A obra apresenta-se como uma experiência visceral, em que cada página parece arder com uma energia incontrolável. A maneira como o autor trabalha a composição gráfica e a paleta cromática não só reforça a intensidade dramática da história, mas também convida o leitor a sentir, quase fisicamente, o peso das escolhas e das angústias das personagens. E a fantástica arte de Rubín, com o seu traço dinâmico e expressivo, é uma extensão direta da temática: a vida adulta como um incêndio que devora tudo à sua passagem.
Ao fechar o livro, fica a sensação de um incêndio que consumiu não apenas as páginas, mas também parte de nós. É impossível sair ileso desta leitura. Há um eco persistente das suas imagens e palavras, uma angústia que nos acompanha já depois de chegarmos à última página. Esta é uma dessas obras raras que, ao invés de simplesmente serem lidas, são sentidas na pele e na alma. Por tudo isso, O Fogo é um livro de uma potência rara. Não se trata apenas de uma história, mas de uma experiência emocional e estética que desafia o leitor a confrontar-se com a própria efemeridade da existência. Com uma força bruta e uma honestidade cortante, David Rubín oferece-nos uma obra que nos faz sentir mal – e que, justamente por isso, se torna inesquecível.
Análise completa a esta obra, aqui.
-/-
Considerando-me um bom conhecedor da obra de Yslaire, que já observei cuidadosamente durante muitas horas da minha vida, devo dizer que há algo nas ilustrações do autor que o fazem sobressair dos demais. Há um charme, uma beleza, uma classe e uma sensibilidade nos seus desenhos que os tornam magníficos. Talvez não seja o autor perfeito para ilustrar uma banda desenhada de ação ou de aventura, mas, quando estamos perante uma história infinitamente romântica, com laivos de uma sensualidade de outrora com que, nos dias de hoje ousamos apenas sonhar, Yslaire é imbatível. Na minha humilde opinião, é o melhor autor para este tipo de histórias. Ora, este Menina Baudelaire, sendo uma história de época e carregada de amor e paixão, encaixa que nem uma luva nos interesses e vocação primordial do autor.
Análise completa a esta obra, aqui.
-/-
-/-
Undertaker faz-me lembrar aquelas superbandas de rock que são constituídas por músicos de excelência em todas as vertentes. Na bateria, no baixo, nas guitarras, nos teclados, nas vozes. O argumento e as personagens de Dorison são magníficos, o desenho de Meyer é virtuoso comercial e artístico - tudo ao mesmo tempo! - e as cores de Caroline Delabie são um deleite para a vista. A série mantém-se, portanto, em forma e o volume até é capaz de ser o melhor de todos. Não deixem de comprar!
Análise completa aos vários álbuns da série, aqui.
![]() |
Álbuns da série Undertaker já publicados pela Ala dos Livros. |
-/-
Esta é uma daquelas séries que faz tudo bem: tem um bom argumento, tem um bom enredo, é educativa, tem boas personagens de quem guardamos memória já depois de finalizada a leitura dos livros, tem ilustrações magníficas, cores belas e um igualmente belo trabalho de edição. Que mais podemos pedir?
Giant, Bootblack e Harlem - que embora podendo ser lidos enquanto álbuns independentes pertencem a uma mesma trilogia temática - são daquelas bandas desenhadas que me deixam de "barriga cheia" por fazerem tanta coisa bem.
Estes livros de Mikaël até podem não ser, por motivos que serão apenas pessoais e subjetivos, "livros de uma vida", mas que são livros brilhantemente executados já será algo mais objetivo e claro de afirmar. Não deixem de ler!
Análise completa aos vários álbuns da série, aqui.
Álbuns da Trilogia de Nova Iorque, série integralmente publicada pela Ala dos Livros.
