Depois de um longo interregno, o suíço Marini decidiu voltar finalmente à série As Águias de Roma. Pessoalmente, é uma das minhas séries preferidas do autor - se não for mesmo a minha favorita - e, por isso, estava muito curioso com este regresso, depois de sete anos de interrupção no lançamento de novos tomos por parte do autor.
Este sexto volume volta a levar-nos para a Roma Antiga, onde Marco e Armínio são as figuras de proa. Esta é a época em que a morte do Imperador Augusto leva Tibério ao poder, fazendo-o reinar sobre Roma. Para tal, conta com o apoio de Seianus. Mas, nos bastidores, começa a formar-se uma conspiração levada a cabo por um grupo que se autointitula Liberatores. Seianus é um desses liberatores e procurará atingir os seus objetivos com o apoio da sensual - embora perigosa - Morphea. Enquanto isso, Armínio continua a encetar trabalhos para estabelecer em Roma os interesses do povo germânico, do qual descende, e o seu irmão, Marco, mantém-se de costas voltadas para Armínio, por esta aparente traição do mesmo ao Império Romano. Estes são os dados para que a trama central avance, mas, parecendo mais um álbum transitório do que outra coisa qualquer, a história deste sexto volume da série não nos dá muito mais do que isto.
Os temas que aqui são explorados mantêm-se os mesmos: o poder e a ambição, a lealdade e a traição, e, especialmente, o choque entre culturas.
Em termos de argumento, este último volume pareceu ficar um pouco aquém dos melhores tomos de As Águias de Roma, porque, a meu ver, não consegue dar ao leitor um caminho narrativo, propriamente dito, mas antes um conjunto de situações que, não obstante, poderão vir a dar bons frutos em termos de argumento no(s) tomo(s) seguinte(s). É um daqueles álbuns que deixa bastante em aberto e isso pode, se tudo correr pela positiva, ser bem resolvido no tomo seguinte ou, em sentido oposto, pode revelar lacunas narrativas futuramente. Por agora, digamos que as coisas estão em aberto e este Livro VI merece o benefício da dúvida.
Nesse sentido, e diga-se em abono da sinceridade, também é justo afirmar que o argumento, podendo ser parco, é eficiente para propiciar as cenas que, normalmente, Marini gosta de desenhar e que, claro, nós, os leitores, gostamos de admirar. Há cenas de erotismo entre várias personagens e há uma boa dose de violência ao nível dos combates físicos. Enfim, tudo aquilo em que as ilustrações do autor mais se têm destacado.
E, por falar em ilustrações, mais uma vez Marini não desilude. O seu traço é muito virtuoso, dando-nos ambientes típicos da Roma antiga, como o célebre coliseu, onde decorrem sangrentas lutas, ou belíssimas vistas isométricas da urbe romana. Se os desenhos são belos, as cores com que os mesmos são coloridos, também têm uma grande responsabilidade pela experiência visual ser tão gratificante.
Continua a ser um deleite admirar os desenhos deste autor que, mesmo com a passagem dos anos, continua a figurar no meu restrito lote de autores favoritos, mesmo admitindo que, neste Livro VI, senti, em várias vezes, que os desenhos careciam de algum detalhe e aprimoramento visual. Além disso, também é certo e justo afirmar que as personagens que Marini desenha acabam por ser algo idênticas entre si - não só dentro da mesma série, como entre séries diferentes. Não obstante, também é igualmente verdade que a fórmula continua magnífica. Como se diz no futebol: “em equipa que ganha, não se mexe”. Marini parece levar isso à letra neste sexto volume de As Águias de Roma.
Quanto à edição da ASA, a editora oferece-nos um livro em linha com os anteriores álbuns da série, com o objeto a apresentar capa dura brilhante, bom papel brilhante no interior e um bom trabalho no cômputo da impressão e da encadernação.
No final do livro, há uma página com um glossário para que o leitor possa compreender melhor o significado de algumas expressões que são utilizadas no decorrer da história.
Em suma, os livros de Marini são como aquelas mulheres lindas que, mesmo que não tenham nada de muito relevante para dizer, nos deixam embasbacados, e de sorriso na face, a olhar para elas. E este As Águias de Roma - Livro VI é um pouco isso: não tem nada de muito relevante para nos contar e talvez seja o mais fraco em argumento da série até agora. No entanto, mantém a beleza visual que todos esperamos de uma obra de Marini.
NOTA FINAL (1/10):
8.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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As Águias de Roma - Livro VI
Autor: Enrico Marini
Editora: ASA
Páginas: 88, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 317 x 239 mm
Lançamento: Maio de 2024
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