terça-feira, 27 de setembro de 2022

Análise: Juventude


Juventude, de Marco Mendes

Hoje já vos falei da fantástica iniciativa, em prol da banda desenhada portuguesa, que a A Seita tem vindo a fazer durante este ano e que utiliza, de forma inteligente e com sentido de oportunidade, os fundos públicos para uma aposta significativa no lançamento, não só de novos livros de banda desenhada, mas, também, de livros que versam sobre o tema.

Juventude, de Marco Mendes, é um dos lançamentos ao abrigo desta iniciativa. E que obra singular e de uma enorme força narrativa ela é! E tudo isto, sem usar uma única palavra.

Sim, se o chavão “uma imagem vale mais que mil palavras” tem sido usado e abusado por muitos, é-me quase impossível não resgatar essa expressão para falar deste Juventude.

Isto porque, sendo uma banda desenhada muda, não utiliza qualquer legenda ou balão para nos passar texto algum. Mas - claro! – há toda uma história, uma experiência, uma vivência que nos é contada através de imagens que, mesmo não tendo uma sequência tão direta assim entre si – e voltarei a este ponto mais à frente – nos conta uma bela história. Familiar a todos nós, que já passámos por uma juventude, mas, ainda assim, suficientemente original e sem cair nos lugares comuns.

Aprecio particularmente quando um autor se predispõe a tentar algo novo e diferente, que tenha a audácia de tentar abordagens diferentes. Juventude é tudo isso para Marco Mendes.

Uma coisa de que, particularmente na análise a esta obra, eu não queria fazer, era falar-vos muito da história que Marco Mendes nos apresenta neste livro. É que, sendo muda, parte do argumento que nos é dado, e que assenta num retrato autobiográfico do autor, é construído por nós mesmos através da interpretação que fazemos das ilustrações. 

É óbvio que há um fio condutor, que nos remete para a vida de um adolescente e as suas vivências, como o primeiro amor, a mudança para outra localidade para prosseguir os estudos na pintura, as saídas com os amigos, as viagens de retorno à terra, para aí encontrar tristes notícias do foro de saúde… tudo está bastante percetível. No entanto, o autor procura não ser óbvio e não fazer a “papinha” toda ao leitor. Desta forma, há certos elementos na narrativa que, possivelmente, cada leitor interpretará à sua maneira e com base nas suas próprias vivências.

Um exercício que considero muito pertinente para lançar a reflexão da interpretação daquilo que vemos à nossa frente. Fez-me até pensar que gostaria de ver quatro ou cinco argumentistas portugueses a colocarem o texto nesta imagem. Provavelmente teríamos histórias diametralmente opostas entre si.

Mas, se até aqui me tenho focado na história e na narrativa de Juventude, convém revelar aquele que será, talvez, o seu maior trunfo: o fantástico conjunto de belíssimas e impactantes ilustrações com que o autor dota a sua obra. Na verdade, num registo que lembra a pintura clássica, Marco Mendes dá-nos uma obra incomparável a qualquer outra. São mais de 100 ilustrações, mas a verdade é que poderiam ser mais de 100 quadros expostos num museu, tal não é a sua força visual, onde fica patente, de forma inequívoca, a capacidade assombrosa do autor para ilustrar através de pinceladas. Marco Mendes demonstra, aliás, ser um autêntico virtuoso da pintura. E, ao ter optado por deixar a sua história sem diálogos, acabou por chamar ainda mais a atenção para as suas magníficas ilustrações. Um autêntico deleite para os olhos!

Se há algo de que me posso queixar neste Juventude – e, na verdade, não se trata bem de uma “queixa”, mas sim da constatação de um facto – é que, em termos de sequência, propriamente dita, acho que o livro não consegue funcionar a 100%. É óbvio que há uma sequência na história e que a mesma se percebe muito bem. Disso não tenho dúvidas. 

No entanto, considero que sendo a banda desenhada uma arte sequencial, onde cada ação parece dividida por vários frames - leia-se vinhetas -, Juventude acaba por parece mais um livro ilustrado mudo do que uma banda desenhada muda, conforme tem sido anunciada. Nada contra e nada de mal nisso, ressalvo. Mas para que houvesse uma maior sequência entre imagens, talvez fosse necessário um maior conjunto de ilustrações para as várias vivências do protagonista. Exemplifico: na cena em que a personagem chega àquela que parece ser uma residência universitária e acaba por ser surpreendido pelos amigos que lhe pregam uma partida, há uma clara sequência narrativa. Porém, na restante obra os momentos são-nos entregues de forma mais avulsa, não havendo espaço para estas sequências mais interligadas entre si. Tal como se cada imagem funcionasse mais como um vislumbre de um determinado momento, para nos dar uma pista de compreensão da história do que, propriamente, para nos dar um acontecimento sequencial.

