quarta-feira, 20 de agosto de 2025

TOP 10 - A Melhor BD lançada pela Penguin nos últimos 5 anos!


Hoje trago-vos um TOP 10 relativo à melhor banda desenhada editada pela Penguin nos últimos 5 anos, a propósito do 5º aniversário aqui do Vinheta 2020.

Muita gente não sabe disto, mas a Penguin Random House é uma empresa multinacional, apontada como a maior editora de livros do mundo, sendo que a sua sucursal portuguesa engloba várias chancelas que editam banda desenhada: a Iguana, a Distrito Manga, a Companhia das Letras, a Topseller, a Cavalo de Ferro, a Fábula... entre outras.

Recentemente, a Penguin preocupou-se em criar duas chancelas dedicadas à banda desenhada: a Iguana e a Distrito Manga.

De qualquer maneira, para este TOP, e para que a qualidade das obras propostas fosse a melhor possível, eu olhei para a Penguin como um todo - que é isso que ela é, na verdade - e trago-vos os 10 melhores livros de BD desta editora que li.

Convém relembrar que este conceito de "melhor" é meramente pessoal e diz respeito aos livros que, quanto a mim, obviamente, são mais especiais ou me marcaram mais. Ou, naquela metáfora que já referi várias vezes, "se a minha estante de BD estivesse em chamas e eu só pudesse salvar 10 obras, seriam estas as que eu salvava".

Faço aqui uma pequena nota sobre o procedimento: considerei séries como um todo e obras one-shot. Tudo junto. Pode ser um bocado injusto para as obras autocontidas, reconheço, e até ponderei fazer um TOP exclusivamente para séries e outro para livros one-shot, mas depois achei que isso seria escolher demasiadas obras. Deixaria de ser um TOP 10 para ser um TOP 20. Até me facilitaria o processo, honestamente, mas acabaria por retirar destaque a este meu trabalho que procura ser de curadoria. Acabou por ser um exercício mais difícil, pois tive que deixar de fora obras que também adoro, mas acho que quem beneficia são os meus leitores que, deste modo, ficam com a BD que considero ser a "crème de la crème" de cada editora. 

Aqui ficam, então, as 10 melhores BDs editadas pela Penguin nos últimos 5 anos:



TOP 10 - A Melhor BD lançada pela PENGUIN entre 2020 e 2025


10. Para Sempre
Autores: Assia Petricelli e Sergio Riccardi
Lançamento: Junho de 2025
Chancela: Fábula



Para Sempre
é uma BD que capta com delicadeza e autenticidade o espírito da adolescência e a intensidade das primeiras paixões. Ambientado numa estância balnear, o livro apresenta a história de Viola, uma jovem que, durante as férias numa povoação costeira, conhece Ireneo que, à primeira vista, até parece ser alguém que não vai agradar a Viola por ser local daquela zona, pouco amigável e muito reservado. Mas a ligação que ambos estabelecem revela-se mais forte do que aquilo que ambos poderiam antever.

Esta é uma história íntima e complexa que, ainda assim, não perde o seu apelo visual e emocional. É uma leitura que se faz com leveza, mas que deixa marca, principalmente porque se vê ali representada a experiência universal da descoberta do amor - com as suas maravilhas e as suas dores. É acessível, esteticamente apelativa, emocionalmente cativante e, sobretudo, atual. Além disso, consegue essa dupla função de cativar os leitores mais novos pela sua linguagem direta e ritmo fluido, ao mesmo tempo que seduz os mais velhos com a sua carga nostálgica e maturidade narrativa.

Para Sempre destaca-se pela forma como toca o coração do leitor com uma história simples, honesta e bela. É, sem dúvida, um sério candidato a melhor banda desenhada infanto-juvenil do ano - uma leitura ideal para as férias, para o verão, e para todos os que já viveram (ou sonham viver) um amor para sempre. Mesmo que a perpetuidade desse amor tenha apenas reflexo no conjunto de memórias que guardamos durante toda uma vida.

Análise completa a esta obra, aqui.

-/-


9. A Espera
Autora: Keum Suk Gendry-Kim
Lançamento: Novembro de 2023
Chancela: Iguana




A história que Keum Suk Gendry-Kim nos oferece, centra-se em Gwijá, uma mulher com noventa anos que, atualmente, vive na Coreia do Sul. Esta mulher passou, nada mais, nada menos, do que sete décadas sem o seu filho! Sim, parece impossível, mas, de facto, o livro até procura aproximar os leitores a uma realidade, quiçá distante para o mundo ocidental, que afetou tantos milhares de refugiados coreanos que, lamentavelmente, se viram afastados dos seus entes queridos para sempre. No caso de Gwijá, esta mulher fugia, como tantos outros, do norte da Coreia com o seu marido, filho e filha, mas, por fatalidades do destino, separou-se do seu filho e marido e acabou sozinha, com a sua filha.

