terça-feira, 4 de novembro de 2025

Um Olhar sobre o Amadora BD 2025

Um Olhar sobre o Amadora BD 2025

Terminou no passado domingo o Amadora BD 2025, naquela que foi a 36ª edição do certame, e trago-vos hoje a minha habitual opinião sobre aquele que é o maior evento dedicado à banda desenhada em Portugal.

Não querendo escrever sobre aquilo que já escrevi - e se quiserem saber a minha opinião sobre as edições anteriores do evento poderão consultá-las aqui - vou apenas começar por tecer um breve comentário sobre o tema referente ao espaço onde decorre o Amadora BD.


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


O evento decorre no Parque da Liberdade (antigo Ski Skate Parque), sendo constituído por um pavilhão - onde estão patentes as exposições - e, para as restantes atividades, por espaços (tendas) que são montados apenas para o evento. Se estas são as instalações que aquele que é o maior evento do género em Portugal merece? Não, não são. 

Aliás, assumindo que a Câmara Municipal da Amadora quer continuar a ter a banda desenhada enquanto bandeira cultural, sendo "a cidade da banda desenhada", acho - como já achava há 5 anos - que este espaço é limitado para o que ali se pretende realizar. 

Das duas, uma: 
1) mantendo ali o Amadora BD - e, quanto a mim, isso até pode fazer sentido - é necessário que se construa uma estrutura física permanente. Que possa lá ficar já depois do evento terminar. "Ah, mas isso envolve muitos custos". Acredito que sim. Mas quais os custos que a Câmara da Amadora anda a despender anualmente para montagem das duas tendas que lá são montadas e desmontadas? Acho que é importante olhar para o futuro enquanto planeamos o presente. Algo que não tem sido feito.

2) é claro que o Município também pode optar por deslocar (novamente) o evento para outro local. Se o local for central, espaçoso, com bons acessos, com uma estrutura física permanente... não me parece que seja má ideia. Resta saber se haverá espaços adequados para tal efeito.

Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


Enfim, o que quero afirmar é que, sim, acho que este espaço - em formato tenda - não é o ideal para o evento. E fecho aqui os meus comentários sobre isso. Porque, lá está, também não é nada de novo, já todos sabemos disto, e, como já disse mais acima, estou mais preocupado em falar sobre outras coisas.

E começo por dizer que, de um modo geral, este Amadora BD 2025 continuou a consolidar-se. Fiquei maioritariamente agradado com um conjunto de pequenas alterações que são para melhor. Vê-se que a Organização tem lido e escutado alguns dos reparos feitos pelos visitantes e isso, só por si, já merece a minha consideração. Ao olhar mais desatento poderão ser micro-mudanças que não são tão radicais assim, mas acredito que um conjunto de micro-mudanças permite uma mudança maior e mais estrutural.

Ora vejamos:



Autógrafos
Penso ser justo dizer que, durante esta última edição, a questão da gestão dos autógrafos e das senhas atingiu o seu pináculo qualitativo até agora. Foram poucas as queixas que ouvi e este sistema de senhas está definitivamente a funcionar bem. 

Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


As senhas começam a ser disponibilizadas logo de manhã, pelas 10h30. Os interessados apenas têm que se deslocar até ao Amadora BD e reclamar a sua senha. A partir daí, o visitante pode usufruir mais do evento. Acabam-se as filas de espera em pé e durante o tempo em que espera pela sua vez, o visitante pode estar a conviver com outros visitantes, a assistir a apresentações no auditório, a fazer compras nas lojas ou sentado nos bancos colocados nesse espaço. Foram colocados dois écrans lcds com os números de senha a aparecerem. Estes écrans passaram a estar sensivelmente a meio da tenda, o que permite que os visitantes não tenham que se acumular naquela meia lua dedicada aos autógrafos como aconteceu nos anos anteriores. Uma micro-mudança para melhor, portanto. 


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


Vi algumas pessoas a queixarem-se de que as senhas esgotam depressa ou que quem mora longe do evento sai prejudicado face aos que moram perto. Eu acho que essa é uma queixa pouco fundamentada. Se as senhas esgotam depressa, é porque os autores atraem o público. Se não há senhas suficientes, é porque são os próprios autores e editores que combinam o tempo em que podem estar a dar autógrafos. Lembrem-se: os autores não são "escravos" dos leitores. É claro que talvez se pudesse pensar na possibilidade de abrir as filas de espera de senhas de forma digital. Isso seria ainda mais justo e cómodo para os interessados. Não sei, porém, qual o trabalho tecnológico/de programação que isto acarreta.


