Com o fim do ano a aproximar-se, é tempo de olharmos para 2024 e ficarmos a conhecer quais são as propostas das várias editoras portuguesas de banda desenhada para o próximo ano editorial.
Como tal, o Vinheta 2020 já falou com muitas das editoras portuguesas e, por isso, vai publicar nos próximos dias um artigo para cada uma delas, em que se procurará falar das novas apostas para 2024, ao mesmo tempo em que se analisa um pouco o que tem estado a ser o ano 2023.
Assim sendo, arranca-se hoje com a entrevista a Silvia Reig, a responsável pela Levoir, uma das mais importantes editoras de banda desenhada em Portugal.
Nesta conversa, a editora foi muito generosa e direta na forma como apresentou as novidades da Levoir para o próximo ano, que promete ser muito rico em termos quantitativos e qualitativos. E preparem-se, pois são aqui apresentadas muitas, muitas novidades que vos poderão surpreender!
Não deixem, portanto, de ler a entrevista, mais abaixo!
Entrevista
1. Depois de dois anos a meio gás, a atividade da Levoir parece ter recuperado em 2023 o fulgor de outros tempos. Foi completada a segunda parte da coleção dos Clássicos da Literatura em BD; a coleção das Novelas Gráficas com o jornal Público regressou; e ainda foram anunciados alguns livros que serão lançados de forma isolada. Para 2024, podemos esperar um volume de lançamentos igual a 2023 ou ainda serão mais – em número – os lançamentos de BD por parte da editora?
Eu não diria que 2021 e 2022 fossem anos a meio gás.
Os 30 títulos da coleção clássicos da literatura mundial em BD, da Levoir e da RTP, foi a coleção de BD com mais sucesso em vendas no mercado português em 2020, 2021 e 2022, tendo estado várias semanas no Top da FNAC global.
Tivemos também dois lançamentos importantes de Paco Roca: o clássico, Rugas e a novidade, Regresso ao Edén e outros livros relevantes para os leitores.
É importante não medirmos o caminho de uma Editora unicamente pela quantidade, mas sim pela qualidade e relevância para os leitores daquilo que editamos.
2024 será um ano interessante para os leitores da Levoir. Preparámos diferentes projectos.
Teremos uma nova colecção de Clássicos da Literatura Portuguesa em parceria com a RTP. Serão 15 livros todos pensados, desenhados e criados de raiz com autores e autoras portugueses e brasileiros. É a primeira vez que uma Editora adapta os grandes clássicos portugueses.
O primeiro volume será A Mensagem, de Fernando Pessoa, adaptado pelo Pedro Vieira de Moura com ilustrações da Susa Monteiro.
A Mensagem, de Pedro Vieira de Moura e Susa Monteiro
Teremos uma colecção de Mangá japonês, As Gotas de Deus, bestseller em França e no Japão, sobre o fascinante mundo do vinho. Serão editados 5 livros em 2024.
As Gotas de Deus, de Tadashi Agi e Shu Okimoto
Será o ano também de publicarmos a colecção completa de Adèle Blanc-Sec, de Tardi. É uma das poucas séries de BD em que a protagonista é uma mulher.
Adèle Blanc-Sec, de Jacques Tardi
Continuando na linha de apoiar e promover o papel da mulher na sociedade e na cultura como já fizemos com a publicação de Destemidas, de Pénélope Bagieu; Assombrada, de Shaghayegh Moazzami; e outras autoras; vamos ter uma colecção dedicada a mulheres em Fevereiro e Março.
Dessa coleção, destaco por agora os livros Uma Mulher, Um Voto, de Alicia Palmer e Montse Mazorriaga, que celebra as sufragistas da Península Ibérica; e, das autoras Virginie Ollagnier e Carole Maurel, destaco a biografia de Nellie Bly, uma intrépida mulher, a primeira jornalista de reportagem de investigação e a primeira viajante a dar a volta ao mundo em menos de 80 dias, entre outros.
Uma Mulher, Um Voto, de Alicia Palmer e Montse Mazorriaga
Nellie Bly, de Virginie Ollagnier e Carole Maurel
Editaremos autores de renome nunca antes publicados em Portugal, como é o caso do italiano Zero Calcare, com Kobane Calling, e voltaremos aos nossos autores como Paco Roca, com O Abismo do Esquecimento; Chabouté, com Yellow Cab; Zeina Abirached, com A Ovelha; a coreana Keum Suk Gendry-Kim, com A Árvore Despida, e Mana Neyestani, com L´Araignée de Mashad.
