segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Comparativo: Blacksad 2 pela Ala dos Livros e pela ASA


A Ala dos Livros acaba de lançar a reedição do segundo volume da série Blacksad, intitulado Arctic Nation, de Juan Díaz Canales e Juanjo Guarnido! Como tal, e antes que escreva uma análise a esta obra, que é uma das minhas favoritas de sempre, faço um comparativo entre edições, para que possam perceber o que é que difere entre a edição que a ASA tinha publicado por cá há uns anos e a nova edição da Ala dos Livros.

Sendo este o segundo livro da série, convém não esquecermos que a Ala dos Livros já lançou, há um ano, o primeiro volume da série, intitulado Algures Entre as Sombras.

Esta reedição de toda a série Blacksad, cujos primeiros álbuns já eram praticamente impossíveis de encontrar em loja, trata-se, afinal, de um lançamento para colecionadores, que prima pela nobreza dos materiais utilizados e acabamentos da edição, além de ter uma lombada (a tecido) que está pensada para formar um desenho quando a série estiver integralmente publicada. E a cereja no topo do bolo é que cada livro vem acompanhado por um outro livro - acho que se pode chamar assim - que é a A História das Aguarelas. São quase 30 páginas onde temos Juanjo Guarnido a explicar todo o seu processo de trabalho no desenho e na cor dada à obra, à medida que vão sendo mostrados vários esboços e testes de cor. Um must have!

E, relembro, é a única edição do mundo que contém este extra. É verdade que, no mercado franco-belga, estes extras foram originalmente publicados em separado, num livro à parte. Mas como agora foram reunidos e separados por cada um dos tomos da série, podemos dizer que apenas na edição portuguesa podem ser encontrados desta forma.

Pegando então, na original edição portuguesa pela ASA e comparando-a com esta nova edição da Ala dos Livros, são várias as diferenças encontradas.


Começando pela capa, as diferenças são subtis mas relevantes. Enquanto que a edição da ASA é toda ela com capa dura brilhante, a edição da Ala dos Livros apresenta capa dura baça que tem depois alguns detalhes a verniz localizado, neste caso na figura das pergonagens que aparecem na ilustração. Fica com um aspeto soberbo que, lamentavelmente, devido aos meus atributos pouco fortes na captação da fotografia, talvez não sejam muito perceptíveis na foto que aqui partilho.

Além desta diferença de acabamentos, na capa da edição da Ala dos Livros também podemos ver parte da lombada a tecido azul, o que lhe acrescenta classe. Outra coisa que também aprecio é que a Ala dos Livros tenha optado por não colocar o seu logótipo na capa.

Dizem que não há nada perfeito no mundo? Esta capa da Ala dos Livros parece discordar dessa afirmação.



Na contracapa, temos a mesma ilustração maravilhosa da personagem de Blacksad em tons leves de cinza, como se fosse uma marca de água. 

Neste caso, a diferença é que a Ala dos Livros optou por retirar da contracapa toda a informação que a edição da ASA tinha, que consistia numa vinheta, numa citação do texto da história e na informação dos títulos já publicados e dos títulos por publicar. 

A nova edição ficou, portanto, muito mais clean e, na minha opinião, mais bela em termos estéticos.  




Já falei da questão da lombada ser em tecido azul e de formar, quando a coleção estiver finalizada, um desenho que será o logótipo/lettering da palavra "Blacksad".

Antes que exclamem: "Então, mas como é que a editora vai proceder no futuro, tendo em conta que acabam de ser publicados dois novos álbuns da série que não têm esta apresentação e estes acabamentos, nem sequer formam a lombada em tecido azul?"

Deixem-me elucidar-vos: o editor disse-me que tudo foi pensado por parte da Ala dos Livros. 

A ideia é que, depois de ser lançado o livro com A História das Aguarelas para este mais recente díptico Então, Tudo Caia Ala dos Livros volte a publicar esta aventura de Blacksad e a insira dentro da coleção premium. Ou seja, será um volume duplo - com os dois tomos da história Então, Tudo Cai - e com os extras de A História das Aguarelas. A lombada será azul e em tecido e já foi pensada para que funcione bem e encaixe na ilustração formada pela lombada dos 5 volumes anteriores. 

É claro que, para isso, ainda falta algum tempo. O primeiro volume desta série composta por 7 volumes foi publicado no ano passado e o segundo neste ano. Se a Ala dos Livros continuar com o mesmo ritmo de publicação desta série e, claro, se já tiver sido lançada A História das Aguarelas referente a este recente Então, Tudo Cai, diria que por volta de 2026/2027, a Ala dos Livros publicará este último volume premium. A menos, claro, que o ritmo de publicação aumente, como é o meu desejo.

Seja como for, esta é uma daquelas coleções "para a vida". Como tal, e demore o tempo que demorar, interessa é que seja publicada pela Ala dos Livros.




Só nas guardas do livro esta reedição da Ala dos Livros não supera a edição da ASA, quanto a mim. 

É que eu adoro as guardas com aquela maravilhosa ilustração de Blacksad a uma só cor que aparecem na edição da ASA. 

A Ala dos Livros optou por uma opção mais sóbria, na cor castanha. Fica bem, claro, mas faz-me lamentar que não tenha estas guardas lindas.



No entanto, em termos de folha de rosto, a edição da Ala dos Livros dá-nos duas folhas enquanto que a edição da ASA só nos dá uma. 

