quarta-feira, 16 de julho de 2025

Análise: Para Sempre

Para Sempre, de Assia Petricelli e Sergio Riccardi - Fábula - Penguin Random House

Para Sempre, de Assia Petricelli e Sergio Riccardi - Fábula - Penguin Random House
Para Sempre, de Assia Petricelli e Sergio Riccardi

Se há coisas que gosto que me aconteçam... é que a banda desenhada me surpreenda. Que haja um livro que, sem que eu esteja à espera, me impressione pela positiva. Por vezes, os livros são bons mas, verdade seja dita, já estamos à espera que o sejam. Infelizmente, também acontece o contrário noutras vezes: estamos à espera que um livro seja bom e depois vamos a lê-lo e ficamos desapontados. Ora, deste Para Sempre, dos autores italianos Assia Petricelli e Sergio Riccardi, que a editora Fábula - uma chancela do grupo Penguin - editou recentemente, eu confesso-vos que pouco ou nada sabia. Não estava, por isso, à espera de nada... nem que fosse bom, nem que fosse mau. E é com satisfação que vos digo que foi uma agradável surpresa. Foi mais do que isso, na verdade... foi uma das maiores surpresas do ano... pelo menos, para já!

Para Sempre, de Assia Petricelli e Sergio Riccardi - Fábula - Penguin Random House
Para Sempre
 é uma BD que capta com delicadeza e autenticidade o espírito da adolescência e a intensidade das primeiras paixões. Ambientado numa estância balnear, o livro apresenta a história de Viola, uma jovem que, durante as férias numa povoação costeira, conhece Ireneo que, à primeira vista, até parece ser alguém que não vai agradar a Viola por ser local daquela zona, pouco amigável e muito reservado. Mas a ligação que ambos estabelecem revela-se mais forte do que aquilo que ambos poderiam antever.

A relação entre Viola e Ireneo acaba por ser o tema central da obra, embora a mesma aborde outras questões, bem-vindas, como a forma como os jovens passam as férias com os pais, com quem a relação nem sempre é tão direta ou transparente como o desejável. É aquela altura da vida em que já não se é criança, mas também não se é verdadeiramente adulto e, por isso, as doses de incerteza e desconforto sucedem-se umas às outras, em catadupa.

Viola terá que enfrentar um conflito com os seus pais, em especial com a sua mãe, que desaprovam o seu relacionamento com Ireneo, o que faz com que a história, que até tem um lado mais contemplativo, fique mais rica devido a esta tensão emocional que a protagonista terá que experienciar.

Para Sempre, de Assia Petricelli e Sergio Riccardi - Fábula - Penguin Random House
Em contraste, a suposta “relação perfeita” da sua amiga com um suposto namorado perfeito revela-se, afinal, tóxica, trazendo à tona uma certa preocupação com os assuntos dos nossos dias, embora esta subnarrativa não roube - felizmente - demasiado espaço à história principal.

Apesar da sua leveza e da estética estival, a narrativa aborda questões sérias e relevantes para os tempos modernos. Entre os temas centrais estão a liberdade emocional, a descoberta pessoal e os perigos das relações abusivas. A obra é particularmente eficaz ao colocar estas questões no centro da experiência juvenil sem moralismos nem dramatizações excessivas, tornando-se assim extremamente pertinente para os jovens leitores de hoje - e uma ferramenta útil para fomentar conversas importantes entre pais e filhos. Com efeito, embora o livro seja - e bem, claro - apontado para um público juvenil, também considero uma leitura muito aconselhável para os adultos que são pais e que, muitas vezes, se esquecem que também já foram jovens, acabando por desvalorizar a vivência dos adolescentes e jovens adultos.

Para Sempre, de Assia Petricelli e Sergio Riccardi - Fábula - Penguin Random House
Para Sempre
 é uma história íntima e complexa que, ainda assim, não perde o seu apelo visual e emocional. É uma leitura que se faz com leveza, mas que deixa marca, principalmente porque se vê ali representada a experiência universal da descoberta do amor - com as suas maravilhas e as suas dores. É acessível, esteticamente apelativa, emocionalmente cativante e, sobretudo, atual. Além disso, consegue essa dupla função de cativar os leitores mais novos pela sua linguagem direta e ritmo fluido, ao mesmo tempo que seduz os mais velhos com a sua carga nostálgica e maturidade narrativa.

Nesse sentido, o uso de referências musicais por parte dos autores acrescenta uma camada de familiaridade e identificação à narrativa... não tanto por parte dos leitores mais novos... mas sim pelos leitores mais velhos. Para quem cresceu nos anos 90 - como é o meu caso - as músicas mencionadas funcionam quase como uma banda sonora afetiva, despertando memórias de outros verões e de outras paixões. Esta ponte geracional reforça, pois, a ideia de que o livro não é apenas para os jovens da atualidade - caso contrário a banda sonora utilizada não incluiria músicas de Shaggy, Blur, Green Day, Fools Garden, Ace of Bace, Whigfield ou dos italianos 883. E esta vertente torna o livro ainda mais valioso para os mais velhos que leiam a obra. 

Para Sempre, de Assia Petricelli e Sergio Riccardi - Fábula - Penguin Random House
As ilustrações de Sergio Riccardi são outro dos pontos fortes do livro. Os desenhos são expressivos e modernos, cheios de movimento e emoção, e as cores - predominantemente soalheiras e quentes - evocam perfeitamente a luz do verão, reforçando o tom nostálgico e doce da narrativa. É uma estética que funciona muito bem e que me agradou especialmente.

Em termos de edição, o livro apresenta capa mole com badanas, bom papel baço no miolo e boa encadernação e impressão. Sendo um adepto de capas duras, reconheço que este é o tipo de livro em que a capa mole é mais bem-vinda pois, dada a portabilidade de uma obra que saberá bem ler durante as férias, o menor peso do livro e a flexibilidade alcançada por esta opção mais maleável, torna-se mais adequada.

Resumindo, Para Sempre destaca-se pela forma como toca o coração do leitor com uma história simples, honesta e bela. É, sem dúvida, um sério candidato a melhor banda desenhada infanto-juvenil do ano - uma leitura ideal para as férias, para o verão, e para todos os que já viveram (ou sonham viver) um amor para sempre. Mesmo que a perpetuidade desse amor tenha apenas reflexo no conjunto de memórias que guardamos durante toda uma vida. 

NOTA FINAL (1/10):
8.7



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Para Sempre, de Assia Petricelli e Sergio Riccardi - Fábula - Penguin Random House

Ficha técnica
Para Sempre
Autores: Assia Petricelli e Sergio Riccardi
Editora: Fábula
Páginas: 160, a cores
Encadernação: Capa mole com badanas
Formato: 168 x 240 mm 
Lançamento: Junho de 2025 

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