Este é, afinal de contas, um livro que procura traçar com rigor as vicissitudes e dramas da Guerra da Coreia e como a mesma, para além das eventuais baixas diretas que fez, acabou por ter consequências demográficas e sociais que perduram até aos dias de hoje, visto que muitas famílias continuam separadas enquanto vos escrevo estas linhas.

Quanto a nós, leitores, vemo-nos forçados a mergulhar de cabeça neste drama comovente que nos deixa sem palavras perante o desespero das vítimas das guerras e das separações forçadas. 

A Espera é um excelente livro que deve ser conhecido e celebrado por tudo aquilo que nos traz: por um lado, uma visão clara e objetiva, embora carregada de tristeza e desolação, da Guerra da Coreia e de todos os refugiados que por ela foram e ainda são dramaticamente impactados; por outro lado, a prova da relevância e qualidade do trabalho da autora Keum Suk Gendry-Kim. Uma excelente aposta!

Análise completa a esta obra, aqui.

-/-


8. Bloom - O Verão em que o Amor Cresceu
Autores: Kevin Panetta e Savanna Ganucheau
Lançamento: Março de 2023
Chancela: Topseller



Bloom conta-nos a história de dois jovens que acabam por se apaixonar. Dito assim, parece do mais básico e mundano que haverá. A questão é que estamos a falar de dois jovens do mesmo sexo. E, mesmo que assim o seja, nunca me pareceu que esta obra tente profetizar ou sensibilizar, sequer, para a questão homossexual. Pelo contrário, e à semelhança de Heartstopper - com a qual a obra tem várias parecenças, diga-se -  apresenta-nos uma história de amor entre duas pessoas do mesmo sexo como sendo aquilo que ela é: normal. Ou, se os meus leitores preferirem outro vocábulo em vez de “normal”, diria que Bloom nos mostra uma relação homossexual como sendo algo mundano. Que simplesmente acontece no mundo em que vivemos. Não pretende dizer se é correto ou errado. 

O que muito me agradou neste livro é o facto de ser uma obra coming of age em que qualquer jovem se debate com a pessoa que quer ser na vida adulta. Que profissão ter, onde morar, com quem partilhar a vida, etc. E, nesse ponto, acho que Kevin Panetta criou uma personagem muito humana, com quem é fácil o leitor estabelecer uma relação de empatia. Muitos jovens leitores identificar-se-ão com a personagem e até os leitores mais maduros que lerem este livro lembrar-se-ão das "dores de crescimento" da sua juventude e da procura por um caminho a trilhar neste mundo.

Bloom acaba por ser uma boa surpresa a vários níveis. A história é simples e inocente, em jeito de slice of life, mas consegue impactar o leitor, ao mesmo tempo que as belas ilustrações de Savanna Ganucheau conseguem elevar a qualidade do livro que, sem sombra de dúvidas, supera facilmente, em qualidade, o enorme sucesso de vendas que é Heartstopper. Recomenda-se!

Análise completa a esta obra, aqui.

-/-


7. Os Vampiros
Autores: Filipe Melo e Juan Cavia
Lançamento: Novembro de 2021
Chancela: Companhia das Letras




Originalmente lançado pela Tinta da China, bem como todos os outros livros da autoria de Filipe Melo e Juan Cavia, este livro foi depois reeditado pela Companhia das Letras, assim que os direitos de impressão dos autores passaram para o grupo Penguin.

Esta história é ambientada na Guiné-Bissau, durante a Guerra Colonial portuguesa, e retrata um grupo de soldados enviados numa missão aparentemente simples à fronteira com o Senegal, que rapidamente se transforma num pesadelo psicológico e físico. Filipe Melo baseou-se em muitas horas de entrevistas com ex-combatentes, complementadas por um extensa pesquisa, para dotar as personagens de uma verossimilhança e densidade interior. O próprio título Os Vampiros evoca três camadas de significado: a canção de Zeca Afonso; um grupo de comandos reais com esse nome e o monstro mitológico... sem, contudo, tratar-se de uma história de vampiros no seu sentido clássico.

