A Coleção Agatha Christie é das coleções mais numerosas em volumes, por parte da Arte de Autor, ficando apenas atrás de Corto Maltese, em matéria de número de livros editados. O que me leva a crer que esta é, afinal, uma grande aposta da editora. E uma aposta que se justifica, diga-se em abono da verdade.
Depois de vários livros consagrados a algumas das icónicas personagens de Agatha Christie, como Hercule Poirot, Miss Marple ou Os Beresford, é altura de olharmos com detalhe para este No início, eram 10..., que é o romance mais conhecido e adaptado da célebre autora inglesa, nos mais diversos meios. Esta adaptação para banda desenhada ficou a cargo dos autores Pascal Davoz e Callixte. Este último, foi também o ilustrador em Hercule Poirot - Morte no Nilo.
A intriga, num ambiente fechado, em que qualquer uma das personagens está mergulhada em mistério e pode – ou não – ser o(a) autor(a) do crime, consiste numa fórmula de sucesso que a autora tão bem soube criar e que, nos mais variados meios, tem vindo a ser replicada até aos dias de hoje. Especialmente no cinema. Mas não só.
A história deste livro começa quando oito personalidades de meios e origens diferentes, a que se juntam um casal de empregados, são convidadas para uma bela ilha, com praia em redor e uma fantástica mansão, para umas pequenas férias. Nenhum dos convidados sabe muito bem os motivos para ali estar, mas a carta que cada um deles recebeu do anfitrião O’Nyme, faz com que o convite pareça aliciante.
E mal os convidados se instalam na luxuosa mansão, começam a aparecer, de forma gradual e metódica, assassinatos que parecem obedecer a uma lengalenga famosa. Mas quem será o(a) assassino(a)? Bem, sob pena de estragar o prazer de leitura a alguém, fico-me por aqui, não revelando nada mais, acerca da história.
Posso apenas dizer que a adaptação para bd, por parte de Davoz, está muito bem conseguida. É certo que este álbum é maior – em número de páginas – do que a maioria dos outros livros da coleção. E, nesse sentido, também é justo dizer que o autor teve mais páginas para melhor desenvolver o intrincado enredo desta história. Mas lá que o fez bem, ah isso fez.
Como que num bailado entre o que é e o que parece ser, e em que as personagens são dispostas no espaço da ação conforme peças de xadrez, No início, eram 10... apresenta-se inteligentíssimo e com aquela capacidade audaz da autora em saber brincar com o leitor. Como se o próprio leitor fosse levado a cair na ratoeira da dedução óbvia e fácil.
A história aparece, pois, bem compilada, com os momentos marcantes – e são muitos – a serem bem doseados e preparados, do ponto de vista da narração.
Quanto ao desenho, não se deixem enganar pela péssima capa deste livro. Os desenhos de Callixte são bastante bons. Muito em linha com o igualmente bom trabalho que o autor nos ofereceu em Hercule Poirot - Morte no Nilo.
Apresentando um traço da escola franco-belga em linha clara, Callixte oferece-nos desenhos elegantes, com um bom trabalho de cores e luz, e com uma classe no ambiente recriado que, prontamente, associamos às histórias de Agatha Christie.
As personagens são bem esculpidas, os planos e enquadramentos são dinâmicos, há boas expressões faciais nas personagens (embora, por vezes, um algo estáticas), bom comportamento físico das personagens, e boa caracterização cénica. No fundo, um álbum coeso e bastante bem desenhado.
O resultado é vistoso e muito, muito elegante. As cores, também da autoria de Callixte, são mais uma razão para que o conjunto da parte visual do livro se mantenha muito apelativo.
Já mencionei a fraca capa do livro mais atrás mas penso que o tema me merece uma nova referência. É que, tendo especialmente em conta a qualidade do desenho do autor Callixte, custa-me a crer como é que o autor se sentiu satisfeito – se é que se sentiu! – com esta capa medíocre. O desenho, sendo um objeto, não é de todo apelativo. E aquele fundo, a cor de vinho, também não ajuda. Basta folhearmos o livro de forma aleatória para percebermos como os desenhos são belos. Só não o são nesta capa que considero muito fraca e que se presta a um mau serviço em prol da boa obra que o livro é. Compreendo a razão que levou à ilustração... mas acho que foi bastante mal conseguida. Uma vinheta escolhida ao calhas daria uma melhor capa, sinceramente.
A edição deste livro não foge à regra em relação aos outros álbuns da mesma série. Ou seja, o livro tem capa dura brilhante, bom papel baço, e uma boa encadernação e impressão. Tudo bem feito.
Em conclusão, este No início, eram 10... assume-se como um dos melhores álbuns da coleção dedicada a adaptações para banda desenhada dos clássicos de Agatha Christie! O enredo original, que é brilhantemente construído, acaba por ser adaptado com sucesso e as ilustrações são bastante boas. Uma boa porta de entrada nesta Coleção Agatha Christie, para que aqueles que ainda não deram uma oportunidade a esta bela série da Arte de Autor.
NOTA FINAL (1/10):
8.9
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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No início, eram 10...
Autores: Pascal Davoz e Callixte
Adaptado a partir da obra original de: Agatha Christie
Editora: Arte de Autor
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2021
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