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


Crítica construtiva sobre os écrans: Embora a colocação dos écrans, mais ou menos a meio do espaço comercial, seja boa ideia e um avanço face às edições anteriores, pareceu-me que, mesmo assim, não será necessário que os dois écrans fiquem frente a frente. Talvez seja mais adequado colocar um écran mais junto ao auditório e deixar o outro no mesmo sítio em que foi colocado. Mesmo em termos de feitura da planta do espaço, parece-me algo bastante fazível. Se possível, um terceiro écran no espaço das exposições seria ainda melhor para que as pessoas pudessem estar nas exposições e acompanhar se a sua vez estava próxima. Se bem que, convém não esquecer, o próprio sistema já permite que a pessoa possa receber um SMS no telefone quando a sua vez está perto de chegar. Quase perfeito.


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025

Exposições
Neste cômputo, parece-me que o festival nunca teve grandes problemas. As exposições têm sido, ao longo dos anos, bastante boas, com um cuidado cénico aprimorado, com respeito pela obra que retratam e com a tentativa da Organização em ter uma oferta eclética. Este ano não foi exceção. Sem particularizar, posso dizer-vos que, de um modo geral, fiquei bastante agradado com as exposições. Estranhei a ausência de uma obra ou autor que fosse do género mangá, mas também não diria que as escolhas feitas tenham sido más. E havendo apenas espaço para 10 exposições, compreende-se que muita coisa boa tem que ficar de fora. 


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


Este ano houve uma alteração na planta das exposições. Ao princípio, estranhei um pouco, mas até acabei por achar que é uma opção bem-vinda, aproximando a experiência do leitor de uma visita a um museu, que segue um percurso mais pensado e delineado. O corredor central, normalmente pouco aproveitado, recebeu uma exposição ao comprido, que funciona bem. Gostei destas alterações. Lamento apenas que esta opção obrigue as exposições a não poderem utilizar uma das paredes, aquela que está virada para as próprias paredes do pavilhão. Se isto der para alterar na próxima edição, ficará ainda melhor. Mas gostei.


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025



Estacionamento
Lembro-me que sempre considerei que era relativamente fácil estacionar o carro para quem vai a este Parque da Liberdade. Este ano, porém, achei que a tarefa se tornou mais difícil do que o normal. Ou houve mais gente a visitar o evento - e a escolher ir de carro - ou pode ter estado relacionado com jogos de futebol no Sport Futebol Damaiense que é mesmo junto ao Amadora BD. Talvez fosse bom tentar desenhar linhas de estacionamento naquela área em frente ao evento que, ora estava aberta ora estava fechada, ou aproveitar a "rua" que acompanha o estacionamento para permitir que mais carros possam ser estacionados junto à tenda dos jogos, na parte de baixo. Penso ser possível.


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"O Elefante na Sala" do Amadora BD 2025
Pude conversar com alguns amigos durante o evento sobre aquele que me parece ser o grande elefante na sala deste evento. Como é que é possível - tento encontrar razões, mas em vão - que:
1) o lançamento do livro de BD mais badalado do ano (da década?), Astérix na Lusitânia, tenha acontecido na mesma altura do Amadora BD
2) que os autores tenham estado em Portugal durante a altura em que o Amadora BD decorreu;
e
3) que até tenha havido uma ação de promoção ao livro em Portugal...

... mas que não tenha havido rigorosamente nada sobre o livro do momento no Amadora BD?!?! 

Um Olhar sobre o Amadora BD 2025

Não sei se me dá vontade de rir, ou se me dá vontade de chorar. Este passa a ser o epítome de "oportunidade perdida". Estão a ver aquela cena final do filme Doidos à Solta, com Jim Carrey e Jeff Daniels, em que lhes aparece um autocarro cheio de belas raparigas a necessitarem de duas pessoas que lhes ponham creme antes dos desfiles de bikini, e as personagens de Jim Carrey e Jeff Daniels, sem emprego e sem quaisquer perspetivas, lhes dizem: "continuem por aqui e encontrarão na cidade alguém que vos faça esse serviço?". É rigorosamente isso que parece ter acontecido. 

E atenção que não estou a chamar "dumb" a ninguém, pois respeito o trabalho dos outros. Estou apenas a dizer que é incrível e incompreensível que não se tenha feito nada com os autores deste Astérix no Amadora BD. Aquela sessão de lançamento que decorreu no El Corte Inglès, não era aí que deveria ter acontecido... era no Amadora BD. Os autores deveriam ter ido ao evento, nem que fosse para uma apresentação de 30 minutos, sem direito a autógrafos. Até se poderia ter feito um dia durante a semana dedicado apenas a esta obra. Mesmo que fosse na segunda-feira, como foi o evento no ECI, acham que o Amadora BD não iria encher? Não houve nenhum iluminado que se lembrasse disto? 