É um BD intensa e madura, com uma atmosfera sufocante, carregada de suspense, onde demónios internos como a culpa, o medo e a loucura ameaçam os protagonistas. O livro explora a ideia de que a guerra transforma todos, soldados, civis e vítimas, num ciclo de horror psicológico. A originalidade de abordar a Guerra Colonial sob a lente do horror psicológico, e de fazê-lo com uma grande profundidade emocional e artística, fez deste livro uma obra madura, poderosa e inesquecível que passou a constituir (mais) um marco para a banda desenhada portuguesa, fruto do trabalho conjunto de Filipe Melo e de Juan Cavia.

Os Vampiros é uma banda desenhada visceral e perturbadora, que soube transformar a guerra colonial num espetáculo de horror íntimo e coletivo, suportada por uma pesquisa rigorosa e um desenho atmosférico impressionante.

 
-/-


6. Akira
Autor: Katsuhiro Otomo
Lançamento: Maio de 2025
Chancela: Distrito Manga



Akira, de Katsuhiro Otomo, originalmente publicado entre 1982 e 1990, é um marco absoluto no mangá e na ficção científica, tendo voltado a ser publicado em Portugal, desta vez pelas mãos da chancela Distrito Manga. 

Situado numa Neo-Tóquio distópica após a destruição nuclear de 1982, o enredo acompanha Kaneda, Tetsuo e outros jovens mergulhados num turbilhão de conspirações militares, experiências secretas e o despertar de poderes psíquicos devastadores. Foi uma obra que, aquando do seu lançamento, conseguiu romper com a estética mais convencional dos mangás da altura, introduzindo um traço detalhado, urbano e incrivelmente cinematográfico, que teve repercussões em todo o mundo. 

O eixo central da obra está na amizade e no confronto entre Kaneda e Tetsuo, dois adolescentes que representam diferentes respostas à alienação e à marginalidade.

Ao mesmo tempo, além de ser uma história de ação, pura e dura, consegue fazer uma reflexão sobre as desigualdades sociais e o trauma coletivo da guerra. 

Akira é, pois, tanto uma obra de entretenimento como uma alegoria política e existencial. E mais de três décadas depois, permanece uma referência incontornável, não apenas pela sua estética revolucionária, mas pelo modo como articula caos, poder e humanidade através de uma narrativa que continua atual e provocadora.


-/-


5. As Aventuras Completas de Dog Mendonça e Pizzaboy
Autores: Filipe Melo, Juan Cavia e Santiago Villa
Lançamento: Junho de 2023
Chancela: Companhia das Letras



Dog Mendonça e Pizzaboy
é uma série muito divertida e de aventura à antiga – daí que seja natural que sejamos remetidos para tantos e tantos clássicos de aventura do cinema norte-americano dos anos 70 e 80. A história acompanha Pizzaboy, um estafeta de pizzas que se vê arrastado para o submundo sobrenatural de Lisboa ao lado de Dog Mendonça, um lobisomem decadente, e Pazuul, um demónio aprisionado num corpo infantil. A obra assume um tom irreverente, misturando mitologia, monstros clássicos e crítica social, sem nunca perder de vista o ritmo de aventura.

O conceito de criar uma personagem carismática que resolve mistérios do foro fantástico e sobrenatural, com muita ação, um toque de humor e uma enorme quantidade de referências e piscadelas de olho a obras do cinema, banda desenhada, videojogos e literatura da cultura popular, revelou-se um guisado perfeito. Além disso, os desenhos de Juan Cavia – modernos e, aqui, fortemente derivados dos comics americanos – também sabem puxar bem pelo appeal comercial da obra. Estava na cara que, logo após o lançamento do primeiro volume, esta seria uma série de sucesso que, aliás, chegou a receber publicação no mercado norte-americano pelas mãos da editora Darkhorse

Se reler todos os Dog Mendonça neste volume integral foi uma sensação deveras saborosa, foi o conto As Fabulosas Aventuras de Madame Chen, uma história ilustrada inédita que complementa esta edição integral editada pela Companhia das Letras, que me deixou com o gosto mais delicado e aveludado na memória. 

Posso dizer-vos que esta magnífica edição, que reúne todas as histórias de Dog Mendonça, é um autêntico sonho molhado para os fãs da série e assume-se como altamente recomendada numa biblioteca que almeje ser constituída pela melhor banda desenhada portuguesa alguma vez feita!

Análise completa a esta obra, aqui.