-/-
Há um conjunto de momentos na perda de alguém próximo que são de uma força enorme, devastadora e angustiante, e que não mais nos largam ao longo da nossa vida. E depois, já mesmo quando passaram muitos anos desde essa morte, ainda conseguimos vivenciar todos os momentos que compuseram esse trágico acontecimento, tal como se apenas tivessem passado dois ou três dias: a forma como soubemos que alguém estava à beira da morte, a forma como soubemos que esse alguém tinha mesmo morrido, o que sentimos na altura, quem estava lá a partilhar esse momento connosco, o funeral, as mensagens, as flores, os dias seguintes. Tudo aquilo que compõe, portanto, aquele momento em que o “tapete” nos é tirado e acabamos por ter uma enorme queda emocional. Que se arrasta por meses. Por anos.
O Meu Irmão é um dos livros do ano, uma obra obrigatória a conhecer, que nos amargura por dentro, que nos faz sentir raiva e que persiste na nossa memória ao longo de uma vida. Estamos perante um livro obrigatório, que todos deveriam ler, que nos toca no âmago do nosso ser e que é exemplo claro do quão profunda, bela e enriquecedora pode ser uma obra de banda desenhada.
Se este livro ainda não foi comprado por aquele que me lê neste texto, o meu conselho é simples e taxativo: faça um favor a si mesmo e acrescente este livro à sua estante.
Análise completa aos vários álbuns da série, aqui.
-/-
O Relatório de Brodeck é muito mais do que uma simples história. Muito mais do que um conjunto de boas ilustrações. Magistral na ilustração, no argumento e na narrativa. Negro, pesado, sombrio, frio, assustador e que nos deixa a alma em pedaços. A paisagem é repleta do branco da neve, mas este livro é dos mais negros que alguma vez podemos ler. Uma obra de arte. E, tudo isso somado, faz com que seja, sem grande problema, um dos melhores livros de banda desenhada de sempre. Perfeito naquilo que procura ser!
Análise completa aos vários álbuns da série, aqui.
-/-
O Burlão nas Índias não é apenas um livro perfeito. É um livro que tem que fazer história. Já nem eu nem aqueles que me lêem no Vinheta 2020 estarão neste mundo e esta obra continuará a ser um marco para a banda desenhada. Daqui a 10, 50, 100 anos. É esta a marca da universalidade que traz consigo este O Burlão nas Índias. Da mesma forma que Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes é uma obra ímpar e universal, O Burlão nas Índias também o é.
Guarnido dá show em cada vinheta, oferecendo-nos uma autêntica masterclass, um verdadeiro banquete daquilo que a ilustração em banda desenhada (também) pode ser. E Ayroles é igualmente genial, audaz e inteligente ao construir um argumento tão bem articulado, tão bem doseado, tão bem conseguido.
Sabem o que me está a apetecer fazer depois de ter escrito este texto? Reler esta obra-prima da banda desenhada outra vez!
Se esta banda desenhada não esgotar, algo está errado com os leitores portugueses de (boa) banda desenhada.
Análise completa aos vários álbuns da série, aqui.
-/-
Para mim, enquanto leitor de banda desenhada, existe a vida antes de Blacksad e existe a vida depois de Blacksad.
Blacksad obriga-me a revisitar a minha adolescência e a perceber como um livro pode mudar uma vida. Por esse motivo, antes de dizer se a série é boa ou não (e é magnífica!); antes de dizer se a personagem de Blacksad é marcante ou não (e, depois de a conhecermos, não mais a esquecemos!); antes de dizer se o argumento de Díaz Canales é bom ou não (e é uma história muito bem trabalhada); antes de dizer se este universo antropomórfico funciona bem ou não (e é, para mim, o universo deste tipo que melhor funciona!) … tenho que dizer algo ainda mais marcante: por todas as razões que já apontei, esta série mudou a minha vida. Provavelmente nem existiria Vinheta 2020 se não fosse Blacksad! Figura entre as duas melhores séries de banda desenhada da minha vida. Obrigatório para todos!
![]() |
Álbuns da série Blacksad já publicados pela Ala dos Livros. |
Se Blacksad é uma (e tb gosto muito) então seria interessante esclarecer qual é a outra (série de BD)... 😉
ResponderEliminarGostei do Burlão mas considero um pouco overated (por exemplo, IMHO está claramente abaixo de O meu Irmão)
ResponderEliminarVai ser feito para todas as editoras nacionais? Qual foi o critério de escolha? Dlim dlim dlim…
ResponderEliminar