Não estou a apontar culpas a ninguém: não sei se a Organização poderia ter feito mais para que isto acontecesse; se a editora ASA poderia ter feito mais para que isto acontecesse; ou se foram os autores que declinaram eventuais convites... mas, caramba, é difícil aceitar uma oportunidade perdida deste gabarito. Elevaria o festival, elevaria a obra, elevaria a editora, elevaria o bom nome dos autores, faria com que a imprensa desse destaque a tudo isto... enfim... que desperdício. Nada mais tenho a dizer... apenas que Jim Carrey e Jeff Daniels talvez não sejam tão desajeitados como o filme demonstra. Esta foi a "grande falha" do Amadora BD 2025, quanto a mim.


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


Lineup de Autores Internacionais
O que também se interliga com esta questão do lineup de autores internacionais. 


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


Este ano houve um bom conjunto de autores internacionais, mas foi um ano fraco em comparação com outros. Sem desprimor para os autores estrangeiros que marcaram presença, acho que fazia falta mais dois ou três nomes grandes da BD franco-belga que pudessem arrastar mais público. Ah... se se tivesse proporcionado um alinhamento mágico do destino de se ter dois autores de uma série europeia de sucesso em Portugal durante a altura do evento... como isso seria bom... Oh, wait!...


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


Organização da Tenda de BD
Houve ligeiras diferenças na organização da tenda este ano, o que permitiu que houvesse mais stands, tendo-se aproveitado o vértice do espaço comercial, nos seus quatro cantos, quer junto ao palco, quer junto à área dos autógrafos. Enquanto visitante, não senti que isto beneficiasse nem prejudicasse a experiência, portanto, tudo bem, por mim.


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Espaço de Gaming
Não me incomoda verdadeiramente nada que esteja ali uma outra tenda dedicada ao gaming. Se a ideia é trazer mais pessoas ao evento, pois que assim seja. E este ano esta tenda até me pareceu que tinha mais opções de videojogos para os visitantes experimentarem. Para isso também ajudou que a tenda tenha aumentado de dimensão. O que começou com uma tenda bastante pequena e circular, há poucos anos, é hoje em dia uma tenda que tem praticamente a dimensão da tenda principal do evento. Não me chateia, repito, que o espaço de gaming cresça... se o espaço dedicado à banda desenhada também crescer. O que não foi o caso.


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025



Área de alimentação
Há que admitir que esta área melhorou face a anos anteriores. Ainda pode melhorar bastante, sim, mas a verdade é que passou a haver uma esplanada, com toldos que a abrigavam da chuva, tornando o ambiente naquele sítio mais acolhedor e concorrido.
 

Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


Julgo que a oferta de comida e bebida ainda é pouco variada. Bastava ter ali mais umas duas roulottes que vendessem pregos, bifanas, hamburgers, pizzas ou cachorros... e certamente o restaurante do clube de futebol do Damaiense não estaria sempre tão cheio. Desto modo, ganha o restaurante, mas perdem os proprietários das roulottes que ali estão e os próprios visitantes que têm que andar mais, pagar mais e esperar mais por uma refeição. Fica a nota.


Site 
A informação sobre os autores presentes, sobre as novidades e sobre a programação é colocada atempadamente no site. E isso é algo muito importante para que os visitantes possam organizar as suas visitas. Longe vão os tempos em que não se sabia nada, até à véspera da inaguração, do que poderíamos encontrar no evento. Felizmente, hoje em dia as coisas funcionam bem neste cômputo. A utilização das redes sociais também é relevante para a partilha de informações e aumento do engagement do público. Tudo bem feito.


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Sinalética
Aqui temos mais um exemplo de como a Organizou soube ouvir críticas e sugestões. Este ano, estava tudo muito bem sinalizado, com setas, a meio do evento, junto à entrada do pavilhão das exposições, para os vários locais que se poderiam visitar.

Além disso, havia ainda um mapa, muito perceptível e à vista de todos, que demonstrava bem a planta do recinto. Por favor, Organização, se o evento do próximo ano decorrer no mesmo sítio, façam de igual forma. Impecável.


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025

Até as casas de banho voltaram a estar presentes junto à tenda da banda desenhada, o que é mais positivo do que no ano anterior.



Hora H
Tudo bem feito na ideia, mas mal aproveitado. 