Não é defeito. É feitio. Uma escolha do autor. Não belisca em nada a qualidade inegável da obra e o gozo que me deu lê-la. É apenas algo que considero que, feito de outra forma, ainda teria elevado mais a qualidade da obra.

A edição d’A Seita, em conjunto com a Turbina, está muito bem conseguida. A obra é em formato horizontal (comummente chamado de “formato italiano”). Não aprecio especialmente este formato, mas acho que, em alguns casos, funciona bastante bem. E Juventude é um desses casos. Dada a mudez da obra e a cinematografia inerente à mesma, parece-me ter sido uma boa opção.

De resto, o livro é em capa dura, em tecido, com papel baço de boa qualidade. Boa impressão e boa encadernação, também. As editoras tiveram ainda a boa ideia de lançar o livro com três versões de sobrecapas: a portuguesa, a inglesa e a francesa. Parece-me uma ideia original e uma forma simples, económica e inteligente de, tendo em conta que o livro não tem texto, conseguir fácil e eficazmente ter versões prontas para os mercados estrangeiros.

Em suma, este é um livro lindíssimo, da primeira à última página e, mais importante que isso, quiçá, é uma obra original, singular no trato, e onde Marco Mendes dá mais um passo na sua afirmação enquanto autor - se é que isso ainda é necessário - ao mesmo tempo que nos convida para um audaz exercício: e se fôssemos nós o co-argumentista do seu próprio livro?


NOTA FINAL (1/10):
9.2



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Ficha técnica
Juventude
Autor: Marco Mendes
Editoras: A Seita e Turbina
Páginas: 116, a cores
Encadernação: Capa dura (mais sobrecapa)
Formato: 23,5 x 27,5 cm
Lançamento: Junho de 2022

É este o ambicioso plano d' A Seita para a banda desenhada portuguesa!


Estou encantado com o belo trabalho que a editora A Seita se dispôs realizar em prol da banda desenhada nacional. Lançar banda desenhada portuguesa já é, por si só, digno de todos os louvores, pois só com esse lançamento e interesse desconceituoso por parte dos leitores portugueses conseguimos fazer com que a criação dos autores portugueses floresça e evolua.

Mas A Seita parece querer ir além do mero lançamento de autores portugueses. E a prova disso é o seu audaz programa Garantir BD, que vos convido a conhecer melhor, mais abaixo, e que para além de livros de banda desenhada também procura publicar livros sobre banda desenhada.

A meu ver, esses livros são cruciais para todos os interessados em banda desenhada aumentarem os seus conhecimentos sobre a 9ª arte. No total, são 8 obras que a editora tem em mente.

Algumas delas, como o Imagens de uma Revolução: 25 de Abril e a BD ou o Juventude, de Marcos Mendes, já se encontram à venda. Os restantes hão-de estar a chegar, mais cedo ou mais tarde, às livrarias.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa da editora sobre o Garantir BD.


A Seita unida para Garantir a BD portuguesa

8 obras + 1 projecto para um renovado percurso pela história da Nona Arte em Portugal

A pandemia teve um impacto importante na produção de BD no nosso país, não só no número de livros editados e na sua comercialização, mas sobretudo também na produção dos autores portugueses, e na sua visibilidade, com a desaparição dos eventos, sessões de autógrafos, festivais, etc... A Seita decidiu aproveitar a existência de incentivos à criação de projectos culturais e enfrentar a pandemia, concebendo um projecto de edição com autores nacionais e para os autores nacionais. Oito livros de BD, mas também sobre BD. Os primeiros títulos “Imagens de uma Revolução: 25 de Abril e a BD”, o álbum “Juventude”, de Marco Mendes, e “Variantes - Homenagem à BD Portuguesa” estão já a começar a chegar às livrarias.

