domingo, 28 de fevereiro de 2021

Lançamento: Naruto#37 - A luta de Shikamaru



A série Naruto está de volta! O próximo volume - o número 37(!) - chegará às lojas em Março, pelas mãos da editora Devir.

Abaixo, fiquem com a sinopse da obra e respetivas imagens promocionais.


Naruto#37 - A luta de Shikamaru, de Masashi Kishimoto

A equipa de Shikamaru quer vingar-se do assassínio do seu mestre Asuma.

Tsunade tenta impedi-los, mas Kakashi quer ajudar.

À medida que cresce a divisão entre os ninjas, a misteriosa “Akatsuki” prossegue nos seus ataques brutais a todos os “biju” e outros ninjas que os enfrentem incluindo Naruto, que se tornou mais forte e mais experiente, mas terá o seu treino sido suficiente?

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Ficha técnica
Naruto#37 - A luta de Shikamaru
Autor: Masashi Kishimoto
Editora: Devir
Páginas: 192, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
PVP: 9,99€

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Lançamento: A Quinta dos Animais




Agora que a obra do autor George Orwell passou a fazer parte do domínio público, a quantidade de adaptações - nos mais variados géneros - promete ser muita.

Depois da editora Alfaguara publicar a muito interessante obra 1984, por Fido Nesti, é a vez de O Triunfo dos Porcos (também traduzido em algumas edições para A Quinta dos Animais, uma vez que o título original é Animal Farm) receber uma adaptação a banda desenhada.

A edição é assegurada pela Relógio D'Água e o autor desta adptação é Odyr.

Mais abaixo, fiquem com a sinopse da editora e imagens promocionais.

A Quinta dos Animais, de Odyr

Uma sátira mordaz sobre uma sociedade oprimida que caminha para o totalitarismo.

Alegórico e intemporal, o livro de George Orwell, agora em romance gráfico, adaptado e ilustrado por Odyr.

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Ficha técnica
A Quinta dos Animais
Autor: Odyr
Editora: Relógio D'Água
Páginas: 180, a cores
Encadernação: Capa mole
PVP: 18,00€

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Análise: Regreso al Edén

Análise: Regreso al Edén, de Paco Roca - Astiberri


Análise: Regreso al Edén, de Paco Roca - Astiberri
Regreso al Edén, de Paco Roca

Regreso al Edén traz-nos Paco Roca na sua melhor forma e assume-se como uma das melhores obras do autor espanhol. É fantástico da primeira à última página. Um autêntico triunfo na carreira de Roca.

Começo por dizer que não estava preparado para uma obra com uma densidade emocional como esta. Este é um daqueles livros que fica para a vida e onde Paco Roca consegue reunir duas coisas que lhe são características – embora nem sempre aconteçam em todas as suas obras, admita-se – que são a inteligência narrativa e a emotividade das suas histórias.

Análise: Regreso al Edén, de Paco Roca - Astiberri
Regreso al Edén
conta-nos a história de uma família valenciana, com base numa única fotografia, datada de 1946. É um livro com uma base autobiográfica tendo em conta que serve como homenagem à mãe e avó do autor, bem como a todas as mulheres espanholas do pós-guerra, que não tiveram nem uma oportunidade, além da de serem donas de casa. Assim, indo do presente ao passado, o autor revela-nos a história de cada elemento da família que aparece na foto – e até mesmo dos elementos que não constam no retrato. É, portanto, à volta desta única foto que gravita a narrativa. E este é um exercício que o Paco Roca faz de forma magistral, traçando ainda, ele próprio, um brilhante e acutilante retrato da história contemporânea de uma Espanha franquista, onde os republicanos eram vistos de forma tão negativa pelos demais.

Sem nunca ter um tom diretamente crítico face ao regime político-religioso que marcou – tão fortemente – a maneira de ser das gerações por ele afetadas, Roca oferece-nos uma imagem vívida e real sobre a sociedade espanhola, tal como se a família da protagonista, Antonia, fosse o protótipo de milhões de outras famílias espanholas deste espaço temporal.

Análise: Regreso al Edén, de Paco Roca - Astiberri
A história é emocional mas nunca se fica com a ideia que se pretende passar um melodrama excessivo. Na verdade, é tão real o que aqui nos é dado que é nesse cômputo que assenta a riqueza emocional da obra. Os tempos eram duros no período da ditadura de Franco e ser-se de uma família pobre, como a de Antonia, condicionava a vida nas mais pequenas coisas. Nomeadamente na fome que sempre marcava presença. E na escassez de tudo o que era divertimento e lazer. Exceptuando, talvez, as fugazes idas ao cinema, em que Antonia se permitia sonhar. É-nos também passada a ideia dos numerosos “truques e malabarismos” que os adultos tinham que fazer para sustentar as suas crianças. Além disso, estes eram períodos de mentalidades fechadas e controladas pela igreja e pelo Estado – algo em que nós, portugueses, podemos encontrar um certo paralelismo, se recuarmos até ao longo período Salazarista que caracterizou décadas da nossa história recente.

Relativamente à arte de Paco Roca, o autor mantém-se a jogar em terrenos conhecidos. Temos o mesmo estilo de arte, em linha clara, que lhe é característico e que aqui se apresenta de semelhante modo. Não há muita coisa nova nesse cômputo aqui. Quem não gosta, deverá continuar a não gostar. E quem já gosta, gostará da arte aqui contida. Faço, no entanto, um pequeno destaque para algo que o merece. Quando, nas páginas 82 e 83, o autor ilustra a passagem do livro Génesis, em que Deus cria o universo, Adão e Eva, Paco Roca fez possivelmente as duas melhores páginas da sua carreira, em termos de ilustração. Fantásticas e um dos pontos altos desta obra.

