Pedro e o Imperador é um livro que foi originalmente lançado em 2022 e que beneficiou de uma parceria luso-brasileira para a sua edição. Com efeito, resultou do trabalho conjunto de uma editora portuguesa - a Polvo - e de uma editora brasileira - a Lote 42. Teve ainda o apoio de entidades públicas dos dois países como a Embaixada do Brasil em Lisboa, a Embaixada de Portugal no Brasil, o Instituto Guimarães Rosa e o Instituto Camões. O argumento é do autor brasileiro Batista, enquanto a portuguesa Joana Afonso assume as ilustrações da obra.
A história é sobre Dom Pedro II, o imperador do Brasil, que, depois de ser visitado pelo espectro do seu pai, Dom Pedro I, reflete sobre si mesmo, sobre o legado que lhe foi dado e sobre a dicotomia entre sentir-se, ao mesmo tempo, português e brasileiro. E não ser, porém, verdadeiramente de lado nenhum. Como se não pertencesse a nenhum dos lados, mas sem que se veja livre dessa condição.
Os dois Pedros, pai e filho, acabam por se tornar confidentes, partilhando as suas dúvidas e questões. E sendo tão diferentes como se esperaria, talvez tenham mais semelhanças entre si do que aquilo que se poderia pensar a priori. Embora homens advindos da monarquia, os seus diálogos permitem-nos antever que se tornava claro, à época - que se passa nos finais do século XIX - e até para os que eram monárquicos, que a República em Portugal era um cenário hipotético que ganhava cada vez mais força, até se ter tornado, eventualmente, uma realidade. Dom Pedro II sente-se, pois, gradualmente mais distante do papel de monarca que muitos desejariam para si. Acaba por se exilar na Europa enquanto vê o seu estado de saúde a deteriorar-se.
Parece-me que há um bem conseguido equilíbrio entre "história séria" e "história leve", com base em fantasmas mas, ao mesmo tempo com uma certa noção política presente no relato. Além disso, também acho positivo que o argumentista Batista consiga dar alguma ligeireza e humor aos diálogos, para que a leitura se torne leve e fácil.
Sendo um texto que, partindo de figuras e factos reais, nos dá uma história ficcional, achei curiosa e impactante a forma como Batista revisita o vulto histórico de Dom Pedro II, tornando-o imensamente real e próximo dos nossos tempos. Essa contemporaneidade permite-nos uma rápida e fácil ligação à personagem e aos seus medos e dúvidas existenciais.
Nas ilustrações, o trabalho de Joana Afonso (mais uma vez) não desilude. Mas, pergunto, alguma vez o fez? Quanto a mim, nem pensar. Os seus desenhos extremamente expressivos na conceção das personagens e seus sentimentos, são impecáveis da primeira à última página. Facilmente criamos empatia com as personagens, mesmo que nem concordemos com alguns traços da sua conduta comportamental.
Desta vez, a autora, que nos tem habituado a verdadeiras cores belas nos seus outros trabalhos, apresenta-se a preto e branco. E é um “preto e branco puro” sem tons a cinza. E posso dizer-vos que, em nada, isso contribui para que o trabalho da autora seja menos bem conseguido. Continua a ser um universo pictórico pessoal, original e muito aprazível aquilo que temos à nossa disposição quando lemos este Pedro e o Imperador.
A língua da história é em português do Brasil. Compreende-se, dado o contexto da história e da própria edição da obra. Edição essa que apresenta capa mole, com largas badanas, e bom papel baço no interior. A impressão e a encadernação são bem executadas. Em termos de grafismo é que me parece que o livro poderia ser mais apetecível. Não é que tenha mau aspeto, nem nada que se pareça, e, claro, a ilustração da capa de Joana Afonso é apelativa. Mas na parte gráfica do livro, como por exemplo na organização do lettering da obra, da contracapa ou da badana, considero que este trabalho poderia ter sido encetado com mais primor.
Em suma, Pedro e O Imperador é um livro que infelizmente passou ao lado de outros lançamentos nacionais feitos na mesma altura – nomeadamente do próprio Bestiário da Isa, de Joana Afonso – mas que, ainda assim, é uma boa e interessante leitura. Acrescentando a um argumento bem construído, o traço muito expressivo e característico de Joana Afonso, podemos objetar que esta é uma história que merece uma leitura atenta, quer pelos factos históricos que nela poderemos encontrar, quer pela narrativa gráfica desenvolvida pela ilustradora - ainda que sem a sua habitual paleta de cores.
NOTA FINAL (1/10):
8.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Pedro e o Imperador
Autores: Batista e Joana Afonso
Editora: Polvo
Páginas: 80, a preto e branco
Encadernação: capa mole com badanas
Formato: 172 x 239 mm
Lançamento: Outubro de 2022
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