Depois de começar a publicar a coleção em banda desenhada de Nestor Burma com os três volumes criados por Moynot, a editora Gradiva publicou o quarto volume da série que, desta vez, é feito pelas mãos de Nicolas Barral.
Relembro que esta série adapta para banda desenhada os romances originais de Leo Malet e que começou a ser desenvolvida pelas mãos do célebre Jacques Tardi, que fez os primeiros quatro volumes da série. No entanto, e contrariando o mais expectável e, diria mesmo, adequado, a Gradiva optou por começar a publicar a série pelos volumes de Moynot e Barral presumivelmente, digo eu, por serem a cores, co contrário dos quatro volumes de Tardi, que são a preto e branco. Por esse motivo, permitam-me esclarecer que a numeração dos tomos que a Gradiva tem vindo a utilizar, não respeita a numeração original. Este Boulevard…Ossada é-nos dado como sendo o quarto volume da série, mas, na verdade, é o oitavo volume da série. E o primeiro em que Nicolas Barral participa.
Desta vez, o detetive Nestor Burma vê-se rodeado por mais uma trama rocambolesca que envolve os diamantes roubados do tesouro imperial do czar da Rússia, vários crimes e um conjunto de personagens bastante diverso. Temos chineses de interesses algo dúbios, temos espiões russos, temos negociantes de diamantes, enfim, temos um conjunto de personagens algo unilaterais, mas, ao mesmo tempo, e também por isso, impactantes, com que o carismático Nestor Burma terá que lidar.
A história leva-nos por uma trama carregada de mistério e engimas que o protagonista terá que resolver. Há também espaço para algumas cenas de violência física com os esperados combates corpo-a-corpo de Nestor.
Embora o argumento deste livro de Barral se mantenha ainda bastante complexo e, por vezes, apresente algumas pontas soltas ou esclarecimentos que, no final, são dados um bocado a bruto, a verdade é que este álbum é o que funciona melhor dos quatro publicados até agora pela Gradiva. Parece-me que Barral consegue dar-nos um trabalho que, para além dos desenhos (já lá irei), também é melhor na adaptação do texto original de Malet.
E como o seu desenho é mais trabalhado e pormenorizado - especialmente nos detalhes dos cenários - do que o de Moynot, acaba por superar os desenhos dos três álbuns anteriores, também.
Efetivamente, eu já tinha gostado bastante do trabalho de Barral no belíssimo livro Ao Som do Fado (que a Levoir publicou na sua Coleção de Novelas Gráficas). E embora, visualmente falando, os dois livros sejam diferentes – até por questões óbvias de aproximação ao estilo de Tardi neste Boulevard…Ossada –, sinto-me mais uma vez agradado com o trabalho do autor.
Este é um álbum que foi originalmente lançado em França na sua versão a preto e branco. Só mais tarde, a versão a cores foi publicada. E é essa a versão que a Gradiva optou por editar por cá. Não pude ler a versão a preto e branco para fazer um comparativo justo entre as duas versões, mas posso dizer que, pelo menos, gostei bastante do trabalho de cores deste livro, que nos remete para a temática típica que uma história de Nestor Burma pressupõe.
De resto, a edição da Gradiva é competente, com o livro a apresentar capa dura brilhante, bom papel brilhante e boa impressão e encadernação.
Em suma, dos quatro álbuns de Nestor Burma já publicados pela Gradiva, este é claramente o melhor. Mesmo não sendo um livro perfeito e continuando, quanto a mim, a carecer de mais páginas para melhor adaptar a obra original de Leo Malet, diria que acaba por ser uma boa entrada na série!
NOTA FINAL (1/10):
8.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Nestor Burma #4 - Boulevard…Ossada
Autor: Nicolas Barral
Editora: Gradiva
Páginas: 88, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 22,50 x 29,70
Lançamento: Abril de 2023
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