terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Análise: Lucky Luke - Um Cowboy Sob Pressão


Lucky Luke - Um Cowboy Sob Pressão, de Achdé e Jul - ASA - LeYa
Lucky Luke - Um Cowboy Sob Pressão, de Achdé e Jul

Sou dos poucos leitores de Lucky Luke, creio, que não tem estado "zangado" com aquilo que os autores Achdé e Jul têm feito pela série há quase uma dúzia de álbuns. Concordo que a qualidade e inspiração dos mesmos, em termos de argumento, tem sido algo incerta, com altos e baixos, mas, de um modo geral, sou adepto (e agradecido até!) pelo trabalho de Achdé e Jul ao continuarem a dar vida a uma das séries mais emblemáticas da banda desenhada europeia, que é Lucky Luke. Originalmente criada por Morris e, numa segunda fase, muito bem desenvolvida por Goscinny, esta é uma série que moldou a minha vida e o meu gosto por banda desenhada desde a minha tenra infância. E podendo ser uma afirmação algo polémica, quiçá, até diria que coloco Lucky Luke à frente de séries tão célebres como Astérix ou Tintin (embora também as adore, claro está!).

Mas, como dizia, desde que Achdé e Jul se lançaram na nova série do "cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra", em As Aventuras de Lucky Luke Segundo Morris, o seu trabalho me tem deixado satisfeito. Não apaixonado, concedo, mas satisfeito.

E isso acontece porque me parece haver uma grande fidelidade de Achdé, nos desenhos, ao melhor momento de Morris; e de Jul aos mirabolantes e infinitamente criativos argumentos de Goscinny. Nem sempre Jul tem chegado ao nível de Goscinny, mas é provável que o seu melhor momento de aproximação seja mesmo neste Um Cowboy Sob Pressão. Se eu já estava satisfeito com os últimos álbuns, especialmente com Um Cowboy no Negócio do Algodão, fiquei extremamente bem impressionado com o mais recente álbum da série, lançado em Novembro último.

Lucky Luke - Um Cowboy Sob Pressão, de Achdé e Jul - ASA - LeYa
Começando pelos desenhos, o trabalho de Achdé volta a encantar-me, pois consegue o melhor de dois mundos: por um lado, é totalmente fiel ao trabalho de Morris, fazendo com que haja uma impressionante continuidade visual dentro da série clássica. Por outro lado, Achdé permite-se algumas modernidades visuais - chamar-lhe ia mesmo "melhorias" - que permitem que a planificação seja mais airosa e bela, com algumas ilustrações que fogem ao expectável e onde vislumbramos dinâmica e uma certa dose de poesia - como aquela constante na página 11 do livro, por exemplo. Em termos de desenho, só mesmo na componente da capa é que o livro ficou um pouco aquém do seu potencial, a meu ver. Não é que seja uma má capa, mas não tem o brio de outras com que Achdé já nos brindou.

Mas se o trabalho de Achdé convence desde o início da sua entrada na série, é Jul quem mais me deixou satisfeito com este que é o seu melhor argumento para Lucky Luke e que tem uma premissa divertida e original. 

A história arranca em Nova Munique, uma pequena vila em Dakota fundada por alemães, o que faz com que, tal como acontece em boa parte das cidades e localidades dos Estados Unidos, haja uma forte presença da cultura e costumes da nacionalidade do povo estrangeiro que colonizou as referidas terras. E se falamos de alemães, é quase impossível não falar de cerveja. E é essa a fonte de problemas com que Lucky Luke se vê confrontado assim que chega a Nova Munique.

Lucky Luke - Um Cowboy Sob Pressão, de Achdé e Jul - ASA - LeYa
A apreciada cerveja, que é produzida em grande quantidade naquela cidade, e que abastece a insaciável sede de muitos cowboys, está a parar de ser produzida devido à greve geral convocada pelos sindicalistas que, por arrasto, paralisa todas as unidades cervejeiras do país. Para resolver o problema, Lucky Luke ruma ao Milwaukee, a capital americana da cerveja. A ele juntam-se várias personagens novas divertidas e algumas por todos nós conhecidas, como os infames irmãos Dalton ou o "cão mais estúpido do que a própria sombra", Rantanplan.  

A premissa é divertida, mas é na forma como Jul consegue construir a narrativa, de um modo muito orgânico, com momentos cómicos não forçados que nos fazem sorrir, ao mesmo tempo que são tecidas algumas críticas sociais e paralelismos com a sociedade atual, que está o segredo para que este Um Cowboy Sob Pressão funcione tão bem e nos remeta para os melhores álbuns de Lucky Luke assinados por Goscinny. Não é que Jul tente algo de especialmente diferente. Pelo contrário, diria, o autor conseguiu repescar tudo aquilo que nos fez adorar as histórias mais clássicas de Lucky Luke - como o ritmo, o humor, as personagens impactantes, os bons jogos de palavras, a crítica social e a base histórica - de um modo pleno de graciosidade. Não é uma cópia do trabalho de Goscinny, é uma justa inspiração.

A edição da ASA acompanha o cânone da série: capa dura brilhante, com bom papel baço no interior do livro e um bom trabalho ao nível da impressão e da encadernação.

Em suma, este é provavelmente o melhor Lucky Luke feito por Achdé e Jul, com uma história interessante, divertida e sólida, em que encontramos ambos os autores a demonstrarem-se muito inspirados. Se há um bom livro, mais contemporâneo, capaz de introduzir os mais jovens à série Lucky Luke ou, paralelamente, se há um livro que pode (re)conquistar aquele público mais "zangado" com estas novas aventuras que procuram dar nova vida ao Lucky Luke de Morris e Goscinny, esse livro é mesmo este Um Cowboy Sob Pressão. Recomenda-se totalmente!


NOTA FINAL (1/10):
9.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Lucky Luke - Um Cowboy Sob Pressão, de Achdé e Jul - ASA - LeYa

Ficha técnica
Lucky Luke - Um Cowboy Sob Pressão
Autores: Jul e Achdé
Editora: ASA
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 298 x 228 mm
Lançamento: Novembro de 2024

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