Kingsman – Serviço Secreto é um livro recheado de ação, num ambiente de espionagem governamental e que até recebeu duas adaptações para cinema. A esse propósito, apareceu, até, no honroso 15º lugar do meu TOP 20 – Os Melhores Filmes baseados em Banda Desenhada que fiz há uns dias. E embora os filmes não sigam à risca as narrativas da banda desenhada, podemos concordar que esta bd assinada por Mark Millar, Dave Gibbons e Matthew Vaughn, é uma obra que procura, acima de tudo, entreter sem grandes pretensões de conter em si mesma uma reflexão profunda. Tal como há o estilo de “filme pipoca”, esta é uma “bd estilo pipoca”. Fácil, rápida, simples, linear, mas que sabe entreter e fazer-nos passar um bom bocado.
E, naturalmente, a história que nos oferece é simples: um agente secreto britânico de alta patente, Jack, decide dar uma hipótese ao seu sobrinho que, tal como a irmã de Jack, é um verdadeiro parasita da sociedade. Aquilo a que se chama, muitas vezes, white trash. Não trabalha, não estuda, está sempre envolvido em problemas com a justiça e com a autoridade. Para tentar remediar a situação e dar uma hipótese para que o seu sobrinho, Gary, possa escapar das malhas do crime e ter uma vida digna, o tio treina-o de forma a fazer dele um autêntico James Bond dos nossos tempos, dando-lhe um treino evoluído de espionagem e noções básicas sobre ser um cavalheiro e saber como se vestir e comportar. Gary acaba por demonstrar ter muito potencial para chegar longe.
Entretanto, existe um milionário que, tentando corrigir o problema do sobrepovoamento do planeta, prepara um ataque massivo mundial, enquanto protege e resguarda alguns dos seus ídolos como realizadores e atores de cinema e outro tipo de criadores. A missão de Gary será, pois, a de impedir que 90% da raça humana seja erradicada. O argumento escrito por Mark Millar em parceria com Matthew Vaughn é mais ou menos isto. Como já mencionei, não há grande espaço para reflexões ou para desenvolver segundas leituras.
As personagens, principalmente as principais, estão suficientemente bem desenvolvidas pelos autores. E a forma como a trama nos vai sendo mostrada faz com que estejamos sempre investidos em desvendar o próximo acontecimento até ao final do livro. Se a forma como o background de Gary e a própria introdução do mesmo à rede de espionagem é interessante, pareceu-me que a ameaça do milionário, que quer matar quase todo o planeta, é um tanto ou quanto forçada e clichet, mesmo admitindo que, ao menos neste caso, a razão para tal empreitada maquiavélica seja diferente das demais histórias em que o vilão quer matar todos os outros só para ter mais poder ou por pura maldade. Aqui acaba por haver uma razão quase ambiental. Embora completamente errada do ponto de vista ético ou dos direitos humanos, diga-se.
A arte de Dave Gibbons – o célebre autor da obra incontornável Watchmen – faz um trabalho que, a meu ver, revela variados problemas. Folheando por alto o livro, fica-se com a ideia de que é um livro bem conseguido, com uma arte ilustrativa agradável. E, de facto, a arte é agradável, admito. No entanto, e especialmente nas cenas de ação, o traço de Gibbons já parece algo obsoleto para uma história de ação dos dias de hoje. Há uma certa rigidez nos movimentos das personagens que não conseguem atribuir às cenas imaginadas por Millar a dinâmica que as mesmas mereciam. Claro que não se pode dizer que seja uma má arte. Mas fica aquém do desejável.
E depois ainda há um problema maior que, honestamente, não sei como ninguém da equipa criativa envolvida neste livro não apontou. É que as personagens de Gary e do seu tio Jack, embora sejam de faixas etárias muito diferentes, parecem praticamente iguais, sendo até, por vezes, difíceis de distinguir para o leitor. Como é possível um amadorismo destes por parte de Gibbons? Foi propositado? Ou foi algo que lhe escapou? Se a diferença de idades destas duas personagens é tão grande, porque é que elas parecem tão iguais? Gary, o jovem adulto parece-se mais velho do que é. E Jack, um autêntico veterano, parece mais novo do que é. Fica-se quase com a ideia de que Gibbons só consegue ilustrar personagens de 35-45 anos.
Há que dizer, como ponto positivo, que as cores aplicadas por Angus Mckie são uma boa mais-valia da obra em assegurar que a mesma funciona do ponto de vista ilustrativo. Sem estas cores, a obra pareceria ainda mais retirada dos anos 80 e menos dinâmica do que aquilo que, mesmo assim, é.
A edição da G. Floy Studio é em capa dura, com bom papel brilhante e uma encadernação e impressão de qualidade. Tudo bem feito. Nada a objetar.
Em conclusão, Kingsman – Serviço Secreto é uma obra fácil e que se lê bem. Ideal para ler algo simples, sem ter que se pensar muito, e daí retirar uns bons momentos de leitura prazerosa. Mesmo assim, falha em ser um livro inesquecível e com a personalidade que merecia. É giro mas não é fantástico.
NOTA FINAL (1/10):
7.8
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Kingsman – Serviço Secreto
Autores: Mark Millar, Matthew Vaughn e Dave Gibbons
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 160, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2017
Concordo é uma leitura divertida mas podia ser melhor.
ResponderEliminarJá agora a G-floy esqueceu as sequelas!!!
Outro Kick Ass???
https://www.mycomicshop.com/search?TID=45799163
Foi a 3 anos que ele saiu..
Exato! Lê-se bem mas podia ser bem melhor.
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