sexta-feira, 24 de novembro de 2023

À Conversa Com: ASA - Novidades para 2024!


Hoje ainda vos trago as novidades referentes ao próximo ano editorial da ASA

Estive à conversa com o simpático Luís Saraiva, o publisher dedicado à banda desenhada da editora portuguesa, que abordou vários temas interessantes do mercado de banda desenhada em Portugal, bem como as novas tendências que se verificam no género.

É verdade que na hora de levantar o véu para nos dar a conhecer quais as novas obras que a ASA prepara para 2024, Luís Saraiva optou por ser mais vago, embora tenha deixado algumas luzes no ar, às quais, no final do artigo, tomei a liberdade de acrescentar as minhas especulações. São isso mesmo: especulações. Portanto, não as tomem como confirmações de lançamentos. Embora, também é possível que estas especulações se venham a confirmar como lançamentos durante o próximo ano.

Sem mais demoras, convido-vos a mergulhar na entrevista que se segue:





ENTREVISTA


1. Nos últimos anos, a ASA parecia de "costas voltadas" para a banda desenhada. Bem, na verdade, a editora nunca deixou de lançar banda desenhada, mas fazia-o apenas com as chamadas séries clássicas, há muito sedimentadas no nosso mercado, como
Astérix, Lucky Luke, Blake e Mortimer, Tintin... e ficava-se por aí, não apostando em novos títulos. Contudo - e felizmente - isso parece ter sido alterado no último par de anos, com uma clara (re)aproximação da ASA à banda desenhada e numa aposta crescente em obras que vão para lá das chamadas "clássicas". Que principais motivos justificam esta mudança editorial?

O crescimento positivo que o segmento da banda desenhada tem tido nos últimos anos, tanto na área da BD Franco-belga (dita clássica), como nas áreas emergentes da mangá e das graphic novels, levou a uma redefinição da estratégia da LeYa. 

A ASA BD passou novamente a ter um Editor/Publisher 100% dedicado a este género literário e, com isso, um reforço claro da presença neste segmento.


2. Os livros estão mais caros. É um facto. Pelo aumento do preço da matéria-prima – em especial, do papel – mas também por outros fatores. Sente que isso, bem como a conjectura económica que vivemos, está a afetar as vendas da editora ou as pessoas continuam a fazer um esforço para comprar os livros?

Penso que a Pandemia não trouxe apenas coisas más. 

Em sentido positivo, levou ao desenvolvimento substancial dos hábitos de leitura, em especial nos mais jovens (15-34 anos). 

Esse hábito crescente, juntamente com uma tendência mais minimalista de olhar a vida e o consumo de forma mais racional “Comprar menos, com maior qualidade”, levou a que o livro tivesse tido um crescimento acentuado nestes últimos anos. O consumidor olha para o produto “Livro” como algo racional, ajustado e rentável (ocupação do tempo, acesso a cultura, entretenimento, etc), estando por isso mais recetivo de o adquirir por maior valor.


3. Poderá haver um retrocesso no preço dos livros, e voltarmos aos preços de 2020/2021 ou não acredita que isso venha a acontecer?

Penso que não. Infelizmente, o custo das matérias-primas e transportes não para de subir e agora, com as guerras em curso na Europa e no Médio oriente, esse fator tem-se acentuado. 

Para existir um contrapeso, talvez tivéssemos de ter uma dimensão 20 vezes maior do nosso mercado, de maneira que o fator “escala” permitisse esse equilíbrio de preços e valores.


4. O ano de 2023 ainda não terminou e estou ciente que os resultados das vendas dos livros acabam por só ser percebidos vários meses depois. De qualquer maneira, e tendo em conta a sua própria sensibilidade do mercado, que livro de BD considera ter sido o vosso campeão de vendas de 2023?

Sem ter valores e fazendo um pouco de futurologia, não é difícil de prever que a novidade Astérix - O Lírio Branco será, provavelmente, o campeão de vendas.

Porém, penso que o ano de 2023 vai trazer-nos boas supressas, logo à partida a nova saga do Spirou elaborada pelo Émile Bravo ou mesmo o clássico dos clássicos Michel Vaillant – Histórias Curtas têm tido ótimas vendas. E acredito que o mesmo suceda com a novidade do Blake and Mortimer – Arte da Guerra ou com o livro comemorativo de Tintin - As Joias da Castafiore.

