A propósito da trasladação dos restos mortais de Eça de Queirós para o Panteão Nacional, em Lisboa, que decorreu durante esta semana, numa cerimónia que começou na Assembleia da República, o que voltou a relembrar (se é que tal era necessário) a relevância desta figura incontornável da literatura portuguesa, e instigado pelo meu amigo Rui Brito, editor da editora Polvo, trago-vos hoje um artigo algo diferente, mais informativo, em que procuro fazer menção às diferentes adaptações para banda desenhada que a obra de Eça de Queirós já teve.
Tive que fazer alguma pesquisa - recorrendo a outras pesquisas feitas por outros, onde destaco o belo trabalho de Luiz Beira e Carlos Rico, que agradeço - para chegar a todas estas informações e, como tal, é possível que, ainda assim, haja mais alguma(s) adaptação(ões) para banda desenhada da obra de Eça de Queirós que, pura e simplesmente, possa ter escapado ao meu radar de pesquisa. Em caso afirmativo, convido todos os que lerem este texto a dar o vosso contributo, de forma a que eu possa melhorar o artigo.
Eduardo Teixeira Coelho, um nome maior da banda desenhada nacional, foi o autor que mais obras de Eça de Queirós adaptou para banda desenhada.
As suas adaptações incluem contos como A Torre de D. Ramires, O Defunto, O Cavaleiro da Águia Vermelha, A Aia, O Suave Milagre, O Tesouro e São Cristóvam. Esta última adaptação, segundo pude apurar, acabou por ficar incompleta.
Vários destes contos foram publicados em revistas como O Mosquito, O Falcão e, mais recentemente, reunidas no fanzine Fandaventuras.
Algumas destas histórias também viram a luz do dia através de publicações brasileiras.
A Aia, de Eduardo Teixeira Coelho
A Torre de D. Ramires, de Eduardo Teixeira Coelho
O Defunto, de Eduardo Teixeira Coelho
O Suave Milagre, de Eduardo Teixeira Coelho
O Tesouro, de Eduardo Teixeira Coelho
S. Cristovam, de Eduardo Teixeira Coelho, na publicação O Mosquito
Outras adaptações nacionais
Eugénio Silva, outro dos nomes sonantes da banda desenhada nacional, sendo particularmente famoso pela sua biografia em BD do futebolista Eusébio, adaptou o conto de Eça de Queirós, A Perfeição, enquanto que Joaquim Oliveira Ribeiro também trabalhou na obra O Primo Basílio. Porém, segundo as informações que pude recolher, nenhuma destas duas empreitadas chegou a ser terminada ou publicada em livro.
Prancha de A Perfeição, de Eugénio Silva
José Morim adaptou, em 1997, a obra O Defunto, numa edição da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, com distribuição da Porto Editora.
O Defunto, de José Morim
Por seu turno, Baptista Mendes adaptou para banda desenhada O Chinês e a Cobra, retirado de Cartas Familiares, enquanto que José Manuel Saraiva, adaptou o conto Singularidades de uma Rapariga Loira.
O Chinês e a Cobra, de Baptista Mendes
Todas as adaptações mencionadas mais acima têm já vários anos de existência, sendo difíceis de encontrar sem ser em alfarrabistas ou em coleções privadas.
Talvez por isso, foi especialmente bom verificar que a editora Levoir publicou recentemente dois livros que adaptam para banda desenhada duas das principais obras de Eça de Queirós: Os Maias e O Crime do Padre Amaro.
A primeira, teve adaptação de José Hartvig de Freitas e do autor espanhol Canizales, tendo sido lançada na primeira Coleção de Clássicos da Literatura em BD.
Na altura em que analisei o livro, escrevi o seguinte: "pese embora o estilo de ilustração demasiado característico - que agradará muito a alguns leitores e a outros nem tanto, esta adaptação para BD do clássico de Eça de Queirós, cumpre bem os pressupostos, conseguindo arrumar narrativamente a história de um livro com mais de 700 páginas numa BD com pouco mais de 40 pranchas. Não sendo perfeita, é uma agradável surpresa que se assume, até, como uma das melhores obras desta coleção Clássicos da Literatura em BD, da Levoir e da RTP".
Os Maias, de José Hartvig de Freitas e Canizales
Quanto a O Crime do Padre Amaro, a obra foi adaptada pela dupla formada por André Oliveira e Ricardo Santo e saiu já durante 2024, na Coleção Clássicos da Literatura Portuguesa em BD.
São duas belas adaptações, sendo que O Crime do Padre Amaro me convenceu especialmente.
No meu texto de análise à obra, escrevi o seguinte: "esta adaptação de O Crime do Padre Amaro, uma das mais emblemáticas obras da literatura portuguesa, conquistou-me nos seus diversos níveis: a adaptação do argumento para banda desenhada por André Oliveira está bem conseguida, as ilustrações de Ricardo Santo fazem jus a este universo Queirosiano e, bem, a história, já amplamente conhecida pelos portugueses, continua apetitosa e totalmente atual, como se a obra original tivesse sido escrita há duas semanas e não há mais de 100 anos. Quer estejam a acompanhar ou não esta coleção da Levoir, este é mesmo um livro obrigatório!"
Para além das adaptações portuguesas para banda desenhada da obra de Eça de Queirós, há algumas obras de origem estrangeira que merecem referência. Praticamente todas elas têm origem no Brasil, o que é compreensível tendo em conta, por um lado, a maior influência de Eça de Queirós na cultura lusófona e, por outro, a robustez do mercado brasileiro de banda desenhada, com muitos leitores e autores. Pelo menos, quando comparado com outros páises lusófonos, claro está.
A Relíquia, de Francisco Marcatti, é uma dessas adaptações brasileiras e uma obra que, quanto a mim, deveria estar disponível no mercado português, dada a qualidade e relevância da mesma.
A Relíquia, de Francisco Marcatti
Do artista brasileiro Júlio César Alves, também encontramos uma recente adaptação para banda desenhada de O Defunto.
O Defunto, de Júlio Cesar Alves
Também Francisco Vilachã, outro autor brasileiro, lançou em 2019, pela Editora do Brasil, a obra Civilização e Outros Contos de Eça de Queirós.
Por fim, e ainda no tempo da publicação brasileira Revista Ilustrada, foi o autor argentino Enrique Vieytes que adaptou para banda desenhada O Mandarim.
Em conclusão, uma coisa é certa: a qualidade e riqueza da obra que Eça de Queirós nos deixou é tanta que é legítimo - e bem-vindo, diria - que o futuro ainda nos reserve um sem número de novas adaptações para banda desenhada de um dos mais celebrados autores portugueses de sempre.
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