A primeira folha de rosto da versão da Ala dos Livros apenas tem o lettering do título da série, enquanto que a segunda página volta a ter o lettering do título mas, desta feira, é acompanhado por uma ilustração que figura numa das vinhetas do álbum. 

Curiosamente, a Ala dos Livros optou por outra ilustração face àquela que havia sido escolhida para a edição da ASA.


Depois, olhando para o miolo de ambos os livros, as difrenças a nível de cores e qualidade de impressão não se fazem sentir muito, já que a edição da ASA também era detentora de qualidade nesses parâmetros. 

O papel da edição da Ala dos Livros parece-me ligeiramente melhor, mas isso também pode estar relacionado com o facto da minha edição da ASA já ter alguns anos.

Em termos de legendagem e da nova tradução da obra, é que são mais notórias as diferenças, como se demonstra na imagem mais acima. Ainda que, neste ponto, a minha análise não tenha sido muito aprofundada, pareceu-me que esta nova legendagem é mais dinâmica na forma como se adapta o tamanho do texto à emoção que o discurso procura passar para o leitor.


Bem, e depois deste ponto, a edição da ASA acaba e a da Ala dos Livros continua, dando-nos belas páginas onde Juanjo Guarnido nos oferece uma viagem à feitura deste álbum, através de um discurso na primeira pessoa. 

É uma oportunidade magnífica para mergulharmos na mente do autor e percebermos as suas intenções no uso da cor e de como isso condiciona o ambiente que se pretende passar para o leitor. É simplesmente incrível! Para aqueles que já apreciam o trabalho miraculoso de Guarnido, esta edição que a Ala dos Livros nos está a trazer é absolutamente obrigatória!

Difícil, difícil, é aguardar pelo próximo volume!

Deixo-vos, então, com algumas imagens desta A História das Aguarelas, que pode ser encontrada em Blacksad 2 - Arctic Nation:






25 comentários:

  1. A grande diferença entre a edição da ASA e esta é que a da ASA era acessível esta, nem por isso. Continuo a afirmar que seria preferível reunir 2 ou 3 volumes num só tomo e assim reduzir o valor do investimento total do que “forçar” o leitor interessado a desembolsar um maquia avultada para toda a coleção. O critério da editora foi outro…

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    1. Pois, compreendo que a opção da Ala dos Livros pode não agradar a toda a gente.

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    2. @António, esta conversa tivemos pessoalmente há alguns dias no AmadoraBD. Ninguém força leitores a nada! O leitor decide se aquilo que lhe apresentamos interessa ou não interessa ao preço proposto. O critério da editora foi o da editora. E enquanto for o nosso investimento e o nosso trabalho, será o nosso critério.
      “Beneficiando tanto o leito como o editor.” É sempre o leitor que decide esse beneficio ao decidir comprar ou não as obras.
      Não, não comprometo aquilo que entendo como coerência de uma coleção em conteúdo/continuidade pelo preço. Seja para dividir ou juntar volumes. Por esse raciocínio tudo seria (re)editado em álbuns integrais ou combinados e, no cúmulo, nenhuma novidade seria editada para ser "aglutinada" na seguinte.

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  2. Eu já tomei a minha decisão. Gosto do trabalho da Ala dos Livros e comprarei sempre todas as edições em que a opção seja a mais racional qualidade/preço e equivalente ao que se faz, por exemplo, aqui ao lado, mas neste caso vou mesmo comprar o integral da Norma. 50€ por 5 volumes, em capa dura e óptima edição ou 5 volumes individuais a mais de 25€ cada? Nos tempos que correm e no meu caso a opção é óbvia...para mim pelo menos.

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    1. Pois, naturalmente, cabe sempre ao leitor fazer a sua própria escolha com base naquilo que mais valoriza. Totalmente legítimo!

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    2. @Eskorpião77, totalmente de acordo. Cada leitor faz a sua opção e a sua é compreensível. Escolhe a edição que melhor satisfaz o que procura. Mas fazer a comparação com a edição integral de uma editora que já editou os volumes individuais, já os rentabilizou, já tem o material, a tradução, a composição, a legendagem e com um mercado muito superior é fazer uma comparação incomparável.

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    3. Caro Ricardo. Não sou editor, nunca fui e não pretendo ser. Não sei se todos os paises que optaram por fazer uma edição integral desta obra e de outras publicaram antes os volumes individuais mas penso que não. Seja como for, sou um mero comprador e leitor de BD e as minhas decisões são baseadas nos meus interesses e não na solidariedade para com as editoras (portuguesas ou não). Não posso tambem deixar de salientar que foi decisão da Ala incluir extras e demais caracteristicas que naturalmente encareceram a edição destes volumes individuais...

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  3. Bom texto, parabéns!

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  4. Espanha: Blacksad: La historia de las acuarelas 1, editora Norma, 19€;
    Blacksad: La historia de las acuarelas 2, editora Norma, 15€;

    França - L'Histoire des aquarelles - intégrale, editora Dargaud, 29,99€;

    A história das aguarelas duma série NÃO É um must have. Por isso é que nunca foi publicado como tal, é publicado como um extra que compra quem quer, se quer. Um Tintin é um must have, um Batman Ano Um é um must have, um Peanuts é um must have, e por aí adiante.

    A Ala dos livros optou por todas as opções possíveis que tornam mais difícil do que fácil ter os livros.
    Ler blacksad completo em Portugal era difícil, agora é muito difícil. Dar blacksad completo a ler a um jovem em Portugal era difícil, agora é muito difícil.

