À sétima foi de vez! Finalmente a série Tango, da autoria de Xavier e Matz, deu o salto qualitativo pelo qual a minha pessoa esperava! O mais recente tomo A Flecha de Magalhães está melhor, a todos os níveis, do que os restantes tomos de Tango!
Não me entendam mal, já aqui analisei todos os outros volumes desta série e as minhas análises foram sempre positivas. Mesmo assim, tirando o carisma visual que o protagonista da série tem, sempre me pareceu que faltava algo a Tango para que a série fosse “muito boa” em vez de “boa”. Ou razoavelmente boa. Não digo que esse feito já tenha sido alcançado com este A Flecha de Magalhães – até porque ainda só estamos perante metade da história de um díptico - mas é sem dúvida o melhor álbum da série - a todas as valências - e, portanto, o livro que mais próximo está de poder ser considerado, na minha opinião, como "muito bom”.
E a primeira razão para tal é uma alteração ao que vinha a ser feito nos álbuns anteriores. Antes deste sétimo volume, os livros eram todos auto-conclusivos. Mesmo havendo alguma ligação entre histórias de um tomo para o outro, cada um dos livros poderia ser lido de forma isolada e independente, pois cada uma das aventuras de John Tango acabava fechada. Contudo, no caso deste A Flecha de Magalhães, temos um livro que nos deixa pendurados na última página. E porque é que isso é bom? Bem, porque permitiu a Matz dar-nos uma história e um ritmo narrativo mais lento do que nos álbuns anteriores, o que lhe proporcionou desenvolver melhor a trama e as personagens. Os momentos de ação continuam a marcar presença, claro está, mas estes são entrecortados por momentos mais calmos que são bem-vindos para a boa fruição da obra. Dito por outras palavras, a série ficou mais madura e menos unidimensional como tinha sido até agora.
A história, neste caso, leva John Tango e o seu companheiro Mario até Manila, nas Filipinas. O que os leva a este destino paradisíaco é apenas o gosto pela viagem e pelo descanso, mas, invariavelmente Tango vê-se no meio de uma aventura quando ouve falar do capacete do português Fernão de Magalhães e da flecha que o terá matado nas Filipinas. A própria morte de Fernão de Magalhães nas condições propostas por Matz é toda ela uma forma de reescrever a História que conhecemos, o que torna o enredo mais interessante no seu âmago. A utilização de flashbacks pare (re)contar a história do célebre navegador português também dá variedade à narrativa.
Senti uma aproximação – bem-vinda – a séries clássicas de aventuras como Indiana Jones, Tomb Raider ou Uncharted, em que o protagonista procura por artefactos antigos, vendo-se depois envolvido em grandes aventuras. É claro que depois surgem neste A Flecha de Magalhães alguns dos clichets do género, porém, nunca me senti tão mergulhado num livro de Tango como neste caso.
Para mim ainda não é certo que esta história seja excelente – provavelmente acabará por não o ser - mas é óbvio que estamos no bom caminho para a série. Resta agora saber o que faz o argumentista com esta história no próximo volume, já que há algumas pontas soltas por amarrar.
Se a história pareceu ficar melhor, também as ilustrações de Phillipe Xavier estão melhores neste livro. Nunca foram más, como é claro, mas vê-se que o autor se sente cada vez mais à vontade na série e que, cada vez mais, experimenta algumas coisas novas em termos de desenho.
Não é que seja nada disruptivo ou que contraste com aquilo já feito na série até à data, mas é, digamos, mais audaz. E isso fica patente na utilização de mais tramas, no jogo de sombra e luz cada vez melhor e numa certa sujidade no desenho que o torna mais dinâmico e belo, quanto a mim. Também ajuda que o trabalho de cores de Jérome Maffre esteja especialmente inspirado neste tomo. As cenas noturnas são verdadeiramente belas!
A edição da Gradiva está em linha com o trabalho desenvolvido até aqui nesta série: capa dura baça, bom papel brilhante e bom trabalho a nível da encadernação e impressão. Nada de errado a referir. Nota positiva ainda para o facto de, com a edição deste sétimo tomo da série, a Gradiva ter alcançado o ritmo de lançamento da série no mercado original. Quer isto dizer que, à data, não falta à editora portuguesa publicar nenhum volume desta série e que bom é verificar que nós, enquanto leitores portugueses de BD, não estamos atrasados nas publicações das obras!
Em suma, Tango aproxima-se com este sétimo tomo da qualidade potencial que, até agora, os autores ainda não tinham conseguido extrair da série. Espero, pois, que este primeiro tomo de uma história em dois volumes seja o prenúncio para uma série mais impactante!
NOTA FINAL (1/10):
8.7
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Tango #7 - A Flecha de Magalhães
Autores: Philippe Xavier e Matz
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 23,30 x 31,30 cm
Lançamento: Novembro de 2023
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