Iguana é um dos títulos que a extinta editora Vitamina BD, através da sua chancela Mancha Negra, editou quando estávamos no ano de 2002. A obra é da autoria da dupla argentina composta por Carlos Trillo e Domingo Mandrafina, que são igualmente os autores da aclamada série Spaghetti Bros, que a editora Arte de Autor tem vindo a publicar no último ano. Tendo em conta o final da Vitamina BD, esta é mais uma das obras que se encontram a um preço ridículo de 3€! E, por esse preço, esta oferta é irrecusável!
Iguana conta-nos a história da personagem com o mesmo nome da obra que até já tinha aparecido no álbum A Grande Farsa, dos mesmos autores, e que foi publicado em Portugal pela mesma editora. Iguana é um protagonista (ausente), por demais cruel, que, na localidade de La Colonia, é temido por todos, mesmo depois da sua morte! De facto, na primeira vinheta deste livro podemos vislumbrar Iguana a jazer morto, no chão. Mas, mesmo na condição de morto, Iguana parece ter o condão de amedrontar toda a população daquela cidade.
É então que uma bela jornalista americana, Susan Ling, desejosa de vencer o prémio Pulitzer, viaja para La Colonia para investigar a morte de Iguana e tentar reconstituir a sua vida. Para isso, terá que entrevistar um bom número de pessoas que conviveram de perto com o medonho Iguana. E é através desses relatos de personagens secundárias que vamos conhecendo a medonha e perversa personagem de Iguana. Mas, entretanto, a sua influência parece ser tão grande na jornalista que ela mesma acaba enfeitiçada pelo vilão de uma forma estritamente sexual. O seu êxtase sexual já só consegue atingir a apoteose se Iguana estiver na sua mente. Nem que seja através de uma máscara de Iguana na face de outro homem. A sua reportagem é depois tão aclamada que chega – nesta banda desenhada, atente-se – a ser adaptada para o cinema por Steven Spielberg e interpretada por Robert de Niro. Estas duas personagens reais chegam mesmo a fazer um breve aparecimento neste Iguana.
Se a ideia de ter uma história que procura desvendar uma personagem maléfica que, logo na primeira vinheta da primeira página, já se encontra morta me parece bastante interessante, considero todavia, que a história está um pouco “mal-amanhada”, com um enredo que procurando chocar e divertir ao mesmo tempo, acaba por estar demasiado preso a esses dois vetores, não conseguindo ser, no seu âmago, uma história tão marcante e bem conseguida assim.
Já a arte de Domingo Mandrafina, a preto e branco, tem o seu estilo próprio, muito em linha com aquilo que muitos dos leitores portugueses já conhecerão com a série Spahguetti Bros. O domínio das expressões faciais e da própria conceção das personagens e dos cenários é espantosa, pese embora o formato reduzido do livro não nos permita apreciar tão bem a sua arte como se consegue, por exemplo, na tal série, já mencionada, Spaghetti Bros, que tem um maior formato.
Mesmo assim, em termos ilustrativos, Iguana é muito bom. A utilização das sombras e do espaço negativo, os enquadramentos dos planos utilizados, as soluções narrativas encontradas por Mandrafina... todas essas coisas revelam uma enorme qualidade que convém sublinhar. Amiúde, também são utilizadas algumas imagens em registo “fotografia”. Não gostei tanto pois pareceram-me não colar tão bem na arte do autor que, honestamente, vale mais do que essas fotografias que foram utilizadas. Mas, felizmente, é um artifício poucas vezes utilizado ao longo do livro.
Um destaque para a capa deste livro que considero bastante fraca. Nada tenho contra mamas – pelo contrário, na verdade – mas a questão aqui não é essa. Do ponto de vista de design de capa, com a imagem em dégradé no canto inferior direito e a forma como os elementos estão organizados, mesmo tendo em conta que o álbum é de 2002, é uma capa bastante fraca. Um bom exemplo de como não deve ser uma capa de banda desenhada. Não obstante, acho que deve ser dada uma nota positiva para o facto da edição portuguesa apresentar Susan Ling em topless. Todas as edições que encontrei pela internet fora apresentam a personagem em camisa de noite na capa. Encontrei até uma edição de Iguana, pela própria Vitamina BD nessa tal camisa de noite pelo que, calculo, houve duas edições portuguesas diferentes. No meu caso, gosto quando as editoras portuguesas não tentam ser politicamente corretas. Bem feito, Vitamina BD.
A edição é em capa mole com papel de qualidade decente. Penso que a obra mereceria uma edição mais cuidada por parte da editora. Mas os tempos eram outros, sem dúvida e hoje em dia, parece que todos nós estamos mal habituados relativamente às espetaculares edições que, agora, são lançadas em Portugal.
Em conclusão, Iguana é uma obra muito interessante, com um tema bastante chocante e pecaminoso, dos autores argentinos Trillo e Mandrafina. A arte deste último continua maravilhosa embora o argumento de Trillo nesta obra concreta pudesse ter sido mais bem trabalhado. Ainda assim, e tendo em conta que este livro ainda é facilmente encontrado pelo preço ridículo de 3,00€(!), a leitura deste Iguana reveste-se de obrigatoriedade.
NOTA FINAL (1/10):
7.8
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Iguana
Autores: Trillo e Mandrafina
Editora: Vitamina BD (Chancela Mancha Negra)
Páginas: 84, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Junho de 2002
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