O primeiro fim de semana do Amadora BD já lá vai e, como tal, é tempo de olharmos para esta edição, sublinhando quer as coisas boas, quer as coisas menos bem conseguidas.
E se há algo que, com justiça, tem de ser dito, é que desde que a nova/recente Organização tomou conta do evento, em 2021, cada edição tem superado, de forma geral, a edição anterior em termos qualitativos. A edição de 2022 já havia sido melhor do que a edição de 2021 e a edição deste ano também supera a edição do ano passado.
Terá o Amadora BD alcançado a perfeição? Não, ainda há várias coisas a melhorar, especialmente ao nível do lineup dos autores internacionais – mas já lá irei. Não obstante, é ponto assente que as coisas têm vindo a melhorar. E isso revela abertura da Organização em ouvir críticas construtivas e na vontade de fazer mais e melhor.
Foi na quinta-feira, dia 19 de Outubro, que o evento arrancou oficialmente, com a inauguração dos três espaços onde decorre o certame: o Ski Skate Parque, a Bedeteca da Amadora e a Galeria Municipal Artur Bual.
Mais abaixo, falo de forma genérica sobre os vários aspetos do evento.
À semelhança do que começou por ser feito em 2021, este é o terceiro ano em que o Amadora BD está patente no Ski Skate Parque.
O espaço continua a ter as suas qualidades e defeitos. Como qualidades, há que dizer que é mesmo muito fácil o acesso – por automóvel – para o evento. Está localizado logo à saída para a Damaia, no IC-19. Nota positiva para o facto de também ser relativamente fácil estacionar o carro.
Em termos de transportes públicos, este espaço está um pouco fora de mão, mas, por esse motivo, a Organização disponibiliza transfers para a estação de comboios e para os outros espaços do evento (Bedeteca da Amadora e a Galeria Municipal Artur Bual).
Em termos de localização, parece-me que é o melhor sítio possível.
Dentro do próprio Ski Skate Parque podemos encontrar 3 áreas distintas: a primeira, que é o pavilhão onde decorrem as 10 exposições; a segunda, uma tenda grande onde decorrem as apresentações, os autógrafos e onde está a área comercial; e a terceira, que é outra tenda dedicada ao universo dos videojogos.
Como é habitual, vê-se que há um esforço no sentido de providenciar exposições de alto nível. Em termos cénicos, a grande maioria das exposições é feita com muito aprumo e carinho, tentando recriar/relembrar a tónica visual de cada uma das obras em que se baseia.
Este ano pareceu-me que também houve um maior cuidado em expor originais, em relação a edições anteriores. O espaço é verdadeiramente aprazível e visualmente bem conseguido. Já visitei o Museu da BD de Bruxelas (Centre Belge de la Bande Dessinée) mais do que uma vez e digo-vos que, tirando aquela entrada e átrio maravilhosos do museu belga, em termos cénicos as exposições do Amadora BD não ficam nada atrás. Por ventura, até superam as do museu bruxelense.
Este ano gostei de praticamente todas as exposições, mas, realçando as minhas favoritas, terei que mencionar a da Turma da Mónica – onde até houve espaço para que se recriasse o quarto da famosa personagem brasileira; a do Garfield, que também está muito interessante em termos cénicos; a de Derradé – onde, na Derradêlândia, foi recriada a sua famosa “Loja” com originalidade e noção estética; a da Agatha Christie, muito bonita e com um belo aspeto em termos cénicos. Gostei também da exposição dedicada aos 75 anos do Tex que se encontra patente na Bedeteca da Amadora.
Mas, se todas estas exposições foram especiais, a que mais gostei foi aquela dedicada ao Grande Gatsby, de Jorge Coelho. Está uma sala verdadeiramente linda, com belos pormenores, que captam com beleza a tónica e temática da obra, como se fôssemos transportados para o ambiente imaginado por F. Scott Fitzgerald. E isto já para não falar dos magníficos originais a preto e branco expostos onde fica claro porque é que Jorge Coelho é um dos melhores ilustradores portugueses. Ou mesmo o melhor.