    É uma excelente série, sim é. Mas isto é parasitismo editorial e não promoção da leitura. É afunilar em número e tipo o leitor-alvo em vez de procurar abranger. É escolher imprimir menos do que mais. É escolher o leitor/colecionador de 40+ anos e deixar o jovem. É escolher fazer negócio e acabou.

    Vamos ter a série mais cara da Europa, mais demorada da Europa, as aguarelas mais caras da Europa, e os leitores com mais quê da Europa?

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    1. Completamente de acordo. As edições devem ser adequadas á realidade dos mercados e não o oposto. Ponham os olhos em editoras como a Comix Zone e Pipoca e Nanquim (Brasil) ou aqui ao lado a Norma, trabalham. Mesmo tendo em conta a dimensão de cada mercado a preocupação será oferecer a melhor solução qualidade/custo beneficiando tanto o leitor como o editor.

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  5. Não faz sentido comparar as edições e as opções editoriais com outros países. Aqui, neste nicho, o mercado funciona. Se esta edição é mais cara que o integral da Norma, é porque é muito melhor. Quem quer, compra, quem não quer, deixa ficar e não será por isso que os livros se vão deixar de vender.

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    1. Não é o mercado português que gera que isto seja um nicho, é esse nicho de editores e leitores-consumidores elitistas e muito ricos que constroem/mantêm um mercado que fica para sempre condenado a ser um nicho.

      A lombada em tecido não acrescenta nada à obra, acrescenta só ao objeto colecionável. O preço dos livros vai aumentando de volume para volume sabe porquê? Não é porque a qualidade da obra vai mudando, é porque a editora optou por ir fazendo os livros ao sabor da oportunidade, sabendo logo que o mais certo é isso sair em prejuízo do consumidor. Mas parece que há quem goste desta maneira viciada de fazer/manter as coisas pobres e cinzentas.

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  6. Tenho comprado os originais porque tenho acesso logo a eles. Perdi a paciência para esperar pelas edições em português que muitas vezes não ocorrem ou se ocorrem são muitas das vezes interrompidas.

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  7. Parece que a tendência dos "editores de bancada" veio para ficar.

    Pouca gente faz ideia do que está envolvido na negociação de direitos, na necessidade de obedecer (ou não) a um formato, na decisão do nº de cadernos (múltiplos de 8), na viabilidade económica vários tomos vs dípticos/integrais, na impressão, transporte, armazenamento, etc.

    Num ápice, "dispara-se" para todo o lado e até existe uma elite de leitores-consumidores que fazem pare da conspiração global de manter o mercado PORTUGUÊS de BANDA DESENHADA, RESTRITO e ELITISTA...
    Eu confesso logo: entre pertencer à Maçonaria, ser rotário, jogar golfe com banqueiros e políticos e pertencer à excelsa elite dos leitores-consumidores de BD em PORTUGAL, nem hesito na escolha!

    Não sendo toda a parvoíce grave, as acusações são. Principalmente quando assumem contornos difamatórios. "Parasitismo editorial"??? A sério??? No LUCRATIVO mercado PORTUGUÊS da BD??? Porque vale mesmo a pena todo esse trabalho por meia dúzia de "patacos"...
    Além de que, se conhecessem pessoalmente o pessoal da Ala (Ricardo, Mª. José, Abílio, etc) veriam que nada está mais longe da verdade. São pessoas com verdadeira paixão pelos livros, pela BD, pela edição, também leitores e com muito respeito pelo leitor.

    Cada vez mais, as pessoas têm dificuldade a olhar para dentro de si e os outros são os culpados de tudo...
    Ninguém aponta uma arma a ninguém para "forçar" a comprar nada. Reconheçam sofrer do síndrome de completismo, entre outras coisas. Eu sofro e reconheço. E não chateio ninguém.
    Vendam as edições antigas, mantenham um misto de antigas e novas, mantenham as 2... Qual é o problema? Espaço? Carteira? Lidem com isso.
    Não apoiam livreiros, mandam vir tudo "de fora" ou de grandes superfícies (Wook, FNAC, etc) e, depois, têm a ousadia de vir "miar" (pun intended) acerca do preço dos livros??? E os livrinhos comprados em leilão? E aqueles vendedores dos leilões do FB que já tem o livro em leilão antes de sair em banca??? Colecção Clássica da Marvel e Colecção Novelas Gráficas então, não falta... Desconfiem e preocupem-se (também) com isso.

    Grave, grave, é ter de optar pelas coisas a pôr na mesa para alimentar a família. Grave, grave, é não ter livros de BD para ler. Nem em bibliotecas, nem em paz.
    Problemas de primeiro mundo...

    Os americanos têm a expressão fabulosa do "You gotta put your money where your mouth is!".
    Gostava de ver os "editores de bancada" a fazer isso. Íamos todos ganhar, certo?

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    1. Respeito pelo leitor era ter dado para este Blacksad um plano de lançamento como fizeram os editores que reeditaram o Sambre. Não deram, e porque é que não? Que justifiquem então.

      O argumento do valor dos direitos aqui não vale. A obra que foi comprada teve um só preço, que não varia com o tempo, e ninguém apontou essa arma a nenhum editor para que a comprasse. O que se critica aqui é terem escolhido ir lançando livros de ano a ano (ou de tempo indeterminado em tempo indeterminado), de preço em preço, com extras que podiam ser vendidos como extras, com acabamentos mais requintados do que qualquer editor mundial se calhar fez. É já agora, o facto de se proporem a reeditar (ou seja, tornarem disponivel) uma obra que era muito rara e difícil e fazerem com que essa reedição traga outra vez uma obra só para alguns, só para quem não se incomoda com anos de espera e com aumentos de volume em volume.

