sexta-feira, 30 de julho de 2021

O Vinheta 2020 vai de férias!

 


Durante a próxima semana, o Vinheta 2020 estará de férias, em boa companhia, e a ler muita BD.


Não se prevêem novas entradas no blog durante este período.


De qualquer maneira, serão muitas as leituras de bd a fazer nestes dias portanto, o regresso deverá ser marcado por muitas análises e artigos.


Até lá.


Vinheta 2020

Análise: Armazém Central – Volumes 1, 2 e 3



Armazém Central – Volumes 1, 2 e 3, Marie, Serge e Os Homens, de Loisel e Tripp

Já aqui escrevi bastante sobre Armazém Central. Os leitores atentos do Vinheta 2020 saberão que esta é uma das bandas desenhadas da minha vida, marcará sempre presença entre as 3/5 melhores bandas desenhadas de sempre, para os meus gostos, claro está. Que eleva o género da BD a um patamar raro de qualidade. 

E se hoje faço esta análise conjunta aos volumes 1, 2 e 3, Marie, Serge e Os Homens, respetivamente, que a Arte de Autor teve a fantástica iniciativa de retomar, naturalmente irei transcrever muito daquilo que eu próprio já escrevi há uns meses, em Outubro, quando a editora portuguesa publicou o seu primeiro álbum duplo da série, que continha os volumes 4 e 5, Confissões e Montreal. Como foi o primeiro álbum que a editora optou por lançar – uma vez que, há uns largos anos, a ASA ainda tinha lançado os volumes 1, 2 e 3 em Portugal – tentei nessa minha análise fazer um breve resumo do enredo desta saga para conseguir situar os leitores que conheceram a série pela primeira vez.


Lembro-me que, nessa altura, também vi vários leitores céticos com o facto da editora ter começado a editar Armazém Central a partir dos volumes 4 e 5. Mas agora já ninguém pode chorar com isso. Menos de um ano se passou desde então e a Arte de Autor já lançou o primeiro volume, Marie, logo no primeiro semestre de 2021 e, há umas semanas, lançou mais um álbum duplo que contém os tomos 2 e 3, Serge e Os Homens. Ora, se tivermos em conta que no próximo mês de Setembro deverá chegar-nos o próximo álbum duplo com os volumes 6 e 7, Ernest Latulippe e Charleston, e que é expetável que no início de 2022 seja publicado o último volume, que reunirá os números 8 e 9 As Mulheres e Notre-Dame-des-Lacs, podemos dizer que, em pouco tempo, cerca de um ano e meio, teremos uma série de qualidade máxima, composta por 9 volumes, começada e finalizada pela Arte de Autor. Não será isso fantástico?! Logicamente que é!

E fantástica também é esta série, da primeira à última prancha, com uma inspiração, um requinte, uma elegância, uma qualidade por parte dos autores que a assinam, Loisel e Tripp que, se não é inédita, é muito rara de encontrar por esse mundo fora da 9ª arte.


Como já escrevi, embora seja uma série em 9 volumes, é uma saga muito equilibrada entre si, não havendo propriamente "altos e baixos". Na verdade, e a meu ver, apenas existem "altos". Portanto, é um daqueles casos em que me parece que os autores souberam contar uma bela história e ilustrá-la com altos padrões de qualidade, também. É, pois, justo, analisá-la, descrevê-la, catalogá-la e mencioná-la sempre como um todo porque, de facto, não sinto que se possa dizer que os tomos x são y é espetaculares e que os tomos a ou b são mais fracos. Não é isso que acontece aqui porque Armazém Central acaba por ser uma grande história que simplesmente se divide em 9 volumes. Como se fossem 9 capítulos de uma mesma história. Por isso, compreendam que falar de um tomo ou de outro será sempre muito semelhante e é por isso que optarei por aqui transcrever parte daquilo que já escrevi na análise a Confissões e Montreal e que é transmissível a toda a série:

«Como sintetizar a vida humana, as relações que criamos, os medos que desenvolvemos, a necessidade de aceitação, a construção de valores - e respetivo reajuste dos mesmos? E como ultrapassar o luto com que nos vamos deparando ao longo das nossas vidas? E a propensão de ultrapassar as barreiras que se vão colocando na nossa jornada? Como adocicar a existência de vidas amargas? O que é que nos diferencia verdadeiramente dos animais? Será (apenas) a inteligência ou, também, o facto de criarmos relações intensas entre nós? Qual é, então, o papel de cada pessoa numa sociedade?


Armazém Central propõe-nos, senão uma resposta a todas estas questões, pelo menos, um cuidado vislumbre para que, na pele de algumas personagens fictícias inesquecíveis, possamos ver o reflexo de nós mesmos. Esta é uma rara e singular obra-prima da banda desenhada. Como que um poema em que os versos são vinhetas e os sonetos são pranchas. O coração enche-se, o nó na garganta instala-se e o resultado desta leitura é algo que, dificilmente, deixará leitores insatisfeitos. Diria que, para conseguir apreciar este portento da 9ª arte, apenas é solicitado uma coisa aos leitores: que tenham sensibilidade e maturidade. Sem isso, talvez esta banda desenhada não possa ser apreciada. Afinal, aqui não há uma ação rápida. Nem pensar! As coisas vão acontecendo de forma lenta, suave e subtil. Assim são as mudanças numa sociedade, certo?
»

Esta é uma série desenhada e escrita “a meias” pelos autores Régis Loisel e Jean-Louis Tripp. Ambos escrevem e ambos desenham. O processo é original porque, embora as ilustrações de Loisel nos remetam para outros dos seus trabalhos, como Em Busca do Pássaro do Tempo ou a adaptação para bd de Peter Pan (que a ASA recentemente publicou integralmente em Portugal), a verdade é que, em Armazém Central, os desenhos acabam por ser algo diferentes – e melhores, a meu ver – devido ao contributo de Tripp que acrescenta individualidade e profundidade às ilustrações. Os autores acabam por criar um terceiro ilustrador, através dos seus esforços conjuntos.


