Hoje trago-vos uma dose dupla da coleção A Sabedoria dos Mitos, da Gradiva. Para quem não sabe, esta é uma série de banda desenhada, em grande formato franco-belga, que nos conta as histórias de algumas figuras emblemáticas da mitologia grega. Já tivemos livros sobre Édipo, Prometeu, Midas e até sobre O Nascimento dos Deuses. Mais recentemente, a Gradiva lançou mais dois álbuns, dedicados a Apolo e a Atena, e é sobre esses álbuns que esta análise recai.
E tendo em comum o facto de quererem contar-nos de forma breve e generalista – deixando depois, no final, um dossier para melhor aprofundamento do tema – a verdade é que estes dois livros até são bastante diferentes entre si.
Enquanto que Apolo parece ter uma história mais assente em episódios avulsos, que nos são dados de um modo algo “encaixado à força”, para nos dar uma ideia da sua história, Atena acaba por se revelar um livro mais bem fluído, onde a narrativa se nos apresenta mais bem construída.
Apolo, que é filho de Zeus, simboliza vários conceitos. É o deus mais sedutor de todos e encarna a luz ofuscante, as belas-artes, a medicina e a beleza. Apolo percorre o mundo na sua quadriga, sempre com a sua lira e com o seu arco. Procura restabelecer a ordem e harmonia em todas as coisas, mas também é um Deus intolerante e arrogante, que toma algumas opções moralmente condenáveis. Se essa valência da “personagem” – chamemos-lhe assim – é bastante interessante em termos de enredo, não me parece que este livro tenha aproveitado muito isso. Contrariamente a esse caminho, tudo aquilo que nos é dado é um conjunto de episódios – uns mais marcantes do que outros – a envolverem a personagem, que não conseguem ter uma linha condutora muito coesa entre si e, mesmo sendo um livro que “se lê bem”, não considero que fiquemos com uma ideia muito clara sobre a vida de Apolo.
Com o livro dedicado a Atena, a sensação é diferente. Neste caso, a narrativa pareceu-me bastante mais bem conseguida, com o foco nas vivências da Deusa e tudo feito com uma história com princípio, meio e fim.
Atena é a Deusa da sabedoria e da guerra, protetora das artes e das técnicas. É a filha preferida de Zeus, mas também é uma das divindades mais poderosas do Panteão do Olimpo. Tal como Apolo, também por vezes revela as suas características mais humanas ou mostrar-se impiedosa e arrogante. Embora me pareça menos detestável do que Apolo e que é levada mais pelo bem do que pelo mal.
Toma partido na luta de Zeus contra o ressurgimento das forças destrutivas do caos original e fornece ajuda a muitos heróis famosos da mitologia grega como Ulisses, Héracles, Jasão ou Teseu. Já para não falar que também intercede na Guerra de Tróia.
Olhando para as ilustrações dos livros, temos um autor por obra. O ilustrador de Apolo é Luca Erbetta e o ilustrador de Atena é o brasileiro Carlos Rafael Duarte. Quer o trabalho de um, quer o trabalho do outro autor, são bastante aceitáveis e cumprem com eficiência a narração da história. Mesmo assim, pessoalmente preferi os desenhos de Carlos Rafael Duarte, pois pareceram-me mais estilizados e modernos no traço e na aplicação das cores, e que cumprem melhor a função para o tipo de álbum leve que temos em mãos. Mas isto não quer dizer que Luca Erbetta não faça um bom trabalho. Também o faz.
Preferências à parte, o que talvez seja mais relevante de assinalar é que, no cômputo do desenho - quer estes dois álbuns, quer os restantes livros da coleção A Sabedoria dos Mitos – são bastante agradáveis sem, no entanto, deslumbrarem. Cumprem bem, vá.
Em termos de edição, estes livros também mantêm os mesmos atributos dos livros lançados anteriormente na coleção: capa dura e brilhante, bom papel brilhante, boa encadernação e boa impressão. Os dossiers de extras são bastante completos com muitas informações sobre as temáticas retratadas nas histórias. Sinceramente, até me parece que há aqui um certo desfasamento ente dois vetores. É que, se a parte da banda desenhada é leve demais, a parte dos extras parece-me pesada demais. Talvez não fosse necessário aprofundar tanto o tema, digo eu, tendo em conta que a banda desenhada é tão leve. Mas é um comentário meramente pessoal. Também aceito que me digam que é mesmo pela razão das histórias serem superficiais, que faz sentido que o conteúdo informativo de extra seja tão académico.
Em suma, Apolo e Atena são a clara certeza de que esta coleção conquistou a sua fatia de público no mercado português de banda desenhada. Não são livros maravilhosos, mas são livros que cumprem bem a sua função de entreter, ensinando. Especialmente Atena que é bem superior a Apolo.
NOTAS FINAIS (1/10):
Apolo: 6.0
Atena: 8.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Apolo
Autores: Luc Ferry, Clotilde Bruneau e Luca Erbetta
Editora: Gradiva
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2022
Autores: Luc Ferry, Clotilde Bruneau e Carlos Rafael Duarte
Editora: Gradiva
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Abril de 2022
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