      O mesmo livro vai ficar mais caro de imprimir daqui a um ano; vai ficar mais caro de traduzir/editar/paginar/rever daqui a um ano; vai ficar mais caro de armazenar daqui a um ano; vai ficar mais caro de transportar daqui a um ano, e tudo isso não é culpa do leitor que quer a obra nem dos direitos, que são os mesmos. É só culpa da decisão do editor.

      Normalmente as séries vão vendendo menos de volume para volume, então se for uma série que não se faz ideia de quando está pronta, pior ainda diria eu. Querem fazer pagar a série ? Então façam, mas querem vender muitos ou poucos? Querem reduzir os fatores de custo ou isso é irrelevante, porque basta aumentar o preço de capa?

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    2. Olhando para o conjunto dos comentários aqui presentes, tenho que concordar com as palavras do João Marques. Posso aceitar que as pessoas não valorizem a proposta que a Ala dos Livros tem para esta série de Blacksad. Eu valorizo e acho as "Histórias das Aguarelas" algo verdadeiramente fantástico que complementa bem aquela que é a minha série número 1 de banda desenhada. Não concordam? Aceito. Acham que é muito caro? Aceito. Acham que é muito barato? Também aceito. Agora, parece-me de mau gosto - e portanto não posso aceitar - a utilização da expressão "parasitismo editorial". Essa expressão já é mal escolhida para qualquer editor português. Para a família "Magalhães Pereira" talvez o seja ainda mais. Quem os conhece sabe que não o fazem pelo dinheiro. A razão é única: porque amam BD. Porque a sentem, porque a respiram, porque a vivem. Quem dera aos leitores portugueses de banda desenhada que existissem mais pessoas como as que formam a Ala dos Livros.

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    3. @Anonimo:
      Comentar e criticar publicamente como “Anónimo”, seria suficiente para nem merecer resposta, até porque se torna por demais evidente o objectivo dos seus comentários indignados. Mas utilizar expressões como “parasitismo editorial” para se referir ao trabalho de terceiros é, no mínimo, lamentável. Em primeiro lugar, enquanto o investimento e trabalho forem nossos, não lhe devemos qualquer justificação sobre as opções que tomamos. De qualquer forma, porque é evidente também nesses comentários uma enorme ignorância de factos e do mercado editorial dou-me ao trabalho de responder.
      A edição num mercado limitado como o português tornaria a partida inviável a edição individual das aguarelas, sendo essa uma das razões para o fazermos com cada um dos volumes a que correspondem. Da mesma forma, a (re)edição em separado de cada álbum original teria um custo ao leitor de cerca de 18€ nas condições actuais. Portanto, por 7€ optámos por incluir mais um livro. E com isso um “embrulho bonito”. Claro que o leitor poderia comprar apenas a história, mas estaríamos a comparar a compra de 1 livro com 2 livros.
      As aguarelas não são um “must have”? Nenhum dos livros é. Não temos obrigação de fazer serviço público para permitir acesso às obras porque são fantásticas. Para isso existem bibliotecas. Não são um “must have”? Procurem as edições antigas – mas então isto aplica-se a qualquer livro de qualquer género.

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    4. O que me importa não são as boas intenções dos editores, é o que os eles fazem com os direitos que têm e podem materializar. Por ora, vejo uma editora que podia dar a série em volumes de 18/20€ mas prefere em volumes de 25/27€; que podia dar no integral 5 em 1 mas não quer; que podia agir em tempo razoável mas tarda; que podia manter o preço mas já mexeu; que mantém o leitor na ignorância sobre a série. O que me incomoda não é a qualidade destes livros, eles são excelentes e qualquer um escreve ou mostra imagens de como este livro é soberbo ao pé de outros iguais (só que não há iguais). O que me incomoda é a camada de luxo acessório que colocam em cima de álbuns que não precisam de ser editados ou impressos de novas maneiras para serem muito bons. Blacksad é muito bom e não é por causa das aguarelas. Mas o vosso livro é mais caro do que os livros do resto da Europa porque lhe quiseram meter em cima as aguarelas. Se vendem muito na mesma e são excelentes, ótimo. Mas não é a opção que vende mais livros nem a que cria mais leitores. Incomoda-me esperar 15 meses por dois álbuns e, se quiser ler a série, ter de me desenrascar pelo OLX. Os senhores fazem os planos, os negócios, os calendários, os livros e os preços que entendem. Mas também têm de entender que, quando tomam uma decisão inédita para publicar Blacksad, estão a tomar posição perante o mercado. Estão a escolher um produto/um preço/um cliente mais do que outro. Tudo bem com isso, o mercado é que, em vez de ganhar mais uns 100 ou 200 leitores novos, ganha 100 ou 200 livros especiais novos.
      São decisões como esta que fazem com que o mercado seja o que é e se mantenha o que é. E, quer os senhores queiram ou não, a vossa opção para a reedição de Blacksad vai ter menos leitores/consumidores a aderir do que a opção de outros países porque, simplesmente, aceder aos vossos livros é mais difícil do que aceder aos livros noutros países. A série é a mesma, o produto comercial é que não. Querem os livros com extras e mais caros? Ok, não venham é desejar a renovação dos compradores, não venham dizer que pouca gente a compra BD.
      Há quem ache que o livro mais oportuno é o que traz mais extras, melhor acabamento e maior custo; eu acho que não. O que dá mais vida e força ao mercado: série de livros a 18/20€ ou a 25/27€? Séries em tempos razoáveis ou à cadência indefinida e demorada de anos? O que traz mais leitores? Por que razão, afinal, é que a editora foi buscar a série mas não a lança mais rápido e em moldes mais próximos das demais edições internacionais? É aqui que eu vejo a vossa postura editorial com Blacksad como um certo parasitismo. Se a editora investiu para “ter” a série, acho que não faz sentido estar anos para lançar livros que em todo o lado se lança rápido; nem procurar encarecer um produto que em todo o lado se procurou tornar mais acessível. Desculpe, mas não é normal, e dá a sensação que a editora, para esta série, está a escolher um tratamento especial, de livros especiais, de prazos especiais, para leitores e clientes especiais.
      Tenho o maior respeito por quem gosta de livros e trabalha na área. Estimo muito as editoras que sei que são pequenas e que têm limitações. Mas 15 meses é demais para lançar 2 volumes. Acho que era outro tipo de edição/venda das aguarelas, acho que não perdiam e os leitores também não. Os leitores ganham com um livro com as aguarelas? Ganham porque as pagam num produto que são dois fundidos. Fica mal aos editores tratar os leitores como uma paisagem. Noutros mercados, as editoras divulgam os planos e mantêm uma comunicação regular porque isso (está estudado) aumenta vendas, fideliza leitores/clientes, e dá vida ao mercado. Aqui, a BD é um mundo pequeno, fulaniza-se tudo, e importa mais sabermos como eu me chamo do que explicar por que o Blacksad 2 custa mais 2,50€ do que o igual Blacksad 1, ou do que saber quando vamos ter esta especial edição desta especial série publicada neste especial país.
      Ricardo Almeida

