terça-feira, 8 de julho de 2025

Análise: As Águias de Roma - Livro VII

As Águias de Roma - Livro VII, de Enrico Marini - ASA - LeYa

As Águias de Roma - Livro VII, de Enrico Marini - ASA - LeYa
As Águias de Roma - Livro VII, de Enrico Marini

Depois da edição portuguesa da série As Águias de Roma ter ficado demasiado tempo em banho-maria, entre o quinto e o sexto volume da série, é de louvar que a editora ASA não tenha perdido muito tempo até ao lançamento deste Livro VII, assegurando, deste modo, que os leitores portugueses estão alinhados com a edição original da série que conta com os mesmos sete volumes.

Afinal de contas, As Águias de Roma é uma das mais impactantes séries da banda desenhada histórica europeia. 

Este Livro VII retoma a narrativa num ponto de grande tensão política e emocional, centrando-se na escalada do conflito entre Roma e as tribos germânicas. O pano de fundo mantém-se com a crescente hostilidade entre os antigos amigos e  irmãos, Marco e Armínio, cujas lealdades colidem de forma irreversível. Nesta fase do enredo, Armínio mantém em seu poder Hraban, o filho de Marco, enquanto Marco, por sua vez - e tentando alcançar algum poder de negociação - passa a ter em sua posse a mulher grávida de Armínio. Enquanto isso, o conflito militar entre a população germânica e os romanos adensa-se.  

As Águias de Roma - Livro VII, de Enrico Marini - ASA - LeYa
Neste volume, Marini aprofunda ainda mais o conflito central da saga: o embate entre dois mundos, duas culturas, duas formas de viver e governar. Armínio, dividido entre a honra romana que o criou e a liberdade do seu povo germânico, está cada vez mais decidido a cortar os laços com o Império. Já Marco, por seu turno, continua a representar o ideal romano, embora comece a revelar algumas fissuras emocionais e ideológicas. 

O enredo revela uma melhoria face ao álbum anterior, que, embora visualmente belo, parecia hesitante em termos de ritmo narrativo. Neste novo volume há uma sensação mais clara de direção, com as peças do tabuleiro a moverem-se em preparação para um confronto inevitável que, acredito, surgirá no próximo volume. No entanto, também tenho que admitir que ainda se nota uma certa tendência de Marini em retardar propositadamente(?) o desenvolvimento da história., pois embora o crescimento das tensões seja bem conduzido, sente-se que poderia haver mais acontecimentos concretos a avançar o enredo. 

Há uma sensação de que Marini está a preparar o terreno com meticulosidade, talvez até em demasia, o que pode ser interpretado como um desejo de alongar a narrativa em detrimento da ação imediata. Mesmo assim, repito, este volume melhora bastante em relação ao anterior, possivelmente o menos bom da série.

As Águias de Roma - Livro VII, de Enrico Marini - ASA - LeYa
Este Livro VII revela-se, pois, positivo e satisfatório, especialmente pela forma como o conflito entre as duas fações é intensificado. A relação entre Marco e Armínio, ganha novas camadas emocionais e políticas com este rapto da mulher de Armínio, já por mim referido. 

Uma coisa que aprecio bastante na série é que a mesma nos oferece uma certa ambiguidade moral que, aliás, sempre esteve presente na série, e que mostra que não há heróis ou vilões puros, apenas homens presos entre o dever, o amor e a ideologia. Tão depressa parecem ser Armínio e os germânicos os vilões, como parecem ser Marco e os romanos os "maus da fita". E o mesmo se sente em relação a quem parece ser herói.

No campo visual, Marini volta a provar por que razão é considerado um dos grandes mestres da banda desenhada europeia. O seu trabalho gráfico é simplesmente deslumbrante. As composições de página são dinâmicas, a paleta de cores é rica e atmosférica e o detalhe dos cenários e figurinos transporta-nos de imediato para o universo romano. Falando da questão dos detalhes, aqui e ali podemos encontrar algumas vinhetas que não são tão aprimoradas como eram nos primeiros álbuns da série. O traço e finalização dos desenhos no tempo atual da série, parecem feitos de um modo um pouco mais rápido. Mas, mesmo que isto aconteça, a beleza dos desenhos é tão grandiosa que a obra continua a ser majestosa e a permitir que para além de ser lida, também mereça ser contemplada com prazer demorado.

As Águias de Roma - Livro VII, de Enrico Marini - ASA - LeYa
As personagens continuam extremamente expressivas, com rostos e posturas que comunicam emoções complexas mesmo sem palavras. Os momentos de sensualidade - sempre presentes na obra de Marini - são desenhados com elegância e erotismo, sem nunca resvalarem para o vulgar. Da mesma forma, as cenas de batalha ou de tensão militar são intensas, cinematográficas e visualmente arrebatadoras. Também as cores são verdadeiramente bonitas, encaixando que nem uma luva nos desenhos que nos são oferecidos.

Há uma maturidade artística clara no traço de Marini, que alia a precisão histórica a um estilo pessoal muito característico. O resultado é uma obra que mantém a beleza gráfica como um dos seus trunfos mais fortes. É um daqueles livros que nos obriga a voltar páginas atrás, só para rever um enquadramento ou uma expressão desenhada com mestria.

Em termos de edição, o livro está em harmonia com os restantes álbuns da série, envergando capa dura brilhante e bom papel brilhante no interior. O trabalho de impressão e encadernação também é bom, fazendo jus à obra.

As Águias de Roma - Livro VII não é o volume mais explosivo da série, mas é uma peça importante no crescendo narrativo que Marini parece ter vindo a construir desde o início. É uma obra de transição, sim, mas também de refinamento - tanto emocional como gráfico - que prepara o palco para o desfecho inevitável do confronto entre irmãos e que confirma Marini como um dos grandes nomes da BD contemporânea. Se é que essa confirmação ainda é necessária.


NOTA FINAL (1/10):
8.9



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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As Águias de Roma - Livro VII, de Enrico Marini - ASA - LeYa

Ficha técnica
As Águias de Roma - Livro VII
Autor: Enrico Marini
Editora: ASA
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 317 x 239 mm
Lançamento: Abril de 2025

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