Análise: Regreso al Edén, de Paco Roca - Astiberri
Mas convenhamos algo: a arte ilustrativa do autor, sendo agradável, não é algo que tenha desenhos tecnicamente muito evoluídos ou que encha o olho de um amante de ilustrações maravilhosas. Mas não é por aí que Paco Roca quer ir. Onde o autor é fantástico é nas histórias que conta e, acima de tudo, COMO as conta. Regreso al Edén é uma autêntica obra-prima em termos de soluções narrativas para contar uma história. E é aí que este autor é fantástico e único. Sabe ritmar, sabe fazer aquilo a que chamo de “parêntesis narrativos”, em que se conta uma subnarrativa dentro da principal, mas sem que isso faça perder o domínio da história, por parte do autor, ou que leve a trama a “afogar-se” em si mesma. Neste livro, Roca tem total compreensão do fluxo narrativo. E utiliza-o como um verdadeiro mestre. A nós, leitores, cabe-nos a deliciosa tarefa de nos deixarmos levar por esta história sublime. Onde o pesado, o difícil, o triste e o negro parecem - à semelhança do que Roberto Benigni fez no filme A Vida è Bella - serem contados de forma leve, fácil, alegre e luminosa. O tom é leve mas o sentimento deixa-nos com um nó na garganta.

Paco Roca experimenta, arrisca, faz coisas diferentes aqui e ali, mas sempre sem se enterrar nas suas próprias divagações narrativas, como tantos autores de renome mundial – estou a lembrar-me de um Alejandro Jodorowsky ou de um Neil Gaiman, por exemplo – o fazem. E, a meu ver, esta é uma qualidade que nem sempre abunda em autores de banda desenhada. Ou temos aqueles autores mais straight, que nos contam uma história mais linear; ou temos autores mais excêntricos que nos contam uma história com demasiadas portas e travessas, que acaba por ficar demasiado remendada e perdida em si mesma. Paco Roca está algures no meio entre esses autores. As histórias, sendo simples, ganham pontos e abordagens mais profundas. E há mensagens subtis e algo mais para ler nas entrelinhas. Mas são histórias que nunca se perdem. Os pontos unem-se na perfeição e o equilíbrio é característica base neste Regreso al Edén.

Análise: Regreso al Edén, de Paco Roca - Astiberri
Faço ainda um destaque à forma super original, plena de significado, com que Paco Roca começa e termina esta obra. Extremamente inspirada. E até mesmo, inspiradora.

Quanto à edição, da editora espanhola Astiberri, estamos perante uma edição bonita e cuidada. Não gosto particularente deste formato “deitado”, por várias razões. Não acho tão cómoda a maneira como se tem que segurar o livro para lê-lo e ainda me parece que a lógica da organização das pranchas não é tão legível. Por fim, é um livro que se arruma muito pior. O que, para todos os que são colecionadores de bd, é um ponto negativo. É uma embirração minha, reconheço, e não consigo mesmo gostar deste formato “deitado”. Mas foi a opção do autor, que já em A Casa, publicado pela Levoir, também utilizou este formato.

Falando na Levoir, que é uma editora que tem grande parte da obra do autor publicada em Portugal, diria que este Regreso al Edén será mesmo obrigatório para o seu catálogo. Sendo um autor bastante apreciado pelos leitores portugueses e tendo esta obra tanta qualidade, não há volta a dar. Regreso al Edén deve mesmo ser editado em português. Até lá, e para aqueles que não querem esperar, posso dizer que esta edição da espanhola Astiberri está muito bem conseguida e, sendo no idioma espanhol, e de texto fácil, lê-se muito bem. Talvez me tenham aparecido 4 ou 5 palavras em todo o livro que não percebi. Mas, não mais do que isso.

Em suma, fiquei verdadeiramente maravilhado com esta obra. Dos melhores livros que li nos últimos meses. E se não for a melhor obra de Paco Roca – há que não esquecer a soberba obra Rugas – está entre os dois/três melhores livros do espanhol. A sua publicação em português é urgente. E obrigatória.


NOTA FINAL (1/10):
9.7


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Análise: Regreso al Edén, de Paco Roca - Astiberri
Ficha técnica
Regreso al Edén
Autor: Paco Roca
Editora: Astiberri
Língua: Castelhano
Páginas: 176, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Dezembro de 2020

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Lançamento: Tales From Afar



A editora Gorila Sentado prepara-se para publicar uma nova revista, denominada Tales From Afar, que é uma antologia de banda desenhada.

Abaixo, fiquem com algumas imagens promocionais e com a capa deste número que deverá estar disponível no próximo mês de Março.


Tales From Afar, de Ricardo Baptista, Daniel da Silva Lopes, Carmen Gimeno, Perplexed Sea, Ramón Perales Cano, Dean Kerrigan 

A revista Tales From Afar é um projecto muito especial visto tratar-se de uma antologia que junta autores de vários países. 

O especial desta antologia é que se trata de uma revista repleta de histórias que não são apenas one-shots, como se geralmente encontra em outras tantas revistas do género. 

Aqui, irá encontrar a primeira parte de todas histórias que irão ter continuação nos próximos números. Gostamos de pensar nela como uma antologia viva, que vai evoluindo e crescendo com o passar dos números.

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Ficha técnica
Tales From Afar
Autores: Ricardo Baptista, Daniel da Silva Lopes, Carmen Gimeno, Perplexed Sea, Ramón Perales Cano, Dean Kerrigan
Editora: Gorila Sentado
N.º de páginas: 58, a cores
PVP (versão digital): 2,99 €
Disponível em: ko-fi.com/gorilasentado e, mais tarde, na Comixology

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Análise: Sete para a Eternidade – Livro Um

Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy

Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy
Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren 

Sete para a Eternidade é uma história épica, repleta de fantasia e ação, da autoria de Rick Remender e Jerome Opeña, que a G. Floy publicou há já quase um ano. De resto, o segundo volume – que encerarrá a série – também já está prometido para o primeiro semestre de 2021, conforme aqui dei conta no artigo relacionado com os novos lançamentos da editora, para a primeira parte deste ano.