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  8. Ainda segundo o ilustre @Anónimo a culpa é de “leitores-consumidores elitistas e muito ricos”. Ou seja, devíamos todos ter livros em papel de jornal, ou pior, e impressão manhosa para serem baratos porque alguém acha que sim. Nenhum leitor merece ter gosto e orgulho em fazer a sua biblioteca e olhar para ela e gostar do que vê – conseguido em tantos casos com muito esforço. Fazer livros “ao sabor da oportunidade”. Dá vontade de rir olhando para algumas ofertas e forma de edição do mercado. Mas fico satisfeito de saber que há tantos leitores de BD ricos em Portugal que têm adquirido as nossas edições.
    “Dar um plano editorial.” “Como fizeram os outros”. Chegamos ao ponto da questão. Não tem nada a ver com edições ou opções mas com qualquer coisa mal resolvida. Além do profundo mau gosto de comparar pessoas, mais uma vez é demonstrar ignorância. Mas talvez um dia se saiba o resto. Grave, grave, seria a AL viver de projectos e dinheiro alheio. Grave grave é serem publicados livros que pago como contribuinte sem que me perguntem se me interessam. Grave grave é escolher colecções dependendo de quais os apoios e subsídios que se conseguem e apresentar isso como uam democratização da arte. Motivo de indignação para o leitor deveriam ser falta de respeito pelas obras, pelos formatos, pelos ciclos, pelos autores, pelo uso de imagens dos mesmos, sem permissão, para fins comerciais. Definir/gerir um plano editorial é algo que fazemos todos os dias, era só o que faltava ter de o colocar a aprovação de “anónimos”. Vale tudo, desde que seja “barato qb”. Mesmo crítica "barata".
    A falta de noção piora quando se quer entrar de assuntos que claramente não se dominam (ou se pretende usar para gerar confusão). Mas sobre negociação de direitos, não lhe dou aulas, também isso se paga. E sim, tudo aumenta. Temos pena, é uma realidade do modelo económico em que vivemos. Serem anos de espera por um livro ou meses é algo com que cada um terá de lidar. Chama-se gestão. Se querem exigir mais, virem-se para quem nos últimos anos nada fez pela edição de BD apesar de terem muito mais recursos a todos os níveis. Basta comparar o número de edições no mercado FB e por cá para perceber que nunca se vai publicar tudo. Há vantagens e desvantagens em editar séries rapidamente. Não é (muito) difícil de perceber. A quantidade vendida vs. preço depreende noções de elasticidade de preço que variam de produto para produto e mercado para mercado. O livro não é um bom exemplo! Portanto, concluímos que se um autor demorar 40 anos a concluir uma série, ninguém deve editar o primeiro ou comprar porque não sabe a que preço ficará o último. Ou seja, não se publicam séries até os autores morrerem. E mesmo assim pode vir alguém e fazer continuações! Malandros!

    Sinceramente, se têm alguma coisa a dizer ou incomodamos alguém, tenham pelo menos a honestidade de dar a cara. Nós damos a cara e o nome pelo que fazemos e era só o que faltava ter de justificar a este ou aquele a forma como o fazemos com o nosso tempo, trabalho e dinheiro. Têm bom remédio, não gostam, não compram. Fazem melhor? Sejam bem-vindos ao mundo editorial e desejo-vos boa sorte para as vossas edições.
    E se acham que esta é "de luxo"... ui...