Embora também seja um ilustrador português fenomenal, foi com desilusão que saí da exposição dedicada ao As Muitas Mortes de Laila Starr, de Filipe Andrade. Toda a sala se apresenta numa inexplicável escuridão, sem focos de luz a iluminar os trabalhos expostos. Sei que essa opção foi tomada pelo próprio autor que, como é óbvio, saberá melhor do que ninguém o ambiente que quer passar para a sua obra. E aí acho isso legítimo, claro. Mas, lá está, para o visitante, para o adepto de banda desenhada, esta acaba por ser uma “não-exposição”. Já que havendo coisas expostas, não dá para observar/visualizar as mesmas. Não é que a sala estivesse feia ou bonita. Simplesmente não dava para ver o que estava exposto. Imaginem o que é irem a um concerto onde não conseguem ouvir música. Ou irem a um cinema onde o projetor está desligado e não conseguem ver o filme. Parece um non sense, não é? Tudo o que os visitantes querem de uma exposição de banda desenhada é ver banda desenhada. Na exposição do Filipe Andrade só dava para vislumbrar algo se ligássemos a lanterna do telefone como, aliás, vi muita gente a ser forçada a fazer. Um completo ato falhado. Um non sense. Especialmente tendo em conta a beleza e importância do trabalho do autor.
Sobre a Tenda Principal
É neste espaço que decorrem as sessões de autógrafos, as apresentações de livros e o mercado onde os mesmos podem ser adquiridos. E a Organização continua a melhorar face às edições anteriores.
Sou o primeiro a dizer que é necessário que o Município faça um esforço de investimento para assegurar, de uma vez por todas, um espaço mais amplo e feito de raiz, para que não se tenha que recorrer à utilização de tendas num evento que, bem sabemos, e ainda por cima, se realiza em pleno mês de Outubro, quando o frio, o vento e, principalmente, a chuva, se fazem sentir com bastante veemência.
Mesmo assim, e enquanto isso não é possível – por uma questão orçamental, imagino –, há que realçar as melhorias que vão sendo feitas. Esta tenda manteve, mais ou menos, a dimensão do ano passado, mas foram feitas algumas melhorias.
A primeira, e mais importante, foi que o chão da tenda foi elevado a alguns centímetros do solo, face ao que tinha sido feito no ano passado, o que permitiu isolar melhor a tenda de intempéries. Lembro-me que, na quinta-feira, já tinha chovido bastante e nenhum dos expositores me veio dizer que tinha livros molhados ou húmidos. O próprio topo da tenda também foi reforçado. E foi colocada uma pequena tenda à entrada da tenda grande, que permite que haja ali um certo “hall” de entrada, que possibilita que as pessoas possam sair do espaço principal sem terem que estar à chuva. Foi bem pensado.
Ainda dentro desta nova área, foi com agrado que vi a editora Gradiva a ter o seu próprio espaço, enquanto voltámos a ver as lojas da Dr. Kartoon, Arte de Autor, Polvo, Penguin Random House, Cult, Kingpin Books, ASA, Chili com Carne, Escorpião Azul, Devir, Ala dos Livros e A Seita a marcar presença. Em termos de espaço comercial, há banda desenhada para todos os gostos. E aplaudo o esforço de alguns editores em apresentarem preços simpáticos para os seus livros.
A tenda onde decorre o evento voltou a apresentar, em cada uma das suas extremidades, o auditório, de um lado, e o espaço para autógrafos, do outro. “Em equipa que ganha, não se mexe”, como diz o ditado futebolístico.
Assim, o auditório manteve-se praticamente igual ao do ano passado. Continua a ser uma boa sala que tem a capacidade de dar alguma intimidade, mas, ao mesmo tempo, por não estar isolada, também convida visitantes a entrar. Como já referi no ano passado, acho apenas que há uma coisa que deve ser feita por este auditório que, tenho a certeza, será muito conveniente para visitantes, autores e editores e, por conseguinte, para a própria Organização: a disponibilização da informação sobre o que está a acontecer em palco deve ser feita de outra forma. Aliás, ela não é feita de forma nenhuma, atualmente.