Kobane Calling, de Zerocalcare
O Abismo do Esquecimento, de Paco Roca
Yellow Cab, de Chabouté
A Ovelha, de Zeina Abirached
Teremos duas adaptações literárias, o clássico de Oscar Wilde, Dorian Gray, adaptado por Enrique Corominas, uma obra maestra de desenho, e Crime e Castigo, de Dostoivesky, adaptado por Bastien Loukia. E publicaremos também Dissident Club, de Taha Siddiqui e Hubert Maury.
Dorian Gray, de Enrique Corominas
Crime e Castigo, de Bastien Loukia
Dissident Club, de Taha Siddiqui e Hubert Maury
2. Os livros estão mais caros. É um facto. Pelo aumento do preço da matéria-prima – em especial, do papel – mas também por outros fatores. Sentes que isso, bem como a conjetura económica que vivemos, está a afetar as vendas da editora ou as pessoas continuam a fazer um esforço para comprar os livros?
Tudo está mais caro, a inflação tem sido muito elevada em Portugal e em toda a Europa e, nos livros, agravou-se pelo aumento das matérias-primas.
Penso que os leitores são mais selectivos no geral, pelo que é importante refletir no que publicamos e apresentar aos Portugueses obras com valor e interesse.
3. O ano de 2023 ainda não terminou e estou ciente que os resultados das vendas dos livros acabam por só ser percebidos vários meses depois. De qualquer maneira, e tendo em conta a tua própria sensibilidade do mercado, que livro consideras ter sido o vosso campeão de vendas de 2023?
Auto da Barca do Inferno, Os Desastres de Sofia e os dois volumes de Guerra e Paz da coleção Clássicos da Literatura em BD e, de momento, os dois volumes de Moby Dick, de Chabouté, nas novelas gráficas.
4. E em que livro é que as vendas ficaram aquém do esperado?
Os mangás 4Life.
5. Que condições levaram a que a coleção de Novelas Gráficas voltasse a ser editada?
Decidimos juntamente com o jornal Público que poderíamos voltar a editar a coleção pelo interesse demonstrado pelos leitores.
No geral, foi bem recebida. Fizemos um esforço em melhorar o papel e em manter os tamanhos originais das obras e em apresentar uma variedade única aos leitores com autores nunca antes editados em Portugal e 4 volumes de autores mais clássicos.
De momento, não temos dados de vendas fechados da coleção, ainda é muito cedo, mas sabemos que Moby Dick, de Chabouté, Assombrada de Shaghayegh Moazzami, e Metamorfose Iraniana, de Mana Neyestani, venderam muito bem.
7. É expetável que a coleção de Novelas Gráficas regresse em 2024?
Temos que analisar os resultados finais da coleção de 2023 e ver se o interesse dos leitores foi o expectável.
A Peregrinação, de João Miguel Lameiras e Miguel Jorge |
8. O que já foi confirmado e anunciado é que a Levoir e a RTP lançarão uma nova coleção de adaptações para BD dos Clássicos da Literatura. Mas, desta vez, a coleção será feita de raiz, com autores portugueses e com adaptações de obras da literatura portuguesa, apenas. Que desafios acarreta uma coleção destas com 15 livros e que informações, acerca das datas, títulos, autores e preços podes adiantar?
Dado o sucesso dos 3 livros de romances portugueses na colecção Clássicos da Literatura em BD: Os Maias, Amor de Perdição e Auto da Barca do Inferno, decidimos propor à RTP uma nova coleção unicamente com clássicos portugueses.
É um desafio encontrar argumentistas, ilustradores, professores para o dossier pedagógico, entidades com as que colaborar para promover e apoiar o lançamento de 15 livros sobre os Clássicos da Literatura Portuguesa em Portugal, somos uma equipa de mais de 20 pessoas a trabalhar para esta grande aventura.