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    1. Caro Ricardo, chamo-me Ricardo Almeida, tenho 29 anos, sou de Cantanhede e trabalho numa fábrica. Não estou nem tenho ligações no circuito profissional da BD, não tenho nada mal resolvido com ninguém, sou “apenas” um tipo que gosta de ler e de ter livros, se quiser, o “leitor/consumidor”, seja qual for a relevância social que isso tem para si. E gosto de acompanhar com olhos de ver o que acontece no ambiente em que me insiro, que é este de ler/comprar/encontrar propostas de livros de banda desenhada.
      Não fiz em nenhum momento um ataque pessoal, não me importa se é a família A ou B que constitui qualquer editora nem a dimensão particular dos investimentos que os editores têm no comércio que fazem. O que me importa são os livros e as decisões/propostas editoriais com as quais me relaciono, e é aí que eu vejo um problema nesta coleção. Eu não me relaciono consigo, relaciono-me com o livro/a série que a editora publica, mas essa relação é moldada pelas suas escolhas. Eu relaciono-me com o seu Blacksad, comprei o 1, comprarei o 2 e irei até ao 5, mais os novos. Mas coloco em causa o caminho que a sua editora escolheu para nos dar a série e os livros, que é um caminho que nenhum outro editor em nenhum outro mercado escolheu, e há Mercados e mercados.
      Os álbuns são uma coisa. As aguarelas são outra, são um acessório dos álbuns, um extra. Sim, elas enriquecem, são espetaculares, merecem lugar, mas não são decisivas para a história ou para a maioria dos leitores de Blacksad. Se fossem, tinham andado sempre as duas coisas juntas, mas não. Os álbuns publicam-se como álbuns e as aguarelas como álbuns-extra. É legítimo fazer doutra maneira como vocês fizeram? É, e cada livro fica mais florido e ornamentado. Mas em todo o lado se achou que a opção sensata/equilibrada é a de publicar as coisas como elas são, separadas, só agora em Portugal é que não. E aqui, há que ter a transparência para assumir: passa a ser uma discussão de produto/preços. A opção do “embrulho” é o que é, para si uma questão de imagem, para os leitores uma questão de valor a pagar. A BD faz-se mais de boas histórias bem feitas e menos de lombadas em tecido. A Europa tem o Blacksad normal. Nós, temos uma especial edição para uma especial série para um especial país.
      Dou o exemplo do Sambre porque é igualmente uma reedição e acho que é um modelo de bem fazer as coisas: anunciaram, deram previsão de lançamento e, em um ano/ano e meio, hão de estar lançados 8 volumes em 4 livros por (até ver) 27+27+29,50+(29,50?). Por um valor razoável de 113€ e num período razoável de tempo serão postos cá fora 4 livros e uma série de 8 que fica completa e pronta a continuar. São séries idênticas em número de páginas. Sei que cada obra tem o seu preço e cada editora os seus recursos, mas Blacksad não é a última coca-cola do deserto e Sambre não é a pior série da BD.
      Como poderia dar outros exemplos: o Spirou de Émile Bravo pela ASA, Alix Senator ou Tango pela Gradiva, para não chegar aos mangás que, goste-se ou não, mostram um grande respeito na relação editor-leitor. O Sambre também tem cadernos extras que podiam vir lançados nestes livros que reeditaram agora por cá, mas não foram. Ficámos com a série mais pobre ou mais incompleta por isso? Não, mas com a série mais acessível e livros muito bons na mesma.

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    2. Ricardo, agradeço a identificação e colocar um nome aos seus comentários. Acho correcto.
      Eu aceito e respeito que não concordem com a opção. É tão legítimo como é a nossa opção de o fazer desta forma.
      É legitimo que achem que as aguarelas são acessórias e irrelevantes e que não mereciam ser publicadas (já expliquei que dificilmente seria viável um álbum independente). Nós achamos que, havendo essa possibilidade deveriam ser. E sim, com isso estamos a tomar uma posição no mercado de que é possível, mesmo no nosso mercado, apresentar propostas diferentes que valorizam as obras. Porque eu acredito que esta também é uma forma de destacar a BD e dar-lhe relevo, afastando a ideia de que são livros para miúdos. Não tenho a certeza se será com estes títulos que a BD conquista novos leitores, por muito boa que a série seja. Acho mais fácil ganhar leitores com um Burlão nas Indias (para manter o autor), por exemplo. Mas aqueles que conquistar, mesmo com o obstáculo “preço” que aqui referem estarão certamente disponíveis a olhar para os álbuns de BD de forma mais séria. Até porque neste segmento de mercado para estes títulos clássicos, não sei se haverá sequer mais 100 ou 200 leitores para "ganhar".
      Formato: Blacksad é uma série aberta. Tem dois novos volumes recentes. Nestes casos não optamos por integrais porque não achamos que faça sentido estar publicada (na mesma editora) parte de uma série em volumes integrais ou duplos e outros em triplos ou individuais. Especialmente quando são volumes independentes e não formam ciclos. Os volumes 6 e 7 foram editados independentes porque a alternativa seria esperar 2 anos pela conclusão do ciclo (para reunir primeira e segunda parte num álbum único). Em ambos os casos acompanhámos o lançamento mundial. Acho que faria todo o sentido reunir estes dois volumes num álbum único. A serem reeditados será isso que faremos e preferencialmente no mesmo modelo com as respectivas aguarelas.. Será discutível novamente, poderemos discordar de novo mas é assim que concebemos a colecção para esta série. Haverá continuação em álbuns individuais depois disso? Ainda não sabemos. O detalhe da lombada não é um “luxo” tão relevante como pensam no preço, a diferença aqui está, de facto, na inclusão das aguarelas. Porque ao contrário do que acontece quando se inclui um caderno de extras que faz parte da obra – há várias em que o fazemos -, mesmo quando esse foi incluído apenas em edições de luxo na versão original isso é feito como parte do mesmo livro - neste caso são, na realidade, dois livros separados, com direitos separados. Boa, má, novamente respeito as opinões, mas foi a nossa opção e respondemos por ela.