«O resultado é uma ilustração bastante detalhada, embora muito “riscada”, numa base de esquisso, que acentua as sombras de forma muito demarcada e rabiscada, conseguindo obter uma aura muito artística. E a este processo magnífico e cuidado de ilustração ainda se juntam umas cores suaves que atenuam a força das sombras dos desenhos. É um estilo de ilustração que serve perfeitamente o tom humanizante e dramático das situações que habitam esta narrativa.

O universo rural está magnificamente retratado. O estilo de desenho, típico na arte de Loisel, acentua as feições da cara, oferecendo-lhes um aspeto algo caricatural, mas sério no trato. Como se fosse um próprio mundo, extraído da mente dos autores. A forma como as emoções das personagens são tratadas é verdadeiramente excepcional. Se um olhar diz muitas coisas, os olhares destas personagens dizem-nos mil coisas e, muitas vezes, um simples silêncio está repleto de muitas nuances e significados. E isso só é conseguido quando a arte da ilustração se transcende.

Se graficamente é uma obra sublime, a história, sendo simples, é magnifica no seu todo também!»


Nestes primeiros três volumes, é-nos apresentada a pequena aldeia de Notre-Dame-des-Lacs, situada numa pequena província do Quebeque, no Canadá, no ano de 1926. Esta é uma aldeia perdida no tempo, completamente rural, onde existe um equilíbrio natural – embora ténue, porque assim é o equilíbrio das sociedades criadas pelos Homens – quer a nível de valores, quer a nível económico, quer a nível sociocultural.

Félix Ducharme é o dono do Armazém Central – uma mercearia que vende todas as espécies de bens essenciais para a população local – e, logo nas primeiras páginas do primeiro livro, somos confrontados pela sua morte, que nos é narrada pelo mesmo, na primeira pessoa do singular. A partir daí, Marie, a esposa de Félix, do qual não teve filhos, fica sozinha e desesperada pois estávamos num tempo em que as mulheres mais não eram do que as sombras dos seus maridos. Sozinha e desamparada, Marie vê-se forçada a pôr mãos à obra e a travar o seu próprio destino. Passa então a ser ela a pessoa responsável pelo antigo negócio do marido. Naturalmente, qualquer mudança brusca e inesperada, traz consigo inúmeras dificuldades e pedras no caminho. Mas Marie é perseverante e com a ajuda de amigos, consegue reestabelecer-se.


Se o primeiro tomo é uma porta de entrada já por si fascinante para o mundo imaginado por Loisel e Tripp, é no segundo tomo, com a chegada de Serge, que irá proporcionar um abalo, a todos os níveis, na pequena aldeia de Notre-Dame-des-Lacs, que Armazém Central ainda se torna mais delicioso de acompanhar. Serge é diferente em tudo em relação à população da aldeia: é instruído, viajado, culto e parece saber um pouco sobre todos os assuntos. Logicamente, a sua chegada despoleta comportamentos e reações novos para aqueles que os rodeiam.

Quanto ao tomo 3, Os Homens, é o volume de um primeiro embate pessoal entre Serge, aqueles que já o admiram e aqueles que não nutrem por si tanta simpatia assim. Para os homens, pessoas rudes do campo que se encontravam fora de casa durante longas jornadas de trabalho na indústria lenhadora, Serge simboliza tudo aquilo que eles não são. E, logicamente, a primeira reação à diferença é a desconfiança e o desagrado. Neste terceiro volume também se sente que a relação de Serge e Marie está quase a consumar-se. Contudo, nem tudo é o que parece e no final do terceiro volume é-nos dada uma revelação inesperada.


Estes são os elementos base do enredo destes primeiros três livros. Mas é nas entrelinhas, naquilo que fica por dizer, que Armazém Central sobe ao Olimpo das melhores bandas desenhadas que já li. Afinal, e como já escrevi, «esta é uma história magnífica, adulta, profunda, madura e que se pode comparar a uma boa telenovela ou série de tv, daquelas em que criamos uma relação profunda com as personagens. E onde o enredo é tecido de forma magistral pelos autores Loisel e Tripp. O ritmo de ação é lento e comedido, convidando o leitor a mergulhar naquilo que aqui se passa. E o que se passa é de tudo um pouco: temas como a emancipação das mulheres, o desafio dos valores impostos, as opções sexuais, os problemas de foro psicológico, a luta entre homens e mulheres, o papel da religião, a solidão, etc.»

A edição da Arte de Autor é de qualidade máxima, como não podia deixar de ser: os livros têm capas duras com textura aveludada, que tanto aprecio, papel de primeira qualidade, boas cores, boa encadernação e boa impressão.

Os elogios parecem-me sempre fracos para elevar  ao nível justo e merecedo tudo aquilo que Armazém Central é e representa. Se, por algum motivo que a razão desconhece, eu fosse a entidade emissora de Certificados Digitais de Bom Leitor de BD, que atestassem quem eram os leitores requintados, sensíveis, profundos, maduros e com bom gosto de banda desenhada, então a leitura e conhecimento da série Armazém Central teria que ser um dos requisitos primordiais para obtenção desse Certificado.

