances de Agatha Christie, o que revela bem o comprometimento da editora portuguesa para com esta coleção.
Neste momento, a editora já publicou 10 dos 11 volumes lançados originalmente pela editora francesa Paquet. E se é justo dizer-se que, de um modo geral, há uma certa harmonia relativamente à qualidade média destas obras, também é verdade que, tendo em conta que são obras feitas por autores diferentes – embora alguns se repitam -, temos alguns altos e baixos na qualidade da edição. Os melhores álbuns seriam, na minha opinião, Os Crimes do ABC, Morte no Nilo, Crime no Campo de Golf e No Início eram Dez… Os menos bons, serão Crime no Expresso do Oriente, Miss Marple - Um Cadáver na Biblioteca e este Hercule Poirot – Encontro com a Morte, que passarei a analisar.
Mas, antes disso, permitam-me sublinhar que mesmo os livros menos bons conseguem assegurar uma qualidade, quer na adaptação e quer nas ilustrações, bastante aceitável. Talvez por esse motivo, esta seja uma série que tem vindo, gradualmente, a conquistar cada vez mais fãs. Incluindo a minha pessoa.
Os autores responsáveis por esta adaptação de Encontro com a Morte são Didier Quella-Guyot, ao nível da adaptação do argumento original para banda desenhada, e Marek nas ilustrações. Ambos fazem um trabalho razoavelmente bom embora não isento de algumas fragilidades.
A história coloca-nos num luxuoso hotel de Jerusalém, onde nos é dada a conhecer a Sra. Boynton, uma personagem que revela ser uma tirana, extremamente desagradável, para todos os que a rodeiam. Mas quando o seu cadáver é descoberto nas ruínas de Petra, todos aqueles com quem a Sra. Boynton conviveu de perto se tornam, à boa maneira de Agatha Christie, potenciais suspeitos do assassinato. Mas quem será a pessoa responsável pela morte desta desagradável personagem?
Isso é algo que, naturalmente, não revelarei neste texto para que não estrague, dessa forma, o prazer da leitura da obra aos meus leitores. De qualquer maneira, olhando para o trabalho de Didier Quella-Guyot, diria que a forma como a história é adaptada para banda desenhada, embora seja eficaz e decente na adaptação, não é a mais feliz. Especialmente porque, a meu ver, não gere tão bem os principais momentos e eventos da trama original. E acaba por "gastar" páginas em coisas não tão relevantes, deixando o fim demasiado condensado para as últimas páginas. Considerei também que há um certo excesso de texto ao longo das páginas, que vai ficando cada vez mais denso assim que nos aproximamos do final da leitura.
Outra coisa que me fez alguma confusão é que Hercule Poirot, o suposto protagonista da história só apareça - excetuando uma brevíssima aparição logo na primeira página - a partir da página 30 do livro. Ora, num livro de 60 páginas, parece-me que colocar o protagonista só em metade do livro faça com que a envolvência entre os factos e a investigação não funcionem de uma forma tão aliciante como noutros livros da série. Confesso que, neste caso, não li o livro original de Agatha Christie. E até pode ser que aconteça o mesmo e Hercule Poirot só apareça a meio da história. Se assim for, é mais compreensível que Didier Quella-Guyot tenha feito o mesmo na bd. Mesmo assim, acho que é uma das grandes causas para que o livro não seja tão marcante.
Note-se que tudo isto que menciono não são verdadeiros “problemas” que nos afastem de uma leitura agradável, mas acho que se estas pequenas imperfeições não existissem, estaríamos perante um livro com mais qualidade.
Relativamente à arte ilustrativa, os desenhos de Marek marcam uma certa diferença em relação ao estilo, mais detalhado, dos outros álbuns da série. O autor oferece-nos desenhos em linha clara, com uma boa dose de elegância, onde as caras das personagens apresentam traços "cartoonizados". Normalmente funciona sempre bem, mas, noutros casos, senti que essas caras mais "abonecadas" não estavam tanto em linha com o resto das ilustrações e, especialmente, com o tom da história. Ainda que, reconheço, isto seja uma sensação algo subjetiva.
O tipo de enquadramentos utilizados por Marek apresenta-se algo repetitivo, por vezes, o que não permite que a leitura possa respirar tão bem. Isso é consequência do tal excesso de texto que já referi mais acima. Uma coisa que gostei, porém, foi das páginas que abrem cada um dos capítulos, em que Marek nos brinda com uma ilustração que ocupa uma só página. Estas ilustrações permitem o tal tempo para respirar e para apreciar as belas ilustrações que, neste caso, Marek nos oferece.
A edição da Arte de Autor não foge ao tipo de edição dos outros livros da mesma coleção: capa dura envernizada, bom papel baço, boa encadernação e boa impressão. Como extra, este livro ainda oferece três ilustrações de Marek.
Em suma, Hercule Poirot - Encontro com a Morte fica uns furos abaixo em relação à maioria dos outros livros desta coleção dedicada às adaptações para bd dos clássicos de Agatha Christie. Não obstante, é um livro que se lê bem e que os fãs da série vão querer ler.
NOTA FINAL (1/10):
7.3
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Hercule Poirot - Encontro com a Morte
Autores: Didier Quella-Guyot e Marek
Adaptado a partir da obra original de: Agatha Christie
Editora: Arte de Autor
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2021
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