Estando o ano 2022 a ser marcado por uma triste guerra, que começou com a invasão da Ucrânia pela Rússia, sem qualquer fundamento legítimo, e que, a partir daí, tem escalado para consequências profundas e negativas ao nível demográfico e económico, um pouco por todo o mundo, é normal que a Rússia e o seu Governante máximo, Vladimir Putin, andem nas bocas do mundo.
E aproveitando esse momento, a Lua de Papel (uma chancela do Grupo Leya) lançou há poucas semanas o livro A Rússia de Putin – A Ascensão de Um Ditador, do autor Darryl Cunningham, que é uma biografia em banda desenhada do governante russo.
Quando o livro foi anunciado e coloquei nas redes sociais a pergunta: “Vão comprar?” foram rápidas as muitas respostas que se insurgiram contra o livro. “Um livro de Putin? Nem pensar! Ele é um verdadeiro assassino!”. Parece-me uma reação compreensível, tendo em conta a idiotice e, perdoem-me a expressão corriqueira, “complexo de pila pequena” que assola Putin, mas também é verdade que a decisão perentória de não comprar este livro "só porque é sobre Putin", incorre no risco de ser altamente redutora e levar as pessoas a não ler um livro que deveriam ler. Sim, eu acho que este livro deve mesmo ser lido.
E se os meus leitores estiverem com reticências sobre o facto desta obra ser a favor de (ou contra) Putin, deixem-me ser bastante claro: se (ainda) há alguém que não compreende o quão criminoso Putin é, este livro poderá ser uma forma de iluminar o espírito desse leitor incauto. Por outro lado, os que já perceberam como funciona a mente conturbada de Putin, terão nesta obra uma possibilidade para aprofundar os seus conhecimentos sobre a política soviética dos últimos 30 anos. E note-se que isto não quererá dizer que este é um livro “anti Putin”. Nada disso. Parece-me bem mais que se trata de um livro que junta factos e cria uma narrativa à volta desses factos. As conclusões a retirar? Bem, “contra factos não há argumentos”, dizem.
A Rússia de Putin – A Ascensão de Um Ditador é um daqueles livros que tem um claro propósito: traçar uma biografia sobre Putin, que se foca na sua ascensão ao poder. Como Putin lá chegou, quais foram as jogadas de bastidores e tudo e mais alguma coisa. Sendo um assunto político e denso, há que dizer que Darryl Cunningham faz aqui um belo trabalho de síntese dos principais eventos na vida deste Governante de ideias megalómanas: de como chegou ao KGB, de como cresceu dentro dos Serviços Secretos russos, de como foi deitando abaixo, um a um, todos aqueles que se opuseram ao seu regime. Os assassinatos do seu opositor Boris Nemtso, da jornalista Anna Politkovskaya ou do ex-espião Alexander Litvinenko são apenas a ponta do iceberg. Quase como se este livro fosse um guia de como se tornar um homem poderoso, temível e, digamos com justiça, um genocida.
Se o texto e a bela capacidade de síntese do autor são admiráveis, o mesmo não pode ser dito dos desenhos. Diria que são um mero apetrecho para acompanhar o texto. Enquanto há os livros de banda desenhada que utilizam o texto para complementar a mensagem que nos é dada pelas imagens, este livro faz exatamente o oposto: utiliza as imagens para complementar (e decorar, embora sem grande brio) a mensagem que nos é dada pelo texto. Há algumas vinhetas mais inspiradas, mas diria que o trabalhão gráfico não merece grandes louvores. É eficiente e cumpre bem o seu objetivo. Mas apenas isso. Mas, lá está, também não diria que seja um livro que, à partida, aponte mais ao público clássico da banda desenhada. Não. É um livro que procura ser uma biografia ilustrada de Putin, em banda desenhada. E, se soubermos apreender que é esse o objetivo máximo deste livro, então certamente consideraremos a obra como muito bem conseguida. Porque faz muito bem aquilo que procura fazer bem.
A edição da Lua de Papel é em capa mole, com boa qualidade de impressão e encadernação. O livro foi originalmente lançado em Setembro de 2021, quando a Rússia ainda não tinha tido a infeliz ideia de invadir a Ucrânia. E, talvez por isso, esta edição portuguesa da obra inclui um prefácio do autor Darryl Cunningham, que foi escrito já em Março de 2022, e que já dá, portanto, conta da invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Há ainda duas páginas finais que voltam a tocar no tema da Ucrânia. Penso que foram adições pertinentes e que oferecem à obra uma relevância ainda maior – e mais atual – para aquilo que se está a passar na Ucrânia, neste preciso momento em que eu escrevo estas palavras e o leitor lê esta análise.
Em parcas palavras há que dizer o óbvio e mais relevante: A Rússia de Putin – A Ascensão de Um Ditador é um autêntico banho de informação, uma mais-valia irrecusável, para aqueles que querem conhecer melhor a mente conturbada de Vladimir Putin e as suas reais intenções. Se a parte desenhada, propriamente dita, não encanta por aí além, há que dizer que a maneira como o autor consegue sintetizar a história da Rússia nos últimos 30 anos, é sublime. Uma excelente surpresa que recebe a minha recomendação.
NOTA FINAL (1/10):
8.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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A Rússia de Putin - A Ascensão de um Ditador
Autor: Darryl Cunningham
Editora: Lua de Papel (Grupo Leya)
Páginas: 160, a cores
Encadernação: Capa mole
Dimensões: 234 x 14 x 167 mm
Lançamento: Maio de 2022
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