Sete para a Eternidade é uma banda desenhada com muitas coisas interessantes. Claro que nem tudo é perfeito e até há uma sensação de um certo over the top, por vezes. Com um universo carregado de uma enorme dose de fantasia, somos levados para um mundo que, por vezes, me lembrou o do filme Avatar, de James Cameron, O Senhor dos Anéis, de Tolkien, ou a famosa saga Star Wars, de George Lucas. Nesta história temos criaturas fantásticas, forças malignas, poderes sobrenaturais e uma grande quantidade de personagens, cada uma com as suas próprias características e identidade gráfica.

Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy
A história é bastante complexa, devido a ter muitos intervenientes, o que faz com que não seja um livro muito fácil para pegar. É uma leitura que exige atenção por parte do leitor. Sete para a Eternidade conta-nos a história de Adam Osidis que habita nas terras de Zhal, onde o Deus dos Sussurros reina de forma absoluta, controlando até os pensamentos dos seus habitantes. Mas já o pai de Adam o tinha ensinado a sempre se opor a este Ditador e agora o protagonista, que está doente e tem pouco tempo de vida, sente-se dividido entre honrar os valores de liberdade que o pai lhe passou e o seu desejo de viver (com saúde) mais tempo, junto da sua mulher e filhos. O seu caminho leva-o a juntar-se a um grupo de soldados - cada um com os seus próprios poderes e background - que procura formar um pequeno grupo de guerrilha, de forma a derrubar o Deus dos Sussurros.

Rick Remender, autor de vários títulos de sucesso, incluindo Uncanny X-Force, oferece-nos ainda um texto muito inspirado, com frases marcantes, que podemos retirar da história e adaptar a um cem número de coisas. Uma coisa que a história tenta ser também, é uma alegoria face ao universo real que nos rodeia, onde o populismo e a xenofobia têm, recentemente, e cada vez mais, ocupado um lugar de destaque nas esferas políticas de todo o mundo ocidental, desde o velho continente europeu até ao continente americano.

Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy
Por tudo o que já escrevi sobre esta obra até agora, já dá para ter uma ideia que temos uma rapsódia da 9ª arte em mãos: fantasia, espiritualidade, aventura, ação, política e um universo totalmente novo, fazem de Sete para a Eternidade uma obra que parece querer jogar em “todos os campeonatos”. E, embora faça quase todas estas coisas bem, não chega a ser perfeita em nenhuma delas. Acaba por ser superficial na sua abordagem. Julgo que se tivesse sido desenvolvida com mais profundidade uma ou duas destes várias vertentes que compõem a obra, a experiência seria mais marcante.

Em primeiro lugar, sendo este um universo tão vasto e com “regras” e funcionamentos tão próprios, a série teria beneficiado se o mundo fosse revelado e explicado de forma mais lenta. Afinal de contas, estamos perante um mundo muito próprio. Mas ao colocar o leitor em contacto com este universo complexo de forma abrupta, Remender faz com que o leitor se tenha que esforçar para conseguir acompanhar e mergulhar no mundo apresentado. E nada de mal existe nisso. Nem sempre é bom os leitores terem a “papinha toda feita” em termos de argumento ou premissa. No entanto, o ónus desta opção é que a imersão na leitura acaba por não ser tão grande. Senti-me sempre como “fora” da narrativa, tentando artificialmente entrar nela. Ponho as coisas desta maneira: esta obra teria funcionado melhor para mim, numa destas duas situações: 1) se o seu foco fosse mais a componente política e de reflexão sobre o bem e o mal e sem o universo fantástico; ou 2) se a história fosse num universo fantástico e com muita ação mas sem tanto foco na questão política e filosófica. Parece-me que quer ir “a todas” e acaba por não ir realmente a nenhuma.

Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy
Não obstante, é verdade que o texto de Remender, especialmente nas partes mais filosóficas e introspetivas, é bastante inspirado (com material muito quotable). Destaque para a introdução/reflexão, em texto corrido, que abre cada um dos 9 capítulos deste volume. Isso foi muito pertinente e bem explorado pelo autor para conseguir dar profundidade ao protagonista desta aventura. Remender é um bom escritor, há que reconhecer. E algumas personagens, especialmente o vilão Rei dos Sussurros e Adam Osidis são personagens muito interessantes, com variadas camadas nas suas condutas que tornam ténues as barreiras entre o bem e o mal. Será que o Rei dos Sussurros não é tão mau como parece?

E depois ainda existe a arte de Jerome Opeña que é extremamente impressionante! Diria que, por muito bom que o trabalho de Remender seja nesta obra, é a arte de Opeña que a torna em algo majestoso. Este terá sido dos livros mais bonitos que a G. Floy editou no ano passado, relativamente à arte ilustrativa. O desenho do autor é muito estilizado, com muita personalidade, excelentes enquadramentos, diversidade na planificação das pranchas e sabe ser impressionante em cada coisa que retrata. Seja uma cena introspetiva do protagonista a pensar, seja uma batalha com muitos guerreiros numa frenética cena de ação ou seja na concepção - quer gráfica, quer criativa – das personagens, que são muito originais, embora familiares.

De facto, senti que já tinha visto estas personagens em algures e por isso facilmente foi criada uma relação de familiaridade mas, em oposição, também senti que estas personagens eram algo novo, refrescante e com o qual eu não tinha tido contacto ainda. As próprias capas dos 9 capítulos são, por si só, verdadeiras obras de arte. E, como se não bastasse, as cores do experiente Matt Hollingsworth elevam ainda mais esta obra fantástica.

Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy
Como ponto a lamentar, há que referir que dois dos capítulos deste volume foram desenhados por James Harren. As ilustrações de Harren são "cartoonizadas" e pouco polidas. Se já seriam capítulos algo fracos em termos de ilustração, se tivermos em conta que estão inseridos numa história tão magnificamente desenhada por Opeña, chegam a parecer anedóticos. Compreendo que, especialmente no mercado americano dos comics, e devido a questões contratuais e de prazos,é frequente que parte de um trabalho de ilustração de uma obra seja assegurado por outro ilustrador. Mas, neste caso, o casting correu muito mal, a meu ver. Seria aceitável se esse capítulo tivesse sido usado para um flashback ao passado das personagens. E até é isso que começa, e bem, por acontecer. Mas quando a história regressa ao tempo presente, com um estilo de ilustração tão diferente – e inferior – do de Opeña, confesso que achei que foi uma grande machadada na qualidade da série.

