quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Análise: Thorgal - A Selkie

Thorgal - A Selkie, de Yann e Fred Vignaux - A Seita

Thorgal - A Selkie, de Yann e Fred Vignaux - A Seita
Thorgal - A Selkie, de Yann e Fred Vignaux

Depois d’ A Seita ter lançado o volume O Eremita de Skellingar, que apresentava o ilustrador Fred Vignaux à emblemática série Thorgal, a editora portuguesa voltou a apostar num novo livro feito pela mesma dupla de autores. Desta vez, trouxe-nos A Selkie, o álbum que, temporalmente, sucede a O Eremita de Skellingar.

Como disse na altura em que analisei este álbum, parece-me que foi uma boa aposta d’A Seita em começar por publicar esta série a partir dos volumes assinados por Vignaux e Yann. Claro que é verdade que esta série clássica e célebre da banda desenhada europeia começou por ter sucesso e reconhecimento pelo trabalho encetado pelos autores originais Van Hamme e Rosinski. E que muitos desses álbuns foram lançados em Portugal por várias editoras. No entanto, Thorgal é uma série que, infelizmente, se encontra publicada por cá de forma muito intermitente. E tendo em conta que havia 38(!) álbuns por (re)publicar, caso uma editora quisesse apostar na série de forma integral, compreende-se bem a escolha sóbria por parte da editora portuguesa em apostar na série a partir dos álbuns mais recentes. Entretanto, para além destes dois editados pel' A Seita, já são 3 os novos Thorgal da dupla Yann/Vignaux que eu gostaria que a editora portuguesa não deixasse escapar. Sabe-se, no entanto, que a editora já confirmou o lançamento para 2024 do álbum de homenagem a Thorgal intitulado Adieu Aaricia, de Robin Recht e Gaétan Georges.

Thorgal - A Selkie, de Yann e Fred Vignaux - A Seita
Mas voltemos a este A Selkie que por cá foi editado ainda no ano de 2022. Continuando o belo trabalho começado em O Eremita de Skellingar, este é mais um belo álbum que reacende o espírito de aventura clássico da série, enquanto é brilhantemente desenhado por Vignaux e magnificamente colorido por Gaétan Georges.

Começando, até, por falar na valência visual da obra, tenho que dizer que acho estes novos Thorgal um verdadeiro mimo da ilustração. E não é que Thorgal alguma vez tenha sido mal ilustrado. Na verdade, o trabalho de Rosinski sempre foi verdadeiramente magnífico e especial! E, por isso mesmo, não era uma herança fácil de assumir, para qualquer que fosse o autor que o fizesse. Mas acho que Vignaux tem passado o teste com distinção. Fê-lo em O Eremita de Skellingar e fá-lo, novamente, com este A Selkie.

As suas ilustrações são verdadeiramente belíssimas, ao nível das personagens, das suas expressões, das cenas de ação, dos ambientes, das paisagens e tudo mais. E, ao mesmo tempo, consegue assegurar duas coisas, nem sempre fáceis de alcançar: por um lado, o autor consegue uma relação de continuidade com o trabalho anterior de Rosinski e, por outro lado, também consegue inovar, tornando o aspeto visual da obra em algo mais contemporâneo. Talvez os mais puristas da série se choquem com a minha próxima afirmação, mas a verdade é que se eu tivesse que convidar um jovem com menos de 18 a conhecer a série Thorgal, não o faria com um álbum de Rosinski, mas sim com um álbum de Vignaux. Pelo menos, se tivesse apenas em conta a componente visual da obra. É que o "novo" Thorgal, e neste caso este A Selkie, em particular, têm um estilo de ilustração mais moderno e contemporâneo, mas sem perder a continuidade e o cariz de aventura épica que associamos à série.

Thorgal - A Selkie, de Yann e Fred Vignaux - A Seita
Contudo, não posso falar dos desenhos de Vignaux sem mencionar as mangíficas cores de Gaétan Georges. Sem o trabalho deste último, as ilustrações continuariam a ser belas, mas não seriam tão importantes. Gaétan faz, quanto a mim, um trabalho soberbo a nível de cores. Fê-lo em O Eremita de Skellingar e continua a fazê-lo neste volume. São livros bonitos só de olhar para eles!

Mas como nem só de belos desenhos vive uma banda desenhada, abordemos a questão do argumento e da história. Yann já trabalha em Thorgal há bastantes anos, tendo até assinado alguns tomos ainda com o ilustrador original, Rosinski, antes de trabalhar com Vignaux. E a aposta do autor tem sido simples: congeminar argumentos que estimulem a aventura clássica, introduzindo vários elementos da mitologia nórdica. É apenas isso. E não utilizo a palavra “apenas” como sendo algo de negativo. Nada disso. Até porque não considero que seja, de todo, uma tarefa fácil. Refiro este ponto porque Thorgal continua a ser uma série de história simples, com personagens por vezes unidimensionais, mas que servem bem o intuito de aventura clássica que a série almeja ser.

