O lançamento recente de dois livros, de uma só vez, de uma nova série de banda desenhada dedicada aos Smurfs - ou Estrunfes ou Schtroumpfs, conforme preferirem - pelas mãos da chancela Nuvem de Letras (do grupo editorial Penguin), deixou-me com muita vontade de conhecer esta iniciativa.
Esta série que volta a trazer para Portugal histórias em banda desenhada das simpáticas criaturas azuis, criadas pelo belga Peyo, denomina-se Somos os Smurfs, sendo que os dois primeiros livros desta coleção que, na sua edição original estrangeira já conta com 14 volumes, se intitulam Dias Bons e Felizes! e Juntos Somos Melhores! e são da autoria de Falzar e de Thierry Culliford, este último, filho de Peyo.
Tenho que vos dizer que conhecer esta série se revelou como uma excelente surpresa e que, muito provavelmente, até estaremos perante uma das melhores bandas desenhadas direcionadas para um público mais infantil, editadas este ano por cá.
Estes livros conciliam o entretenimento típico das histórias dos Smurfs, mas trazem consigo uma dimensão pedagógica clara e inteligente, pensada não só para divertir como também para ajudar as crianças a refletirem sobre temas do quotidiano como, por exemplo, a impaciência perante algo, o respeito pela natureza, a justiça e a injustiça, a diferença em nós e nos outros, a mentira e a própria morte. Como tal, os livros estão organizados numa estrutura de três histórias relativamente curtas que são depois seguidas por um dossier final informativo, com generosas 20 páginas, que confere aos livros um equilíbrio interessante entre a leveza narrativa e a profundidade analítica.
As histórias são escritas num registo acessível, com momentos de humor e imaginação, como seria de esperar destes personagens icónicos. São contos curtos, simples e repletos de situações que captam facilmente a atenção das crianças. No entanto, para além da simplicidade aparente, há sempre um tema subjacente que dá ainda mais força a cada uma das histórias.
O dossier informativo que fecha cada livro é elaborado numa perspetiva de pedo-psicologia, analisando temas tratados nas histórias e sugerindo formas de as crianças lidarem com eles. O recurso a esta secção transforma os álbuns em algo mais do que simples entretenimento: são também instrumentos de reflexão e de diálogo, que podem ser aproveitados por pais e educadores para acompanhar o crescimento emocional dos mais novos.
Considero, pois, notável a forma como os autores conseguem equilibrar a preocupação pedagógica com a função de entreter. As histórias nunca soam forçadas nem excessivamente didáticas e a mensagem está lá, mas integrada de uma forma natural no enredo. Este cuidado garante que os leitores mais jovens não percam o prazer da aventura, enquanto assimilam, quase de forma inconsciente, valores importantes. É uma aposta que respeita a inteligência e a sensibilidade das crianças, ao mesmo tempo que as estimula a crescer de forma saudável.
E apreciei especialmente o facto da análise destes temas só surgir depois da leitura das aventuras. Isto significa que as crianças são primeiro deixadas a divertir-se, sem uma carga moralizante muito explícita, e só posteriormente, nos tais dossiers informativos, é que os temas são aprofundados. Assim, os livros proporcionam uma dupla leitura: uma imediata, de puro entretenimento, e outra mais reflexiva, que pode ser explorada numa conversa entre pais e filhos. É uma abordagem que torna os livros acessíveis a diferentes idades e cria um ponto de encontro entre gerações. Pareceu-me ser uma daquelas leituras perfeitas para um adulto fazer junto a uma criança.
Outro elemento de grande destaque são os desenhos. Com um traço moderno, colorido e vibrante, as ilustrações mantêm-se fiéis ao universo original dos Smurfs, mas adaptam-se às tendências atuais. A clareza das imagens, aliada à intensidade das cores e à expressividade tão característica destas doces personagens azuis, tornam a leitura ainda mais apelativa para todos: para os mais novos e para os mais velhos.
Para quem procura uma porta de entrada para a banda desenhada, esta coleção é, não tenho dúvidas, uma aposta segura. Lá em casa, já pus a criançada a ler estes livros e a sua resposta foi, conforme eu esperava, muito positiva. O facto de serem livros que conseguem introduzir as crianças à 9.ª arte de forma lúdica, mas também responsável, é algo que aprecio especialmente.
O estilo aqui adoptado, com três histórias curtas de personagens clássicos da banda desenhada franco-belga destinadas aos mais jovens, até pode fazer-nos pensar automaticamente na recente série de Ideiafix, editada por cá pela ASA. Porém, parece-me que esta coleção dos Smurfs até consegue ser uma obra mais bem conseguida do que essa a todos os níveis.
Em termos de edição, os livros têm um aspeto muito apetecível, envergando capa dura baça, com detalhes a verniz, bom papel baço no miolo e um bom trabalho a nível de impressão e de encadernação.
Chamo a atenção para o facto de, numa primeira tiragem, os livros apresentarem parte do conteúdo extra trocado, ou seja, parte dos extras do primeiro livro apareciam no segundo, e vice-versa. Um erro chato, claro, mas que a editora prontamente tratou de resolver ao recolher das livrarias os livros dessa primeira tiragem, e substitiundo-a por uma nova tiragem, já corrigida. Se ainda esta semana, a propósito de Os Lusíadas, da Levoir, eu afirmava que erros acontecem a todos, aqui temos um bom exemplo de como corrigi-los, mantendo os leitores satisfeitos.
Em suma, esta nova aposta numa coleção de BD dedicada aos Smurfs e destinada aos mais novos acertou na mouche. É uma BD que consegue encantar as crianças, enquanto as ensinam e cria pontes entre gerações. É uma coleção que deixa uma impressão muito positiva e que se recomenda vivamente para oferecer aos mais novos, seja para cultivar o gosto pela leitura, seja para lhes dar ferramentas para compreender melhor o mundo que os rodeia.
NOTA FINAL (1/10):
8.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens dos álbuns. www.instagram.com/vinheta_2020
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Somos os Smurfs: Dias Bons e Felizes!
Autores: Thierry Culliford e Falzar
Editora: Nuvem de Letras (Grupo Penguin)
Páginas: 112
Encadernação: Capa dura
Formato: 168 x 210 mm
Lançamento: Junho de 2025
Autores: Thierry Culliford e Falzar
Editora: Nuvem de Letras (Grupo Penguin)
Páginas: 112
Encadernação: Capa dura
Formato: 168 x 210 mm
Lançamento: Junho de 2025