sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Comparativo: "Silêncio" pela Devir e pela Bertand


Hoje trago-vos um comparativo entre duas edições separadas por mais de 30 anos!

A obra em questão é a importante Silêncio, de Comès, que aquando do seu lançamento original, em 1980, alcançou o prémio de Melhor Álbum em Angoulême.

É um belo livro, bastante original, quer na componente narrativa, quer na componente visual, que aconselho a qualquer leitor.

De um lado temos a edição da Bertand Editora, de 1993, e do outro lado temos a mais recente versão da obra lançada para o mercado português pela editora Devir, inserida na sua Coleção Angoulême. Relembro ainda que a obra já havia sido lançada pela ASA, em dois volumes, a cores.


Ora, como devem imaginar, estas duas edições que vos trago são completa e assumidamente diferentes.

A edição da Bertrand é bem maior, num formato de 21 x 28,5 cms, em capa mole, sem badanas. A edição da Devir acompanha, em termos de formato, as dimensões da Coleção Angoulême, ou seja, tem o formato de 17 x  24 cms. 

Dito assim, pode não parecer muita a diferença, mas ainda é bastante substancial como podem ver nas imagens.




As duas capas têm a mesma ilustração, se bem que a edição da Devir colocou-a a preto e branco. 

Essa opção não me causa desconforto. O que me causa desagrado é que o preto da capa da Devir tenha ficado esbatido, algo como cinzento escuro, o que não funciona muito bem. Tal como nas ilustrações constantes no interior do livro, a ilustração do autor apresenta contrastes muito assentes e é pena que a capa não se apresente desse modo.




Já em termos de contracapa, fica claro o peso das décadas de diferença entre uma e outra edição. 

A edição da Devir é atual e bonita, enquanto que a contracapa da Bertand... bem... tem um código de barras. Nessa altura as contracapas não recebiam propriamente muita atenção por parte dos autores e editores. Felizmente, isso foi sendo alterado para melhor.




Em termos de lombada, porém, prefiro a lombada da Bertand, embora compreenda que a da Devir tem que manter as características comuns da Coleção Angoulême, daí usar uma font e um estilo mais estandardizado.




A edição da Bertrand inclui, logo a abrir o livro, uma nota introdutória de Henri Gougaud que, infelizmente, não está contida na edição da Devir.




Olhando, depois, para a parte das pranchas, é inegável que a experiência de leitura na edição maior da obra se torna mais agradável, legível e bem-vinda para o leitor.



Edição Original Francesa

Por algum motivo, a Devir decidiu adaptar o texto da edição com as frases, em voz off, da personagem de Silêncio, como podem ver mais acima. Compreendo que se lê muito melhor e até nem sou especialmente fã quando os autores optam por colocar personagens a falar com erros ortográficos - mas aceito que isso obedece a um objetivo narrativo. Todavia, e partindo do princípio que se deve respeitar, sempre que possível, a obra original, creio que a Devir deveria ter respeitado mais a obra original. Atenção que faço aqui a ressalva que, não tendo acesso à edição da Casterman em que esta edição da Devir se baseia, não posso dizer que não tenha já sido a Casterman, na sua coleção Chefs-d’œuvre primés à Angoulême depuis 50 ans, a ter optado por colocar o texto de Silêncio sem erros ortográficos. Se foi a Casterman a fazê-lo, esteve mal e compreendo que a Devir tenha respeitado essa alteração da Casterman. Se foi a Devir a optar por esta decisão, não esteve bem. Não é o "fim do mundo", mas é digno de nota.




Olhando para a questão da legendagem, não considero que a edição da Devir, mesmo sendo mais pequena, se leia mal. Embora reconhecendo que talvez tivesse sido melhor a opção por uma font mais direita, menos em itálico, acho que o livro da Devir se lê bem.

Claro que, comparando com a edição da Bertrand, a diferença de tamanho é bastante visível. No entanto, também tenho que dizer que a edição da Bertrand parece ter um texto e uma balonagem maior - e com um espaçamento entre caracteres e palavras maior - do que o adequado.




No caso em que há mais texto, as páginas da edição da Devir respiram menos bem, como é óbvio, mas não acho que a experiência de leitura saia tão denegrida assim. Penso que há obras nesta coleção, como especialmente a Trilogia Nikopol, onde a obra original sai mais "mal tratada".

Acima de tudo, e concluindo, Silêncio, de Didier Comès, é uma obra muito especial e diferenciada da banda desenhada franco-belga, que merece ser conhecida por todos os amantes de banda desenhada.

É uma obra que, em alguns aspetos, se encontra algo datada, mas que não perde o seu charme, especialmente no brilhante traço, com tão belo uso do preto e branco puro, de Comès. 

Não deixem de ler, seja qual a edição ao vosso dispor.

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