Afinal, e termino como também terminei a análise a Armazém Central #4 e #5, estamos perante «uma série maravilhosa, uma autêntica carta de amor à sensibilidade de cada um de nós e que merece ser (re)conhecida por mais leitores de (boa) banda desenhada. Sendo magnífica nas ilustrações, no argumento e nas questões que levanta, é uma obra fantástica que (também) nos ensina a ser mais humanos, tolerantes e a saber aproveitar e guardar as coisas boas da vida. E de quantas bandas desenhadas podemos dizer isso, afinal? Esta é “A obra-prima” de Loisel e de Tripp e uma ode à banda desenhada enquanto género. Obrigatório conhecer!»


NOTA FINAL (1/10):
10.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



-/-


Fichas técnicas
Armazém Central #1 - Marie
Autores: Régis Loisel e Jean-Louis Tripp
Editora: Arte de Autor
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Março de 2021


Armazém Central #2 e #3 - Serge e Os Homens
Autores: Régis Loisel e Jean-Louis Tripp
Editora: Arte de Autor
Páginas: 152, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Julho de 2021

quinta-feira, 29 de julho de 2021

A Gradiva avança com mais uma nova série de bd!




A Gradiva prepara-se para avançar com mais uma série nova de banda desenhada!

Trata-se de Tango e o primeiro número deverá ser editado ainda no final do mês de Agosto.

Esta é uma série que em França é publicada pela editora Le Lombard, que já conta com cinco volumes e que é bastante recente, tendo o primeiro álbum sido lançado em 2017. 

Confesso que não a conheço mas devo admitir que estou curioso para o que aí vem. Acho a ilustração da capa verdadeiramente bonita e o protagonista aparenta ter carisma. Mas logo veremos.

Abaixo, fiquem com a sinopse da obra e com o booktrailer que a Gradiva já publicou há uns dias.

Partilho também imagens da edição original, pois, até ao momento, a editora portuguesa ainda não disponibilizou imagens promocionais para esta obra.


Tango - Um oceano de pedra, de Philippe Xavier e Matz

John Tango pensa estar seguro, no seu refúgio remoto da cordilheira dos Andes.

Reconstruiu a vida. Mas ali, como em qualquer lugar, todos têm os seus segredos...

Quando homens armados atacam vizinhos e amigos, Tango intervém e com isso desencadeia uma série de acontecimentos imprevisíveis.

Enfim, quatros ano de tranquilidade já não fora nada mau...

-/-

Ficha técnica
Tango - Um oceano de pedra
Autores: Philippe Xavier e Matz
Editora: Gradiva
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura










Análise: Deixa-me Entrar



Deixa-me Entrar, de Joana Afonso

Deixa-me Entrar foi o primeiro livro a solo de Joana Afonso, a autora portuguesa que ficou conhecida no universo da banda desenhada nacional com as obras O Baile (com Nuno Duarte) e Living Will (com André Oliveira).

E mal pegamos neste Deixa-me Entrar, aquilo que mais salta à vista, assim que folheamos o livro, é o seu estilo de ilustração muito personalizado, com características únicas, que facilmente funciona como cartão de visita de Joana Afonso. O seu signature style, vá.

Já na análise a Living Will eu falei deste assunto. Na altura escrevi que “esta jovem autora está num pequeno – pequeníssimo! – rol de autores portugueses que têm o seu estilo de ilustração tão claramente demarcado. Com tanta personalidade.” E, lá está, “mais do que dizer que Joana Afonso é uma excelente ilustradora – e é! – o que me parece mais louvável é o universo próprio, o tal signature style, que a sua criação tem. Poderão existir muitos ilustradores mais tecnicamente evoluídos do que Joana Afonso sem alguma vez conseguirem criar a sua própria imagem de marca. Mas a autora portuguesa já o conseguiu. E isso é digno de todos os louvores.”


E, portanto, quando estamos perante um estilo de ilustração como o de Joana Afonso o mais difícil será mesmo ficar-lhe indiferente. Ou gosta-se muito. Ou não se gosta nada. Eu sou, sem qualquer dúvida, daqueles que gosta muito. Portanto, quem já gosta do trabalho da autora noutras obras não ficará, certamente, desapontado com o que Joana Afonso nos dá em Deixa-me Entrar, em termos de ilustrações.

A arte é fiel àquilo que já conhecemos da autora. As personagens apresentam um aspeto muito caricatural, com cabeças, narizes, bocas e sobrancelhas bastante grandes e olhos muito pequenos. Por vezes parecem figuras grotescas mas, mesmo sendo assim, conseguem transmitir sentimentos e criar empatia com o leitor. Tenho vários amigos que me dizem acerca da raça de cão bulldog: “é tão feio que se torna giro”. Sem concordar com a afirmação, no caso dos cães, acho que essa frase se aplica bem às ilustrações de Joana Afonso. Sendo "feias" são incrivelmente "bonitas". A beleza do grotesco e das formas exageradas também um tipo de beleza em si mesma.