-/-

4. Erva
Autora: Keum Suk Gendry-Kim
Lançamento: Junho de 2024
Chancela: Iguana




Erva é uma magnífica obra que aborda de maneira profunda e comovente o tema das "mulheres de conforto" durante a Segunda Guerra Mundial. Para quem não sabe, estas "mulheres de conforto" tinham o propósito de servir como escravas sexuais para o exército japonês. Nem estamos aqui a falar de mulheres a serem obrigadas a prostituir-se... não, é algo ainda mais grave e hediondo do que isso. Estas mulheres nem sequer eram prostitutas, pois não tinham rendimentos monetários com aquilo que faziam. "Escravas sexuais" será, portanto, o melhor termo a utilizar como sinónimo de "mulher de conforto". E muitas destas mulheres eram coreanas, como é o caso de Ok-Sun Lee, em quem se baseia esta história biográfica.

E que história de vida a de Ok-Sun Lee! Se fosse uma história de ficção, se calhar diríamos: "Ui... que exagero de drama". Porém, tratando-se de uma história verídica, é chocante e lamentável que nos apercebamos com este Erva como certas vidas são um verdadeiro suplício.

Não só o relato é marcante e a vida da protagonista nos deixa "colados" a cada uma das quase 500 páginas que compõem este livro, como a própria representação gráfica da história parece especialmente inspirada. Não é que o estilo da autora mude face àquilo que já pudemos ver noutros livros, mas senti que, em Erva, a autora foi mais certeira na representação dos momentos mais intensos do que noutras obras. 

Erva não é apenas uma obra de ficção gráfica, mas um testemunho histórico que educa os leitores sobre uma parte importante e dolorosa da história asiática que, embora muitas vezes "chutada para canto", ainda ressoa nos dias atuais. A obra é, portanto, projetada para provocar uma reflexão profunda sobre os horrores da guerra e as suas vítimas invisíveis, assumindo-se como uma leitura essencial para quem procura compreender a profundidade dos traumas de guerra e da luta contínua por justiça das mulheres afetadas pela mesma. Keum Suk Gendry-Kim criou uma obra que é ao mesmo tempo devastadora e bela, revelando as camadas de dor e resiliência que caracterizam a desconfortável e traumática experiência das mulheres que se viram forçadas a ser "mulheres de conforto".

Análise completa a esta obra, aqui.


-/-


3. Toda a Mafalda - Edição Integral
Autor: Quino
Lançamento: Outubro de 2024
Chancela: Iguana



Não há muito que não tenha sido dito ou escrito sobre Mafalda, uma das mais icónicas personagens, não só da banda desenhada, como da cultura popular do último século. Originalmente criada pelo argentino Quino, esta é uma personagem que nos últimos 60 anos tem estado próxima de todos nós. Portanto, acho difícil que alguém não conheça tão simbólica e acutilante personagem.

A obra continua, pois, atual e relevante, oferecendo uma crítica perspicaz à sociedade, à política e à condição humana através das perguntas diretas e genuínas de uma criança. Com humor inteligente e sensibilidade, Quino construiu um retrato atemporal da humanidade, explorando temas que ainda ressoam nos dias de hoje.

Ao longo das suas inúmeras tiras, Mafalda revela preocupações com a paz mundial, com os direitos humanos, com a injustiça social e com as guerras, ao mesmo tempo que, naturalmente, lida com os desafios típicos da infância, como a escola, as brincadeiras ou a relação com os seus amigos.

E foi precisamente a propósito da comemoração dos seus 60 anos, que a editora Iguana lançou recentemente este "peso pesado", com mais de 600 páginas, que reúne todas as tiras de Mafalda publicadas entre 1964 e 1973. Esta edição assume-se como uma autêntica "bíblia" sobre Mafalda em que nada ficou deixado ao acaso. 

Toda a Mafalda não é apenas uma reunião integral de tiras humorísticas, mas um verdadeiro documento sobre uma das mais emblemáticas personagens de sempre, com um olhar incrivelmente atual sobre a sociedade contemporânea. Com humor refinado e uma visão aguçada da realidade, Quino criou uma obra-prima que continua a cativar leitores e a provocar reflexões profundas. Toda a Mafalda é, sem dúvida, uma leitura essencial para aqueles que apreciam humor inteligente e uma crítica social perspicaz.

Análise completa a esta obra, aqui.

