A editora ASA lançou recentemente a adaptação para banda desenhada de Crime no Expresso do Oriente, uma das obras mais conhecidas de Agatha Christie. Recordo que, já antes da ASA, a editora Arte de Autor inaugurou, há meia dúzia de anos, a sua coleção dedicada às adaptações para BD de Agatha Christie com uma adaptação do mesmo Crime no Expresso do Oriente, feita pelos autores Benjamin Von Eckartsberg e Chaiko. Já nesse caso, o livro não me convenceu muito e até o coloco como um dos menos interessantes dessa coleção da Arte de Autor que, posteriormente, até tem tido bons títulos que merecem ser conhecidos como, por exemplo, Os Crimes do ABC, Drama em Três Actos, O Crime no Campo de Golf ou No início, eram 10....
No caso deste redundante Crime no Expresso do Oriente da editora ASA, o trabalho de adaptação é encetado pelo autor americano Bob Al-Greene. Mais uma vez, não é uma adaptação que me tenha enchido as medidas. Embora tenha os seus méritos, claro.
Mas, ainda antes de falar da obra propriamente dita, considero que um ponto que merece reflexão é a aposta da ASA nesta obra. Bem sei que este é um título que, à partida, por adaptar para BD um clássico da literatura mundial, pode ter appeal comercial para a editora portuguesa que vê na obra a oportunidade de algumas vendas fáceis. Não obstante, e tendo em conta vários fatores, como a proximidade da edição de uma outra adaptação para BD da mesma obra, bem como a qualidade mediana deste livro de Bob Al-Greene ou a imensidão de outras obras de BD para lançar por cá, não me parece que tenha sido a melhor escolha por parte da ASA. Se tenho aplaudido muitas das escolhas feitas pela editora portuguesa nos últimos tempos, no que à escolha de belíssimas obras de BD diz respeito, neste caso, considero que, adotando a gíria futebolística, foi um "remate ao lado".
A bela capa deste livro até era promissora, mas assim que a abrimos para começar a ler, deparamo-nos com uma ilustração que cumprindo minimamente os pressupostos que lhe são exigidos, é bastante pobre, com desenhos bastante insípidas e com cenários pobres a um nível quase olímpico. Tendo em conta que praticamente toda a ação se passa dentro de um comboio, não há dúvidas de que o tratamento cénico deveria ter recebido bastante mais aprimoramento visual por parte do autor. Chega a aparentar um aspeto amador a vários níveis. O facto de ter um tratamento digital ao nível de cor e luz também não ajuda a que o resultado final das ilustrações melhore por aí além.
Mesmo assim, há alguns pontos positivos a favor desta adaptação. Talvez pelo volume das páginas ser generoso (288) senti que este livro até capta bem a essência da obra original. Ou seja, e dito por outras palavras, não sendo propriamente uma BD que deslumbra pela beleza visual, até funciona relativamente bem na parte da narrativa textual.
Este clássico policial narra, relembro, a investigação de um assassinato a bordo do luxuoso Expresso do Oriente, um comboio cuja rota cruza a Europa. A meio da viagem a personagem Samuel Ratchett, um empresário misterioso, é encontrado morto na sua cabine com múltiplas facadas, sendo que a sua cabine estava trancada por dentro. Hercule Poirot, o célebre detetive belga que se encontra a bordo, assume a investigação do caso. Como uma tempestade de neve impossibilita o comboio de avançar na sua viagem, Poirot tem a oportunidade ideal para interrogar os seus passageiros que apresentam motivos para o crime. E, claro, como não podia deixar de ser, devido à sua astúcia incomparável, Poirot consegue descobrir uma teia de segredos e mentiras, culminando numa revelação surpreendente sobre o culpado e sobre a motivação por detrás do assassinato.
Esta versão de Bob Al-Greene consegue, pois, traduzir a complexidade da narrativa original para o formato gráfico, preservando o suspense que caracteriza a história. Embora parte da narrativa tenha sido condensada, os elementos essenciais do enredo foram mantidos. O foco recai sobre os momentos mais importantes e os diálogos mais reveladores, sem comprometer a coesão da história.
A edição da ASA é em capa dura, sem badanas, em papel brilhante de boa qualidade. Vê-se que a editora não depositou um grande esforço editorial neste livro, mas, lá está, talvez a obra não requeresse tal, tendo em conta a sua própria ambição artística e público alvo.
Em conclusão, esta adaptação de Bob Al-Greene, sendo pobre a nível visual, consegue resumir bem o clássico da literatura arquitetado por Agatha Christie. Com efeito, se o leitor procurar conhecer a obra através da banda desenhada, sem ter que ler o original, pode dizer-se que conseguirá fazê-lo através deste livro. Porém, o trabalho de Bob Al-Greene nesta obra não consegue ir muito além dessa função quase "higiénica". Assim sendo, acredito que o público mais conhecedor de banda desenhada - ou da obra original, mesmo - talvez não se sinta muito compelido a apostar neste livro.
NOTA FINAL (1/10):
5.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Crime no Expresso do Oriente - Romance Gráfico
Autor: Bob Al-Greene
Baseado na obra original de: Agatha Christie
Editora: ASA
Páginas: 288, a cores
Encadernação: capa mole
Formato: 154 x 236
Lançamento: Novembro de 2024
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