Agora, se a minha vontade tivesse um papel determinante, gostaria muito que as duas graphic novels publicadas este mês pela ASA tivessem um sucesso de vendas notável e um merecido reconhecimento dos leitores .

Estou a falar do Não me Esqueças, de Alix Garin, uma graphic novel absolutamente notável, com uma história forte, dramática, mas ao mesmo tempo divertida e realista sobre uma doença em crescimento nos dias de hoje – Doença de Alzheimer e a relação netos/avós.

E, por fim, o livro Electric State, de Simon Stalenhag, um livro mais distópico sobre IA, drones, guerras e um mundo que, apesar de ser supostamente distante, pode de forma inquietante ser o dia do nosso “amanhã”.


5. E em que livro é que as vendas ficaram aquém do esperado?

Para minha profunda tristeza, o Árabe do Futuro #5, de Riad Sattouf. 

Uma obra sublime e essencial, sobretudo nos dias que estamos a viver com a Guerra do Médio oriente, pois ajuda a compreender um pouco das diferenças entre dois mundos (Mundo Ocidental e o Mundo Árabe), e de um autor que foi este ano aclamado pela sua obra no maior certame europeu de Banda Desenhada – Angôuleme. 

Por cá, ainda não teve o reconhecimento merecido.


6. A vossa recente aposta no lançamento dos álbuns Spirou de Autor de Émile Bravo (Diário de Um Ingénuo e
A Esperança Nunca Morre) foi bastante aclamada pela crítica, com o livro Spirou - Diário de Um Ingénuo a conquistar o prémio de Melhor Álbum Estrangeiro no Amadora BD 2023. Assim sendo, é expectável que, em 2024, a ASA continue a lançar mais Spirou de Autor, além do quarto volume de A Esperança Nunca Morre?

Esta é uma obra por que tenho um especial carinho e que ficou reforçado pela vinda do autor ao Festival Amadora BD de 2023. Uma prova que basta um “olhar” e uma forma diferente de contar a história, que podemos tornar uma personagem já bastante antiga, numa figura completamente atual e construtiva. Este Spirou de Émile Bravo com toda a sua ingenuidade e humanismo, em tempos de guerra, traz-nos uma mensagem muito forte e necessária nos dias que correm.

Sem dúvida que, em 2024, iremos fechar este ciclo do Spirou por Émile Bravo, estando atentos a outras interpretações desta e de outras personagens emblemáticas da BD Franco- Belga que possam aparecer.


7. De que forma é que este prémio alcançado no Amadora BD foi recebido junto da equipa da ASA/Leya? Considera que estes prémios são uma alavanca para a promoção e aumento de vendas de um livro?

Penso que ajudam especialmente na divulgação do livro e do autor. Os prémios funcionam sempre, pois de alguma forma reconhecem o trabalho e permitem destacar o livro entre tantos outros.


8. A editora tem apostado igualmente em obras de género mangá (mesmo que de origem francesa). Essa aposta é para manter, podendo os leitores que são adeptos do género esperar pelo lançamento de mais obras deste tipo em 2024?

Claramente, essa é uma das áreas em que estamos também muito focados. 

Penso que a mangá, manfra ou os ditos webtoons fazem hoje parte do nosso quotidiano literário e sendo o público jovem aquele que tem registado maiores crescimentos de consumo nos últimos anos, acho que não nos podemos afastar. 

Este ano, lançámos mais algumas coleções deste género – Horion, Arena, Clube das Princesas Amaldiçoadas, e no próximo ano iremos publicar muitas outras novidades, começando já em Janeiro com a 1ªcoleção de manfra vendida no Japão – Radiant, de Tony Valente.


Radiant, de Tony Valente
(Conta com 18 volumes, até agora, na edição original)




9. A aposta de lançamentos da ASA em conjunto com o jornal Público também nos trouxe duas séries em 2023: Black Crow e a fantástica
O Assassino que foi lançada no passado dia 22 de Novembro. Acreditando que esta parceria será para manter em 2024, que novas séries poderão os leitores portugueses esperar da mesma?

A parceria com o jornal Público é um dos pilares estruturantes da ASA BD e irá continuar a ser. 

Acreditamos que o leitor do Público é o nosso “leitor” e que neste canal podemos de uma assentada publicar coleções inteiras, clássicas e contemporâneas, mantendo bem ativo este segmento da BD.