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    3. Há um outro detalhe que tenho de referir: não desprezo a diferença de preço de 5-7€ que isso representa para o leitor – ao contrário do que me parece que acham. Mas é um facto que essa diferença de 5-7euros para o leitor que decide comprar o livro no formato que apresentamos (vs. edição sem aguarelas) representa para a editora uns milhares de euros de investimento adicional. Portanto, não é de ânimo leve que tomamos estas decisões. Temos noção que o aumento de preço dificulta a colocação e venda, mas tomámos a opção desde o início de não abdicar de alguns aspectos em função do preço. Não acho que por isso tratemos os leitores com desprezo e “como paisagem”. Novamente, são os leitores que julgam as nossas decisões e, quando forem más opções, somos nós (e os resultados de um título) que respondemos por elas e as suportamos. Chamem-me os nomes que entenderem é esse o posicionamento da Ala dos Livros. Temos títulos em que optamos por edições mais simples, temos títulos e colecções em que optamos por formatos mais elaborados. Esta não é uma colecção de luxo. Há livros e coleções que consideramos merecerem um destaque além da obra. Pela sua história, pela sua importância. Obviamente aceito que aquelas que para nós são uma referência (e por isso destacamos como objectos físicos) podem ser banais e irrelevantes para parte dos leitores. Nada contra. Não quer dizer que sejam melhores ou piores que esta ou aquela obra - não fiz esse juízo de valor. Quer dizer que daquelas que temos em catálogo, as consideramos como tal. E para o leitor atento às nossas propostas poderá identificar alguns detalhes físicos, gráficos e de composição nas mesmas.
      Em relação ao tempo de conclusão de colecções, eu percebo que os leitores queiram ter as histórias completas no menor espaço possível. Mas também é verdade que querem, ao mesmo tempo, mais diversidade, ofertas diferentes, novos autores. E fazer ambas as coisas exige um equilíbrio. Nesse período de 14-15 meses (espaço entre lançamentos do Blacksad 1 e 2), lançámos 2 volumes de Undertaker, espaçados 4 meses. Fica a faltar o 7, que seguindo o modelo da série inicia um novo ciclo e que por isso preferimos adiar (em vez de seguir a co-edição) precisamente para não haver uma espera até existir o oitavo, que fechará o ciclo. Lancámos 3 novos autores, publicámos autores nacionais, avançámos com obras de relevo, nomeadamente as obras mais recentes de Yslaire, Cuzor e Tardi. Iniciámos a colecção Obras de Pratt, em formato de integrais, novamente com 2 volumes espaçados poucos meses. Estamos a dar seguimento ao Corvo a um ritmo de 1 novidade/ano (como estão a ser produzidos) e, ao mesmo tempo, iniciando a reedição completa da série. Lançamos pelo menos 2 álbuns integrais de histórias em dípticos (A Adopção 1 e Bootblack) que fecham os mesmos. Temos séries mais espaçadas? Sim. O Mercenário, da qual assumi queríamos fazer 4 volumes este ano e não conseguimos, e o WIld West. È algo que, conforme vamos organizando e colocando o catálogo em ordem temos vindo a trabalhar. Não vou entrar em comparações mas para fazer reparos dos atrasos não se pode deixar de olhar também para o que foi feito nesse período.
      Finalmente, sim, houve um aumento de 10% no preço entre os dois volumes. Tal como houve em todas as publicações. Do nosso lado, em custo foi bem maior do que isso, acreditem (ou não) se quiserem. Vai continuar? Em princípio estamos a assistir a uma estabilização das condições de mercado mas não faço ideia. Espero que não e gostaria muito que nos próximos se verificasse o oposto. E este foi para nós um ano a meio gás, precisamente para arrumarmos a casa em termos de catálogo.
      Acho que em breve vão perceber melhor onde queremos chegar/diferenciar as edições de séries que consideramos de referência