Quanto à história, Deixa-me Entrar, convida-nos a entrar numa história simples e sensível, do género slice of life, que nos conta a história de Alberto, um quarentão, que poderia citar António Variações, dizendo: “Não consigo dominar / Este estado de ansiedade / A pressa de chegar / P'ra nao chegar tarde / Não sei do que é que eu fujo / Será desta solidão? / Mas porque é que eu recuso / Quem quer dar-me a mão?”. De facto, Alberto sente-se desconfortável, a toda a hora e a todo o instante, com tudo o que o rodeia. Muda-se para Lisboa. Tem um novo trabalho. Evita grandes contactos inter-pessoais, mas acaba por conhecer a Dona Fernanda, que lhe aluga um quarto. A princípio, Alberto começa por evitá-la e por ficar desconfiado com ela. Mas, eventualmente, a Dona Fernanda acaba por encantar Alberto e os próprios leitores. Mas que sucederá então depois desse encantamento? Serão as nossas amarras a momentos felizes do passado – que já não voltam – suficientemente fortes para não nos permitirem continuar a navegar por novas águas desconhecidas? Joana Afonso sugere uma resposta a essa questão. Mas para saberem qual é ela, terão que ler Deixa-me Entrar.


Penso que o desenlace final poderia ser mais profundo ou menos expetável pois a mensagem derradeira acaba por ser algo clichet e claramente esperada muitas páginas antes de chegarmos ao fim do livro. Talvez aqui Joana Afonso pudesse ter arriscado mais. Não digo que deveria ter tido outra mensagem – quem sou eu para dizer qual é a mensagem que determinado autor deverá, ou não, querer passar? – mas considero que a forma como a mensagem é passada poderia ter sido mais bem doseada. Menos expetável e menos óbvia. E acho até que será esse o ponto que não faz este Deixa-me Entrar entrar, passo a redundância, para o tal panteão da melhor banda desenhada nacional. É bom, sem dúvida, e é um livro que se lê muito bem – e que se recomenda – mas, infelizmente, não é tão inolvidável assim.

Quanto à edição, da Polvo, apresenta capa mole com abas e um bom papel brilhante. Nada negativo à apontar. Uma nota, menos positiva, para a ilustração capa que me parece algo "preguiçosa", por parte da autora. Resulta da ilustração de uma vinheta que foi ampliada para ser capa. Tenho a certeza que Joana Afonso conseguiria fazer muito melhor.

Em suma, Deixa-me Entrar representa uma leitura simples, escorreita e com um tom - falsamente - leve que esconde significados mais profundos. Recomenda-se pela arte inconfundível de Joana Afonso que se estreou com nota positiva neste seu primeiro álbum a solo.


NOTA FINAL (1/10):
7.1



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



-/-


Ficha técnica
Deixa-me Entrar
Autora: Joana Afonso
Editora: Polvo
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Novembro de 2014

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Lançamento: Mimi & Eunice




Já está disponível o novo livro das Edições FA!
Trata-se de Mimi & Eunice, de Nina Paley, que é uma banda desenhada de tiras humorísticas.

Fiquem com a sinopse da obra e algumas imagens promocionais.


Mimi & Eunice, de Nina Paley
Mimi & Eunice é um apanhado de tiras de banda desenhada que evidenciam a relação conflituosa da criação artística. Com diálogos curtos e diretos, as personagens Mimi e Eunice convidam todos nós a pensar sobre o tema, de forma inteligente e bem-humorada.

Da autoria da cartoonista norte-americana, animadora e ativista da cultura livre Nina Paley. 

As tiras possuem um estilo gráfico simples que abordam temas como propriedade intelectual, ironia, hipocrisia e a política, com um tom sarcástico e humorado.

-/-

Ficha técnica
Mimi & Eunice
Autor: Nina Paley
Edição: FA
Páginas: 52, a cores
Encadernação: Capa mole
PVP: 14,75€
PVP formato digital: 4,99€

Corto Maltese está de volta, numa nova aventura, que será editada em Portugal!




São boas notícias para os muitos fãs daquele que será o marinheiro mais famoso do mundo!

Corto Maltese vai mesmo regressar numa nova aventura! A notícia já tinha sido dada há umas semanas, com o anúncio de que esta nova aventura ficaria a cargo dos autores Bastien Vivès e Martin Quenehen.

Mas agora, a boa nova para os leitores portugueses é que o livro acaba de ser anunciado pela editora Arte de Autor, ficando desta forma assegurada a sua edição em português.

Não se sabe ainda muito sobre a obra, além de que se chamará "Ocean Noir" ("Oceano Negro", em português) e já é conhecia uma primeira imagem, que partilho neste artigo. A obra será lançada em França no dia 1 de Setembro, pela editora francesa Casterman. Em Portugal, a obra deverá chegar no Outono.

Relembre-se que a famosa série Corto Maltese, imortalizada por Hugo Pratt, já recebeu  nos últimos anos 3 novas aventuras pela dupla de autores Rubén Pellejero e Juan Diaz Canales, nomeadamente, Sob o sol da meia noite, Equatória e Dia de Tarowean. Todas eles publicadas em Portugal também pela Arte de Autor.

Essas aventuras de Pellejero e Canales têm a particularidade de oferecerem uma abordagem muito fidedigna à série original - quer em termos de argumento, quer em termos de ilustração. 

Quanto a este Oceano Negro, é previsível que, pelo menos em termos de desenho, seja um pouco diferente daquilo a que Hugo Pratt nos habitou. Bastien Vivès tem um estilo muito próprio de desenho e prevejo que não o modifique muito nesta próxima obra. O que pode ser algo disruptivo e arriscado pois poderá agradar a muitos e a outros, nem tanto.