Celebração da BD portuguesa, a que se junta também a criação de mecanismos que possam agora ajudar à internacionalização desses autores e do património nacional da BD, a proposta teve suporte fundamental do programa Garantir Cultura, em cerca de 60% do investimento, revertido para apoiar nesse período de 2021-2022 os quase 40 autores, desenhadores, gráficos e tradutores envolvidos directamente neste «Garantir BD». No total, pretendiam-se produzir oito livros de BD, mas também sobre BD, pensando formas de evidenciar um património, lançando ao mesmo tempo uma plataforma para a internacionalização.

O projecto, coordenado por José Hartvig de Freitas, no montante de mais de 80 mil euros, foi financiado em cerca de 60% do investimento total pelo programa Garantir Cultura, e contemplou oito livros inéditos a editar. De BD e sobre BD, com vários tipos e géneros, prevendo tanto a produção de obras inéditas, como a resenha histórica e a reflexão sobre a BD portuguesa, envolvendo também a Associação Turbina, há muito ligada à edição de BD, e o selo Comic Heart, que precede a própria existência da editora A Seita.

O apoio obtido visava beneficiar directamente não só os autores, remunerando de maneira justa o trabalho criativo - escrita, desenho e aplicação de cores, tantas vezes tão mal pagos no nosso mercado - mas também os muitos profissionais que trabalham no sector e que tiveram muito menos encomendas ao longo de 2020: designers, legendadores, animadores para vídeo trailers, gráficos e digitalizadores.

Parte do projecto contemplou também um orçamento para a tradução para inglês de um conjunto de obras de BD relevantes, bem como a sua paginação e legendagem, e transformação em versão digital para venda online através de parcerias com plataformas internacionais, e para divulgação nos mercados de direitos de obras de BD.

Dos oito livros produzidos, três estão já disponíveis (ou chegarão às livrarias nos próximos dias), que vamos descrever a seguir.



Imagens de uma Revolução: O 25 de Abril e a BD
Escrito por três grandes especialistas de BD em Portugal, é um livro de ensaio ilustrado, que procura documentar e reflectir sobre a forma como o período da ditadura salazarista, da guerra colonial e da revolução de 25 de Abril que lhes pôs termo, foram abordados pela BD, tanto de autores nacionais como estrangeiros. Baseado em projectos anteriores dos mesmos autores ligados a uma exposição comemorativa do 25 de Abril, este volume actualizou os últimos 20 anos de produção de BD nacional, com inúmeras referências novas, e capítulos adicionais.



Juventude, de Marco Mendes
Depois de “Diário Rasgado”, “Anos Dourados”, “Zombie” e “Tutti Frutti”, Marco Mendes preparou uma crónica em BD onde iremos acompanhar o percurso e evolução de um jovem artista, em transição para a idade adulta. Relato em parte auto-biográfico e tocante de uma juventude, porventura a do autor, é também uma obra muito original, contada através de imagens de página inteira e sem texto. (editado em parceria com a Turbina)




Variantes – Uma Homenagem à BD portuguesa
Proposta de homenagem à BD portuguesa, através de um percurso pela sua história, autores e obras emblemáticas, cujas pranchas escolhidas são recriadas por alguns dos desenhadores mais representativos das gerações actuais. O volume completa-se com textos evocativos de cada autor e obra assim homenageados. Extenso repositório da história da BD portuguesa até 2000, que junta criadores, críticos e especialistas, e descoberta do património da Nona Arte portuguesa de uma forma atenta e apaixonada, explorando as mais diversas vertentes, começando pelo início e pelas primeiras obras de Bordallo Pinheiro, este álbum implicou a encomenda de 24 pranchas originais de BD e outros tantos textos a duas dúzias de criadores e especialistas. (editado em parceria com a Turbina).




Ao longo das próximas semanas, entre o Fórum Fantástico, evento dedicado à FC, à fantasia, BD e cinema (entre 30 de Setembro e 2 de Outubro), e o Festival Amadora BD (entre 20 de Outubro e 30 de Outubro), serão lançados os outros 5 livros que pertencem ao projecto “Garantir BD”. I

remos anunciar os livros um a um à medida que saírem, mas adiantamos aqui alguma informação:

Conversas de Banda Desenhada, por João Miguel Lameiras e Carina Correia


Dragomante II: Prova de Fogo, de Manuel Morgado e Filipe Faria


O Bestiário da Isa, de Joana Afonso


Quero Voar, de Cátia Sousa


Tex: Mais que um Herói, de Mário Marques
(Ainda sem imagem)

Pára tudo! A Levoir está de volta com o lançamento de um novo Joker!!!



