Wild West 2 – Wild Bill foi o primeiro livro que a editora Ala dos Livros editou durante este ano de 2022. Correspondendo ao segundo volume da série Wild West, da autoria de Gloris e Lamontagne, cujo terceiro volume da série acaba de ser editado em França, este livro continua os eventos deixados em standby no álbum anterior, Wild West 1 – Calamity Jane.
E ainda que o álbum receba o subtítulo de Wild Bill, e que se dedique ao percurso do célebre caçador de prémios, a verdade é que grande parte da obra se continua a focar na vida de Calamity Jane. Para mim, isso não foi um problema pois considero Calamity Jane uma personagem muito interessante e com um percurso pessoal muito impressionante. Por ventura, até mais do que Wild Bill. Pelo menos, até àquilo que, por ora, os autores Gloris e Lamontagne nos permitiram descobrir nesta série semi-biográfica.
O enredo volta, por isso, a dar-nos as duas histórias de ambas as personagens, mas cruzando-as de tempos a tempo. Se James Butler Hickok, mais conhecido por Wild Bill, se cruzou com Calamity Jane no primeiro tomo, isso volta a acontecer neste segundo volume. Tudo feito de uma forma bastante fluída, sem parecer demasiado forçada.
Wild Bill é um veterano da Guerra Civil Americana que procura os assassinos de um crime que jurou vingar. Enquanto que Calamity Jane é uma mulher que procura apenas fugir do passado nefasto que o duro oeste americano reservou para si, tal como já pudemos testemunhar no primeiro tomo.
Em termos de história, parece-me que a mesma não consegue ser tão impactante como no álbum anterior. Não se torna chata, nem nada que se pareça, mas parece-me que, especialmente a parte dedicada a Wild Bill, parece não oferecer aquilo que eu gostaria de ter visto. Há alguns bons momentos de tensão – especialmente na excelente cena de abertura do álbum – mas depois pareceu-me que a demanda de Wild Bill pelos assassinos que procura vingar, me pareceu algo politico-burocrática.
Já quando à história paralela de Calamity Jane, tenho uma opinião diferente. Essa acabou por me entusiasmar bem mais. Primeiro Calamity Jane vê-se forçada a fingir ser um homem, para se alistar nos Túnicas Azuis, de forma a deixar para trás o seu maldito e traumatizante passado que conhecemos no tomo anterior. Mas acaba por ser raptada (ou salva?) pelos índios e acompanhamos o seu percurso já como pertencente aos índios. Essa parte foi a que mais gostei. Mesmo podendo ser algo clichet (a mulher que finge ser um soldado, a mulher branca que tem que viver com os índios…) acho que funcionou bem e é a garantia de um álbum equilibrado entre a procura, mais monótona, de Wild Bill e o percurso mais acidentado, de Jane.
Uma coisa que me surpreende também é que este segundo álbum tenha sido apresentado – pelo menos em França – como o final de um ciclo, tratando-se os dois primeiros álbuns de um díptico. Se assim for, devo dizer que a história fica muito, mas mesmo muito, mal resolvida. Fui ficando sempre com a ideia que esta era uma narrativa que procurava criar pontes e sedimentar eventos. Se o terceiro álbum continuar a história a partir daqui – como eu acredito que seja e como, aliás, faz sentido – acho que isto não será um problema. E até quererá dizer que o argumentista Gloris utiliza este segundo tomo para preparar o terreno para contar a sua história. Ou seja, se é para continuar a história de Wild Bill e Calamity Jane a partir daqui, tudo bem. Se é para deixar assim a história de ambos os personagens, tudo mal!
Olhando para as ilustrações, podemos considerar que Lamontagne continua a fazer um trabalho deveras impressionante. Recupero, por esse motivo, as palavras que escrevi, a propósito da minha análise ao tomo 1: “O traço realista de Lamontagne é virtuoso e perfeito para ilustrar com mestria o faroeste e as suas gentes. A juntar a isto tudo, este é um álbum com um trabalho fantástico de cores que dá primazia a efeitos de luz verdadeiramente espetaculares. Aquele sol de tons alaranjados do oeste americano aparece aqui retratado de forma exímia. As expressões das personagens, a sua linguagem corporal, enfim tudo é feito com bastante rigor e talento por parte do autor. Um daqueles livros que sabe como "encher o olho" a um leitor.
Destaque para a ilustração dos cenários por parte de Lamontagne que é verdadeiramente fabulosa e que funciona, até, como um postal histórico do Velho Oeste americano. A planificação também apresenta bastante dinamismo, com a presença de vinhetas de diferentes tamanhos."
As cores, que são asseguradas por Lamontagne, também são, portanto, muito importantes para assegurar o belo resultado final das ilustrações, conferindo-lhes profundidade e dramatismo. Todavia, considero que uma coisa que merece menção é que, contrariamente ao álbum anterior, que era todo ele muito "pesado" nas cores e no ambiente, este segundo tomo é muito mais luminoso, com cores mais leves, dias soalheiros e prados verdejantes. Continuam a ser cores muito bonitas e muito bem executadas por Lamontagne mas confesso ter gostado mais do ambiente pesado e dark – não tanto comum em bandas desenhadas western – do primeiro volume da série.
Quanto à edição da Ala dos Livros, a mesma mantém-se muito boa. Capa dura, papel brilhante de máxima qualidade, boa impressão, boa encadernação, enfim, tudo bem feito. Nota positiva, também, para o facto de, contrariamente ao livro anterior em que foi colocado, na capa, um círculo com a descrição “Calamity Jane – As Origens de uma Lenda do Oeste” por motivos comerciais, neste segundo álbum esse círculo – que agora diz “Wild Bill – A História de uma Lenda do Oeste” - continua a existir, mas agora, em vez de diretamente impresso, foi colocado em autocolante, dando a oportunidade ao leitor de o deixar na capa ou de o retirar, caso não goste dele. Excelente opção! Se fiz essa chamada de atenção menos positiva, para o primeiro álbum, tenho agora de destacar a incrível e constante energia da editora em fazer mais e melhor. Até mesmo nas coisas mais ínfimas! E isso merece mil vénias, quanto a mim!
Em conclusão, este Wild West 2 - Wild Bill, mesmo sendo um pouco menos excitante e impactante do que o tomo anterior, mantém, não obstante, uma excelente qualidade. A história é cativante; as duas personagens principais (Wild Bill e Calamity Jane) continuam muito interessantes – especialmente a segunda – e a arte de Lamontagne continua a encher muito bem o olho e a brindar-nos com magníficas cores. Obrigatório para quem é fã do género e, até, muito apetecível para aqueles que, normalmente, não lêem westerns. Recomenda-se.
NOTA FINAL (1/10):
9.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Wild West 2 - Wild Bill
Autores: Thierry Gloris e Jacques Lamontagne
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2022
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