Há ainda que realçar o fantástico trabalho de edição por parte da G. Floy. Este é um grosso volume de 264 páginas, com uma elegante capa baça e um papel brilhante e de boa qualidade. Há ainda uma generosa seleção de magníficos esboços de Opeña, que são um acrescento muito generoso para a obra. A opção de reunir uma história, que no total terá 17 números, em dois livros apenas - em vez de os agrupar em 3 ou 4 livros com menos capítulos - é uma decisão adequada e acertada.

No final, acho que Sete para a Eternidade é uma obra muito interessante e com várias coisas espetaculares mas que acaba por ter mais "olhos que barriga". Faz muitas coisas maravilhosas – como o texto inspirado de Remender, os desenhos espantosos de Opeña, ou as cores lindas de Hollingsworth. Mas depois, também parece ser uma manta de retalhos relativamente ao universo criado, com demasiadas personagens e eventos que, naturalmente, acabam por deixar o leitor algo perdido e incapaz de absorver a história de um trago. Com mais sensatez poderia ser uma obra de arte intemporal. Assim, é “só” um excelente livro.


NOTA FINAL (1/10):
8.8


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Sete para a Eternidade – Livro Um, de Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren - G. Floy

Ficha técnica
Sete para a Eternidade - Livro Um
Autores: Rick Remender, Jerome Opeña e James Harren
Editora: G. Floy
Páginas: 264, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2020

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Análise: Bouncer – O Ouro Maldito e O Espinhaço de Dragão

Bouncer – O Ouro Maldito e O Espinhaço de Dragão, de Boucq - Arte de Autor

Bouncer – O Ouro Maldito e O Espinhaço de Dragão, de Boucq - Arte de Autor
Bouncer – O Ouro Maldito e O Espinhaço de Dragão, de Boucq

Esta obra, editada pela Arte de Autor em 2018, reúne os dois últimos tomos desta série, cujo universo e personagens foram criados por Alejandro Jodorowsky e François Boucq. É uma série já com uma longevidade considerável que muito aprecio. E daquelas em que mesmo os leitores de banda desenhada que, normalmente, não apreciam o género western, (até) podem ficar fãs da série. Há fortes probalidades de que isso aconteça, pelo menos. Mas o factor mais assinalável neste álbum duplo, que congrega duas histórias, nomeadamente, O Ouro Maldito e O Espinhaço de Dragão é que, pela primeira vez, Jodorowsky não participa como argumentista, tendo o argumento ficado também a cargo de Boucq.

Se há elementos comuns a esta série é que estamos perante um argumento espetacularmente bem pensado por Jodorowsky. Já li muitas obras do autor e, não raras vezes, e ao contrário de uma grande quantidade dos seus fãs, acabo desiludido com o trabalho do autor. E digo isto porquê: parece-me que o autor tem uma grande facilidade em se deixar levar pelas suas ideias, por vezes boas, por vezes “espatafúrdias”, perdendo a noção da própria história. Já quando analisei o interessantíssimo segundo volume de Os Cavaleiros de Heliópolis, do mesmo autor, referi isso. Despejar ideias avulsas numa só mesma narrativa não traz, por si só, a garantia de um bom argumento. Pelo menos, na minha opinião. Uma coisa é ser-se criativo – ter-se muitas ideias. Outra coisa é ser-se um BOM criativo – ter-se muitas e BOAS ideias. Nem sempre Jodorowsky encaixa neste segundo grupo, a meu ver. E digo-o sabendo que, possivelmente, estarei a chocar muitos fãs do autor. Eu sou fã de algumas coisas do autor. E Bouncer é seguramente uma dessas coisas. Se não for mesmo a minha preferida. Acho que tudo aquilo que esta série tem – a violência, as mutilações, o conjunto muito bem equilibrado de personagens marcantes, o sexo, o desfile de aberrações, a componente mística – contribui para que a história seja um bom guisado de coisas que se tornam inolvidáveis para o leitor. É interessante, divertido, marcante, chocante e repugnante ler Bouncer. O mais difícil mesmo é ficarmos indiferentes. Ou amamos ou simplesmente não é a nossa cup of tea.

Bouncer – O Ouro Maldito e O Espinhaço de Dragão, de Boucq - Arte de Autor
E claro que, fãs da série como eu, podem ter torcido o nariz quando souberam que este álbum duplo – que abre e fecha um arco em si mesmo – não tinha Jodorowsky como argumentista. Mas não há razões para alarme. Boucq dá conta do recado. Tenho lido alguns comentários espalhados pela internet – quer em sites portugueses, quer em sites estrangeiros – que afirmam que esta história é “fraquinha” ou que não está ao nível das anteriores. Não concordo. Mesmo que possa não ser a minha favorita, acho que é justo dizer que está ao nível das anteriores. A enorme qualidade da série mantém-se lá.

Enquanto argumentista, Boucq foi inteligente. Para além do óbvio protagonista Bouncer, o cowboy maneta, o autor soube pegar em personagens já conhecidas e bem desenvolvidas da série como Yin Li, Job, Panchita e Blabbermouth e introduzir um conjunto de novas personagens marcantes, como o infame El Cuchillo, a muito obesa Condessa Esperanza, o cadavérico Skull e o aventureiro Capitão Ledrillant. Isto já para não falar da tribo das índias amazonas que assassinam, de forma mais do que violenta, todo e qualquer homem com quem se cruzam depois de, naturalmente, o obrigarem (à força) a engravidar uma das suas índias, de forma a assegurar as novas gerações da tribo, sem homens. Ou seja, por todos estes elementos, já se torna óbvio que este álbum de Bouncer navega em águas conhecidas.