Eis a notícia por que muitos ansiavam!!!

A Levoir vai mesmo regressar aos lançamentos de banda desenhada - fora da sua coleção Clássicos da Literatura em BD, entenda-se - e é já no próximo dia 11 de Outubro que a editora nos vai trazer Joker - Sorriso Mortal.

A obra é assinada por Jeff Lemire e Andrea Sorrentino - autores da série Gideon Falls e de Primordial. Sai no próximo dia 11 de Outubro!

Depois de uma longa travessia do deserto em que nada se editou do universo DC, eis que surge a primeira proposta da Levoir nesse sentido. Espero que seja o reinício de uma vigorada aposta da editora em banda desenhada.

Ainda não é conhecido o preço deste livro mas estou certo que brevemente essa informação será tornada pública.

Mais abaixo, deixo-vos algumas imagens promocionais da versão inglesa da obra e com a sinopse da mesma. 


Joker - Sorriso Mortal, de Jeff Lemire e Andrea Sorrentino

A dupla criativa nomeada para os Eisners, composta pelo escritor Jeff Lemire e pelo artista Andrea Sorrentino, reúne-se para uma história de terror psicológico que mergulha na insanidade sem fundo de Joker.

Todos sabem que o Joker não tem a história mais promissora com psicoterapeutas. Na verdade, ninguém foi capaz de o diagnosticar. 
Mas isso não interessa ao Dr. Ben Arnell; ele está determinado a ser o único a desvendar a sua mente desconhecida. 

E não haverá forma alguma de Joker alguma vez conseguir atravessar as paredes terapêuticas que Ben construiu à sua volta. Não é verdade? Não haverá forma alguma de Joker ter entrado em sua casa à noite...certo? Não haverá forma alguma do Joker ter ficado sobre a cama do seu filho e ter colocado aquele livro nas suas mãos, aquele com o, o, o...

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Ficha técnica
Joker - Sorriso Mortal
Autores: Jeff Lemire e Andrea Sorrentino
Editora: Levoir
Páginas: 156, a cores
Encadernação: Capa dura

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

O novo álbum de Lucky Luke chega-nos no próximo mês!



E ainda por cima traz Rantanplan em lugar de destaque na história!

Já aqui o disse e vou repetir: Rantanplan é possivelmente o meu cão preferido da banda desenhada. Estúpido, ingénuo e hilariante como é raro encontrar. Adoro-o!

Portanto, estou muito entusiasmado para o que aí vem. O álbum chamar-se-á A Arca de Rantanplan e será lançado, pela ASA, no dia 21 de Outubro de 2022, em paralelo com o lançamento mundial!

Continua a ser assinado pela dupla Achdé e Jul.

Que chegue depressa o dia 21 de Outubro!

Abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.

Lucky Luke - A Arca de Rantanplan, de Achdé e Jul

Quando Lucky Luke encontra num lugarejo perdido no Texas um certo Ovide Byrde, sonhador inveterado que recolhe na sua quinta animais abandonados ou feridos, o nosso cowboy assume a sua defesa face à chacota e à perseguição de que ele é alvo. A brutalidade a que são submetidos os animais selvagens e domésticos, bem como a indiferença do homem para com o seu destino, fazem parte da cultura do faroeste. Todavia, quando Byrde descobre ouro e se torna de repente dono de uma riqueza colossal, a situação muda radicalmente: manipulado por um bandido sem escrúpulos, vai transformar-se num tirano que aterroriza a região em nome do bem-estar animal!
Conseguirá Lucky Luke restabelecer a justiça sem prejudicar os animais?

Um amigo dos animais que contrata um bando de malfeitores vegetarianos, um Rantanplan transformado em mascote contra a sua vontade e um Lucky Luke justiceiro com a tarefa de reconciliar todas as partes...

Com um tema mais atual do que nunca, este novo álbum mergulha-nos numa frenética aventura repleta de pelos, penas e alcatrão!

Imagina um faroeste onde os caçadores já não vendem peles, os índios já não caçam bisontes e os cowboys já não comem carne. Sê bem-vindo a Veggie Town! A partir da história verídica da criação da Sociedade Protetora dos Animais na América, A Arca de Rantanplan projeta o nosso Lucky Luke num Texas convertido ao respeito pelos animais… para o bem e para o mal.