E, como tal, os visitantes não têm noção do que está a acontecer em palco. Isto faz com que, por vezes, o auditório fique vazio, o que é penoso para todos. Mas isso nem se deve ao facto do autor/obra que estão a ser apresentados terem maior ou menor relevância para o público. Tem a ver com a insuficiente informação sobre o que está a acontecer in loco. As pessoas simplesmente não sabem o que está a acontecer. E considero que há 3 coisas que podem ser feitas para corrigir esta problema. Duas delas até são muito fáceis de implementar:
1) Primeiro, pedir aos rapazes da mesa de som que se limitem a apresentar cada uma das apresentações, dois ou três minutos antes das mesmas começarem. Como já há som montado, esta medida custa zero cêntimos. Basta que o apresentador se faça ouvir.
2) A segunda coisa será imprimir um poster/k-line/cartaz com o programa de apresentações e colocá-lo à entrada do auditório ou da tenda. Para que não fiquemos com um único poster com a programação para os 4 dias e, consequentemente, letras muito pequeninas, talvez seja melhor fazer um poster para cada um dos 4 dias de programação (mas, mesmo assim, é melhor um poster que dê para os 4 dias e tenha letras pequenas, do que nada, como é o caso).
3) A terceira hipótese seria a melhor de todas e mais profissional. Acarretaria que se adquirisse/alugasse/arranjasse um écran LCD para o efeito. Seria perfeito. Através desse écran, poder-se-ia ter um programa mais dinâmico em que se comunicava, por exemplo, “Apresentação X a decorrer. A seguir, não perca a conversa com o autor Y”. Com imagens das obras/autores a acompanhar as informações. Isto sim, seria o que mais precisamos. Não tendo écran LCD, talvez se possa, pelo menos, utilizar o projetor já existente e, em vez de usar o background da imagem do festival, colocar a programação.
Acho também que fazia falta uma máquina de multibanco à entrada desta tenda e que não faz sentido ter uma receção à entrada deste mesmo espaço, se a mesma estiver vazia, como aconteceu. Mais vale não ter ali a dita receção e usar o espaço para colocar mais bancos para os visitantes ou outra coisa qualquer… como uma máquina multibanco.
Sobre a presença de autores internacionais
Quando menciono autores internacionais sem referir os portugueses, não é que uns sejam mais importantes do que outros. Mas sim porque, para os leitores portugueses, se torna mais fácil, como é óbvio, encontrar os autores nacionais nos vários eventos que vão decorrendo por cá, ao longo do ano. O Amadora BD conta com a presença de muitos autores nacionais, sim, mas são os autores internacionais que, muitas vezes, estão anos e anos sem voltar. Como tal, a presença desses nomes sonantes é uma das várias razões que levam os interessados em BD a deslocar-se ao Amadora BD.
E, este ano, tenho que reconhecer que havia espaço para um maior número de autores internacionais. Sim, é verdade que em 2023 o evento conta com as presenças da super-estrela Maurício de Sousa, dos incontornáveis Miguelanxo Prado e Émile Bravo, dos americanos Mick Gray e Bob McLeod, dos brasileiros Henrique Magalhães, Alcimar Frazão e Vitor Cafaggi, da espanhola Mayté Alvarado... mas, mesmo assim, e com todo o respeito por estes autores, acho que poderíamos ter mais alguns nomes fortes da BD estrangeira.
Assim sendo, talvez neste ponto, tenhamos todos que reconhecer que não foi o ano mais forte. Sinceramente, das três edições feitas por esta Organização, até acho que foi o ano menos forte. Dever-se-á, quanto a mim, fazer mais e melhor no próximo ano.
Sobre a cerimónia de abertura
Ao contrário das cerimónias do ano anterior, em que tínhamos uma atuação do Custom Circus que nada tinha a ver com banda desenhada, este ano tivemos uma apresentação em video mapping bem gira e bem produzida, que mostrava um pouco das personagens e temáticas das exposições.
Foi simples, mas giro e bem feito.
Sobre a cerimónia de entrega de prémios
Tal como foi feito no ano passado, este ano a cerimónia de entrega de prémios voltou a acontecer no auditório do Ski Skate Parque, no domingo, ao final da tarde. E é desta forma que deve ser.
O auditório encheu-se para que os visitantes pudessem assistir à entrega de prémios.
Houve ainda um belo momento musical de jazz – perdoem-me, mas acabei por não registar o nome do duo de jazz.