Bouncer – O Ouro Maldito e O Espinhaço de Dragão, de Boucq - Arte de Autor
No entanto, Boucq consegue transformar esta história em algo mais terra-a-terra. Menos “louco” do que os antigos álbuns de Bouncer. Dizer isto não é dizer que não há aqui espaço para todos os elementos, já assinalados por mim, característicos da série. Claro que os há. No entanto, parece ser uma história mais sensata, de forma geral, em que há uma demanda mais clássica no género western.

Em termos de história, tudo começa quando a filha do relojoeiro de Barro City aparece morta e sem escalpe. E, desde cedo, Bouncer percebe que esse foi um asssassinato equivocado. Alguém procurava Panchita, cuja tatuagem parece assinalar um mapa para um tesouro maldito. É por isso que El Cuchillo rapta Panchita. E Bouncer, que tinha prometido olhar sempre pela sua protegida, parte então no encalço do raptor, que se faz acompanhar por uma enorme e obesa mulher – a Condessa Esperanza. Pelo caminho, acontecem vários eventos marcantes e voltas e reviravoltas.

Devo dizer que é uma história muito bem pensada e desenvolvida. O início até arranca com alguma lentidão mas acaba por ser importante para que Boucq aproveite para traçar bem a história, apresentar os seus novos personagens, e deixar o leitor sem grandes respostas acerca daquilo que vai acontecer adiante. E isso é muito bom. Quanto ao segundo tomo, já nos encontramos mais a acompanhar os desenvolvimentos da demanda de todas as personagens. É também onde há mais ação e onde a história se torna, a meu ver, mais linear. Mais focada no objetivo. Não é tão inspirada como a primeira parte da história mas também não desilude.

Bouncer – O Ouro Maldito e O Espinhaço de Dragão, de Boucq - Arte de Autor
De forma global, talvez este díptico seja mais terra-a-terra do que os outros volumes, com Jodorowsky. Talvez não tenha tanta violência (mas tem-na, ainda assim); talvez não tenha tanto misticismo (mas tem-no, ainda assim); talvez não tenha personagens tão chocantes (mas tem-nas, ainda assim); talvez não tenha tantas cenas de mutilações (mas tem-nas, ainda assim); nem tantas cenas de sexo (mas tem-nas, ainda assim). Ou seja, parece um Bouncer mais adulto e menos chocante. Uns acharão que ficou mais “chato”, outros acharão que ficou mais “maduro”. No meu caso, não sendo o meu Bouncer favorito, não deixa de ser um livro magnífico e que não mancha – em nada – esta fantástica série.

Quanto à arte, estamos perante mais uma obra de excelente qualidade por parte de Boucq (haverá alguma que não tenha qualidade?). O seu estilo é muito próprio e até admito que não seja do fácil agrado de todos. Lembro-me que, no meu caso, quando conheci pela primeira vez a arte do autor, há já largos anos, até não gostei muito. No entanto, é um estilo de arte que “primeiro estranha-se e depois entranha-se”. Hoje em dia, considero-o um autêntico mestre do desenho. Neste álbum de Bouncer as suas qualidades inegáveis mantêm-se bem presentes. Devo dizer, todavia, que não é dos melhores álbuns em termos de arte ilustrativa. E talvez isso se justifique pela abundância de cenas no deserto branco que levam a uma aridez demasiado pobre em termos visuais. Também certas cenas me pareceram um pouco rabiscadas demais, com pouco polimento gráfico – mesmo tendo em conta o estilo de ilustração do autor. São pequenas “queixas” ainda assim, porque, afinal de contas, continua a ser um livro muito bem ilustrado por Boucq.

Bouncer – O Ouro Maldito e O Espinhaço de Dragão, de Boucq - Arte de Autor
A edição da Arte de Autor é mais do que apetecível. A encadernação deste álbum em grande formato é excelente, com bom papel e um bom tratamento gráfico. Como nota menos positiva, achei o tipo de letra das legendas ligeiramente difícil de ler. Para comparar, fui ver o álbum anterior da editora, Bouncer - To Hell And Back e, embora o tipo de letra me pareça o mesmo, fico com a ideia que se lê melhor. Como se, nesse caso, as letras estivessem mais bem impressas que neste O Ouro Maldito e O Espinhaço de Dragão. É apenas um detalhe mas fez-me alguma confusão. Ou então sou eu que já estou a ficar um pouco “pitosga”.

Em conclusão, este Bouncer dá-nos mais uma fantástica aventura do cowboy maneta mais famoso de sempre. Com Boucq a assumir o papel de argumentista, para além do de ilustrador, posso dizer que os fãs da série não deverão ficar desiludidos e que, por ventura, a série até pode conquistar alguns interessados em western que, normalmente, não têm muita paciência para as excentricidades de Jodorowsky. Seja como for, não há como fugir a isto: Bouncer é dos meus westerns favoritos. E recomendo-o até àqueles que não gostam de obras deste género.


NOTA FINAL (1/10):
8.9


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Bouncer – O Ouro Maldito e O Espinhaço de Dragão, de Boucq - Arte de Autor

Ficha técnica
Bouncer – O Ouro Maldito e O Espinhaço de Dragão
Autor: François Boucq
Editora: Arte de Autor
Páginas: 164, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2018

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Análise: As Aventuras de Tom Sawyer



As Aventuras de Tom Sawyer, de Caterina Mognato e Danilo Loizedda

As Aventuras de Tom Sawyer é a quinta obra da coleção Clássicos da Literatura em BD, editada pela Levoir em parceria com a RTP. Da autoria de um dos escritores mais marcantes na literatura mundial, Mark Twain, esta é uma história direcionada para um público infanto-juvenil mas com o condão de agradar a adultos, também. Mais não seja, pela oportunidade que dá a cada leitor de voltar aos seus tempos de meninice.

No meu caso concreto, é uma obra muito querida por dois motivos. O primeiro que, imagino, será comum a muitos leitores deste blog, é a importância que a série de animação dos anos 80 teve na minha infância. Sempre foram dos desenhos animados de que mais gostei enquanto criança. Mas há um segundo motivo para eu gostar tanto desta obra e que está interligado com a banda desenhada. Vou partilhá-lo com os que me lêem.
 
