A editora portuguesa prepara-se para lançar, a partir do próximo dia 14 de Novembro, a banda desenhada Não me Esqueças, primeira obra da autora belga Alix Garin.
A história aborda o tema do alzheimer e como esta doença que afeta sobretudo os mais velhos condiciona o final das suas vidas, bem como a de todos os familiares envolvidos no processo. Não é tema novo em banda desenhada, mas, e também por isso, aguçou a minha curiosidade. O livro encontra-se, para já, em pré-venda no site da editora.
Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.
Não Me Esqueças, de Alix Garin
Não Me Esqueças, de Alix Garin
«Marie-Louise, dá um beijo ao mar, por mim. » ALIX GARIN
Foi a última coisa que a minha mãe me disse.
− Sabes que mais, avó? E se lá fôssemos mesmo?
A avó de Clémence sofre da doença de Alzheimer.
Perante o seu desespero, Clémence toma a decisão de a tirar do lar e de a levar numa viagem em busca da hipotética casa da sua infância. Uma fuga, uma busca, uma insanidade, uma oportunidade para se reencontrar.
Ficha técnica
Não Me Esqueças
Autora: Alix Garin
Editora: ASA
Páginas: 224
Encadernação: Capa mole
Formato: 268 x 203 mm
PVP: 24,90€
“Não me esqueças”
ResponderEliminarUma pérola de narrativa e precisão gráfica.
“Ne m'oublie pas”
Este álbum conta-nos uma história com muita ternura a dificuldade da doença que todos conhecemos, a doença de Alzheimer
As dificuldades, mas também o sofrimento dos pacientes que ainda têm momentos de lucidez.
Na verdade, a beleza, o vínculo e o amor que permanece apesar de tudo, estão bem presentes, nesta maravilhosa e comovente história sobre a filiação das memórias, mesmo quando a memória treme.
Clémence não suporta ver a avó definhando no Lar de terceira idade, tanto trancada nas suas memórias como no seu quarto.
Marie-Louise (avó) quer a todo o custo voltar para a casa dos pais, as suas memórias só voltam aos pedaços e ela fica presa à sua primeira infância, convencida de que os pais estão à espera dela em casa.
Marie-Louise perdeu o contato com a realidade, devastada pelo Alzheimer. A neta Clemence quer fazer com que os olhos da avó se abram novamente para os espaços do tempo que mergulharam no vazio opressor onde agora a sua consciência a deixa longe do presente.
Então Clémence, por capricho decide “raptar” a avó para a casa da sua infância, numa longa viagem de carro, começa a recuar no tempo, ao longo das gerações durante as quais a avó e a neta vão ainda “descobrindo emoções, recordações e….o vazio”.
O tempo com certeza ficará ainda mais velho, afastado de um novo dia, mas a chuva de momentos de felicidade certamente não irá arrefecer a intensidade do calor refugiando-se nos braços apertados da neta, durante esta viagem.
Muitas vezes os quadradinhos desta BD, são uma espécie de soco exatamente no coração.
A autora, Alix Garin é ousada.
Oferece-nos cenas que nunca foram vistas, ou melhor, que nunca gostaríamos de ver. Ela torna os momentos intensos.
ResponderEliminarA cena do banho, onde a heroína cuida da avó, é um daqueles momentos simbólicos, a nudez do corpo velho e enrugado, que não gostamos de ver…
Ela faz disso um momento cómico.
Olho no olho:
Há alegria, tristeza, nostalgia e humor. E essas emoções são sublinhadas ao longo da história.
A avó sofre de Alzheimer, e vê a sua vida esvaziando-se aos poucos.
Entendo que as pessoas um dia tenham medo de “conviver” com essa realidade.
Mas na verdade independentemente de tudo o resto, o nosso dever é o de retribuir o que nós recebemos. Cuidar dos nossos pais com ternura e bondade, como os nossos pais e avós já fizeram por nós, durante toda a vida
A velhice, portanto, parece um buraco negro onde todos sabemos que um dia provavelmente chegaremos...
“Eu nunca disse à minha mãe o que tinha de dizer, enquanto eu tive oportunidade de o fazer, e foram muitas as vezes que isso aconteceu…o tarde demais… vem mais rápido do que tu pensas. Promete-me que nunca vais esquecer isso Clemence. , p. 175
Para não ceder ao desespero, é necessária uma bolha de esperança, e a autora oferece-nos sem falsa modéstia, sem esconder nada, com franqueza e delicadeza, um pouco de luz para os mais velhos.
Dá a impressão que a avó está numa outra dimensão, o que infelizmente é o caso das pessoas com Alzheimer ou qualquer outra doença relacionada com demência, caracterizada pelo declínio cognitivo.
Aliás, este olhar que pode parecer uma ausência, um grande vazio é um convite a ocupar o lugar desta avó. É um olhar vazio, mas que podemos preencher com o que gostamos.
Na realidade infelizmente em muitos lares, os idosos transformam-se em caixas multibanco, em que os familiares muito dificilmente estão em condições de aceitar a velhice dos seus pais/avós, e o contacto que têm com eles é no momento do pagamento das mensalidades.
Há pouco diálogo nesta história, mas acredite, os desenhos de Alix Garin são suficientes por si só, para nos fazer mergulhar num assunto tão complexo.
O estilo dos desenhos só tem o essencial.
Do lado das cores, este álbum é como um daqueles doces de infância, com um sabor “agridoce” mas com cores suaves, em linha com a história e com os seus personagens.
Uma história intrigante, mas que ilustra tanto os sentimentos das pessoas com a doença de Alzheimer e também das pessoas ao seu redor.
Este álbum é de leitura obrigatória para quem ainda tem sentimentos.
O próprio confinamento pode ter o condão de nos fazer PENSAR………….
Mas que fantásticos comentários, caro Pedro Rita! Aguçaram - e em muito! - a minha vontade de ler este livro! Muito obrigado pela partilha! Um abraço!
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