10. Até ao final do ano 2023, ainda serão lançadas algumas novas obras de banda desenhada por parte da ASA? Quais?

Este mês de Novembro publicámos o Blake and Mortimer – Arte da Guerra, uma nova [re]edição do B&M – Conspiração Voronov e uma edição comemorativa dos 60 anos das Tintin - As Joias da Castafiore

Blake e Mortimer - A Arte da Guerra, de Floc'h, Fromental e Bocquet


Tintin - As Joias de Castafiore, de Hergé 
(Versão Comemorativa da revista Tintin)



E, como já referido, a publicação de duas graphic novels – Não me Esqueças, de Alix Garin e Eletric State, de Simon Stalenhag.

Não me Esqueças, de Alix Garin


Eletric State, de Simon Stalenhag


11. E que novas obras poderemos esperar para 2024?

Falaremos brevemente sobre isso. Sei da importância de anteciparmos os livros que irão para o mercado, mas gosto sempre de manter alguma surpresa. 

Deixo apenas três notas:

1) Iremos fechar alguns ciclos que estão em curso.
2) Iremos publicar alguns regressos de personagens e coleções históricas que têm tido novidades recentes.
3) Iremos certamente apostar forte com muitas novidades nos segmentos emergentes da Manga, webtoons e das graphic novels.

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NOTA POSTERIOR DE HUGO PINTO:

Ora, como o editor Luís Saraiva só deu umas luzes na resposta à minha última questão, tomei a liberdade de pegar nas suas "dicas" e fazer uma antevisão, ou projeção, das obras que, presumivelmente, poderemos esperar em 2024. Com isto, o meu intuito é fazer com que este artigo seja mais relevante para os leitores do Vinheta 2020.

Ora, em relação àquilo que foi referido no ponto 1), a propósito do fecho de "alguns ciclos que estão em curso", as projeções são mais óbvias e fáceis. São elas: 

Novo Lucky Luke, de Achdé e Jul

É óbvio e seguro que a ASA lançará em 2024 o novo Lucky Luke que, tanto quanto sei, ainda não tem capa nem título.



Spirou - A Esperança Nunca Morre... - Quarta Parte, de Émile Bravo

Na verdade, este quarto e último volume da mini-série de Bravo, Spirou - A Esperança Nunca Morre..., até foi confirmado pelo editor da ASA na entrevista acima. Portanto, não é especulação, é ponto assente.



O Árabe do Futuro #6, de Riad Sattouf

O editor até referiu na entrevista que a prestação do quinto volume de O Árabe do Futuro, em termos de vendas, não correu tão bem como era esperado. No entanto, e tendo em conta que o sexto volume da série também é o último da mesma, é expectável e natural que o mesmo venha a ser editado em 2024. 


Horion #5, de Aienkei e Enaibi

Horion é uma série recentemente lançada pela editora e, portanto, é expectável que venha a ter o seu próximo número, neste caso o quinto, editado pela ASA em 2024.


Arena #03, de Le Chef Otaku e Clarity

Arena é uma série recentemente lançada pela editora e, portanto, é expectável que venha a ter o seu próximo número, neste caso o terceiro, editado pela ASA em 2024.


Clube das Princesas Amaldiçoadas, de LambCat


Clube das Princesas Amaldiçoadas é uma série recentemente lançada pela editora e, portanto, é expectável que venha a ter o seu próximo número, neste caso o segundo, editado pela ASA em 2024.

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De resto, Luís Saraiva também referiu, como ponto 2), que a ASA irá "publicar alguns regressos de personagens e coleções históricas que têm tido novidades recentes". Ora, neste ponto, as coisas não ficam tão claras como no ponto anterior e vejo-me forçado a dar uma de Sherlock Holmes para perceber de que obras estará Luís Saraiva a falar.

Mesmo assim, usando um pouco de bom-senso, é possível chegarmos a algumas projeções lógicas:


Gaston - O Regresso de Lagaffe, de Delaf

Este tem sido um dos livros mais badalados em França por continuar as aventuras de Gaston Lagaffe, a personagem originalmente criada por André Franquin, e por toda a polémica que isso gerou entre a filha do autor e a editora Dupuis. Ora, tendo em conta que a ASA foi a editora que publicou a série de Gaston na íntegra, penso que este novo livro será uma publicação que fará todo o sentido e que é expectável que venha a acontecer.