Da minha parte, posso dizer que estou bastante curioso. Duas das suas obras já foram publicadas em Portugal, pela Levoir, e deixaram muito boas impressões em mim. Não tendo ficado propriamente fã de Polina, posso dizer que adorei Uma Irmã e que até considerei essa como a segunda melhor obra publicada nas primeiras 5 coleções de Novelas Gráficas da Levoir, conforme pode ser lido aqui.




terça-feira, 27 de julho de 2021

Análise: Drácula

Drácula, de Georges Bess - A Seita

Drácula, de Georges Bess - A Seita

Drácula, de Georges Bess

A adaptação para banda desenhada do famosíssimo romance Drácula, de Bram Stoker, feita por Georges Bess, já havia sido anunciada pela editora A Seita há alguns meses e chega agora às livrarias. Depois de uma dupla leitura da obra, posso dizer que fiquei maravilhado com este livro!

E aproveito até para começar por aquilo que mais me fascinou neste Drácula: a fantástica, requintada, personalizada, virtuosa, sentida e plena de significados arte ilustrativa de Georges Bess. Convém dizer algo nesse sentido: estou bastante bem familiarizado com o trabalho do autor em séries como Juan Solo ou O Lama Branco. E, embora aprecie o trabalho de Bess em todos os seus livros que conheço, devo dizer que não estava preparado para que Drácula fosse uma experiência visual deste gabarito. Por outras palavras, estava à espera de algo bom mas não tão bom! Sem dúvida, o melhor trabalho do autor que já pude observar. E muito afastado daquele que seja o seu segundo melhor trabalho em qualidade, diga-se. Um novo e superior nível para o autor e, por conseguinte, a sua obra-prima.

Drácula, de Georges Bess - A Seita

Bess utiliza nesta adaptação a preto e branco, um fino traço eloquente que nos mergulha de forma magnífica no ambiente de Drácula. E, como as verdadeiras obras-primas, aqui não parecem existir coisas feitas à pressa ou sem uma razão de ser. E é por isso que em cada página parece existir uma dupla-intenção do autor na forma como dispõe as personagens, como planifica determinada página ou nas mais variadas soluções narrativas gráficas que esgrime orgulhosamente enquanto nos vai surpreendendo de página a página. A força gráfica do álbum é tanta que, às tantas, até parece demais!

Os cenários são magníficos e apresentados com um enorme rigor. As personagens são marcantes e cheias de personalidade. As mulheres são bonitas e misteriosas, os homens são clássicos no estilo e recebem todos uma boa dose de carisma. Até há espaço para uma peculiar e engraçada utilização da imagem de Keith Richards, dos Rollling Stones, para o aspeto físico da personagem de Renfield. E isto já para não falar na caracterização da personagem principal, Drácula, que recebe nesta adaptação a melhor caracterização de todas aquelas que já tive a oportunidade de ver até esta parte. Este Drácula é medonho, misterioso, convidativo, nojento, fantástico, assustador. E Bess consegue passar todos esses sentimentos para o leitor através do seu traço altamente realista. A partir de agora, sempre que ouvir o termo “Drácula” passará a ser a personagem desenhada por Bess a primeira imagem a vir-me ao pensamento. O Gary Oldman que me desculpe.

De salientar, também, é a maneira inspirada e original como Bess decora as suas próprias páginas desconstruindo a própria noção de prancha. Por vezes, encontramos belíssimas ilustrações, hiper-detalhadas que ocupam duas páginas inteiras; noutros casos, encontramos as vinhetas sem delimitação de traços, a fazer lembrar Will Eisner. Por vezes as vinhetas são grandes. Noutros casos são pequenas. Também podem ser retangulares, quadradas ou circulares. Há espaço para tudo! Mas chamo a atenção para o facto do autor não usar toda esta dinâmica e criativade de forma aleatória. Tudo parece obedecer a um grande intuito: o de narrar consistentemente a história e o de ser uma adaptação muito fiel ao texto original de Bram Stoker.

Drácula, de Georges Bess - A Seita

Digna ainda de nota é a maneira inteligente e tecnicamente perfeita como Bess domina o preto e branco, aproveitando espaços negativos para deixar a ilustração respirar ou fazendo maravilhosos efeitos de luz e sombra, que acentuam o ambiente clássico, misterioso e assustador da obra. A utilização de planos de câmara também é diversificada e muito bem doseada.

Portanto, em termos de arte ilustrativa, é verdadeiramente soberbo. Nada aqui falha! Um autêntico festim do bom e do melhor. Mas também na maneira como adapta a história é muito fiel e, por isso, também reveste esta adaptação de um cariz literário maior. Esta adaptação não dá apenas "uma ideia" de como é a história. Não. Conta-nos, isso sim, a história de fio a pavio. Abreviando - claro! - algumas partes mas não deixando cair nada de verdadeiramente importante do ponto de vista do enredo.

O enredo desta obra, esse, é tão conhecido que não me merece grandes palavras mas posso sintetizar rapidamente que nos conta a história de Drácula, que começa este conto no seu castelo na Transilvânia, sendo visitado por Jonathan Harker, um advogado que aí se desloca para a compra de propriedades em Inglaterra, por parte de Drácula. Depois disso, o misterioso e maléfico personagem viaja para Inglaterra onde começa a procurar as suas vítimas para lhes beber o sangue. Sendo uma criatura portadora de poderes sobrenaturais - como a capacidade para adquirir a forma de outros animais, entre muitos outros atributos - este vampiro é um vilão fortíssimo e só um estudo profundo e racional acerca das suas fraquezas, conseguirá conduzi-lo à sua destruição.

