quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Análise: Lucky Luke - Os Indomados

Lucky Luke - Os Indomados, de Blutch - A Seita

Lucky Luke - Os Indomados, de Blutch - A Seita
Lucky Luke - Os Indomados, de Blutch

Depois de cinco álbuns lançados na coleção Lucky Luke Visto Por..., que tem como objetivo criar histórias com abordagens gráficas (e temáticas?) diferentes da série canónica Lucky Luke, foi a vez de nos chegar o sexto álbum desta coleção. Novamente editado em Portugal pela editora A Seita que, deste modo, igual o número de álbuns lançados no mercado franco-belga. Desta vez, a homenagem ao "cowboy que dispara mais depressa do que a própria sombra" chega-nos pelas mãos de Blutch, um autor já bastante veterano, com larga experiência na banda desenhada.

Devo dizer que esta é uma coleção que acarinho bastante, pois tem-nos dado abordagens bastante interessantes do célebre cowboy criado por Morris, sendo que, dessas várias abordagens, as do autor Matthieu Bonhomme, em O Homem Que Matou Lucky Luke ou em Procura-se Lucky Luke, são substancialmente melhores do que as restantes, quanto a mim.

Lucky Luke - Os Indomados, de Blutch - A Seita
Este Os Indomados, sendo um álbum bastante competente, acaba por ser um pouco "morno" em demasia, ressoando menos no leitor do que aquilo que seria conveniente. E talvez isso até seja consequência direta do facto de este ser o álbum que, dos seis da coleção, é o mais próximo da série clássica criada por Morris, em termos de desenho e história. Compreendo que esse sentimento de contenção criativa por parte de Blutch até lhe deu uma certa rede de segurança, mas, em contraponto, impede o álbum de ter mais personalidade e impacto. Parece uma pálida comparação ao Lucky Luke mais clássico. A meu ver, neste tipo de homenagens, ou bem que se faz igual, ou bem que se faz totalmente diferente. Aqui, Blutch não é audaz o suficiente para cortar com a série clássica, mas também não consegue ser próximo o suficiente da série clássica. Fica a "meio caminho" e, portanto, nem é "peixe" nem "carne". E foi isso que me deixou mais desiludido. Muito embora o álbum seja, repito, competente.

Mesmo assim, também admito perfeitamente que um fã da série clássica que não aprecia propriamente abordagens mais "fora da caixa", como as de Bonhomme ou, especialmente, a de Ralf König no seu Os Choco-Boys, possa até aceitar melhor esta alternativa mais "suave" de Blutch. Contrariamente, os leitores que apreciam reais "versões" e não tanto "emulações" da obra clássica, como é o meu caso, poderão ficar algo desiludidos com este livro.

Mas olhemos para a história que Blutch nos propõe:

Lucky Luke - Os Indomados, de Blutch - A Seita
Depois de entregar mais um criminoso ao xerife da localidade Rubbish Gulch, Lucky Luke depara-se com Rose, uma criança que o ameaça com uma arma de fogo. Esta menina não está só, está acompanhada pelo seu irmão Casper. Depois de mantidas as "rédeas curtas" destas crianças endiabradas, o protagonista procura entregá-las aos seus pais. Mas, chegados à cabana da família, Lucky Luke dá-se conta de que os pais de Rose e Casper desapareceram. E, mesmo contra sua vontade, vê-se forçado a fazer de "babysitter" destes miúdos, o que vai ser uma enorme e constante fonte de dores de cabeça e problemas. Não sendo uma premissa especialmente original - esta de uma personagem solitária e com poucos instintos paternais ter que lidar com crianças de outrem -, o resultado funciona bem e mostra-nos uma nova valência de Lucky Luke, se bem que também lembra a relação que o personagem teve com o ainda mais endiabrado Billy The Kid no álbum com esse mesmo título.

O enredo deste Os Indomados vai-se depois adensando com a introdução de outros familiares de Rose e Casper e com uma caça a um tesouro perdido pelo meio, que ajudam a que a história se vá enchendo de reviravoltas e dinâmica, bem ao jeito daquilo que Goscinny fez com Lucky Luke, mas sem a mesma inspiração ou humor. Há bons momentos humorísticos que nos arrancam um sorriso dos lábios, mas também há alguns momentos escusados ou mais desinspirados. Servir-se das personagens infantis para criar situações divertidas é um bom truque de Blutch, mas que se finda a ele mesmo ainda durante a primeira metade do livro.

Lucky Luke - Os Indomados, de Blutch - A Seita
Os desenhos do autor funcionam bem, apresentando opções cromáticas que aproximam o resultado final dos desenhos de Morris que tornaram a série célebre. A própria planificação, bastante clássica, homenageia a série original. Mais uma vez, os desenhos têm a sua própria personalidade, mas também não chegam a ser tão diferentes assim da série original. Em termos de expressividade, a ilustração das personagens é bem conseguida, com a exceção de alguns momentos onde as mesmas parecem demasiadamente inanimadas. Especialmente, ao nível dos olhos/olhares. Mesmo assim, e talvez pelo bom uso de cores, é um livro que acaba por (também) ser competente em termos visuais.

