Foi com alguma surpresa que soube que a obra Cogito Ego Sum, de Luís Louro, iria receber uma nova edição, não pelas mãos da Ala dos Livros, com quem Luís Louro tem vindo a trabalhar nos últimos anos, lançando os seus novos projetos e reeditando alguns trabalhos mais antigos como O Corvo, mas sim pela editora Polvo, com quem o autor nunca havia publicado.
Mas, enfim, jogadas de bastidores da edição à parte, foi com muito gosto que soube desta notícia, pois sempre fui, desde adolescente, um grande fã de Cogito Ego Sum. Acho até que, quando se fala da extensa e rica obra de Luís Louro, Cogito Ego Sum aparece muitas vezes - e injustamente - esquecido.
E, claro, tendo em conta que os dois volumes originais da obra - o primeiro editado pela Meribérica/Liber e o segundo editado pela Booktree - há muito estavam extintos das livrarias - bem como extintas estão, há muitos anos, as referidas editoras - parece-me muito bem-vinda esta reedição integral, num só volume, de uma obra de Luís Louro que considero um marco para bem conhecer e bem mergulhar na mente criativa do autor.
Como tal, trago-vos hoje um comprativo entre as várias edições da obra, tentando apresentar as diferenças entre esta nova reedição da Polvo e as edições originais de Cogito Ego Sum.
Em primeiro lugar, a principal alteração que salta logo à vista, é que há uma nova capa nesta nova edição. Não sendo tão bela, a meu ver, como a capa do segundo volume - uma das minhas capas favoritas de todos os livros de Luís Louro, onde se notava uma clara inspiração no universo pictórico de Peter Pan, de Régis Loisel - esta nova capa é, ainda assim, bonita e impactante.
As contracapas também são diferentes mas, neste caso, foi utilizada uma faixa da contracapa do segundo volume, editado pela Booktree.
A adição da impactante assinatura do autor na capa e contracapa do novo livro, embora seja um pormenor, também me parece bem-vinda. Não só em termos estéticos, como em termos de "branding" de autor.
Também o formato da obra é diferente. A nova edição perde apenas alguns milímetros de largura e ganha mais de um centímetro de altura.
Logicamente, a lombada da edição da Polvo também será diferente, por reunir dois livros num só. E em capa dura.
Já que falo nisso, convém não esquecer que, embora o livro lançado pela Meribérica tivesse capa dura, o livro lançado pela Booktree apresentava capa mole com badanas. Era, pois, obrigatório, diria, que esta reedição integral tivesse capa dura. E ainda bem que assim foi feito.
Quando abrimos cada um dos três livros, encontramos guardas muito diferentes.
Na edição da Meribérica, as guardas, em fundo amarelo, apresentam um prefácio à obra por João Miguel Lameiras. A edição da Booktree, sendo em capa mole e com badanas, não tem guardas.
Já a nova edição da Polvo, apresenta umas guardas muito belas e bem-vindas. No início do livro temos, numa escala cromática de vermelhos, a ilustração completa da capa e contracapa do primeiro livro, e nas segundas guardas temos, em iguais tons, a ilustração completa da capa e contracapa do segundo volume. Uma solução muito bem pensada que não só dá requinte ao livro como permite que se recuperem estas duas belas ilustrações.
Todos os livros apresentam frontispícios diferentes, devido à escolha de ilustrações diferentes para esta página introdutória.
Folheando as primeiras páginas de cada livro, encontramos coisas diferentes, também. No caso de Cogito Ego Sum I, pela Meribérica, além do prefácio de João Miguel Lameiras constante nas guardas do livro, já por mim mencionado, nada temos além de uma referência ao facto de o livro ser dedicado a Rebeca Louro, filha do autor.
Em Cogito Ego Sum II, pela Booktree, encontramos um prefácio de Maria José Magalhães Pereira e cinco desenhos de Luís Louro. Quatro esboços a lápis e um desenho de estudo de capa do primeiro livro. Diria que são belos desenhos que, lamentavelmente não entram na reedição da Polvo. Numa edição tão interessante como aquela que a Polvo nos traz, diria mesmo que é a única coisa a lamentar. Mas já lá irei.
Mesmo assim, importa referir as novidades da nova edição da obra assim que folheamos as primeiras páginas: temos um novo esboço para esta nova edição, um novo e emotivo prefácio de Rebeca Louro, e uma nota introdutória da minha autoria.
Avançando para o miolo do livro, o papel desta nova edição é brilhante e de bela qualidade. Para ser sincero, o papel utilizado nas duas versões originais também era bom. Mesmo assim, a nova edição apresenta mais requinte neste cômputo.
O que também melhorou, foi o tratamento cromático da obra, onde os contrastes de cor e os tons mais amarelados foram melhorados, ficando mais credíveis e orgânicos. A legendagem também está melhor e mais moderna.
O facto do formato da obra ser ligeiramente maior, bem como a ligeira diminuição das margens a branco, também permitem que as pranchas e vinhetas possam ser um pouco maiores face à edição original da obra.
No final da obra, a reedição da Polvo ainda nos dá alguns "bombons".
Ao contrário das edições originais dos livros que, no seu final, não tinham quaisquer extras - à exceção de um esboço solitário em Cogito Ego Sum II -, esta nova edição da obra dá-nos uma galeria de extras com quatro páginas.
Nela podemos encontrar as duas ilustrações das capas dos dois livros originais - desta vez sem o gradiente a vermelho utilizado nas guardas do livro -, três ilustrações adicionais, uma nota biográfica sobre Luís Louro e um retrato do autor pelas mãos da sua filha Verónica Louro.
Em suma, a nova edição de Cogito Ego Sum não só é um livro, quanto a mim, essencial na carreira de Luís Louro e, portanto, totalmente recomendado aos fãs de outras obras do autor que ainda não tenham mergulhado em Cogito Ego Sum, como apresenta um belo trabalho de edição da Polvo que assinala e celebra a própria obra.
Tenho apenas pena que alguns dos esboços contidos no segundo volume não tenham sido introduzidos nesta reedição que, sendo integral, é ainda mais propensa a este tipo de material extra. Mas tirando esse detalhe, a verdade é que outro material extra também foi incluído e produzido especialmente para esta edição que merece estar sempre disponível em loja.
Se (ainda) não conhecem, façam um favor a vós mesmos e incluam este livro na vossa estante!
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