sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Análise: Undertaker #5 e #6 - O Índio Branco | Salvage


Undertaker #5 e #6 - O Índio Branco | Salvage, de Xavier Dorison e Ralph Meyer

Os fãs do western – e, pasmem-se, até mesmo aqueles que não têm o hábito de ler westerns em banda desenhada – parecem concordar numa coisa: Undertaker, dos autores Xavier Dorison e Ralph Meyer, é uma das melhores séries de banda desenhada localizada no faroeste de sempre. Sim, não falo apenas da atualidade, falo de todo o tempo em que se lançaram westerns em banda desenhada. Que, como sabemos, até é um dos géneros mais antigos de BD.

Com um desenho extremamente belo – "de autor", mas, ao mesmo tempo, "comercial" – e um argumento impactante com belos momentos de ação e personagens memoráveis, não temos que fazer um grande esforço para admitir que Undertaker consegue ombrear com outras séries mais clássicas e obrigatórias como Blueberry, Comanche e a não tão clássica, embora igualmente excelente, Bouncer.

Portanto, partindo deste pressuposto para a leitura destes quinto e sexto tomos (que funcionam como díptico que encerra em si mesmo uma história, à semelhança do que tem vindo a ser feito na série), devo dizer que, à medida que ia avançando na leitura do volume nº 5, intitulado O Índio Branco, comecei a achar que a série poderia estar a claudicar em termos de qualidade. Felizmente, estava errado e as minhas dúvidas foram desfeitas com a leitura do volume mais recentemente publicado pela Ala dos Livros, Salvage.

Seja como for, há que dizer que, contrariamente aos quatro álbuns anteriores, que trazem uma história mais linear e simples – que foram, em parte, e quanto a mim, causa para o sucesso da série - as coisas arrancam de forma diferente em Undertaker #5. Isso poderá ter acontecido devido a ser a vontade de Xavier Dorison em fazer amadurecer a série, admito, mas é indiscutível que a série pareceu – e felizmente foi só uma ameaça – ter mudado bastante e perder algum do seu appeal inicial.

A história de O Índio Branco apresenta-se-nos com uma trama mais rebuscada e difusa, com Dorison, por ventura, a ver-se na necessidade de colocar muito texto e de apresentar as personagens e os seus intuitos iniciais de forma menos escorreita. Não é que haja algo de profundamente errado com este quinto volume, nem nada que se pareça, mas não é tão in your face em termos de nos prender logo à história.

Tudo começa quando Josephine Barclay, a mulher mais rica de Tucson, está decidida a recuperar o cadáver de Caleb Barclay, o seu filho. Este foi raptado(?) pelos índios Apaches há já alguns anos e foi recentemente assassinado. Acabou enterrado num cemitério Apache, bem no centro das terras interditas do Arizona.

Josephine está disposta a recuperar, pelo menos, o cadáver do seu filho e, para tal missão, pede ao seu noivo, com quem combinou casar, Sid Beauchamp, que lhe traga os restos mortais do seu filho. Só desta forma Beauchamp poderá casar com Josephine e com isso tomar posse de toda a fortuna de Josephine. Então, este decide recrutar o seu velho amigo da juventude, Jonas Crow, o nosso protagonista para o ajudar na sua empreitada. A sua missão será a de profanar um túmulo em pleno território índio e trazer o cadáver de Caleb para o “mundo civilizado”.

Eventualmente, por uma reviravolta na história, Jonas acaba do lado dos índios, e passa a proteger Salvage, Kenitei e Chato, o filho de Salvage e de Caleb.

Se é verdade que achei o quinto álbum uns furos abaixo dos demais álbuns da série, deixem-me assegurar-vos que o sexto volume resolve todas as pontas soltas que o álbum anterior, mais confuso e menos marcante, haviam deixado na minha leitura. Se calhar, se os autores tivessem lançado estes dois livros como um só livro, eu não teria sentido queixas porque, verdade seja dita, em Salvage, o sexto volume da série, tudo volta a ser como os autores da série nos habituaram: a ação volta de forma mais demarcada, à medida que a própria história também se torna mais fluída e simples. Até mesmo os próprios desenhos de Meyer – que são sempre geniais, diga-se – voltam a parecer mais memoráveis em Salvage.

Falando sobre as ilustrações de Ralph Meyer, já aqui escrevi bastante sobre o tema, mas tenho que reiterar que, de facto, o autor já é um dos grandes Mestres da banda desenhada franco-belga. Os desenhos que o autor nos oferece em Undertaker têm tudo: são bem executados, têm forte personalidade, têm bela noção de movimento, têm incríveis expressões faciais e apresentam uma magistral utilização da luz/sombra. O trabalho a nível de ilustração é também excelente na planificação cinematográfica, excelente a nível de cenários, excelente a nível de cenas de ação… enfim, excelente em tudo! Até as próprias cores, asseguradas por Caroline Delabie, a esposa de Ralph Meyer, são de uma beleza estonteante!

Tenho que fazer uma nota para a capa linda, sublime e perfeita do sexto volume. Lembrando alguns dos melhores cartazes de cinema, temos Jonas Crow em plena ação, numa cena de perseguição em cima de um comboio em movimento. As cores da capa são uma obra prima, também. Eis uma capa que não me importava de ter exposta e emoldurada na minha casa e uma séria candidata aos VINHETAS D’OURO para Melhor Capa do ano, acredito.

Em termos de edição, a Ala dos Livros continua a fazer aquilo que já nos apresentou nos tomos anteriores: capa dura brilhante, bom papel brilhante no miolo do livro, boa encadernação e boa impressão. Nota positiva para o facto de o volume referente a O Índio Branco apresentar seis páginas de extras, onde podemos visualizar esboços e storyboards a lápis.

Em suma, embora o 5º álbum de Undertaker seja o primeiro a cambalear (um pouco), o sexto tomo resolve as pontas soltas do volume anterior e catapulta a série, novamente, para o topo. Isto é muito simples: se se querem estrear na leitura de um western, leiam Undertaker. Se têm saudades de um bom western, leiam Undertaker. Até mesmo se não gostam de western, leiam Undertaker. Há probabilidades de mudarem de opinião! E, já agora, não avancem para a leitura do 5º volume sem terem o 6º à mão.


NOTA FINAL (1/10):
9.3



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Fichas técnicas
Undertaker #5 - O Índio Branco
Autores: Xavier Dorison e Ralph Meyer
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Abril de 2023


Undertaker #6 - Salvage
Autores: Xavier Dorison e Ralph Meyer
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 235 x 310 mm
Lançamento: Outubro de 2023

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