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Ficha técnica
Lucky Luke - A Arca de Rantanplan
Autores: Achdé e Jul
Editora: ASA
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 11,90€

Ainda sobre a última Tértulia BD de Lisboa...

Não voltei a falar neste tema desde então por isso aproveito para um último comentário acerca da última Tertúlia BD de Lisboa.

Foi para mim um grande privilégio ser o convidado especial. Foi também com satisfação e com um sentido de gratidão que vi várias individualidades de inquestionável relevância na banda desenhada de Portugal a comparecer a este evento.

Um obrigado a todos os presentes e um obrigado especial à Organização da Tertúlia BD de Lisboa.

Para além dos sorteios de bd e das conversas sobre o tema que todos nós gostamos, foi uma boa oportunidade para apresentar aos presentes um novo projeto que quero lançar nos próximos tempos e que, a seu tempo, aqui comunicarei em primeiro lugar.

Mais abaixo deixo-vos a prancha feita por mim, pelo Filipe Duarte, pelo Quico Nogueira, pela Joana Duarte, pelo João Paulo Sá-Chaves e pelo Álvaro. Depois disso, partilho ainda algumas fotografias deste simpático dia.



sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Análise: Reckless

Reckless, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio Portugal

Reckless, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio Portugal
Reckless, de Ed Brubaker e Sean Phillips

A profícua dupla criativa constituída por Ed Brubaker e Sean Phillips lançou uma nova série recentemente. Por cá a edição portuguesa foi expetavelmente assegurada pela G. Floy Studio que tem sido a editora responsável pelo lançamento da obra dos dois autores como Criminal, The Fade Out, Fatale, entre outras obras one shot.

E não é preciso ler sequer essas obras todas – embora eu o tenha feito – para perceber uma coisa simples: é que Ed Brubaker é um escritor exímio nas palavras, na narração e no universo negro, descontente, e violento que criou. Bem sei que o argumentista tem pontuado as suas séries de nuances narrativas que as diferenciam entre si, mas o que é certo é que me parece "mais do mesmo". E quando digo “mais do mesmo” não é no sentido pejorativo, mas no sentido mais positivo possível, ok? 

Quando um artista nos dá algo que é tão bom, então parece que queremos mais desse produto, não é? É o que se passa com Brubaker. Se alguns o poderão acusar de ser algo repetitivo nos temas ou de inovar pouco em termos de linha de história, haverá outros – como eu – que enaltecem o céu e a terra por termos a sorte de poder navegar em tão violentas personagens, com passados tão pesados.

Reckless, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio Portugal
E toda esta introdução para vos dizer que, sim, Reckless é “mais do mesmo”. E que bom isso é! Tal como em Criminal, temos aqui um conjunto de personagens com um passado retorcido, com milhentas experiências demarcadamente negativas, que nos agarram da primeira à última página. Ou não fosse Ed Brubaker o mestre incontestado do policial.

A história passa-se em Los Angeles e traz-nos Ethan Reckless, cuja semelhança física com Robert Redford é impossível não notar, e que é alguém cuja profissão é resolver aquele tipo de problemas que interessam ser tratados sem envolver a polícia. Pode ser a cobrança de uma dívida, uma investigação privada ou ter que lidar com individualidades do subcrime. Mas Ethan Reckless estará sempre disponível para tal.

Mas, como seria expetável, Ethan também tem um passado. Nos anos 60 envolvia-se com um grupo de radicais. Apaixonou-se por uma mulher desse grupo mas, devido a ter uma vida dupla e ser um colaborador do FBI, acabou por se ter que afastar do seu grupo de hippies e da mulher que amou.

Reckless, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio Portugal
Entretanto, estamos nos anos 80, Ethan continua a empreender os seus serviços e, num belo dia, dá de caras com a sua antiga paixão que agora o contacta por precisar dos seus serviços. Depois disto, tudo se complica, tudo se embrulha com Ethan a ter que enfrentar um vilão cheio de carisma, que me agradou bastante. Mais não digo.

Estamos perante uma boa história, ao jeito das outras obras da dupla criativa, que nos sabe dar alguns bons momentos. 

Não consegue igualar Criminal na força narrativa mas é uma bela história, que vai beber bastante às novelas pulp dos anos sessenta e que supera as igualmente boas propostas Pulp ou Os Meus Heróis Foram Sempre Drogados, da mesma dupla.

