quinta-feira, 17 de julho de 2025

Análise: Batman - Volume 1

Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir

Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir
Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet

O ano de 2025 tem sido um ano simpático para os admiradores portugueses de Batman. Depois da Devir ter assegurado os direitos da DC Comics para a publicação de Batman, a editora portuguesa já publicou o muito cativante Batman - Três Jokers e publicou mais recentemente este Batman de Grant Morrison. Além disso, está previsto, ainda para este ano, a publicação do segundo volume desta empreitada e, não esqueçamos, a própria editora A Seita chegou a publicar recentemente Dylan Dog – Batman: A Sombra do Morcego. É, portanto, um bom ano para Batman em Portugal, especialmente se tivermos em conta que durante alguns anos nenhum livro do Homem-Morcego por cá foi editado.

Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir
Este Batman de Grant Morrison – Volume Um que hoje vos trago, marca o início da ambiciosa e influente fase do argumentista escocês Grant Morrison no universo do Cavaleiro das Trevas. Este volume compila as primeiras histórias de Batman sob o comando do autor, que se propôs a integrar décadas de mitologia da personagem numa narrativa coesa, densa e inovadora. Esta abordagem tentou, de algum modo, consolidar alguns eventos - muitas vezes contraditórios - no passado do super-herói, equilibrando alguns elementos mais absurdos(?) da "Era de Prata" com a seriedade moderna da "Era das Trevas".

E, claro, um dos aspetos mais marcantes deste volume é a introdução de Damian Wayne, o filho de Bruce Wayne com Talia al Ghul. Damian é arrogante, violento e treinado pela Liga dos Assassinos, o que me leva a poder afirmar que Damian é uma subversão radical da figura do Robin tradicional. Uma autêntica "peste" que coloca a paciência de Batman à prova. E mais do que ser uma nova personagem, denota-se que a sua grande adição à série é o próprio desafio direto à moralidade e ao método de Batman que traz consigo, o que causa um conflito interno que será um dos motores centrais da narrativa.

Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir
Os elementos de espionagem, drama familiar e alguma ficção científica parecem levar-nos para as aventuras dos anos 50 e 60, o que faz com que as histórias se afigurem clássicas na forma e conteúdo mas, claro, sendo reinterpretadas à luz de uma narrativa mais contemporânea. Em vez de rejeitar os elementos considerados mais "ridículos" ou inverosímeis da história da personagem, Morrison tem o mérito de os abraçar e de os contextualizar de uma forma tão criativa quanto possível. Aprecio e respeito essa vertente conciliadora do autor.

E outra coisa que me parece digna de nota é a capacidade de Grant Morrison na construção de narrativas a longo prazo. Desde cedo o autor consegue inserir sementes na história que depois vai colher mais tarde, em capítulos futuros. Ou seja, deixa propositadamente pontas soltas para depois, a jusante, as amarrar, dando credibilidade a toda a sua criação. Acaba por ser uma leitura que, mais tarde, é compensadora.

Contudo, e ainda que o trabalho de Grant Morrison na série tenha sido - e continue a ser - bastante celebrado por fãs e crítica, considero ter alguns sentimentos mistos face às histórias que compõem este primeiro volume. É que, se por um lado concedo que a maneira como Morrison reimaginou certos eventos na vida de Batman, dando com isso profundidade à personagem e ao seu universo, é mais que meritória, também considero que, enquanto histórias propriamente ditas, são contos que apenas cumprem. Leem-se bem, mas estão longe de poderem ser considerados como as mais inesquecíveis histórias do super-herói.

Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir
Participam na escrita do argumento autores de bastante relevância, como Greg Rucka, Geoff Johns ou Mark Waid. Já quanto ao desenho, também são inúmeros os ilustradores que colaboram nas histórias deste volume, sendo que é Andy Kubert o autor que mais se destaca neste livro, quer em qualidade, quer em quantidade, revelando um desenho dinâmico e exímio na caracterização das personagens, da cidade e dos eventos de ação. O seu desenho consegue equilibrar um tom sombrio e realista com momentos mais surreais e estilizados, que se tornam cada vez mais presentes ao longo da saga. Kubert também é hábil ao retratar expressões e movimentações, o que contribui para a carga emocional e para a fluidez da ação. 

Se Andy Kubert é a "estrela da ilustração" neste livro, o trabalho de John Van Fleet chega a ser - e digo-o naturalmente com todo o respeito que tenho pelo autor - risível. É possível que estas ilustrações, feitas em 3D digital, pudessem parecer apelativas no ano em que foram criadas (2007) - e, mesmo assim, tenho as minhas dúvidas quanto a isso - mas, hoje em dia, em 2025, parecem extremamente mal feitas e mal renderizadas. Estão a ver quando jogam um videojogo de 2001 que na altura até parecia ter bons gráficos, mas que hoje em dia parece cómico e obsoleto? É essa a sensação que a história O Palhaço à Meia-Noite nos dá. A própria história que aqui encontramos não é uma banda desenhada, mas um texto em prosa ilustrado - pesado e poético, mas bom, embora talvez denso em demasia - e que depois é parcamente ilustrado pelas ilustrações de John Van Fleet. Não consegue ser aceitável, desculpem.

Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir
A edição da Devir é especialmente cuidada, com o objeto-livro a ser muito apetecível. Apresenta capa dura baça, com elegantes detalhes a verniz. A encadernação e impressão são de excelente qualidade, tal como é o papel brilhante utilizado no miolo do livro. Há ainda um prefácio da autoria de Mike Marts que funciona como uma boa introdução à obra. A editora portuguesa também merece uma nota de louvor pela aposta em trazer para Portugal uma "subsérie" dentro da própria série de Batman - se é que assim lhe podemos chamar - que é aclamada por fãs e crítica e que é indiscutivelmente uma mais-valia para quem aprecia o Cavaleiro das Trevas.

Em suma, Batman de Grant Morrison - Volume Um é uma leitura instigante, ambiciosa e muitas vezes brilhante, que inaugura uma das fases mais criativas e reverenciadas do Cavaleiro das Trevas. Morrison respeita o legado de Batman, mas também desafia as suas convenções, oferecendo ao leitor uma nova forma de ver Bruce Wayne: como uma figura mítica que atravessa o tempo, a lógica e a realidade. Este primeiro volume, embora desiquilibrado em vários momentos, é apenas o começo de uma jornada complexa e provocativa que redefine o que significa ser o Batman.


NOTA FINAL (1/10):
7.0




Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Batman - Volume 1, de Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet - Devir

Ficha técnica
Batman - Volume 1
Autor: Grant Morrison, Greg Rucka, Mark Waid, Andy Kubert, Tony S. Daniel, J.H. Williams III e John Van Fleet
Editora: Devir
Páginas: 172, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 18 x 27,5 cm
Lançamento: Maio de 2025

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