-/-


2. Mau Género
Autora: Chloé Cruchaudet
Lançamento: Setembro de 2023
Chancela: Iguana



A história que a autora nos propõe em Mau Género é baseada na história verídica de Paul e Louise que, tal como tantos outros casais, se conhecem, se apaixonam e se casam. Estamos em Paris, no período que antecede a Primeira Guerra Mundial e, quando esta realmente eclode, Paul é mobilizado para ingressar na frente de combate, deixando a sua mulher à sua espera. Uma vez nas trincheiras, o inferno e drama com que se depara é tanto que, sabendo que não é talhado para este tipo de vida – mas quem o será?, diria eu - Paul decide escapar dali a todo o custo. Nem que tenha que se tornar num desertor.

Mas os castigos para os desertores de guerra são enormes (pagam-se com a vida) e, como tal, depois de fugir da frente de combate, Paul terá que permanecer escondido, nas sombras, sem que ninguém saiba da sua existência. Refugia-se então num quarto de hotel onde recebe visitas da sua mulher. Mas estar tanto tempo recluso num só espaço fechado não é fácil, o que leva Paul a encontrar uma solução para poder sair à rua. Passa então a vestir-se de mulher, ocultando deste modo a sua identidade. Numa primeira fase, fá-lo de uma forma algo atabalhoada, mas, à medida que vai entrando na nova personagem por si criada, a que chama Suzanne, Paul vai-se tornando cada vez mais feminino, parecendo também – a si e aos outros - mais verosímil a personagem que cria.

O que é absolutamente interessante do ponto de vista de estudo social é que, às tantas, talvez esta forma de vida que Paul encontra para ultrapassar um problema, lhe seja mais agradável do que aquilo que ele imaginaria numa primeira instância. Às tantas, esta sua nova identidade fá-lo sentir-se melhor consigo mesmo. E fá-lo querer experimentar certas coisas, quer do âmbito sexual, quer do âmbito de sociabilização, que, até então, não lhe passariam pela cabeça – ou será que passariam?

A história é (verdadeiramente) impactante, dando luz às questões que, realmente, importam ao nível da identidade de género - que nem sempre são as questões “da moda”. E, enquanto isso, também consegue ser um excelente documento histórico, baseado em factos reais, que apresenta uma magnífica ilustração elegante e charmosa que nos embala neste doce, embora por vezes triste, relato. Notável e obrigatório!

Análise completa a esta obra, aqui.

-/-


1. Balada para Sophie
Autores: Filipe Melo e Juan Cavia
Lançamento: Setembro de 2020
Chancela: Companhia das Letras



Balada para Sophie, originalmente editada pela Tinta da China e posteriormente reeditada pela Companhia das Letras, é uma banda desenhada que mergulha nas memórias de Julien Dubois, um pianista francês em fim de vida que decide contar a sua verdadeira história a uma jovem jornalista. Através desse relato, a obra percorre décadas de música, guerra, rivalidades artísticas e dilemas morais, explorando a complexidade da memória e a ambiguidade das escolhas humanas. A narrativa é construída como uma confissão íntima, em que o protagonista oscila entre o arrependimento e o orgulho, revelando ao leitor não apenas a sua biografia, mas também as contradições universais da condição humana. 

Considero que esta obra alcançou a perfeição! Filipe Melo e Juan Cavia já tinham andado lá bem perto, diga-se, mas o seu grande feito para a 9ª Arte ficou consumado com este Balada para Sophie. Disse-o categoricamente aquando da análise da obra e digo-o novamente: este é o melhor álbum da banda desenhada portuguesa! 

As ilustrações, cores, planificações e abordagens estéticas de Juan Cavia estão melhores do que nunca e o argumento de Filipe Melo é maravilhoso, ao colocar-nos perante uma história madura, bem construída, e com tantos momentos inesquecíveis. 

É uma história de vida que é contada com o ritmo certo, e que nos faz refletir sobre a vida, como um todo. Porque, à semelhança de Julien Dubois, o pianista irremediavelmente insatisfeito que protagoniza esta história, também todos nós – músicos ou não – lutamos contra os nossos próprios adversários, vendendo, por vezes, a alma ao diabo e caminhando para uma existência desviante em relação aos nossos planos de vida iniciais. Mas, eventualmente, encontraremos redenção na obra que conseguimos deixar. No nosso legado. Seja ele qual for. A leitura de Balada para Sophie causa, portanto, um arrebatamento no leitor. Não é surpresa que a obra tenha sido tão bem recebida pelos leitores, pela crítica e pela indústria. Quer nacional, quer internacional. É fácil considerar – não apenas subjetiva mas também objetivamente – Balada para Sophie como o melhor álbum da banda desenhada portuguesa. Uma obra-prima!

Análise completa a esta obra, aqui.

Sem comentários:

Enviar um comentário