Quando andava na escola primária, uma colega emprestou-me um livro de banda desenhada que marcou a minha vida para sempre. Era a adaptação para banda desenhada de As Aventuras de Tom Sawyer, de Carlos Cornejo e Chiqui de la Fuente, editado pela SEL – Sociedade Editorial. E bang! Fiquei verdadeiramente viciado neste livro.

Consegui convencer a dona do livro a trocá-lo por alguns livros meus e passei a ser o dono deste adaptação que me acompanhou para todo o lado e, ainda hoje, ocupa um lugar de destaque na minha coleção. Até hoje, continua como um dos meus livros preferidos de banda desenhada. É certo que, nos dias que correm, já sou um leitor de bd com (alguma) experiência, e, portanto, consigo perceber que talvez esta adaptação não seja perfeita – e o seu final foi adaptado de forma demasiado livre, reconheço. Mas como é um livro que incentivou e marcou a minha entrada no universo da banda desenhada, continua a ser um livro que prezo como um dos mais “valiosos” na minha coleção pessoal. E, diga-se, é uma excelente adaptação da obra de Mark Twain.

Ora, feita a minha introdução à ligação que tenho com a obra - cuja versão original de Twain também acabei por ler várias vezes - devo confessar que esta nova adaptação à bd, da autoria de Caterina Mognato e Danilo Loizedda, tinha, logo à partida, a tarefa difícil de conquistar a minha (plena) satisfação. E não sendo isenta de alguns problemas, parece-me que é uma obra que cumpre bem os seus intuitos genéricos.

Comecemos pela arte, desta vez. Até agora, esta coleção da Levoir tem revelado uma qualidade mediana/baixa. O último livro, Oliver Twist, e também Odisseia, foram livros cujas ilustrações ficaram bastante aquém de um patamar de qualidade satisfatório. Este As Aventuras de Tom Sawyer, com ilustrações da autoria de Danilo Loizedda, supera facilmente essas obras que mencionei em termos de qualidade de desenho. Afirmar isto não é dizer que esta obra apresenta uma qualidade de ilustração espetacular. Na verdade, verifica-se que Loizedda apresenta algumas debilidades em algumas vinhetas, onde certas expressões faciais e certas posições corporais – especialmente as que pressupõem a sensação de movimento – não são muito bem conseguidas. No entanto, parece-me que, na globalidade, é um álbum agradável de admirar. Há algumas vinhetas bastante bem conseguidas e o trabalho de cor – assegurado pelo estúdio Minte Studio – consegue atribuir à obra uma boa harmonia cromática. Não terá, portanto, uma arte ilustrativa tão boa como Alice no País das Maravilhas teve, mas, ainda assim, é dos melhores da coleção até agora.

Quanto à adaptação do argumento para banda desenhada, que ficou a cargo de Caterina Mognato, penso que este livro cumpre os mínimos para assegurar que a história de Tom Sawyer fica contada de forma decente. Porém, considero que comete duas falhas. A primeira é que alguns epísódios da obra original, como a pintura da cerca em que Tom Sawyer, perspicaz, consegue ludibriar todos os seus amigos para que façam o seu trabalho e ainda paguem em géneros para o fazer(!); ou a cena em que a Tia Polly ajuda Tom Sawyer a arrancar o dente de forma estóica; ou quando Tom Sawyer dá o seu remédio ao pobre gato, entre outros momentos, são pequenos episódios obrigatórios nesta obra fantástica de Mark Twain. Poderão dizer-me: “Ah, mas em 48 páginas seria difícil falar disso tudo”. A isso eu respondo, com o meu exemplar de Carlos Cornejo e Chiqui de la Fuente à minha frente, “Pois bem, os autores espannhóis conseguiram não deixar esses episódios de fora em 46 páginas”. Com duas páginas a menos, conseguiram apresentar mais episódios da obra original. Ou seja, nesta edição da Levoir parece-me que Caterina Mognato deixou algumas partes importantes da história de fora, desperdiçando muitas páginas e vinhetas com coisas não tão relevantes. Deveria ter havido um melhor resumo da história. 

A segunda falha que encontro neste livro é que a autora não consegue ter um fio condutor narrativo com a clareza que se esperaria. Acaba por ser um mero desfile de eventos aquilo que nos é dado. A obra original, relembro, conta as inúmeras aventuras que o muito rebelde Tom, na companhia do seu fiel companheiro Huckleberry Finn, experencia na pequena vila, situada no Missouri, na margem do Mississipi, onde vive. A vida de Tom é marcada pela chegada da bela Becky à sua terra, bem como os crimes que o índio Joe faz e que Tom testemunha. Tudo isso está aqui retratado, é certo, mas falta um fio que una as peças, que trace melhor a personalidade marialva - mas igualmente amorosa - do protagonista. Parece-me que este Tom não tem o carisma, a vivacidade, a traquinice que tem o Tom de Mark Twain (ou o de Carlos Cornejo). Não é mau, sublinho, mas é mediano.

Em relação à edição por parte da Levoir, temos um livro com uma boa qualidade de encadernação, em capa dura, e com papel de qualidade. No final, há um pequeno dossier de extras com pertinentes informações sobre a obra original e sobre a incrível vida de Mark Twain, esse fantástico escritor, tão à frente do seu tempo.

Em conclusão, esta adaptação de As Aventuras de Tom Sawyer cumpre o objetivo primordial de nos apresentar esta personagem universal e marcante. Em termos de ilustração é um álbum que, não sendo perfeito, tem algumas coisas interessantes. Já quanto à adaptação do argumento original para banda desenhada, a mesma poderia ser melhor e não ter cortado alguns episódios tão inesquecíveis da obra original. Mesmo assim, parece-me uma boa opção para se apresentar este clássico da literatura a um público infanto-juvenil. Isto, claro, se não se conseguir encontrar a fantástica adaptação para bd de Carlos Cornejo e Chiqui de la Fuente, editado no longínquo ano de 1978 pela editora SEL.