Drácula, de Georges Bess - A Seita

Se não considero esta obra perfeita é apenas e só por um facto. É que à medida que começa a busca final e incessante por Drácula, perde-se um pouco da chama de mistério e de terror que envolvia este ser maléfico e as ações deste. E, a partir do momento em que a personagem de Van Helsing vai desvendando os truques e a magia de Drácula, a história vai perdendo um pouco do seu fulgor. A culpa não é de Bess, já que sucede o mesmo no romance origem de Bram Stoker. E, diga-se, é apenas uma opinião minha, muito pessoal. Digamos que acho que se a descoberta de como vencer Drácula fosse feita mais perto do final, a catarse da narrativa seria maior. Assim, temos quase uma metade do livro em que são os bons a perseguir o vilão. Continua a ser bom e interessante mas não tão magnífico, quanto a mim. E mesmo aquela viagem final, quando Drácula foge para a sua terra natal e que é retratada com inúmeras páginas e vinhetas, indicando com detalhe como é que "a equipa dos bons" se dividiu para capturar o vilão é, a meu ver, bastante irrelevante. Embora eu admita que continua a ser magnífico olhar para estas pranchas de Bess. Sim, meus caros. Tudo neste livro é, aliás, digno de uma observação maravilhada, já que o trabalho do ilustrador é perfeito. Mas a minha crítica menos positiva – e que não é assim tão negativa, na verdade – incide mesmo é na forma como na segunda metade do livro (neste e no original, de Bram Stoker) se perde a aura de mistério e de terror, em detrimento do chavão clássico do “bem contra o mal”, e a narrativa se transforma mais em livro de aventura e ação, do que em livro de terror. São opções narrativas e há que respeitá-las. E é o que Bess faz em relação ao texto original de Bram Stoker.

Drácula, de Georges Bess - A Seita

Quanto à edição, temos (mais) um fantástico objeto-livro em mãos. Capa dura, robustez na encadernação, papel de boa qualidade e baço, que é ideal para esta arte a preto e branco. O prefácio de José Pedro Castello Branco também sabe situar bem a obra original e a adaptação da mesma, funcionando como um bom acrescento à leitura. Nota ainda para o lançamento da obra com uma capa exclusiva (dourada) para a livraria online Wook e que também é muito bonita. Sendo este o livro que abre a nova coleção d’A Seita, intitulada Nona Lieratura, e que será dedicada a adaptações para bd de grandes textos literários ou históricos, acho que a editora não poderia começar melhor. Quer na escolha da obra, quer na forma como trata a edição da mesma.

Em conclusão, Drácula é mais um dos lançamentos do ano em Portugal e assume-se como uma obra linda para se ter numa boa estante de banda desenhada. E completamente adequada para oferecer a quem gosta de bd; a quem nem lê muita bd mas gosta de terror; ou, simplesmente, a quem gosta de boas ilustrações. Todo o livro é uma verdadeira orgia de ilustrações maravilhosas, feitas através de uma técnica perfeita e virtuosa de Bess. Esta é a melhor adaptação (incluindo cinema, teatro e banda desenhada) que já tive a oportunidade de ver. Sinceramente, até vou mais longe e digo que, tendo em conta que Bess adapta com tanto requinte e respeito o texto original, até acho mais apetecível ler este livro do que o próprio texto original de Bram Stoker. Fantástico e, até ver, a melhor obra de banda desenhada publicada pel’ A Seita. Parabéns à editora.


NOTA FINAL (1/10):
9.7



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



-/-

Drácula, de Georges Bess - A Seita

Ficha técnica
Drácula
Autor: Georges Bess
Adaptado a partir da obra original de: Bram Stoker
Editora: A Seita
Páginas: 208, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Julho de 2021

Análise: Monstress #5 – Filha da Guerra

Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda - Saída de Emergência

Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda - Saída de Emergência

Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda

A série de enorme sucesso mundial Monstress está de volta às livrarias portuguesas com o lançamento do quinto volume pela editora Saída de Emergência. Se se torna óbvio o appeal desta série para tanta gente, com um grande número de prémios conquistados, não deixa de ser verdade que, quando descascada cada uma das suas camadas, a série tem algumas fraquezas. Especialmente em termos de argumento. Mas já lá irei.

Juntando a um ambiente fantástico, com criaturas de variadas espécies, uma trama complexa, de cariz político-estratégico que, depois, recebe desenhos muito cativantes por parte da ilustradora Sana Takeda, que transformam todo este universo em algo único, é fácil concordar que o “guisado” que aqui é cozinhado funciona bastante bem.

Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda - Saída de Emergência

O argumento que este volume 5, Filha da Guerra, traz consigo pega a história aonde a mesma tinha sido deixada no volume anterior. Já tínhamos presenciado uma guerra de vasta dimensão em números anteriores, mas agora, parece que a chama entre os Humanos e os Arcânicos renasce e novo embate bélico se prepara. Continuamos a acompanhar a personagem Maika – Meio Lobo – na sua procura pelo conhecimento de si mesma e pela força que habita dentro dela. Os flashbacks são uma constante para que possamos obter algumas respostas, mas, acima de tudo, servem para acrescentar mais algumas questões ao enorme rol de questões que já haviam sido deixadas por responder nos livros anteriores.