A apresentação ficou a cargo de Luísa Barbosa. Ao contrário do que aconteceu com o apresentador das duas últimas edições dos prémios, este ano a escolha acabou por ser acertada. Luísa é bonita, divertida e está à vontade com este tipo de coisas. Podia estar mais bem preparada num ou outro comentário, reconheço, mas, de forma geral, esteve muito bem e, portanto, também na escolha para a anfitriã destes prémios, o Amadora BD soube melhorar face às edições anteriores.
Sobre os vencedores dos Prémios de Banda Desenhada da Amadora (PBDA)
Como tal, não seria elegante da minha parte alongar-me muito sobre os procedimentos e vencedores dos mesmos. Direi apenas que são os prémios mais relevantes da banda desenhada nacional e que, também por isso, ainda há espaço para melhorias no futuro – especialmente na definição/alargamento de certas categorias a concurso, através de um mais bem redigido regulamento.
Todavia, não tenho dúvidas de que este ano as coisas foram feitas com mais rigor e tivemos nomeados bem ajustados a cada uma das categorias a concurso. Não digo isto de forma arrogante ou convencida. É, aliás, o mínimo que se pode fazer perante os mais importantes prémios da BD portuguesa. Para tal, foi bom ter ao meu lado, enquanto colegas de júri, Paulo Monteiro e João Ramalho Santos, a quem agradeço. E sim, é verdade que a categoria de “melhor edição” ainda é bastante dúbia, mas, com uma melhor definição futura da mesma no regulamento, espero que possamos evoluir para fazer ainda melhor nas próximas edições.
- a “Melhor Obra de Autor Português” foi para Paulo J. Mendes, com Elviro (editora Escorpião Azul);
- a “Melhor Obra Estrangeira de BD editada em Portugal” foi para Spirou – Diário de um Ingénuo, Émile Bravo (editora ASA);
- o prémio "Revelação" foi para 7 Senhoras, de Margarida Madeira (edição da autora, com o apoio da Fundação Lapa do Lobo);
- o “Melhor Fanzine ou Publicação Independente” foi para Zona 10 Anos, de Ana Pessoa, Fil, Bruno Pinto, Nietzsche Pop, Isabel Nobre, Guilherme Pires, Marco Fraga da Silva, Filipe Duarte, Beatriz Gusmão, Pedro Nascimento, Pedro Petrachi, Henrique Hollanda, Carlos Silva, António Fontinhas, Bruno Maio, Álvaro Holstein, Rui Alex, Miguel Santos, Sérgio Santos, Matthieu Pereira, Matheus Moura, Angelo Ron, Daniel Maia, Diogo Lourenço, Luís Guerreiro, Guido Barsi, Leandro Silva, Filipe Ferreira, Vinicius Posteraro, editado pela Associação Tentáculo
- e a “Melhor Edição Portuguesa de BD” foi para Menina Baudelaire, de Yslaire.
Tudo vencedores legítimos, quanto a mim. Parabéns a todos os envolvidos!
Sobre os Autógrafos
Este ano a Organização decidiu implementar um sistema de senhas, através da introdução de um moderno sistema com ecran lcd que, à semelhança de uma Loja do Cidadão, ia chamando as pessoas, consoante cada um dos autores chamava a próxima pessoa para receber um autógrafo. É isto, meus caros! Era isto que faltava! Portanto, levanto-me para aplaudir!
Começou de forma perfeita? Não. No sábado as senhas eram dadas em tranches. Às 15h formava-se a fila para os autógrafos das 16h e por aí diante. O que causou, inicialmente, filas escusadas. No entanto – e, mais uma vez, aplaudo o espírito aberto da Organização para melhorar - no dia seguinte o acesso às senhas foi aberto a todas as pessoas, possibilitando que cada visitante tirasse senha para qualquer autor. Naturalmente, haverá sempre um limite de senhas por autor porque, não esqueçamos, os autores não são escravos dos leitores e não podem, nem conseguem, estar ali o dia todo de plantão.
Portanto, parece-me ser justo dizer que a Organização encontrou, finalmente, a melhor forma de ter estas sessões de autógrafos: abrir de uma só vez o acesso às senhas e aplicar-se a ordem de chegada. Acho até que este acesso poderia ser feito logo de manhã, na abertura das portas do festival. Assim, as pessoas interessadas passavam os primeiros momentos do dia nesta fila, mas depois poderiam usufruir do evento.
