O autor português Mário André publicou recentemente, e de forma independente, a sua obra A Implosão. Esta é a adaptação para novela gráfica do romance de Nuno Júdice, com o mesmo título, que foi publicado em 2013, numa reação às políticas de austeridade que o governo de Passos Coelho infligiu aos portugueses, na altura do resgate financeiro pelas mãos da Troika.
Não li a obra original, mas parece flagrante o peso que a mesma teve no autor Mário André, que nos fala disso nos extras do livro. Basicamente, há todo um enorme cariz político na trama d’ A Implosão. Mesmo até quando parece que se está a falar de pessoas… está-se a falar de movimentos políticos e governos. Tecem-se críticas ao período de repressão ideológica do Estado Novo enquanto se levanta o véu do ideal comunista pela influência soviética.
Nesta obra acompanhamos o diálogo de dois amigos que há muito não se viam e que se encontram após a célebre manifestação de 15 de Setembro de 2012. A partir daí, começam, entre si, uma grande conversa que, basicamente, dura o livro todo, sobre os ideais políticos do momento presente e do passado do Estado Novo, numa constante e persistente analogia entre uma e outra realidade. O discurso é todo ele feito de forma metafórica e abstrata, mas em que é clara a sugestão de um levantamento dos ideais e luta pelos direitos de outrora.
As personagens dirigem-se, depois, a uma velha igreja para velar uma mulher(?) onde, continuando a falar do passado e do presente, recordam o tempo de suspeita geral, sobre tudo e sobre todos, que pairava no ar, durante o tempo do Estado Novo, em que emitir uma opinião contrastante poderia causar dissabores a muita gente.
O livro aparece sobrecarregado de texto, o que dificulta a leitura. Especialmente porque o tema, sendo de foro político e, ainda por cima, recorrendo a metáforas e analogias para apresentar ideais, deveria ter sido dado ao leitor de forma mais simples e escorreita. Com menos texto e, já agora, com menos páginas. Isto porque me pareceu que o livro esgota a sua mensagem ainda antes de chegar ao meio da obra. O que faz com que, a partir daí, seja mais difícil concluir a leitura.
O desenho que Mário André nos oferece apresenta várias fraquezas ao nível técnico. Nomeadamente, em termos de expressões faciais, de fisionomia das personagens, de linguagem corporal das mesmas e de perspetiva dos objetos. Os cenários também são bastante vazios. Existem alguns bons momentos, mas acho que, no todo, o desenho assume um estilo de traço infantil que não o é por opção, mas sim por ser a forma como o autor se consegue exprimir visualmente. E não há nada de mal nisso, convenhamos. Nota positiva para o bem conseguido aspeto da personagem de óculos e bigode, que acaba por ser a mais cativante e impactante do livro.
Sendo uma obra com um texto algo difícil e denso, e que assenta num enorme diálogo, há que dizer que não é, de todo, uma obra fácil para adaptar para banda desenhada. E, nesse sentido, há, pois, que reconhecer mérito à forma como o autor tenta planificar, da forma mais dinâmica que lhe é possível, uma obra tão difícil e que está sempre à volta do mesmo tipo de diálogo, com as mesmas personagens e que decorre no mesmo local. Como se fosse uma peça de teatro.
Assim sendo, tentando não cansar o leitor, Mário André procura sempre que cada página seja diferente da anterior. Através da mudança de planos e perspetivas, e do reajuste e mudança no tipo e tamanhos de vinhetas. E esse será, quanto a mim, o maior mérito que o autor e os leitores da obra poderão retirar da obra.
Em termos de edição, sendo de autor, pode-se dizer que o livro, com capa mole brilhante, tem um aspeto e uma qualidade de encadernação bastante aceitáveis. Nota positiva para os extras que incluem um prefácio do próprio autor da obra original, Nuno Júdice, bem como um texto final de Mário André e algumas ilustrações adicionais.
Em suma, e sendo sincero, tenho que dizer que a leitura desta obra se tornou algo penosa pela enorme quantidade de texto que nos arrasta para uma sensação de marasmo ideológico e uma forte redundância. Estou certo que a mesma história poderia ter sido (mais que) bem contada com metade das páginas do livro. No entanto, e sendo um trabalho de um autor que, por fruto da sua paixão pela banda desenhada, tem vindo a dedicar-se à mesma, enquanto criador, apenas a partir do ano 2015, deve ser encarado como uma boa iniciativa e uma obra pertinente de afirmação para que, futuramente, nos possa dar mais e melhores livros de banda desenhada.
NOTA FINAL (1/10):
4.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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A Implosão
Autor: Mário André
Editora: Independente
Páginas: 96, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Outubro de 2021
Boa tarde, fazia você melhor se calhar?? tem muita experiência em escrever bandas desenhadas? Não me insulte como profissional por favor.
ResponderEliminarBoa noite, eu sou o verdadeiro Mário André autor da obra que aqui é analisada. Nada tenho a ver com o conteúdo do anterior comentário. É um perfil falso, uma atitude vil e cobarde, de quem procura a provocação e o conflito. Eu, pelo contrário, estou agradecido ao Hugo Pinto pela sua crítica correta e construtiva e que irei aproveitar nos meus futuros trabalhos. Obrigado ao Hugo Pinto e um forte abraço.
ResponderEliminarCaro Mário André, muito obrigado pelas suas gentis palavras. E força na continuação do bom trabalho pela banda desenhada nacional.
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