Em termos visuais, temos Sean Phillips, em boa forma, a ilustrar à maneira que já nos habituou. Não são desenhos que eu ache estrondosamente belos, mas não há dúvidas de que funcionam bem e que fazem um bom "casamento" com os argumentos de Brubaker. 

Reckless, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio Portugal
As cores, que aqui nos são dadas pelo filho de Phillips, Jacob Phillips, permitem que amiúde a história seja mais luminosa e colorida, o que nos proporciona algumas ilustrações bem belas, com que perdemos mais tempo na observação. É claro que a negritude visual também tem aqui lugar, ou não fosse esta uma história de Brubaker e Phillips.

Ainda em termos de desenho, devo dizer que a parecença com o ator Robert Redford foi bem-vinda mas, ao mesmo tempo, como é uma parecença demasiado igual, fez com que eu não me tivesse conseguido abstrair disso mesmo. Visualmente fica bem conseguido, sim, mas não sei se as parecenças não deveriam ser mais suaves.

Quanto à edição da G. Floy Studio, temos mais um bom trabalho da editora. Capa dura, bom papel brilhante, boa impressão e boa encadernação. No final, há algumas páginas de extras, onde temos um posfácio da autoria de Brubaker e o processo de criação de Phillips, quer de uma prancha, quer da própria capa do livro que, já agora, me pareceu muito bem conseguida ao remeter-me para os filmes de ação dos anos 70.

Em suma, Reckless dá-nos tudo aquilo que poderíamos esperar numa obra da dupla Brubaker/Phillips: um bom protagonista amargurado, um maquiavélico e emblemático vilão e, sobretudo, uma história negra, pesada e violenta. Enfim… tudo aquilo que queríamos. Recomenda-se, pois está claro!


NOTA FINAL (1/10):
9.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Reckless, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio Portugal

Ficha técnica
Reckless
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 144, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 18 x 27,5 cm
Lançamento: Julho de 2022

Gradiva lança biografia em BD sobre Albert Einstein!





Eis a nova proposta de banda desenhada da Gradiva!

Depois do lançamento de A Bomba, que versa, entre muitas outras coisas, sobre o trabalho de Albert Einstein, e do lançamento de algumas biografias em bd de algumas das individualidades mais relevantes da história, a Gradiva aposta agora no lançamento de uma obra, em dois volumes, sobre a vida de Albert Einstein.

Os autores são François de Closets, Corbeyran e Éric Chabbert e o primeiro volume já se encontra em pré-venda no site da editora e deverá chegar às livrarias no próximo dia 27 de Setembro.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse do primeiro volume e com algumas imagens promocionais.
As Guerras de Albert Einstein | Vol. 1, de Closets, Corbeyran e Éric Chabbert

Durante a Primeira Guerra Mundial, Einstein, o antimilitarista, fica horrorizado por ver o seu grande amigo, o químico Fritz Haber, produzir gases asfixiantes. 

Mas, no início da Segunda Guerra Mundial, seria o próprio Einstein a escrever ao presidente Roosevelt para o incitar a construir uma bomba nuclear... Um químico nacionalista, um físico pacifista - dois destinos, para uma história extraordinária e apaixonante. 

Nesta narrativa tudo é verdade. Os personagens são autênticos, tal como os seus comportamentos, privados ou públicos.
Tudo foi por isso tratado em pormenor - por exigência da narrativa de Corbeyran -, e tudo foi escrupulosamente reconstituído, graças ao extraordinário trabalho gráfico de Éric Chabbert. 

Começa aqui, com a relação dos génios Fritz Haber e Albert Einstein, uma história que não sabemos até onde poderá levar a Humanidade.

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Ficha técnica
As Guerras de Albert Einstein | Vol. 1
Autores: Closets, Corbeyran e Éric Chabbert
Editora: Gradiva
Páginas: 72, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 23,30 x 31,30
PVP: 19,50€


quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Gradiva lançou recentemente mais dois volumes de Alix Senator!



Já há algumas semanas que a Gradiva lançou, de uma só vez, mais dois volumes da sua série Alix Senator!

Neste caso, falo dos volumes 5 e 6, respetivamente, O Uivo de Cibele e A Montanha dos Mortos, da dupla Valérie Mangin e Thierry Démarez, que tenho assinado toda a série.

É mais uma série que tem vindo a ser lançada com uma excelente assiduidade por parte da Gradiva!