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    4. Caro Ricardo, valorizo muito a sua disponibilidade para conversar. Vou partir a resposta em duas pelo limite de palavras. Da mesma maneira que as editoras questionam o mercado, acho que faz falta o mercado de Portugal questionar as editoras. Não a sua em particular, em geral.
      Comanche, Mercenário, Blacksad, 3 séries que a Ala dos Livros felizmente veio recuperar. É bom termos resgates de obras boas já fora do mercado. Às 3, deram o mesmo modelo: livros mais refinados e de valor aumentado. Os livros estão impecáveis, o Comanche foi o livro que, sem o ler, mais me impressionou em loja até hoje. A questão é que podiam ser as mesmas séries em formatos mais acessíveis. Undertaker, outra série vossa, em formato normal e preço normal, está excelente. Também há um livro-extra sobre o desenho (L'Art de Ralph Meyer, 2022) e vou elogiar se o quiserem publicar cá mas, não vindo nos álbuns, temos um Undertaker excelente em livros excelentes. E a arte de Undertaker é tão boa ou melhor do que a de Blacksad mas isso é uma não-questão. Mais do que artística, é uma questão comercial, e o leitor comum não se move pelos livros que documentam a produção das obras, move-se pelas histórias. O centro do livro das aguarelas não é a história Blacksad, é o autor que fez a arte de Blacksad.
      É nestas decisões que estabelecemos (editoras e leitores) que tipo de livros, consumidores, dinâmicas de mercado queremos, no fundo, que BD queremos. O mercado não é estático, é o resultado de opções e está sempre em transformação. Falo do mercado como um todo, que tem dentro tem vários segmentos. Nesse mercado, as editoras podem colocar mais um tijolo, seguir as coisas como estão, ou tirar um tijolo. Quando chegam 3 séries ao mercado e todas elas num produto menos acessível, o mercado encolhe, e quando uma série vem mais acessível, alarga. Pode haver um segmento que se alimente e viva desse tipo de opções e produtos refinados (sim há), mas o mercado como um todo encolhe. Perante um mercado pequeno e limitado, escolher o produto mais limitador não tem o efeito de o democratizar, tem mais o de elitizar, de manter as coisas como estão ou agravar. Se preferimos por norma (editores e leitores) esse tipo de produto, estamos a por mais um tijolo sobre a pequenez e a limitação do mercado. Digo no plural porque a tendência de “refinamento” da normalidade dos livros não é só vossa, é mais ou menos geral, sobretudo no franco-belga. Não acho que são as pessoas dentro das editoras que querem um mercado fechado e de menos gente, mas temos de admitir que é esse o efeito que produzimos com um certo padrão de opções sempre mais refinadoras.
      Se as editoras fazem produtos que vão num sentido, como podem os leitores gerar um mercado que vá noutro? Honestamente, acho que precisamos de mais oferta de produtos mais acessíveis em vez do contrário, e isto não é contrariar a qualidade dos vossos livros ou o mérito do vosso trabalho. Apenas questiono o equilíbrio que uma certa tendência refinadora traz para o mercado e até que ponto faz aumentar o real valor das obras e das histórias.

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    5. Sobre a calendarização: têm de ser as séries a puxar pelos leitores, não o contrário. Os lançamentos de séries devem ser o mais regulares possíveis para fidelizar o fã e para não criar o caso do leitor acidental que só descobre a série com ela a meio. Sabemos que nem sempre é fácil ir atrás de números que foram publicados num passado em que não estivemos. Em segundo lugar, é mau calendarizar a tão longo prazo porque isso abre condições para que os livros saiam mais caros para vocês e para nós. Depois, não faz sentido termos o último volume lançado mas termos de esperar pelos anteriores. A melhor estratégia, para mim leitor, era ir recebendo os volumes 1 ao 5 passo a passo até ao dia em que já sabia que ia ter o volume final, para poder ler tudo. Entendo que uma editora agenda vários títulos em catálogo mas uma série precisa dum agendamento próprio. Senão dá a sensação que os lançamentos são mais para os antigos que já conhecem a série e não se importam de esperar, no fundo, uma “edição de colecionador”, esse termo que sinceramente me soa sempre algo elitizador.
      Se eu vejo que uma editora tem os direitos de determinado produto, eu como leitor “exijo” que o traduzam em livros, duma maneira mais ou menos regular e comprometida. Da mesma maneira que critiquei a vossa estratégia para Blacksad, critico o que faz a editora que podia/devia lançar DC em Portugal e não faz praticamente nada há anos e anos. É tudo uma questão de como nós, leitores, sentimos o que nos dão.
      Sobre a comunicação, também não estou a particularizar, é algo que vejo em geral nas editoras nacionais. Acho que os editores podiam ter uma relação mais próxima com o leitor e fazer mais pela divulgação/promoção do produto, hoje isso é relativamente fácil. Fazer um vídeo para cada livro, estar mais no Youtube, criar um hábito de presença digital. No Brasil, por exemplo, algumas editoras fazem isso e cria-se uma dinâmica forte. Aqui parece que os editores evitam “aparecer” e “falar”. A promoção dos livros funciona mais pela colocação do produto nos influenciadores (blogs, Youtube, Instagram, Facebook) que, depois, o promovem. Também gosto de seguir os influenciadores, não quero que os editores sejam “figuras” mas, pelo menos eu, acho que estamos melhor quando temos essa comunicação diretamente com quem trabalha pelos nossos livros.
      Para acabar, ainda sobre o refinamento. Ontem anunciou-se a nova coleção ASA/Público. Em três blogs sobre BD (Vinhetas2020, Notas Bedéfilas, As leituras do Pedro) há críticas (de autores ou leitores) a lamentar que os livros têm capa mole. Eu pergunto: em que é que a capa mole diminui a qualidade duma obra? Eu também gosto de capas duras, mas não gosto mais disso do que de ler bons livros. Se temos a lamentar a capa mole, acho que também temos de dizer que esta é uma série que vamos poder ter completa, em muito pouco tempo, a um ótimo preço. Não quero comparar editoras ou pessoas, temos é de ver com o mesmo rigor as coisas. Eu cá fico contente por ter uma série que vou poder ler, e a capa mole não me vai diminuir em nada a experiência. E isso é bom para o mercado. A reação dos textos a esta coleção diz muito do que é o mercado de BD em Portugal. Os leitores não nascem das árvores, nascem quando as pessoas acedem a livros. Se escolhemos os livros que são mais caros de aceder, menos gente acede a eles, e vice-versa.

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