Mesmo que José Ruy, um dos autores mais emblemáticos da banda desenhada nacional, nos tenha deixado há cerca de dois anos, a sua obra continua - e, estou certo, continuará - a ressoar na mente coletiva dos amantes portugueses da 9ª arte.
O Mistério dos Templários, que hoje vos trago, é a última obra que o autor terminou na íntegra. É verdade que A Passagem Impossível, publicada pela editora Ala dos Livros, foi a última obra em que José Ruy trabalhou antes do seu falecimento, mas este O Mistério dos Templários, publicado pela editora Polvo - que também já havia publicado postumamente Lendas Japonesas, foi o último trabalho integralmente finalizado pelo autor.
Lembro-me até, com alguma nostalgia, que cheguei a ver de perto José Ruy a trabalhar em algumas das pranchas deste álbum quando, a propósito do Prémio Carreira dos VINHETAS D'OURO atribuído ao autor, quando conversei com o mesmo, na sua casa.
Nessa longa conversa que tivemos, José Ruy contou-me que sempre foi muito fascinado pela Ordem dos Templários e por tudo o que a envolveu. Este era, pois, um projeto muito querido do autor e que foi encetado ao longo de vários anos, com José Ruy a recolher informação de diversas fontes sobre o tema e trabalhando no argumento.
E indo ao encontro daquilo a que José Ruy nos habituou, este O Mistério dos Templários assume um tom educativo, sendo rico em factos históricos e tentando traçar os vários momentos da Ordem dos Templários, desde a sua criação até à sua extinção, não esquecendo a referência de alguns dos momentos mais emblemáticos destes cavaleiros que eram monges e soldados ao mesmo tempo.
Em termos de desenho, José Ruy também mantém fidelidade ao seu estilo de ilustração e planificação clássicas que os admiradores do autor, certamente apreciarão. Lamento que algumas das vinhetas sejam demasiadamente povoadas de texto, embora também compreenda que esse sempre foi o modus operandi do autor, já que os seus argumentos - mesmo que também procurassem entreter - tinham como missão primordial o seu cariz educativo e informativo.
Também o processo de colorização das ilustrações, embora efetuado através de ferramentas digitais - que o autor, impressionantemente, ainda viria a dominar já na fase final da sua longa vida - assume um aspeto próximo da banda desenhada mais clássica. O que tem a valência de não criar nenhum rompimento com o trabalho clássico do autor mas que, quanto a mim, que sou de uma geração mais nova, me leva a crer que talvez as histórias adquirissem um aspeto mais moderno e comercial, se feitas a preto e branco. E a edição de A Passagem Impossível, já mencionada, leva-me a insistir ainda mais nesta questão. Em banda desenhada, o preto e branco nunca fica fora de moda, ao passo que a colorização, como obedece a uma corrente estilística, torna-a cativa, para o bem e para o mal, da faixa temporal dessa mesma corrente. E o mesmo até pode ser dito relativamente ao cinema.
Quanto à edição da editora Polvo, estamos perante um bom trabalho. O livro apresenta capa dura baça e bom papel brilhante no miolo. O trabalho de encadernação e impressão também é bem conseguido. Nota positiva, mais uma vez, para as bonitas guardas a preto e branco do livro.
Em suma, O Mistério dos Templários é um bom livro de José Ruy - bem ao seu género - que tem o apelo adicional de ser a última banda desenhada terminada pelo autor. Um livro especialmente obrigatório, portanto, para os adeptos da obra deste autor imprescindível da 9ª arte portuguesa.
NOTA FINAL (1/10):
7.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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O Mistério dos Templários
Autor: José Ruy
Editora: Polvo
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 217 x 306
Lançamento: Outubro de 2023
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