E se, anteriormente vos trouxe um belo livro ilustrado do autor espanhol Miguelanxo Prado, trago-vos por agora outro belo livro ilustrado de um autor português. Este A Minha Árvore Secreta é um bonito e despretensioso livro ilustrado de David Pintor que me deixou com uma bela sensação de leitura e com um travo agri-doce, algures entre a felicidade e a tristeza, no final da leitura.
A história de A Minha Árvore Secreta dá-nos conta de uma árvore especial na vida de uma menina. Essa árvore foi plantada pelo seu avô e passou a ser o local predileto da criança. Aí, ela brincou com o seu pai e fez novos amigos – uns reais, outros imaginados. Foi também junto a essa árvore que parou para pensar na sua vida e degustar um belo momento a sós. Por debaixo dessa árvore encontrou ainda refúgio nos dias chuvosos e sombra nas tardes de calor abrasador. Era um local para se ser criança, brincar e viver aventuras e fantasias. Todos nós, quando em criança, já tivemos um sítio especial, um lugar secreto, que era só nosso e aonde gostávamos de estar, certo?
Mas como nem tudo o que é bom dura para sempre, há um dia em que a menina se vê confrontada com algo que a deixa muito triste: alguém cortou a sua árvore especial. E, com ela, todo o mundo da protagonista desaba. Se isso é triste - e coloca até a questão da necessidade da bio conservação do nosso planeta em destaque -, também nos revela que, face a barreiras e dificuldades, às vezes basta-nos pensar nos bons exemplos que nos foram dados, para voltar a fazer bem aquilo que está errado. A história é curta e com pouco texto.
A moral é simples e facilmente percetível por qualquer criança. O final pode parecer triste, mas David Pintor sabe dar a volta por cima, deixando-nos com um sorriso no final da leitura. Mesmo que para os adultos que lêem o livro e que são necessariamente mais vividos do que as crianças, possa haver um significado mais profundo e maduro – e possivelmente nostálgico – a retirar deste A Minha Árvore Secreta.
A premissa da obra, em termos visuais, é muito simples, mas funciona muito bem. Ao longo de todo o livro temos sempre uma ilustração em página dupla onde a árvore é a protagonista, ocupando boa parte de ambas as páginas. Não se torna repetitivo porque vão acontecendo mudanças na árvore, de ilustração para ilustração. Se em termos de trabalho pode parecer que o autor David Pintor não teve que despender tanto tempo assim na execução deste livro, uma vez que em alguns casos a árvore, embora diferente, parece quase a mesma, a verdade é que, conceptualmente falando, esta maneira de contar a história funciona muito bem, remetendo-nos quase para uma peça de teatro. O cenário até pode parecer igual, mas as mudanças vão ocorrendo de ilustração para ilustração.
Ilustrações essas que são bem belas, com cores que pintam com mestria as diferentes estações do ano e as diferente fases de vida da árvore. O traço é rabiscado, apresentando-nos figuras simpáticas que facilmente criam empatia no leitor. A capa também é muito bonita e foi daquelas coisas que rapidamente me chamou à atenção. Como sempre digo, a capa é a embalagem de um livro, portanto, quanto mais bela for, mais vontade terei de pegar no livro.
A edição da Editorial Caminho, uma chancela do Grupo Leya, é em capa dura, com papel baço de boa qualidade e uma boa impressão e encadernação.
Eis um livro ilustrado que me surpreendeu pela positiva – quer em termos de história, quer em termos de ilustração – que recomendo a todos os leitores que, como eu, embora tenham crianças em casa, também gostam de, por vezes, mergulhar em belos livros ilustrados.
NOTA FINAL (1/10):
6.9
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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A Minha Árvore Secreta
Autor: David Pintor
Editora: Editorial Caminho (Grupo Leya)
Páginas: 40, a cores
Encadernação: Capa dura
Dimensões: 243 x 246 x 8 mm
Lançamento: Abril de 2022
Hugo, longe de mim criticar a análise de livros ilustrados, sendo eu também um admirador do género e ilustrador, mas não nos deveríamos focar na BD?. Gostaria de lhe fazer uma sugestão - apesar de cobrir extensivamente os lançamentos nacionais, estaria aberto a criticar obras estrangeiras? Seria, talvez, uma forma de alertar os leitores menos avisados e, de alguma forma, "influenciar" público e editores nacionais. Eu, pela minha parte, acolheria de bom grado esta variante. PS - uma pequena nota, os preços das obras desapareceram das fichas técnicas?... Abraço.
ResponderEliminarCreio que ele já faz isso. Se não veja-se,... das obras do top 10 os melhores do ano, só o Cobra é nacional, o restante é estrangeiro, se não estou em erro.
ResponderEliminarCaros António e Miguel, obrigado pelas mensagens.
ResponderEliminarAntónio, de facto, este blog concentra-se em analisar livros de banda desenhada. E tal não deve ser alterado. Ontem fiz estes dois artigos porque achei que faria sentido devido ao dia da criança se ter passado na véspera dos artigos e de eu ter passado esse dia a ler esses livros com as minhas filhas. Acredito que o livro de ilustração pode ser a porta de entrada na banda desenhada, pelos mais novos. Mas é como digo: foi algo excecional. Não acredito que vá fazer isso com muita assiduidade.
Miguel, julgo que quando o António se refere a obras estrangeiras, está a querer dizer "lançamentos estrangeiros", com as obras lidas noutra língua. Também é algo que eu faço mas poucas vezes. Lembro-me que analisei "Mickey Horrifikland", "Regreso Al Éden" ou "Senso" nas suas línguas originais. Tenho em casa mais obras estrangeiras na minha pilha para ler e analisar mas a verdade é que os lançamentos nacionais se vão sobrepondo aos lançamentos estrangeiros. Porquê? Porque acho que os leitores estão mais sensíveis aos livros em língua portuguesa. Todavia, mais cedo ou mais tarde, a análise a essas obras estrangeiras há-de acontecer.
António, por fim, só coloco os preços dos livros nas fichas técnicas nos posts de lançamento. Em análises nunca o fiz.
Um abraço a ambos.