Acho também que seria preferível que o écran com estas informações estivesse mais visível por quem anda pelas lojas, de forma a que não se gerasse aquele aglomerado de visitantes em frente ao écran. Ou então, que houvesse um segundo écran.
Seja como for, parabéns à Organização pela resolução de um problema.
Sobre o espaço de gaming
Neste espaço pode-se encontrar computadores, com jogos atuais e antigos para experimentar, e ainda há um palco para apresentações. Foi-me dito que também houve ali eventos para os cosplayers. Só lá dei uma ou duas voltas e não me detive muito tempo.
Como disse no ano passado, reitero novamente que não me chateia nada que haja ali este espaço – se o intuito for o de (tentar) trazer mais adeptos para a banda desenhada. Só gostaria que o espaço não crescesse em demasia sem que a área para a banda desenhada acompanhasse esse mesmo crescimento.
De resto, I’m ok with it.
O website do Amadora BD é bom porque “não inventa muito”. Disponibiliza as informações de forma simples e intuitiva, como deve ser. E espero que se mantenha desta forma. Está mais que bom.
Vê-se que há um esforço da organização em atualizar o site com o programa de autores, autógrafos e exposições o mais depressa possível, mas, ainda assim, creio que esse esforço deverá ser ainda maior nas próximas edições para que, atempadamente, os visitantes – especialmente os que vêm de longe – possam preparar a sua visita.
Houve também um problema com o site uns dias antes do evento começar, mas logo esse problema foi corrigido.
Se no ano passado não havia qualquer sinalética que ajudasse o visitante a circular pelo recinto do evento, este ano detetei que isso foi corrigido, com algumas setas a indicarem os diferentes espaços.
Vi também um mapa do recinto à entrada do pavilhão das exposições. Acho que esse mapa deve estar junto à bilheteira nos próximos eventos.
Mesmo assim, foi mais um detalhe onde a organização se esmerou para melhorar imperfeições das edições anteriores.
Achei bom que se utilizasse para a área de street food um espaço situado na confluência entre o pavilhão de exposições e as duas tendas.
Só havia um pequeno problema: apenas havia à exposição dos visitantes uma única roulotte(!). Muito miserável. Há ali espaço para se ter umas quatro ou cinco roulottes que podem oferecer mais variedade de comida e bebida. E quem tem a ganhar com isso é toda a gente: os visitantes (porque podem comer qualquer coisa enquanto estão no evento e assim permanecer mais tempo no mesmo) e a própria organização, que poderá amealhar mais dinheiro por alugar este espaço aos donos das roulottes.
Este espaço é bom e faz sentido, mas, para além de mais roulottes, falta-lhe ainda uma tenda aberta/ um telheiro que proteja os visitantes da chuva. Se for para estar a comer à chuva, mais vale não comer.
Por falar em telheiro, outra coisa que seria interessante, era um sistema de telheiros que acompanhasse o circuito entre pavilhões, de modo a evitar que as pessoas apanhassem chuva.
Quer aceitemos isso ou olhemos para o lado, a verdade é que muita gente não vai a este evento porque chove e não há resguardos para os visitantes.
Portanto, das três, uma: 1) ou se aumenta os resguardos para os visitantes – com soluções como as que sugiro –; 2) ou se adianta o evento para Setembro, para evitar tanta chuva; 3) ou se constrói uma estrutura a sério e de raiz para este certame. Em boa verdade, é esta última hipótese que é verdadeiramente necessária. Mas já lá irei.
Sobre o preço dos bilhetes
Parece-me que o preço das entradas subiu em demasia. Não é que 5€ seja uma fortuna, mas acho que o aumento em quase o dobro do preço da edição do ano passado foi um bocado brusco demais.
O veredicto
Fiquei muito satisfeito com o Amadora BD 2023! Havendo espaço para melhorar – há sempre! – a verdade é que se torna óbvio e louvável o esforço desta recente Organização, que tem procurado corrigir erros, de ano para ano. Não concordam com o que disse? Dou-vos argumentos concretos e objetivos, então:
- No ano passado o sistema dos autógrafos sem senhas foi um completo desastre. Este ano isso acabou por ser corrigido com a introdução de um sistema de senhas eletrónico funcional.
