terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Análise: Zodíaco - Memórias Gráficas de Ai Weiwei

Zodíaco - Memórias Gráficas, de Ai Weiwei, Elettra Stamboulis e Gianluca Costantini - Objectiva - Penguin Random House

Zodíaco - Memórias Gráficas, de Ai Weiwei, Elettra Stamboulis e Gianluca Costantini - Objectiva - Penguin Random House
Zodíaco - Memórias Gráficas, de Ai Weiwei, Elettra Stamboulis e Gianluca Costantini

Através da chancela Objectiva, o Grupo Penguin lançou no ano passado a obra Zodíaco - Memórias Gráficas, da autoria de Ai Weiwei, em colaboração com os italianos Elettra Stamboulis e Gianluca Costantini. O que mais salta à vista neste livro é a dicotomia entre a profundidade das memórias do artista chinês Ai Weiwei e a expressividade visual - e bastante original - do ilustrador italiano Gianluca Costantini, que atribui à obra uma grande singularidade gráfica.

Ai Weiwei é um célebre artista, arquiteto, cineasta e ativista chinês, conhecido pelas suas obras de arte conceptuais que abordam temas como os direitos humanos, a liberdade de expressão e a crítica ao autoritarismo. Especialmente àquele que continua a ser perpetrado pelo governo chinês. 

Zodíaco - Memórias Gráficas, de Ai Weiwei, Elettra Stamboulis e Gianluca Costantini - Objectiva - Penguin Random House
Nascido em Pequim, Ai Weiwei enfrentou perseguições políticas desde jovem, nomeadamente durante a Revolução Cultural, quando a sua família foi exilada. Weiwei foi ganhando, depois, reconhecimento internacional por projetos como o Estádio Olímpico de Pequim e instalações artísticas como a "Sunflower Seeds" na Tate Modern. Como seria de esperar, a sua postura crítica em relação ao governo chinês levou-o à prisão em 2011 e a uma vigilância constante, fazendo com que este se visse forçado a viver fora da China tendo encontrado, inclusive, refúgio em Portugal, no Alentejo, onde reside atualmente.

A narrativa deste Zodíaco - Memórias Gráficas, embora tente ser uma autobiografia de Ai Weiwei, assenta numa estrutura em torno dos doze signos do zodíaco chinês, cada um servindo como ponto de partida para reflexões que entrelaçam o folclore ancestral com episódios da vida pessoal e profissional de Ai Weiwei. Esta abordagem permite uma exploração não linear do tempo, refletindo a natureza fragmentada da memória humana. O leitor é convidado a uma viagem que abrange desde a infância de Weiwei, marcada pelo exílio durante a Revolução Cultural Chinesa, até às suas experiências mais recentes como artista e ativista.

Zodíaco - Memórias Gráficas, de Ai Weiwei, Elettra Stamboulis e Gianluca Costantini - Objectiva - Penguin Random House
A personalidade de Weiwei e o tema deste livro são muito interessantes, embora esta bengala narrativa de utilizar o zodíaco para contar a história pessoal do artista-ativista me pareça um pouco periclitante e forçada, levando a que o relato seja algo aleatório e cheio de fragmentos. Mas, enfim, foi a escolha dos autores. E o que é mais relevante neste livro - e até no contributo de vida de Weiwei, diria - é a sua reflexão profunda sobre a condição humana, a importância da memória e o papel do artista na sociedade contemporânea. 

Já quanto às ilustrações de Gianluca Costantini, diria que as mesmas desempenham um papel crucial na obra, conferindo uma dimensão visual muito original ao livro. Com um finíssimo traço realista, onde as sombras são conseguidas através de detalhadas tramas, o resultado impressiona em vários momentos, embora também seja verdade que, do ponto de vista da narrativa sequencial, leia-se "banda desenhada", por vezes as personagens que aparecem na história de Weiwei possam parecer estáticas e pouco dinâmicas. A meu ver, Costantini tem um estilo de desenho muito bom e que funciona bem para ilustrações avulsas, mas que para a banda desenhada nem sempre consegue a fluidez necessária. Mas, lá está, é um daqueles casos em que ou se "adora" ou se "odeia". Mas, independentemente disso, o que também é belo nos desenhos de Costantini, é que o seu estilo evoque a estética do design chinês, homenageando deste modo a cultura chinesa.

A edição da Objetiva (Penguin Livros) apresenta capa dura, com um tratamento brilhante a dourado que capta a atenção do leitor. No miolo, o livro enverga bom papel baço, boa impressão e boa encadernação, não havendo espaço para extras.

Em suma, Zodíaco - Memórias Gráficas é um livro bastante sui generis, com um grafismo muito próprio e original nas ilustrações que apresenta, com potencial para agradar a muita gente - mesmo que haja a mesma soma de potencial para que o mesmo livro também possa desagradar a outros tantos leitores. É no que dá ter um estilo tão vincado, diria. De resto, a forma como a história nos é dada, recorrendo aos doze signos do zodíaco chinês, é que convence menos e torna mais distante o relato de um homem como Ai Weiwei que se quer bem próximo e presente na nossa sociedade.


NOTA FINAL (1/10):
6.7



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Zodíaco - Memórias Gráficas, de Ai Weiwei, Elettra Stamboulis e Gianluca Costantini - Objectiva - Penguin Random House

Ficha técnica
Zodíaco: Memórias Gráficas de Ai Weiwei
Autores: Ai Weiwei, Elettra Stamboulis e Gianluca Costantini
Editora: Objectiva (Grupo Penguin Random House)
Páginas: 184, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 174 x 246 mm
Lançamento: Março de 2024

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