quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Comparativo: "Living Will" pela Polvo e pela Ave Rara



Nem sabem a felicidade que tive quando soube que a editora Polvo iria editar, e de forma integral, a obra Living Will, de André Oliveira, Joana Afonso e Pedro Serpa!

Esta é, quanto a mim, uma das melhoras obras da banda desenhada nacional! A esse propósito, até vos convido a mergulhar na análise que fiz a este livro, aqui.

Originalmente lançado em formato comic, pela Ave Rara, uma chancela independente do próprio André Oliveira, Living Will foi-nos sendo dado aos poucos, de forma intermitente, entre os anos 2013 e 2018. No total, foram 7 mini-comics de 16 páginas que nos ofereceram uma história linda sobre a vida, sobre os remorsos, sobre o amor, sobre o passado, sobre a redenção.

É a obra onde, a meu ver, André Oliveira se demonstrou mais inspirado, com um texto completamente quotable e uma história profunda, ora amarga, ora doce. Por seu turno, Joana Afonso afirmou-se de vez como uma das mais importantes figuras da ilustração de banda desenhada em Portugal. Infelizmente, possivelmente por indisponibilidade de tempo, Joana Afonso foi substituída em dois dos sete volumes da série por Pedro Serpa. Não querendo, de forma alguma, descurar o comprometimento e talento do autor, é inegável que a continuidade visual da obra se (res)sentiu nesses números assinados por Pedro Serpa, o que foi uma pena.




A edição original da obra foi feita na língua inglesa para chegar a um mercado mais internacional. Percebo perfeitamente a razão, como é óbvio, mas era lamentável que esta obra, feita por portugueses, não estivesse disponível na sua língua materna, o português.

E é, também por isso, que fiquei muito feliz com esta edição da Polvo. Porque mais que fazer chegar esta bela obra aos leitores portugueses, fazia sentido que isso fosse feito em formato integral e, claro, na língua portuguesa. 

E só com essa cajadada, a Polvo mataria logo dois coelhos. E a editora não se ficou por aí! Mas já lá iremos.

Esta nova edição tem duas capas novas, à escolha. No meu caso, o meu livro tem a capa amarela, onde nos aparece o protagonista da história, Will, o seu cão e fotografias das várias personagens que aparecem na obra. Uma capa bonita que me remete para a igualmente bela capa de Rugas, de Paco Roca. Existe ainda outra capa, na cor roxa, que também funciona muito bem.




Esta nova edição tem generosas 180 páginas e é-nos dada em capa mole, com badanas. É uma edição bonita e respeitosa, mas tendo em conta a qualidade e a relevância da obra em questão, bem como não esquecendo que esta edição procura ser uma edição definitiva da obra, julgo que teria sido melhor se a edição fosse em capa dura. Não me chateiam as capas moles, mas acho que as capas duras granjeiam mais prestígio, requinte e durabilidade aos livros. E Living Will merecia-o.

Falando ainda em coisas menos positivas, talvez o formato da edição da Polvo pudesse ter sido um pouco maior. É quase igual ao formato original, sim, mas mesmo assim é um pouco menor.

Mas, apontadas as coisas que considero como menos positivas nesta edição, há que referir que são muitas as coisas positivas.

Desde logo, porque o "formato livro" supera, a todos os níveis, o "formato revista" em que a obra foi originalmente lançada. Respira melhor, nãose dispersa e permite que o leitor possa degustar a obra com mais afinco.



Uma coisa que apreciei nesta edição da Polvo, em que parece ter havido um carinho e cuidado especial para com a obra, foi que as belas capas dos sete capítulos originais não se perdessem. 

Todas elas servem como separador entre histórias. Talvez pudesse ter sido colocada a versão completa das ilustrações, uma vez que, originalmente, eram de dupla página, servindo a capa e a contracapa de cada livro, mas também não sei como isso poderia ter sido feito, sem aumentar o número de páginas do livro e sem distorcer a ordem das páginas.




Além disso, também gostei que até mesmo aquele breve sumário da história com que terminava cada um dos sete números, fosse resgatado nesta nova edição sempre que um capítulo termina. Teria sido uma pena tirar essa componente de séria televisiva a Living Will que é mais uma das (muitas) coisas que tanto aprecio nesta edição. 

Foi, portanto, uma escolha acertada nesta nova edição.




Embora esta nova reedição seja bastante fiel à edição original da Ave Rara, tendo a mesma font para a balonagem, inclusive, nota-se, especialmente logo no primeiro capítulo da história, que houve um reajuste da cor, passando agora a ser muito mais suave e agradável.

Nota positiva para essa alteração.




Além disso, e já olhando para os inúmeros extras que, generosamente, esta nova edição da Polvo nos traz, o livro abre com uma nota introdutória em que André Oliveira disserta sobre a feitura da obra e sobre o atual momento da mesma.




Além disso, a nova edição da obra inclui uma entrevista/conversa ente Gabriel Martins e os três autores, bem conduzida, que responde a algumas questões que, certamente, muitos dos leitores poderiam formar na sua cabeça. 

E são essas as entrevistas que, quanto a mim, são bem feitas. Portanto, trata-se de mais um bom acrescento à nova edição da obra.




Além disso, há também espaço para que muitos autores consagrados da banda desenhada nacional homenageiem esta obra através das suas próprias ilustrações. 

São 13 estas ilustrações adicionais e apresentam um estilo que, naturalmente, é muito belo pelo seu ecletismo e capacidade artística dos autores que participam nesta homenagem conjunta, que são os seguintes: Filipe Andrade, Joana Mosi, Pedro Brito, Catarina Paulo, Francisco Sousa Lobo, Carla Rodrigues, Paulo Monteiro, Kachisou, Carline Almeida, Inês Galo, Filipe Abranches, Miguel Rocha e Jorge Coelho.




Há ainda espaço para seis páginas dedicadas a esboços e estudos de personagem por parte de Joana Afonso, que são um deleite para os olhos.




Por fim, a cereja em cima do bolo e talvez a grande iniciativa desta bela edição, é que este livro reúne um capítulo extra e inédito, feito de propósito para esta edição. 

É uma história de 18 páginas, onde mergulhamos na relação conturbada entre pai e filho e na importância, quer pelo lado positivo, quer pelo lado negativo, do pugilismo nas suas vidas. É uma história pungente e sentimental, em que André Oliveira se mantém inspirado e onde fica claro como a evolução de Joana Afonso tem-se registado de álbum para álbum, de história para história. 

Joana Afonso já era detentora de um talento especial em 2013, quando começou este Living Will, mas, em 2025, o seu talento é ainda mais exponencial. 

Que excelente ideia incluir esta história adicional na edição!



Não sei se têm ou não os 7 fascículos da primeira edição de Living Will. Quer os tenham ou não, parece-me que a compra deste novo livro da Polvo se assume como obrigatória. Qualquer amante de (boa) banda desenhada deve ler Living Will!

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