- No ano passado choveu dentro da tenda de banda desenhada. Este ano, embora – não esqueçamos - tenha havido menos chuva no primeiro fim de semana, a verdade é que é notório que houve um reforço no topo da tenda e na plataforma do chão da mesma, que foi colocada alguns centímetros acima do solo, para evitar problemas com a chuva.
- No ano passado o auditório tinha 20 cadeiras e percebeu-se que era pouco. Este ano o auditório tinha 40 cadeiras.
- No ano passado percebeu-se que faltavam sítios para as pessoas se sentarem na área comercial. Este ano, a tenda da banda desenhada tinha um comprido corredor de bancos onde as pessoas poderiam sentar-se e repousar um pouco.
- No ano passado percebeu-se que fazia falta uma sinalética que melhorasse a forma com as pessoas circulavam. Este ano houve sinalética.
- No ano passado percebeu-se que a cerimónia de abertura nada tinha a ver com banda desenhada e este ano tivemos uma apresentação que tinha tudo a ver com banda desenhada e em particular com as próprias exposições patentes no evento.
-/-
Portanto, e como não sou daquelas pessoas que põe defeitos em tudo, só pelo desporto de o fazer, considero estar muito satisfeito com esta edição do Amadora BD. Assinalo defeitos, mas também louvo virtudes e vontade de fazer melhor. E isso é apanágio desta Organização.
Enquanto oportunidades e pontos a melhorar no(s) próximo(s) ano(s), considero que há quatro coisas importantes. Uma delas, a quarta, é algo simplíssimo e meramente institucional. Não custa nada. A primeira é a mais importante, claro.
1) É imperativo que se avance com a construção (de raiz) de um pavilhão dedicado a este evento. Imagino que seja uma medida complexa de tomar, pois acarreta investimentos, mas é aquilo que o Amadora BD mais precisa para crescer condignamente e reclamar, com propriedade, os títulos de "Festival Internacional" e de "Maior Evento do Género em Portugal". Não tenho noção dos valores pagos pela Organização para montar estas duas enormes tendas, mas acredito que não sejam propriamente "tostões". Deverão ser avultados milhares de euros. E, como um dos editores com quem falei me dizia, o dinheiro que a Organização gastou com tendas nestes três anos da organização do evento, certamente daria para uma boa parte do investimento na construção de infraestruturas "a sério", que ficarão disponíveis para ser usadas durantes anos e anos. É bom que haja uma gestão racional dos dinheiros camarários. Como tal, será esse o desafio e espero que seja o primeiro ponto da agenda da reunião de diagnóstico que a Organização fará com a Câmara Municipal, depois de finda a edição de 2023.
2) Será bom tentar ter um maior conjunto de autores estrangeiros consagrados nas próximas edições. Acho que, este ano, foi esta a questão onde o Festival foi menos forte.
3) Acho que faz falta que o Amadora BD faça mais pelas crianças. É verdade que são organizados workshops destinados aos mais novos… mas é só isso que é feito. Acho muito pouco. Considero que a Organização também tem que perceber que importa utilizar o próprio evento para fazer chegar a banda desenhada aos mais novos.
Como? Bem, não pensei muito nisto mas, enquanto escrevo, lembrei-me que era simpático ter personagens famosas da banda desenhada a circularem pelo evento, ter um espaço playground para as crianças, ter um espaço de jogos, com um animador, pinturas faciais de personagens de BD… enfim… não é muito difícil deixar as crianças felizes e entretidas. E não esqueçamos que há muitos pais que até nem ligam a banda desenhada mas que, se tiverem um sítio apropriado para levar os filhos, poderão interessar-se mais pelo evento. E, na volta, acabam a comprar um livro para as crianças.
4) Finalmente, será bom que se deixe cair o nome “Ski Skate Parque” e se substitua o mesmo por um nome mais consentâneo com aquilo que ali se passa. Já falei disto há dois anos e, sinceramente, acho algo tão simples que até achei que em 2023 isso já seria feito.