Já adiantei na primeira pergunta, informações sobre esta nova colecção, mas posso avançar que começa em Janeiro de 2024 com A Mensagem e segue com a Farsa de Inês Pereira, de André Morgado com ilustrações de Jefferson Costa (prémio Jabouti). Teremos também, para fechar a coleção, Os Lusíadas, com ilustrações de Daniel Silvestre e argumento de Pedro Vieira de Moura. Uma dupla de mulheres interpretará Maria Moisés - a Joana Afonso e a Carina Correia. O Bernardo Majer e o Pedro Vieira de Moura adaptarão o Sermão de Santo António aos Peixes. Menina e Moça será ilustrado pela Rita Alfaiate, com argumento de Carina Correia, e o André Oliveira e o Ricardo Santo vão apresentar-nos o Crime do Padre Amaro.
Sem dúvida, será um projecto que muitas alegrias nos está a dar e para o qual todos os esforços e todas as ideias têm sido apoiadas desde o momento zero pela equipa da RTP.
Desejamos que os leitores portugueses adorem e celebrem a Literatura portuguesa connosco.
Farsa de Inês Pereira, de André Morgado e Jefferson Costa
Adele Blanc-Sec finalmente! Excelente série
ResponderEliminarTambém estou muito entusiasmado com o lançamento dessa série! Bem como de outras obras que a Levoi anunciou. :)
EliminarFicou por perguntar em que pé está a edição da DC? Desistiram?
ResponderEliminarSei que estão em negociações. Deduzo que nada foi mencionado sobre a DC pela editora porque ainda não têm as negociações finalizadas.
EliminarSinceramente, espero que não havia renovação. O trabalho deles com a DC tem sido 0. Está na hora de ir para outra editora que seja mais eficaz.
EliminarSeria interessante saber quantos destes títulos sairão respeitando o formato, papel e acabamentos originais, à semelhança do "A Ilha" de Mayte Alvarado. Pessoalmente há aqui poucos títulos que me despertem interesse mas veremos...
ResponderEliminarTenho sentido um esforço da editora em melhorar os seus livros em termos de papel e acabamentos.
EliminarBoas Hugo. Existe indicação por parte da editora se os títulos sairão como volumes autónomos ou integrados na coleção novela gráfica?…
EliminarOlá, António. Não existe essa indicação para já. O que é compreensível porque acarreta a negociação da coleção com outra parte (o jornal Público). Diria que estes são os livros dos quais a Levoir já tem os direitos. A forma e o timing do lançamento deverão ser geridos pela editora, depois.
EliminarEsforço nos acabamentos? Esta última série de Novelas Gráficas teve 7 dos 11 livros com a encadernação fraca só em cola, sem aquela costura branca:
EliminarAssombrada, Os mares do Sul, Uma metamorfose iraniana, Estampas 1936, Primo Levi, Alexandra Kim, O regresso do Capitão Nemo.
Mas também houve livros com papel de maior gramagem e a própria edição de O Regresso do Capitão Nemo, em termos gráficos, ficou diferenciada e mais bela.
EliminarViva Hugo. Voltamos ao mesmo tema da qualidade (ou falta dela) na produção de livros de BD. Um papel de maior gramagem não é sinónimo de uma edição de qualidade superior. Tudo depende do papel e do seu comportamento durante a produção. Muitos factores entram em contra e condicionam o produto final. Saber escolher o papel, a gráfica e fazer um controlo apertado do produto final deveria fazer parte do papel do editor (ou alguém por ele/a delegado). A vulgo impresão offset é um processo "subtrativo", quero isto dizer a perda de gamas de cor na reprodução é um dado adquirido e conseguir que um bom produto é uma arte. O resultado final do albúm "Regresso do Capitão Nemo" (també no "Mares do Sul" ilustra bem a falta de cuidado por parte do editor. Faço-lhe um convite - quando tiver oportunidade compare uma edição francesa com a local e depois falaremos. Abraço.
EliminarMais Roca! Espero que desta vez tenham mais atenção à tradução. Um adendo com erratas foi algo estranho de receber com o Regresso ao Edén
ResponderEliminarTeria sugerido adquirir a versão original que se lê perfeitamente, fica mais em conta que a da Levoir e a qualidade de impressão/acabamento respeita o objecto livro BD.
EliminarSim, Joaquim, concordo que a edição da Levoir de Regresso ao Éden apresentou, lamentavelmente, alguns problemas.
EliminarDc é que nada.
ResponderEliminarPois...
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