E é face a este novo conflito, que tem por génese um cerco à cidade de Ravenna, que Maika terá que tecer novas parcerias e alianças para conseguir resistir a esta investida por parte do exército da Federação.

A trama é bastante complexa, com muitas personagens – que infelizmente, por vezes, se confundem visualmente entre si – muitas fações e pontos de vista. Naturalmente, isso torna Monstress numa série bastante complexa e rica em termos de conteúdo. Embora, não raras vezes, esta característica também torne a ação um pouco all over the place, como dizem os ingleses. Por outras palavras, são muitas as questões que são lançadas para o ar sem que sejam suficientemente trabalhadas/aproveitadas pela argumentista Marjorie Liu.

No fundo considero que há muita “palha” em Monstress. Bem sei que estas séries vivem muito da relação que vão tendo com os leitores, que acabam por ficarem fiéis seguidores das personagens que as habitam. Mas considero, mesmo tendo isso em conta, que poderíamos ter mais coisas a acontecer realmente em Monstress. Parece que as personagens ocupam quase todo o tempo a dizer que vai acontecer algo. E que se perde demasiado tempo e páginas com isso. Atente-se que nas primeiras 90 páginas(!) praticamente só temos páginas com diálogo algo oco e que não causa a tensão que, eventualmente, poderia causar no leitor.

Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda - Saída de Emergência

Há muitos diálogos, muita preparação do leitor para o tal cerco à cidade de Ravenna mas depois, quando a ação realmente acontece, sabe a pouco. A montanha pariu um rato. Dizer isto não é sugerir que a série deveria ter mais ação, ou que não aprecio diálogos ou histórias longas. Não, mesmo! Quantas vezes escrevo aqui no Vinheta 2020 que certas bds precisavam de mais espaço (leia-se páginas) para poderem desenvolver e amadurecer as suas ideias? Mas em Monstress, o meu sentimento é totalmente o inverso. Julgo que são demasiadas páginas para “o pouco” que acontece realmente. Se bem que também é verdade que em volumes anteriores a ação era mais non stop e agora talvez as autoras tenham pretendido, neste quinto volume, ter menos ação em detrimento de uma narrativa mais pausada. Mesmo assim, isso também acaba por não ser aproveitado para grandes introspeções.

E olhando para este volume, Filha da Guerra, é visível que a argumentista parece ter ficado sem algumas ideias depois dos números anteriores. O próprio regresso da guerra parece um lugar comum, na falta de melhor ideia. E caminhando no mesmo sentido, os diálogos também surgem menos inspirados do que em números anteriores. No entanto, admito que gosto da dualidade com que Marjorie Liu pinta as suas personagens. Nenhuma delas é o que parece à primeira vista. E isso será até, por ventura, a grande mais valia do trabalho da autora. Tal como em Game of Thrones, onde ninguém é o que aparenta ser e, quase sempre, há agendas secretas a envolver cada um dos protagonistas.

A arte de Sana Takeda consegue ser verdadeiramente espetacular e refrescante, ao mesmo tempo! De forte inspiração mangá, também tem influências claras dos comics americanos, mas consegue, acima de tudo, ter características próprias. Ter personalidade. Com um traço expressivo e eloquente, Takeda oferece-nos personagens memoráveis e muito bonitas em termos de ilustração. É verdade que, por vezes, algumas dessas personagens são algo confundíveis entre si, mesmo que a autora tente dotar cada uma delas com algum traço ou acessório único. Um destaque também deve ser dado ao cariz duplamente art-déco e vitoriano que envolve os cenários e as personagens e suas indumentárias. Original e (mais) um complemento que funciona bem.

E a maneira como Takeda planifica as suas pranchas também é bastante dinâmica - e, por vezes, positivamente complexa - e, nesse sentido também merece os seus louvores.

Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda - Saída de Emergência

Só lamento que o enorme talento da artista não seja verificável em todas as situações porque também é verdade que há muitas vinhetas, especialmente de planos de vista mais afastados, que parecem ter sido feitas muito à pressa e que carecem de qualquer detalhe. Takeda parece, pois, que vai do 8 ao 80 em várias ocasiões. Isto é, acaba por ser uma daquelas artistas que, quando "quer", consegue ilustrações maravilhosas, cheias de detalhe e com uma técnica apurada. Mas nem sempre o "quer", aparentemente. Mas quando o quer, ou nas maravilhosas capas de cada capítulo da série, também, a autora é inegavelmente uma virtuosa e a sua arte é gratificante. E o processo das cores também para isso contribui, criando uma ambiência que consegue mesmo transportar o leitor para este universo paralelo. Sem Sana Takeda, estou certo que Monstress não seria o sucesso que é. Marjorie Liu pode (e é) importante por ter criado e imaginado este universo complexo. Mas é graças a Takeda que o mesmo ganhou uma vida própria e personificada.

Em termos de edição, e à semelhança dos restantes livros desta coleção da Saída de Emergência, a encadernação, de boa qualidade, é em capa mole, com papel brilhante, de boa gramagem, e apresenta uma impressão bem conseguida. Como pontos menos positivos, é pena que alguns balões, mais perto do centro do livro, sejam menos legíveis devido a estarem demasiado próximos do interior do livro. Acho que uma margem entre a mancha de impressão e o interior do livro teria resolvido esta questão. Nota ainda para a presença de um erro demasiado presente e que cortou o prazer da minha leitura mais vezes de que o desejável. A palavra “demais” é sempre substituída pelas palavras “de mais”. Espero que este erro constante possa ser revisto nas próximas edições.

