Hoje regresso com mais um comparativo.
Desta feita, com duas edições diferentes da mesma obra portuguesa. Falo de Comer/Beber, de Filipe Melo e Juan Cavia, originalmente lançado pela editora Tinta-da-China, que já aqui foi analisado, e que acaba de receber uma nova edição por parte da Companhia das Letras (Grupo Penguin Random House).
Este lançamento traz com ele duas boas notícias para os leitores portugueses:
1) O legado criativo de dois dos autores mais relevantes na banda desenhada portuguesa volta a estar disponível no mercado. Tendo em conta a qualidade da obra, considero impensável que a mesma não esteja (sempre) disponível nas lojas para os interessados. E não falo apenas deste Comer / Beber, Já aconteceu com Balada para Sophie, que já se encontra disponível no mercado através de uma nova edição - que também já aqui analisei - e acontecerá, expetavelmente ainda em 2021, com a obra Os Vampiros. Quanto a Dog Mendonça e Pizza Boy ainda não há certezas quanto a datas ou opções de edição mas sei que uma edição integral (com os 3 volumes + o volume das mini-histórias) estaria no intento dos autores. Embora não haja ainda qualquer confirmação relativamente a isso. Portanto, aguardemos, para já.
2) E, claro, a segunda boa notícia é que, tratando-se de Comer / Beber, a grande novidade é que, finalmente, muitos leitores poderão apreciar convenientemente este livro, muito interessante, que é composto por duas histórias: Majowski e Sleepwalk. A edição original da editora Tinta-da-China foi bem conseguida em termos de qualidade de encadernação e materiais mas a verdade é que a dimensão do livro era demasiado pequena.
Passemos, então, para o comparativo entre ambas as edições.
A coisa que saltará mais à vista é a diferença nos formatos. Por muito cute e original que a edição da Tinta-da-China possa ter sido, a verdade é que, em termos de legibilidade, apresentava alguns problemas, já que as bonitas ilustrações de Juan Cavia não sobressaiam tanto dessa forma e o próprio texto era muito pequeno para ler. Não tendo eu - até agora - dificuldades de visão, tinha que enfiar o livro quase nos olhos para o conseguir ler. Agora, isso já não acontece. O formato tornou-se bem mais amplo e é fácil ler e acompanhar estas duas belas histórias.
Para além da diferença de tamanho, outra coisa que salta à vista é a mudança de papel. O papel das duas edições é de boa qualidade mas, na nova versão, e ao contrário da versão original onde era brilhante, o papel passou a ser baço. Ora, este é um assunto que quase sempre divide os leitores, bem sei. Uns preferem o papel brilhante, outros preferem o papel baço. No meu caso, e tendo em conta o tipo de história, bem como o tipo de arte visual, tenho preferência pelo papel baço. O que também não quer dizer que não considere que o papel brilhante poderia ter funcionado bem. São gostos. Mas deixo a nota.
Para além do tipo de papel, o papel também foi mudado em termos cromáticos. Na primeira versão, cada folha tinha um aspeto amarelado e envelhecido. Na atual versão, as páginas passaram a ser simplesmente brancas. É verdade que gostei do tal aspeto envelhecido que dava um teor de documento perdido - que fazia ainda mais sentido se tivermos em conta o primeiro conto Majowski - mas compreendo que talvez se coadunasse mais com o formato pequeno dessa primeira edição que sempre me remeteu para o famoso diário do pai do Doctor Jones, em Indiana Jones. Ou, mais recentemente, no igualmente famoso diário de Nathan Drake em Uncharted. Olhando para a nova versão da Companhia das Letras, talvez este aspeto de diário envelhecido não ficasse tão bem devido à dimensão maior do formato. Portanto, aceito bem esta alteração, tendo em conta que o tamanho do livro foi bastante aumentado. Não se pode ter tudo.
Faço ainda uma nota positiva para o facto da ilustração que figurou numa segunda edição, em capa mole, por parte da Tinta-da-China, tenha aqui sido resgatada e recuperada nesta nova edição da Companhia das Letras, conforme podem ver abaixo. É um plus simpático.
Olhando, agora, para o exemplo de duas páginas de banda desenhada, é facilmente veificável como a edição em maior formato ganha legibilidade e permite apreciar ao detalhe a arte de Juan Cavia. As cores também parecem ligeiramente mais claras na nova edição.
Relativamente aos extras, são exatamente os mesmos.
A única diferença é que o prefácio da primeira edição, feito por Carlos Vaz Marques, deixa de constar na edição da Companhia das Letras.
Em contrapartida, na nova edição há duas novas páginas dedicadas às biografias dos autores.
As lombadas são praticamente iguais mudando apenas, claro está, a altura das mesmas.
Finalmente, o texto da contracapa foi reescrito e aparece complementado por duas citações de Gonçalo Frota, do jornal Público, e de José Mário Silva, do jornal Expresso.
Concluindo este comparativo, acho que é justo e consensual dizer-se que esta edição melhora em muito a leitura deste bom livro que é Comer / Beber e a sua compra é recomendada para todos: os que ainda não leram devido à edição anterior se encontrar esgotada; e também aqueles que adquiriram a primeira edição mas que tiveram uma certa "luta ótica" com o livro devido ao reduzidíssimo formato dessa versão.
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