Thorgal - A Selkie, de Yann e Fred Vignaux - A Seita
Este A Selkie é mais um exemplo disso. A história é simples e linear. Loba, a filha de Thorgal, é raptada e levada para uma ilha selvagem do arquipélago de Faroé. E, naturalmente, Thorgal parte em salvamento da sua filha. Mas esta ilha para onde Loba foi levada, está envolta num grande misticismo onde os habitantes locais temem a maldição levantada por Kopakanan, a Selkie, que é uma criatura mítica, metade mulher, metade foca marinha. A força da maldição desta Selkie parece tanta que até as embarcações se veem incapazes de navegar ao largo da estátua erguida por este povo devido ao seu temor à criatura. Achei a premissa especialmente curiosa por me remeter para o tempo dos Descobrimentos em que as armadas lusitanas não conseguiam passar pelo Cabo das Tormentas, que "era" controlado por Adamastor, e que só haveria de ser apelidado de Cabo da Boa Esperança depois do feito pioneiro de Bartolomeu Dias.

Portanto, e voltando a este Thorgal – A Selkie, é esta a sua história. Simples, direta, sem grandes nuances e que serve bem as ilustrações de Vignaux. Não é uma história que marque uma vida certamente, mas acho que não é esse o seu propósito. E sendo o objetivo o entretenimento através da aventura clássica, considero que estamos perante um belo livro. Fica, quanto a mim, uns furos abaixo de O Eremita de Skellingar, mas, mesmo assim, recomenda-se vivamente.

Quanto à edição d’ A Seita, a editora volta a dar-nos um bom trabalho, tal como já fizera com o álbum anterior. O livro apresenta capa dura baça, bom papel baço, servido por uma boa impressão e encadernação. E, no final, volta a haver um dossier de extras com 8 páginas, onde há espaço para estudos e esboços de personagens, processo de evolução das duas capas da obra (em França houve uma capa especial para as lojas FNAC) e duas pranchas em esboço onde podemos ver a evolução do trabalho do autor.

Em conclusão, Thorgal - A Selkie volta a mostrar uma dupla de autores que parece estar a levar a bom porto o trabalho dos artistas originais desta série clássica de aventuras da banda desenhada europeia. Se o objetivo é entreter, dando-nos um magnífico trabalho ilustração, então este livro volta a passar no teste com distinção!


NOTA FINAL (1/10):
8.9



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Thorgal - A Selkie, de Yann e Fred Vignaux - A Seita

Ficha técnica
Thorgal: A Selkie
Autores: Yann e Fred Vignaux
Editora: A Seita
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 215 x 285 mm
Lançamento: Setembro de 2022

4 comentários:

  1. Viva Hugo, perdoe-me a franqueza, mas porquê a cobertura de títulos já com vários anos de publicação em cima? Entendo que tem havido poucos lançamentos (descontando a "avalanche" de mangá...) mas poderíamos (e deveríamos) talvez introduzir novos tópicos de discussão. Por exemplo, vi poucos blogs a falar sobre o maior salão de BD a nível mundial, Angoulême. A avaliar pela quase total ausência de títulos galardoados e premiados em Portugal, pergunto, as editoras locais andam a dormir? Um só exemplo - o último livro de Daniel Clowes, "Monica", galardoado com o prémio de melhor álbum, continua ausente no mercado nacional (assim como toda a sua obra recente), apesar de ter tido lançamento simultâneo em dezenas de mercados por esse mundo fora. Com as honrosas excepções de "Mundo Fantasma", há muito fora de catálogo, e "Como uma luva de veludo moldada em ferro", lançado na coleção Novela Gráfica em 2019, o autor continua a ser olimpicamente ignorado por cá. Á semelhança deste todas (sim, todas...) as escolhas da crítica, público, etc... têm exactamente o mesmo destino. Não seria boa política aproveitar o momento para alavancar certos títulos de qualidade reconhecida a "reboque" da premiação para o mercado nacional?

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    1. Olá, António. Se só falei deste Thorgal passado mais de um ano do mesmo ter sido publicado... é porque só agora o consegui ler. Falo sempre dos livros que leio, mas por vezes, demoro algum tempo a ir lendo a minha enorme "pilha" de livros por ler. Tenho pena de não conseguir falar de todas as obras na altura em que as mesmas saem... mas é humanamente impossível. E, claro, prova de que cada vez são mais os lançamentos por cá. Quanto a não falar sobre Angoulême, não falei propositadamente... pois pareceu-me que pouco ou nada eu teria a dizer sobre isso. Finalmente, relativamente ao Monica, posso dizer que gostaria bastante que o livro fosse publicado por cá. Não me parece que as editoras portuguesas andem a dormir. Apenas estarão a pesar os prós e os contras de editar Daniel Clowes por cá. Digo eu, claro! :)

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    2. Grande António, fala-se quando vem o cheque. As blogueiras sabem lá onde fica Angoleume. Só passam a saber quando vem o incentivo, queres apostar que agora que a ASA anunciou a autora, vamos assistir ao movimento “eu sempre adorei a Aimee De Jogh”?

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    3. Caro Anónimo(a). Cheque? Incentivo? Em que realidade terra-planista é que vive? Admito que me ri. :D

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