A Hora H é uma iniciativa nova, semelhante àquela que é feita na Feira do Livro de Lisboa e noutros certames. No caso do Amadora BD, esta Hora H permite descontos adicionais a vários livros e decorre durante a semana.


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


Isto é uma coisa positiva, pois procura levar mais pessoas ao evento nos dias de menor adesão de público, enquanto também permite aos leitores melhores promoções em vários livros que possam adquirir. Perfeito na ideia. 

Acho que pecou apenas na comunicação da iniciativa. É verdade que vi a Organização a falar disto nas redes sociais... mas pouco mais do que isso. Julgo que seria necessário ter cartazes espalhados por todo o evento a promover esta boa iniciativa.


Comunicação do Programa
Por falar em mau aproveitamento de boas ideias, há uma coisa muito, muito simples que a Organização pode fazer na próxima edição e que não lhe vai dar assim tanto trabalho: anunciar a programação que decorre no auditório no próprio evento. 


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


Muitas vezes está a decorrer uma apresentação no auditório - que até pode ter um autor de renome mundial em palco... e o público pura e simplesmente não sabe que essa apresentação está a acontecer e acaba por passar ao lado dessa importante apresentação. É necessário que se passe a anunciar melhor a programação. 

E isso poderá ser feito de duas maneiras simples:

1) Colocar a programação no folheto entregue aos visitantes. Mais importante que falar sobre as exposições patentes - embora também isso seja importante, claro - é colocar a programação do auditório, de forma a que o visitante saiba o que se está a passar e a que horas. Preço de fazer isto? Zero euros, uma vez que a Organização já gasta dinheiro na produção dos folhetos.

2) Mas também custa zero euros aproveitar melhor os dois lcds que estão no evento. Estes écrans, para além de usarem a barra lateral para apresentarem os números de senhas para os autógrafos, foram usados para mostrar as fotografias dos autores que estavam presentes no evento. Boa ideia, mas pode-se utilizar os écrans de melhor forma ainda. Até se pode continuar a ter essas fotografias dos autores, mas as mesmas devem ser alternadas com um programa das apresentações. Deste modo, os visitantes poderão olhar para o relógio e dizer: "Olha, são 16h49 e às 17h vai decorrer ali a apresentação da obra X que me interessa conhecer". É mesmo muito simples fazer isto de melhor forma.


Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


E já que falo dos écrans, até acho que os mesmos poderão ir passando, de vez em quando, o vídeo que é mostrado durante a inauguração do evento, alusivo às várias exposições, que é muito giro, mas que, infelizmente, nem toda a gente chega a ver. Basta aproveitar (ainda) melhor os recursos já existentes.

Em suma, tirando o tema do local onde o evento decorre - que é primordial e coloca-se acima de tudo o resto - aplaudo o que sempre foi bom e o que tem vindo a melhorar. Ainda há forma de fazer mais e melhor - mas isso há sempre - mas este Amadora BD 2025 deixou-me com boas sensações.

Um Olhar sobre o Amadora BD 2025


2 comentários:

  1. Concordo com praticamente tudo o que foi dito, mas considero que ainda poderiam ser feitas algumas melhorias no sistema de senhas para os autógrafos, que seriam simples de implementar e facilitariam bastante a vida dos utentes:

    Seleção e impressão das senhas: permitir que o visitante possa selecionar as senhas dos autores que deseja e apenas imprimi-las de uma vez no final da seleção, em vez de as imprimir uma a uma. O processo atual torna-se moroso e dificulta a introdução do número de telefone para o alerta por SMS, sobretudo para quem pretende ir a vários autores.

    Ecrãs de acompanhamento: além dos ecrãs adicionais que o Hugo já referiu — e que seriam muito bem-vindos — deveria existir também um ecrã na zona dos autores, para que quem está à espera possa acompanhar o progresso das chamadas.

    Relativamente ao evento em si, considero crítico o facto de ainda não existir um Artist Alley, onde autores independentes e pequenas editoras possam expor e comercializar as suas criações, à semelhança do que acontece, por exemplo, no CoimbraBD.

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  2. Bem, segundo me constou o AmadoraBD bem tentou que o Astérix fosse ao festival mas terá sido a editora Leya e não ASA a tomar essa decisão.
    Canibalizaram-se? Não creio, o facto de se falar do Astérix em todo o lado chamou a atenção para a Banda Desenhada e certamente muita gente acabou por deslocar-se ao Festival.
    Mas a ser verdade o que ouvi, foi indecente os lusitanos não passarem pela capital da BD em Portugal.
    A tenda principal era maior este ano, bastava olhar para a altura do tecto e número de stands.

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