As Águias de Roma - Livro VI, de Enrico Marini

Esta é uma série que recebeu recentemente o sexto volume na sua edição original. Em Portugal, os primeiros cinco volumes foram publicados pela editora ASA, portanto, é expectável que este sexto volume seja lançado por cá, em 2024.


Murena #12 - Morte de um Sábio, de Dufaux, Theo e Delaby

O 12º volume da série Murena está prestes a sair no mercado franco-belga. Tendo em conta que a ASA tem vindo a acompanhar a publicação da série, é expectável que também publique este 12º volume no próximo ano.

E, por falar em Murena, tentando responder à ausência no mercado dos primeiros quatro volumes da série, que se encontram totalmente esgotados, a ASA até reeditou recentemente o primeiro tomo da série, intitulado A Púrpura e o Ouro. No entanto, a publicação dos seguintes três volumes tem estado em espera até agora. Não sendo certo que a editora publique estes três volumes em 2024, a mesma já assegurou que vai publicá-los e, por esse motivo, (também) é expectável - e desejável - que o faça durante o próximo ano.

Murena #2, de Dufaux e Delaby


Murena #3, de Dufaux e Delaby


Murena #4, de Dufaux e Delaby



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Por fim, e terminando a entrevista, o editor da ASA concluiu a nossa conversa com o ponto 3), em que referiu que a ASA irá "certamente apostar forte com muitas novidades nos segmentos emergentes da Manga, webtoons e das graphic novels."

Ora, nestes três campos distintos, do mangá, dos webtoons e das graphic novels, a variedade e opções são tantas que não consigo arriscar os títulos que a editora poderá vir a lançar. 

É ficar atento às novidades que, à medida que forem sendo veiculadas, serão conhecidas aqui no Vinheta 2020.

18 comentários:

  1. Relativamente ao Spirou de autor, já existem 15 livros ainda não lançados em Portugal, para além de mais 5 fora-de-série, e a resposta do publisher da ASA foi...nada! Um perfeito vazio! Vamos estar atentos...
    Mas será que dos 15 + 5 não há nada que mereça ser lançado? Nada que preste? Fica o meu desabafo...

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    1. Quem dera que publicassem mais !

      Como o Spirou do Emílio Bravo está a vender bem espero que o Spirou volte em força ao nosso mercado

      Gostei das novidades Electric State, não me esqueças, jóias de castafiore

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    2. Pois, de facto, há muita coisa boa nos Spirou de autor. Gostaria especialmente que a ASA apostasse no Spirou do Zidrou e do Frank Pé.

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  2. Porque não editam as aventuras de Lefranc. Estou certo que teria grande aceitação.

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    1. Lefranc ainda é uma série grande em número de volumes e talvez (digo eu) isso possa ser dissuasor para a editora. Mas tem qualidade, claro.

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  3. Bob Morane porque não? Ou Thunga

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  4. Das palavras do "editor" pouco transparece a não ser a continuação da linha extremamente conservadora e enviesada a que nos habituou nos últimos anos. Portanto nada de entusiasmante,. Relativamente a Riad Satouf e ao excelente "Árabe do Futuro" a Asa/Teorema apenas se podem queixar deles próprios pela desastrada "curadoria" que têm feito da série. Esperemos que outros, mais bem preparados, proponham outras obras do autor no mercado nacional.

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  5. O Asterix cobre todas as edições "falhadas" da editora

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  6. Comparando a Asa herdeira do catálogo da Meribérica e a Asa actual, percebe-se que algo correu muito mal de vários anos para cá. Há um novo editor, mas ainda não se vê resultados. Conservadorismo é reinante e as novas apostas em tìtulos é pouco entusiasmante. Aliás, á imagem do que nos querem fazer passar, de um público conservador no nosso mercado.

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    1. Concordo e afirmei o mesmo acima. A Asa e a Gradiva continuam a viver nos "lendários" anos Revista Tintim, e raramente saem daí. Para esta gente, depois disso, pouco ou nada se passou.

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    1. Em termos de regresso bem que podiam pegar no Spirou e Fantásio novamente em albuns duplos e continuar com os títulos do personagem por Fournier, por Nic & Cauvin e os de Tome & Janry

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    2. Seria uma aposta interessante, quanto a mim! :)

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  8. Esperemos que seja desta que dão continuidade ao Largo Winch

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    1. Olhe, nem me lembrei dessa série. Mas sim, fazia sentido que a continuassem. Obrigado pela lembrança!

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