NOTA FINAL (1/10):
7.2


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Ficha técnica
As Aventuras de Tom Sawyer
Autores: Caterina Mognato e Danilo Loizedda
Adaptado a partir da obra original de: Mark Twain
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: capa dura
Lançamento: Novembro de 2020

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Análise: Tex - Patagónia

Tex – Patagónia, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda - Polvo


Tex – Patagónia, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda - Polvo
Tex – Patagónia, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda

Desde sempre que a série Tex me surpreendeu pelas suas características únicas. É que, se por um lado, Tex é o grande porta-estandarte da editora italiana Bonelli e um herói muito acarinhado pelos muitos fãs que tem em todo o mundo (e faço destaque ao próprio Clube Tex Português e ao fantástico blog que sustenta esse clube - Tex Willer Blog); por outro lado, é uma série que não chega a um verdadeiro público mainstream da banda desenhada. É extremamente bem sucedida mas, face a uma franja de mercado apenas. Nem toda a gente gosta... mas quem gosta, gosta muito! É fã acérrimo. Tex é, por isso, aquilo que costumamos apelidar de “série de culto”.

Se me parece que, por vezes, Tex Willer é uma personagem demasiado unidimensional e, por esse motivo, bastante clássica nos valores e idiossincrasias que representa, a verdade é que isso também é facilmente justificável pela longa vida do personagem, a cavalgar planícies áridas desde 1948. E, em Patagónia, o fantástico trabalho do argumentista Mauro Boselli, traz-nos um Tex Willer que, mesmo preservando essa unidimensionalidade que referi acima, consegue, não obstante, pintar este Ranger do Texas com subtis pinceladas, que nos dão tonalidades mais cinzentas na postura da personagem. E isso é, sem dúvida, um dos muitos pontos a favor deste fantástico Patagónia.

Em termos de história, esta é uma aventura única de Tex Willer e diferente daquilo que poderíamos estar à espera. Desta vez, Tex e o seu filho, Kit Willer, viajam dos Estados Unidos para as pampas argentinas, para servirem de intermediários entre o Governo argentino e as tribos indígenas locais. Tudo o que despoleta esta demanda é uma sequência de ataques mortíferos por parte dos índios e o consequente rapto de prisioneiros. À medida que a história se vai desenrolando, as reais razões desta missão dos Willer surgem dúbias. Por um lado, parece haver uma tentativa de negociação pacífica do Governo argentino – e esta, naturalmente, é a vontade de Tex – mas, por outro lado, uma facção do exército argentino parece querer resolver o assunto com o recurso à violência gratuita, manifestando vontade de dizimar as tribos de índios.

Há uma vertente mais histórica nesta obra pois consegue transmitir-nos, com realismo, o genocídio das tribos de indíos na Patagónia, levado a cabo pelo exército argentino, e como só através de muita determinação, espírito de sacrifício e incríveis perdas humanas, estas tribos de índios conseguiram ter uma palavra a dizer na história da Argentina. Tex Willer aparece aqui como um intermediário, um pêndulo de bom-senso e diplomacia que procura, de forma disciplinada, reunir consensos e cedências de parte a parte.

Tex – Patagónia, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda - Polvo
Obviamente, um cowboy vindo do faroeste não é inicialmente bem-vindo. Nem junto dos oficiais argentinos – com exeção de Ricardo Mendonza, antigo companheiro de Tex e responsável pela sua chamada à Argentina – nem junto dos índios que olham de soslaio para o protagonista, por ter a pele branca. Eventualmente, Willer terá que conquistar a sua admiração através de alguns eventos, muito bem imaginados pelo argumentista Boselli.

Uma coisa é certa: embora seja uma obra com bastantes momentos de ação, esta é uma história que demora bastante tempo a arrancar. As primeiras 40 páginas servem mais para que Boselli nos apresente a história, o tema, a demanda, os interesses em conflito. E isto não é necessariamente mau. É adulto. Leva-se a sério. Possivelmente, um jovem leitor ficará algo entediado com o ritmo lento da primeira parte da obra. No entanto, um adulto que procure uma história com cabeça, tronco e membros, apreciará a forma cuidada e rigorosa com que a narrativa está construída.

Mais do que uma história de cowboys, esta é uma história de guerra. Entre soldados do regime argentino e os índios da Patagónia. E mesmo estando embebida de alguma moral relativamente ao erro de se ser preconceituoso, no que concerne a raças e culturas, também não é uma história demasiado moralista. Tenta ser até, bastante factual, na forma como narra os eventos. Se essa moral existe, é nos feitos e postura de Tex Willer, pelo seu exemplo de justiça, que a mesma é passada. Muito adulto, uma vez mais.

Apreciável também é a tal dimensão menos unidimensional de Tex e das personagens que o rodeiam. Gostei particularmente de como Ricardo Mendonza e Solano conseguem ter várias camadas entre o bem e o mal. Entre o certo e o errado.

Mas, se a história é bem documentada, original pelo cenário onde acontece, e com personagens interessantes, a arte ilustrativa de Pasquale Frisenda é uma autêntica obra de arte. Uma maravilha para os olhos ao saber utilizar, com tanta mestria, o preto e branco, para nos dar um mundo verdadeiramente bem executado, para onde somos convidados a entrar. A minúcia dos pormenores que Frisenda deposita nos seus desenhos é incrivel e merece ser observada com um olhar igualmente minucioso. Assim, não raras vezes, dei por mim a perder largos momentos em muitas vinhetas incríveis e majestosas no tratamento gráfico.