A edição d' A Seita está muito bem conseguida a vários níveis! O livro apresenta capa dura baça, tendo uma capa alternativa (muito gira!) exclusiva para a loja Wook. Além disso, a editora lançou uma edição limitada, que incluía um ex-libris e dois prints, numerados de 1 a 100. Se estas alternativas editoriais à obra são positivas, os editores também estão de parabéns por terem incluído no interior do livro um extenso caderno de extras, com 24 páginas, que conta com uma entrevista ao autor, uma biografia sobre o mesmo, ilustrações especiais e ainda vários esboços e estudos preparatórios com a planificação das páginas. 

Lucky Luke - Os Indomados, de Blutch - A Seita
Como cereja em cima do bolo, a edição portuguesa ainda inclui a história curta Pecos Jim, uma das primeiras bandas desenhadas de Blutch, publicada entre 1988 e 1990 na revista Fluide Glacial. Uma autêntica relíquia com cinco pranchas que enriquece ainda mais uma edição já de si rica. Tenho que dar os parabéns à Seita pelo excelente trabalho de edição neste livro. É este tipo de trabalho editorial que melhora a própria obra.

Em suma, Lucky Luke - Os Indomados é um álbum competente, mas que é demasiadamente comedido, perdendo o apelo que uma abordagem diferente a uma série tão emblemática como Lucky Luke poderia sugerir. Nota-se que há uma reverência humilde por parte de Blutch à série original e que o autor domina bem os códigos de Lucky Luke, resgatando personagens, situações e técnicas narrativas da série canónica, mas, quanto a mim, o álbum peca por querer ser demasiadamente "bem comportado". O que é, diga-se a título de curiosidade, uma própria incoerência se tivermos em conta que a história é sobre crianças rebeldes. Não é um livro minimamente mau, atenção, mas perdeu-se a oportunidade de fazer um álbum mais impactante.

NOTA FINAL (1/10):
6.7



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Lucky Luke - Os Indomados, de Blutch - A Seita

Ficha técnica
Lucky Luke - Os Indomados
Autor: Blutch
Editora: A Seita
Páginas: 72, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 215 x 285 mm
Lançamento: Setembro de 2024

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

A análise ao trabalho das editoras portuguesas de BD em 2024

A análise ao trabalho das editoras portuguesas de BD em 2024

2024 foi um ano de muita banda desenhada lançada em Portugal! 

O excelente artigo publicado recentemente por Daniel Maia confirma, aliás, aquilo que tenho vindo a dizer há muito tempo: vivemos numa era dourada da banda desenhada em Portugal! Sei que estas coisas são sempre cíclicas, de certa forma, e que também já tivemos, no passado mais e menos recente, boas épocas de edição de BD que, infelizmente, acabaram por dar lugar a um certo marasmo editorial após iniciais tempos promissores. 

Isso é verdade, mas uma coisa que também é inegável, é que este "período dourado" já se arrasta há alguns anos. E as coisas até vão melhorando de ano para ano. São cada vez mais os autores portugueses a publicarem os seus trabalhos em belas edições, são cada vez mais as editoras a lançarem obras estrangeiras de qualidade superior (também em belas edições), são cada vez mais os eventos dedicados à banda desenhada que pululam por esse país fora, são cada vez mais os livros sobre banda desenhada a serem publicados... Não esquecendo que já há em Portugal, segundo a Constituição Portuguesa, um dia dedicado à banda desenhada, enfim... estamos mesmo a viver o melhor momento de sempre!

A análise ao trabalho das editoras portuguesas de BD em 2024

2024 até pode ter sido o ano mais forte de todos, mas apenas por ter tido em si o natural e orgânico desenvolvimento das sementes plantadas nos últimos cinco ou seis anos, parece-me.

Trago-vos, portanto, mais abaixo, uma breve análise ao ano de 2024, centrando-me nas editoras portuguesas e no trabalho que as mesmas nos apresentaram ao longo do último ano.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Vinheta 2020 está de volta e com nova imagem feita por autor nacional!



Após as habituais férias de natal em que o Vinheta 2020 recebeu menos artigos do que o habitual, o blog está de volta ao ativo e regressa, como também já vem sendo hábito, com "cara lavada".

Desta vez, foi Diogo Carvalho, autor do belíssimo Sol, a quem agradeço a generosidade e talento, a presentear este espaço com uma ilustração inédita da personagem Rocketeer.

O autor português junta-se a um belo conjunto de autores que já ilustraram a imagem do Vinheta 2020: Paulo J. Mendes, Jorge Coelho, Henrique Gandum, Daniel Maia, Joana Afonso, Ricardo Santo, Luís Louro, Osvaldo Medina e Telmo Estrelado.

Obrigado, Diogo!