Querem ideias para o nome? Sei lá… “Parque da Banda Desenhada”?, “Parque Amadora BD”?, “Cidade da Amadora BD”?, “Cidade da Banda Desenhada da Amadora”?, “BD Village”?, “Aldeia da BD”?, “BD Spot”?, “BD Land”?… ou outro melhor. Interessa é que se foque na BD e não tanto no ski ou no skate.
Foi este o meu olhar sobre o Amadora BD 2023. Relembro que o evento decorre até ao próximo domingo. Se ainda não foram, não percam a oportunidade de visitar este certame obrigatório para adeptos de banda desenhada. E não só.
Viva Hugo, tive a oportunidade de visitar, sem grandes expectativas, a Amadora BD. Como já aqui afirmei anteriormente o Amadora BD (tal como qualquer evento com alguma dimensão e organização) necessita urgentemente de um local próprio com condições. Apesar da meteorologia ter colaborado, as condições de admissão não - mais de 30 minutos para aceder ao local de aquisição de ingressos (e, sim, sei que poderia ter adquirido online - aspecto não divulgado...) é completamente inaceitável. Inaceitáveis são também os espaços de sanitários, poucos e mal assinalados, as zonas de alimentação e a (ainda) deficiente sinalética no local, escassa e de má visibilidade. Também escassas são as zonas de estacionamento no exterior. Os acessos interiores continuam a ser pequenos corredores que, em caso de emergência, duvido que facilitassem a movimentação. Não notei qualquer controlo na zona de entrada, apesar da enorme fila no exterior. Não existem quaisquer referências visuais para o evento - telas de grande dimensão, expositores, decoração no exterior, NADA… A “organização” insiste em usar aquelas “antenas” no exterior que nada indicam - será uma fábrica de painéis solares?… Enfim… O único espaço onde notei significativas melhorias foi o das exposições. A tenda da BD (sim, 1 tenda…) é pequena, exígua e mal dimensionada - colocar editores, lojas, espaço de assinaturas e zona de conferências/apresentações num só espaço é, no mínimo infeliz. Há que criar espaços para que zonas comerciais e zonas de divulgação não colidam. Porquê uma tenda para videojogos? Não poderíamos ter ali pequenos editores, edições de autor, editoras estrangeiras convidadas, parceiros, indústrias paralelas e outros?… Termino com uma nota de esperança no sentido que os responsáveis invertam o percurso de decadência que este evento tem tido nos últimos anos. A BD os amantes de BD em Portugal merecem mais e melhor. Abraço.
ResponderEliminarLevanta boas questões, António. Sim, também considero que é crucial que o Município invista num espaço próprio em condições. Como tinha passe de imprensa não dei conta desse problema na fila para a bilheteira. Mas é bem apontado. Discordo, porém, que seja um erro juntar no mesmo espaço as sessões de autógrados, as apresentações e as lojas. Acho que se gera ali um bom ambiente e se se optasse por ter espaços isolados para cada uma destas coisas, correríamos o risco de ter alguns espaços "às moscas". Mas sim, a tenda poderia ser maior.
EliminarViva Hugo, como afirmei, e não sei em que período do dia (ou dia) em que esteve presente, o espaço central, em horas de maior afluência, torna-se acanhado e de difícil circulação. Faria mais sentido colocarem mais espaços (tendas…) ligadas entre si por corredores amplos, que poderiam funcionar também como zonas de venda, por exemplo. Diferenciar espaços para lojas e editoras será também importante e, se desejam alargar o âmbito da feira, porque não considerar zonas para venda de colecionáveis, merchandising, estátuas, figuras, etc? Faria, concerteza, mais sentido que uma simples tenda de jogos. Abraço.
ResponderEliminarPois, a opção de tendas mais pequenas ligadas entre si talvez funcionasse bem. Ou então, uma tenda maior. Ou preferencialmente ainda... um pavilhão de raiz! Mas isso é algo que já sabemos.
EliminarConcordo com a presença menos forte de autores internacionais, bem abaixo do nivel do que foi por exemplo a edição de 2021, em que estiveram presentes vários autores com obras excelentes lançadas por cá nesse mesmo ano.
ResponderEliminarÉ isso mesmo. Como diz, e bem, a presença de autores internacionais foi menos forte este ano.
Eliminar