A caracterização das personagens é excelente, com uma boa panóplia de emoções, que o autor utiliza sabiamente para dotar as personagens de sentimentos verossímeis. Mas é na caracterização dos ambientes, sejam eles paisagens distantes, olhares sobre os grandiosos acampamentos índios, cenas de desenfreado combate ou de cavalos em impetuosas cavalgadas, que mais fiquei surpreendido e apaixonado pela sua arte. De facto, a maneira como Frisenda capta o momento é magnífica e tem algo de poético, até. E isso não é comum em banda desenhada. O seu traço fino, elegante e muito seguro de si mesmo, representa a qualidade gráfica que uma série de culto como Tex merece. A meu ver, era difícil fazer um melhor trabalho no cômputo da arte ilustrativa.

Tex – Patagónia, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda - Polvo
Se há uma coisa que não gostei tanto, e que diz respeito à história, é o final algo abrupto da mesma. Chega a ser frustante se tivermos em conta que a história demora tantas páginas a desenvolver – e isso é bom, pois permite explorar as personagens e preparar o leitor para a grande missão de Tex – mas depois, no final, resolve a história em duas páginas, de forma demasiado seca. Não sei se isso aconteceu por causa de alguma pressão da editora sobre os autores, que tivesse que ver com deadlines, mas é uma pena, pois é um final demasiado brusco. Não é um mau final, note-se. Mas é um final mal explorado. Um livro destes merecia um final mais épico e bem conseguido.

Quanto à edição da Polvo, mesmo admitindo que considero que esta obra de qualidade superior merecia uma capa dura, tenho que reconhecer que é uma edição com muita qualidade por parte da editora portuguesa. O papel é muito bom, a capa, com generosas bandanas, é muito bonita, e o trabalho gráfico também apresenta uma elegância muito apreciável. A introdução da obra por José Carlos Francisco também acrescenta informação pertinente à obra.

Em conclusão, é fácil perceber porque é que Patagónia é uma das obras mais aclamadas de Tex Willer. As ilustrações de Frisenda são verdadeiramente magníficas e dignas de serem analisadas ao detalhe, enquanto que a história, que nos é oferecida por Boselli, é muito bem encetada, sabendo munir a obra de uma boa trama, que se desenvolve num cenário diferente daquilo a que estamos mais habituados a ver nas histórias do famoso cowboy. Pela parte que me toca, não tenho dúvidas que, se não for mesmo a melhor, é uma das melhores obras de Tex e um ótimo portal para mergulhar nas aventuras desde famosíssimo herói. Imprescindível.


NOTA FINAL (1/10)
9.2



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Tex – Patagónia, de Mauro Boselli e Pasquale Frisenda - Polvo

Ficha técnica
Tex – Patagónia
Autores: Mauro Boselli e Pasquale Frisenda
Editora: Polvo
Páginas: 228, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Maio de 2015 (2ª Edição: Maio de 2018)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Vencedor do Passatempo Bruno Brazil - Bet n Win BD


Já temos o vencedor para o passatempo/giveaway do Vinheta 2020, que tinha os livros de Bruno Brazil Black Program 1 e Black Program 2 para oferecer!

Desta vez, optei por fazer algo diferente em termos de passatempo. Como foi lançado na semana dos VINHETAS D'OURO, optei por convidar os leitores do blog e seguidores das redes sociais a tentarem adivinhar quais seriam os vencedores das 9 categorias dos prémios.

O engraçado é que ninguém acertou nas 9 categorias!

Portanto, para atribuir o prémio, tive que ir contabilizar quem foram os participantes que mais categorias acertaram.

E devo dizer que houve 4 participantes que acertaram em 6 das 9 categorias. Foram eles Rui CoutinhoJoão Marques, O Estranho e Frederico.

Mas infelizmente, apenas tinha 2 livros para sortear e portanto tive que desempatar estes participantes, com base na ordem de chegada das suas participações. E, por ter enviado a sua participação primeiro, o vencedor deste passatempo é:

Rui Coutinho


Parabéns ao vencedor e a todos os participantes!

Se concorreste e não ganhaste desta vez, não desanimes porque o Vinheta 2020 terá muitos mais passatempos nos próximos tempos.

Só tens que ir passando no blog e acompanhando as redes sociais do mesmo, para saberes que prémios haverão para oferecer aos leitores deste espaço.

Até já!

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NOTA: Lamento ter dado a informação errada, de que o vencedor do passatempo era o João Marques. Não me tinha apercebido da participação de Rui Coutinho. Aos dois, as minhas sinceras desculpas.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Lançamento: Undertaker 2 - A Dança dos Abutres



Há grandes notícias por parte da Ala dos Livros! A editora prepara-se para publicar o segundo volume da fantástica série Undertaker!

Estará disponível a partir de 20 de Fevereiro. Este é mais um grande lançamento da editora.

Fiquem a conhecer algumas pranchas e a sinopse da obra.


Undertaker 2 - A Dança dos Abutres, de Xavier Dorison, Ralph Meyer e Caroline Delabie 

Jonas Crow, o cangalheiro, Rose, a governanta inglesa, e Lin, a criada chinesa, dirigem-se à mina de “Red Chance” para aí sepultar um antigo milionário que decidiu ser enterrado com o seu ouro. Têm, diante de si, três longos dias de viagem e cinquenta milhas percorridas na carroça fúnebre através dos abrasadores e poeirentos desfiladeiros do deserto. E, atrás de si, há toda uma multidão de mineiros exaltados que os persegue, apostados em não lhes facilitar a vida…

Assinado por Delabie, Dorison e Mayer, «A Dança dos Abutres» é o segundo tomo da série Undertaker e, tal como o primeiro, conta com um enredo trepidante, servido por um desenho soberbo.

Esta série, difundida em 14 países entre os quais se inclui agora Portugal, obteve desde o início da sua publicação em França, em 2015, numerosos prémios e distinções. Salientam-se o Prix Saint Michel 2015 du Meilleur Dessin, o Prix Le Parisien 2015 de la Meilleur BD, o Prix 2015 des rédacteurs de scenario.com e ainda a distinção Album preferé des lecteurs de BD Gest 2015.

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Ficha técnica
Undertaker 2 - A Dança dos Abutres
Autores: Xavier Dorison, Ralph Meyer e Caroline Delabie
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 16,65 €