Com primeira edição em 2014, esta adaptação para banda desenhada, levada a cabo por João Amaral, de A Viagem do Elefante, de José Saramago, caminhou, em 2022, para a sua terceira edição. Ou reimpressão, vá. E isso explica bem, quanto a mim, a importância desta obra em BD. Devo até dizer que será A Viagem de Elefante o melhor e mais relevante livro de João Amaral. Não é perfeito, mas é um livro que faz muitas coisas bem. E tratando-se da adaptação para BD de uma das obras do único prémio Nobel da Literatura portuguesa, José Saramago, foi particularmente oportuno este trabalho de João Amaral.
O livro original de José Saramago foi publicado em 2008 e assume-se como um romance histórico em que se explora, de forma ficcional, um evento real que foi a jornada do elefante Salomão, presenteado pelo Rei de Portugal ao Arquiduque Maximiliano da Áustria, no século XVI. Neste romance que acabou por ser uma das últimas obras publicadas por José Saramago, o elefante Salomão é a personagem principal, e a sua jornada através da Europa, numa longa viagem terrestre, é uma metáfora para explorar temas mais profundos, como a condição humana, o poder político, a religião e a liberdade.
Um dos aspetos mais marcantes da obra, é a forma como Saramago permite que o elefante seja representado como uma testemunha silenciosa e, ao mesmo tempo, eloquente das vicissitudes da humanidade. Através dos olhos de Salomão, o leitor é levado a uma viagem filosófica e introspetiva sobre a natureza humana e as complexidades do mundo. A narrativa é, pois, rica e multifacetada, continuando a ressoar em quem mergulha pela primeira vez na obra.
Ora, a adaptação para BD com que João Amaral nos brinda - e assinalo que não me parece de todo uma obra fácil de adaptar - consegue fazer justiça ao texto original de Saramago e ser, além disso, uma boa forma de entrada na obra do escritor português. Diria mesmo que, em termos de enredo, João Amaral soube condensar bem o texto original, deixando a perceção no leitor de que são poucas as coisas que se perderam na adaptação. E isso é um mérito de João Amaral, sem dúvida.
O que acho mais louvável nesta obra, é que fica bem presente o modo apaixonante e de total respeito de João Amaral para com a obra original. Talvez por isso, o processo criativo de Amaral tenha durado cerca de dois anos. Gosto especialmente que o próprio José Saramago apareça na obra, enquanto personagem, servindo-nos na função de narrador que nos convida a mergulhar no relato de viagem.
Em termos de ilustração, também fica claro que, neste A Viagem do Elefante, João Amaral procurou elevar a sua arte a um patamar superior. É certo e sabido que, em termos de expressões faciais e alguma da linguagem corporal das personagens, os desenhos de João Amaral deixem, por vezes, algo a desejar. No entanto, não menos verdade é que, a certos momentos, o autor se consegue transcender. E esses momentos mais gloriosos no que à ilustração dizem respeito, pululam várias vezes neste livro. Destaca-se também a planificação em que o autor tentou ter a máxima dinâmica, com várias soluções narrativas diferentes, de modo a que a leitura se tornasse mais escorreita e mais apetecível.
Nota ainda para a capa, muito bem conseguida. Se muitas vezes acho que um livro vende mal devido a não ter a capa certa, no caso deste A Viagem do Elefante, acho que o livro começa a vender-se assim que olhamos para a sua capa. A ilustração é simples, em sombra, mas funciona perfeitamente, e o grafismo dos elementos também está bem executado. Sendo simples, é uma capa perfeita e inteligente.
A edição da Porto Editora é em capa dura baça. No miolo, o papel é de boa qualidade, embora me pareça que a opção por um papel (tão) brilhante não tenha sido a melhor escolha. O livro abre com um prefácio de Pilar Del Rio, viúva de José Saramago, o que granjeia a esta obra uma clara aceitação, promoção e importância por parte da pessoa que mais privou com Saramago. E, claro, dá mais algumas luzes sobre a feitura da obra em BD.
Em suma, este A Viagem do Elefante, a par de A Voz dos Deuses, é o livro que mais e melhor define João Amaral enquanto autor de banda desenhada. É uma boa adaptação da obra original de Saramago e, com todo o cariz de relevância que, também por isso, traz consigo, é fácil de compreender que já tenha merecido uma terceira reimpressão.
NOTA FINAL (1/10):
7.9
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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A Viagem do Elefante
Autor: João Amaral
Editora: Porto Editora
Páginas: 128, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2014
Este não foi o ultimo romance de saramago. O ultimo foi cain.
ResponderEliminarObrigado pelo reparo. Já mo tinham indicado, também. Já está corrigido. Um abraço
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