Confesso que, compreendendo o porquê do sucesso da série, que assenta num universo do fantástico em que uma intrincada trama lhe dá vida, e que traz consigo maravilhosas ilustrações, não partilho do entusiasmo geral. Simplesmente porque acho que uma leitura (verdadeiramente atenta) encontra variadas imperfeições ou pontas soltas. No entanto, é um produto interessante e que é especialmente aconselhado para um público mais feminino e jovem – embora, naturalmente, possa ser apreciado por qualquer pessoa – que goste do género do fantástico.


NOTA FINAL (1/10):
7.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-

Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda - Saída de Emergência

Ficha técnica
Monstress #5 – Filha da Guerra
Autores: Marjorie Liu e Sana Takeda
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 176, a cores
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Julho de 2021

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Lançamento: Drácula




Já saiu a mais recente aposta da editora A Seita!

Trata-se de Drácula, uma adaptação para banda desenhada da obra original de Bram Stoker, que é feita por Georges Bess (O Lama Branco, Juan Solo, entre outros). 

É uma grande aposta da editora portuguesa e que inaugura a sua nova coleção, intitulada Nona Literatura, que consiste em adaptações para bd de obras clássicas da literatura.

Saliente-se o facto de existirem duas capas para a obra: a normal e a capa exclusiva para a loja online Wook, que pode ser encontrada no respetivo site.

Abaixo, fiquem com a nota da editora.

Drácula, de Georges Bess

« Seja bem-vindo à minha casa! E rogo-lhe, entre de sua livre vontade.
Quando finalmente partir, deixará aqui um pouco da alegria que trouxe consigo. »
Conde Drácula

Uma das mais fiéis e brilhantes adaptações gráficas do Drácula de Bram Stoker, pelo desenhador de O Lama Branco e Juan Solo.

Drácula, de Bram Stoker, geralmente considerado como um dos maiores romances de terror gótico, conheceu inúmeros adaptações ao cinema, claro, mas também à banda desenhada. 
Desde os anos 1970, em Tomb of Dracula, por exemplo, onde encontramos um Conde Drácula que se move junto das personagens típicas da Marvel, até ao Drácula de Mike Mignola, que adapta a versão cinematográfica de Francis Ford Coppola, passando pelo bizarro e comédico Don Dracula, de Osamu Tezuka, ou o Drácula ilustrado por John J. Muth, foram muitas as adaptações ou livros que se inspiraram mais ou menos livremente do célebre vampiro de Stoker. 

A Seita inaugura agora a sua colecção Nona Literatura, dedicada a adaptações de grandes textos literários ou históricos à BD, com aquela que é talvez uma das mais fiéis adaptações do romance original. E talvez uma das mais belas também, pelas mãos de um dos maiores autores de BD franco-belga contemporâneos, Georges Bess.
Desafiado pelo seu editor, Phillipe Hauri, a desenhar esta adaptação usando o seu magnífico traço a preto e branco, Bess acabaria por se apaixonar pelo tema depois de uma visita ao cemitério de Highgate, em Londres, e pela sua atmosfera romântica e gótica. E o resultado é esta magnífica obra, que adapta com fidelidade o romance original, mantendo vivos muitos dos seus sub-entendidos e simbolismos, desde o seu aflorar de sexualidades problemáticas para a era Vitoriana, de sedução e libertinagem, que assombravam a sociedade da época, passando pela sua evocação da ansiedade e medo da doença e da infecção, e das tensões à volta da religião e da vida moderna desses tempos. Mas é uma adaptação que mantém viva também a chama da aventura que sempre fascinou os leitores do romance, com as suas paisagens majestosas nos Cárpatos, perseguições, vampiro terrível, confrontos e terrores, aqui retratados num glorioso desenho a preto e branco. A edição d’A Seita inclui também uma versão com capa especial (a capa dourada) disponível como exclusivo via Wook online.

Nascido em França em 1947, Georges Bess iniciou a sua carreira na BD na Suécia, desenhando histórias do Fantasma, de Lee Falk, para os países nórdicos, mas foi o encontro com Alejandro Jodorowsky, no seu regresso a Paris, em 1987, que iria mudar a sua carreira. Com Jodorowsky, Bess vai realizar as séries O Lama Branco, Anibal 5 e Juan Solo, títulos que, a par com as séries que escreveu e desenhou, o ajudaram a afirmar-se como um nome incontornável da BD europeia.

-/-
Ficha técnica
Drácula
Autor: Georges Bess
Adaptado a partir da obra original de: Bram Stoker
Editora: A Seita
Páginas: 208, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
PVP: 25,00€

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Lançamento: Naruto #39 - Entrar em ação




A série Naruto, publicada em Portugal pela Devir, já vai no incrível volume 39!

O mais recente livro, intitulado Entrar em ação, chegou às livrarias a 8 de Julho.

Abaixo, fiquem com a sinopse e imagens promocionais.

Naruto #39 - Entrar em ação, de Masashi Kishimoto

Sob a influência de Orochimaru, Sasuke nomeia a sua nova célula ninja de Hebi.
Sem deixar de se preocupar com as ações de Sasuke, Naruto termina uma batalha feroz com um antigo inimigo.

O resultado pode acabar com o mundo ninja que Naruto conhece, mais rápido do que ele jamais imaginou!


-/-

Ficha técnica
Naruto #39 - Entrar em ação
Autor: Masashi Kishimoto
Editora: Devir
Páginas: 192, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
PVP: 9,99€