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse dos dois volumes e com algumas imagens promocionais.


Alix Senator #5 - O Uivo de Cibele, de Valérie Mangin e Thierry Démarez

Roma, ano 12 a.C. O imperador Augusto é todo-poderoso. Alix tem mais de cinquenta anos e é senador.

Khephren tem conhecimento do terrível segredo guardado nos livros sibilinos. Uma misteriosa Cibele de auricalco concede poder e o dom de eternidade aos que a venham adorar. O jovem egípcio está convencido de que é a si que ela aguarda. 

Mas para isso precisa ainda de ir à Ásia Menor, para forçar as portas do grande santuário da deusa e defrontar os galos, os sacerdotes que lhe estão consagrados pelo sangue. 

Que destino reservará Cibele aos profanadores?

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Ficha técnica
Alix Senator #5 - O Uivo de Cibele
Autores: Valérie Mangin e Thierry Démarez
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 18,00€


Alix Senator #6 - A Montanha dos Mortos, de Valérie Mangin e Thierry Démarez

Roma, ano 12 a.C. O imperador Augusto é todo-poderoso. Alix tem mais de cinquenta anos e é senador.

Khephren pagou caro pela sua busca insensata da Cibele de auricalco. 

Mas ele continua conduzindo Alix e Enak para o terrível deserto egípcio. Quer alcançar o oásis do deus Amon, o seu santuário e a sua montanha dos mortos, convencido de que o segredo que o salvará está ali guardado. 

Porém, é o destino de todos eles que será decidido na estranha necrópole, entre múmias, saqueadores e servos do deus escondido. 
A montanha dos mortos nunca mereceu tanto o seu nome.

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Ficha técnica
Alix Senator #6 - A Montanha dos Mortos
Autores: Valérie Mangin e Thierry Démarez
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 18,00€

Pára tudo! A bd biográfica sobre Johnny Cash vai ser publicada em Portugal!


Mas que bela notícia para começar o dia!

A editora Minotauro, do Grupo Editorial Almedina, prepara-se para editar Johnny Cash: I See a Darkness, de Reinhard Kleist, ainda neste mês de Setembro!

O livro já se encontra disponível em pré-venda no site da editora e deverá chegar a todas as livrarias a partir de 29 de Setembro.

Conheço bem a obra e coloco-a como, possivelmente, a melhor biografia de um músico em banda desenhada!!! Obrigatório!

Isto é uma fantástica notícia que merece as minhas vénias! 

Mas querem saber mais ainda? A editora Minotauro também editará, do mesmo autor Reinhard Kleist, a biografia que o mesmo fez sobre Nick Cave, denominada originalmente Mercy On Me! Para esta segunda obra ainda não há data mas deve estar para breve.

Abaixo, deixo-vos com a sinopse de Johnny Cash: I See a Darkness e com algumas imagens promocionais da versão original da obra.


Johnny Cash: I See a Darkness, de Reinhard Kleist

Nascido em 1932 no Sul dos Estados Unidos, o jovem JR, mais conhecido por Johnny Cash, cresce numa família pobre, trabalhando nos campos de algodão. Começa a tocar guitarra durante o serviço militar na Alemanha e, já em casa, grava as primeiras canções. O seu talento é descoberto e, a partir de 1955, goza de grande sucesso popular e artístico. 
É durante a década de 60 que Cash mergulha no mundo do álcool e das drogas, revelando um carácter autodestrutivo e atormentado. O seu casamento com June Carter, cantora country também muito famosa, em 1968, irá trazer um novo equilíbrio à sua vida privada e profissional.

Apelidado de «homem de negro», Johnny Cash navegou, durante toda a sua vida, no fio da navalha, entre excesso, violência, destruição e música, amor, sucesso. Se a sua complexa personalidade muitas vezes o fez cair, certo é que também o levantou sempre.

«Um tour de force.» The Guardian

«O homem de negro tornou-se no homem a preto e branco. Um excelente acréscimo à mitologia em torno de Cash.» Financial Times
«Muito superior aos estereótipos que os leitores costumam ter sobre banda desenhada.» The Independent

«Cash pode já ter morrido há vários anos, mas o homem de negro está bem vivo.» The Washington Post


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Ficha técnica
Johnny Cash: I See a Darkness
Autor: Reinhard Kleist
Editora: Minotauro
Páginas: 224, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 24 cm
PVP: 21,90€